quarta-feira, 18 de julho de 2018

Poema - Jornada



Nessa jornada que um fim não parece ter
Nos perdemos mais do que gostaríamos
Dessa guerra da qual não podemos correr
Nós perdemos mais do que admitimos
Num labirinto que se ergue a cada amanhecer
 Procuramos uma saída que proferimos
Caindo exaustos no chão a cada anoitecer
Sem nos questionar de como agimos

Porque talvez errado estamos correndo
Explicaria por que estamos tão ofegantes
Perseguindo miragens que estamos vendo
Mas que se tornam cada vez mais distantes
Nossas forças vão então se desvanecendo
Extinguindo-se dos nossos semblantes
Enquanto uma dor vem nos preenchendo
E por fim nos esquecemos do antes

Antes de carregarmos o peso do mundo
Antes de nos moldarem a uma imagem
O que será que somos bem lá no fundo?
Como é a alma por debaixo da blindagem?
Deixamos o corpo se tornar moribundo
Para satisfazer algum outro personagem
Uma amálgama com um caráter imundo:
O esmagador pedágio da nossa viagem

Nossos sonhos foram então apagados
À força arrancados por mãos alheias
Na esperança de cairmos desamparados
Num deserto soterrados por suas areias
Sem olharmos para caminhos passados
Velhos túneis cobertos por densas teias
Impermeados por ideais abandonados
De vidas que antes pareciam cheias

A verdade tem outra face entretanto
A doce e sedutora nostalgia nos engana
Nos carrega até aquele velho canto
Nos vicia com uma ação tão mundana
Que nós nem mesmo esboçamos espanto
Quando a amarga tristeza nos esgana
Queremos apenas recorrer ao pranto
Sem almejar enxergar o nirvana

Pois de tudo do passado que enxergamos
De algo valoroso ignoramos a existência
Que há tanto tempo nós abandonamos
Por muito mais que falta de sapiência
Porque para sobreviver nós mudamos
Sacrificamos mais que nossa inocência
E de tão cegamente que nós lutamos
Acabamos por perder nossa real essência

Nos tornamos algo que não queremos admitir
   Um ser costurado como uma colcha de retalhos
Nos tornamos algo que desejamos é omitir
Um ser humano deixado em frangalhos
Alguém que escolheu por tanto se reprimir
Que só realmente se expressa por atos falhos
Alguém cheio demais de nadas para sentir
Algo real além da chegada de seus grisalhos

Mas as nossas histórias não precisam acabar assim
Pois pode ser recuperado aquilo que foi perdido
As centelhas de nossas chamas não chegaram ao fim
Então deixemos queimar o que não tem nos servido
Para podermos respirar sem sentirmos o gosto ruim
Daquilo que nos tem a essa torpe escuridão prendido
Seguiremos nosso caminho como quisermos enfim
E seremos quem nós sempre deveríamos ter sido

Não mais nos contentaremos com a mediocridade
Não mais nos tornaremos vazios para preencher alguém
Não mais ousaremos desistir na nossa própria vontade
Em prol de quem sempre nos trata com tamanho desdém
Reencontraremos nós mesmos no meio dessa tempestade
Para não mais do acaso ser apenas mais um mero refém
E não mais tentaremos nos esconder da realidade
Porque nossa bravura finalmente nos cai bem

Agora enfim podemos nos olhar nos espelhos
Sem termos de nos envergonhar do que vemos
Sem mais termos de cair derrotados de joelhos
Pedindo por perdão pela vida que escolhemos
Porque já ouvimos os mais loucos conselhos
E de nós nunca mais nos arrependeremos
Após sangrarmos tantos rubis vermelhos
Podemos nos orgulhar de como vivemos

E com essa força na qual podemos contar agora
O mais pesado dos fardos já não pesa mais nada
A culpa dos incontáveis erros cometidos outrora
Apenas nos fortalece a cada verdade revelada
Enfrentando sem medo os demônios de agora
Pois os do passado não mais sobrevivem à alvorada
Anunciando com seu brilho a chegada da nossa hora:
A hora de sorrirmos para enfim viver a nossa jornada