Vou tentar não enrolar muito...
Não consegui escrever nada nesse feriado. É,a inspiração não tava presente. Já devo ter falado aqui que é melhor não forçar nada quando se escreve. Se eu não havia dito, olha só, acabei de dizer.
Porém, não fiquem tristes. Coisas aconteceram nesses dias que me fizeram refletir sobre, bem... Coisas. Não vou falar o que exatamente. Não vou dar spoilers. Só digo que vou precisar de uns dias, pelo menos, pra arrumar as ideias aqui.
Será que escrevo algo durante a semana mesmo? Duvido. Cursinho ta ferrando com o meu tempo e energia. Já falei isso.
Mas milagres acontecem.
Até a próxima!
domingo, 29 de maio de 2016
quinta-feira, 26 de maio de 2016
Capítulo 57
Outrage
Ultraje
Três dias depois...
—
Tristan? — Nidhogg o
chamou.
O deus havia acabado de entrar no local de treinamento do
guerreiro das Trevas. O lugar era um grande salão circular. Tanto as paredes
quanto o teto e o piso eram compostos por tijolos cinzentos. Tochas acessas com
chamas púrpuras iluminavam o local. O único acesso ao salão era um portão feito
de ônix ornado com ônix. Centenas de armaduras negras estavam destruídas no
chão, derretidas ou, simplesmente, destroçadas ou retalhadas. Dezenas de marcas
negras de queimado estavam espalhadas por todas as superfícies do local. No
centro da sala, Tristan estava imóvel. O guerreiro estava envolvido por sua
aura escarlate. Em sua mão direita, estava sua espada. Na esquerda, o elmo
derretido de uma das armaduras. A expressão de Tristan era sombria.
—
Tristan... — Nidhogg
o chamou novamente. Dessa vez, entretanto, sua voz era mais tranquilizadora,
quase zelosa. — Creio
que você já treinou o suficiente.
—
Não. — O guerreiro
respondeu friamente. —
Eu não sei o quão poderoso Maximillian se tornou. Eu não vou enfrentá-lo
estando despreparado.
—
Bem...você acabou de dizer que você não sabe o quão grandioso o poder dele é.
Nesse caso, você já pode ser mais poderoso do que ele. Sendo assim, você já
pode parar de treinar.
—
Não. Caso eu realmente seja mais forte que ele, eu vencerei. Isso é óbvio.
Também é óbvio que, quanto mais poderoso eu seja em relação à Maximillian, mais
rapidamente a batalha terminará.
—
Certo... — Nidhogg
bufou. — E você quer
que eu acredite que todo esse treinamento é apenas para você se fortalecer?
—
Sim. Por quê? Você crê que existe outro motivo?
—
Eu tenho certeza que sim.
—
Que seria...?
—
Não finja ser idiota, Tristan. Essa é provavelmente a única coisa pior do que
ser verdadeiramente um idiota.
Apesar de ainda olhar para o chão, um leve sorriso era
visível no rosto de Tristan.
—
Você não vai dizer nada? —
Nidhogg ergueu uma sobrancelha. —
Vai agir como se o que tivesse acontecido não tivesse te afetado?
—
Não é tão simples assim... —
Tristan murmurou.
—
Por quê?
—
Por que eu...eu... —
Ele respirou fundo. —
Eu achei que eu havia me decidido... —
Tristan olhou diretamente nos olhos do Lorde das Trevas. O rosto de guerreiro
estava extremamente pálido. Seus olhos estavam sem brilho. Apenas as íris
estavam vermelhas. —
Mas recentemente...
Tristan parou de falar e voltar a o olhar para baixo. Os
punhos do guerreiro estavam cerrados. Nidhogg suspirou.
—
Isolde, não é? — O
Lorde das Trevas perguntou calmamente.
—
Sim... — Tristan
respondeu praticamente sussurrando.
—
Algo o lembrou dela. O carinho que ela sentia por você. O amor verdadeiro
compartilhado por vocês...
—
Sim...
—
Após isso acontecer...você voltou a ter dúvidas sobre você e a Lilith juntos.
Você começou a se sentir culpado por não retribuir o amor que ela sentia por
você. Você estava em conflito. Você não
precisava de mais nenhum problema para te atormentar. Quando a Lilith morreu
diante de seus olhos...você surtou. Principalmente por que você não havia se
decidido ainda...e, também, por que você não havia conseguido ser sincero com a
Lilith. Você não teve a oportunidade de conversar com ela sobre...bem, tudo o
que estava acontecendo.
Tristan riu.
—
Nossa...você é bom nisso. —
Ele admitiu. — Os
problemas dos outros...parecem tão triviais quando você os fala assim.
De repente, Tristan rugiu e socou o chão com a mão
direita, permanecendo agachado. Rapidamente, ele levou a mão esquerda ao rosto
e o cobriu.
—
Eu já tevi em momentos ruins, Tristan. — Nidhogg disse
zelosamente. — Eu
estava com você quando Isolde faleceu. Eu estava lá quando você mais precisava
de alguém. Eu te prometi que eu a traria de volta, caso você trabalhasse para
mim. Eu mantenho a minha promessa. Eu ainda a posso cumprir.
Lentamente, Tristan tirou a mão da frente do próprio
rosto.
—
É...verdade... — Ele
murmurou.
Calmamente, Tristan se levantou e olhou para frente.
Lágrimas escorriam de seu rosto. Ele respirou fundo.
—
Mas...eu ainda tenho que me decidir... —
Disse o guerreiro. —
Lilith e Isolde. Eu ainda tenho que escolher qual delas...
—
Não. — Nidhogg o
interrompeu. —
Infelizmente, ou, talvez, felizmente...você não pode escolher.
—
Eu...não posso... —
Tristan arqueou uma sobrancelha. —
Como assim?
—
Eu não posso trazer a Lilith de volta.
—
O...o quê?
—
Eu lamento.
—
Mas...por quê?
—
Eu preciso da alma dela para trazê-la de volta. —
Ele suspirou. — E,
infelizmente, eu não sinto a alma dela.
—
A...alma dela...
“Queime. Até a alma...”.
—
Foi...o que aquele cretino disse. —
Tristan suspirou. —
As chamas dele...realmente...
—
Queimaram a alma de Lilith. —
Nidhogg completou. —
Bem...eu suponho que é possível. Um seguidor do Deus do Fogo...poderoso o
suficiente...sim, sem dúvidas, ele poderia ter feito isso...
—
Pyromane... — O
guerreiro das Trevas cerrou os punhos.
—
Tristan... — O Lorde
pousou sua mão esquerda no ombro direito de seu Escolhido. — Não se preocupe com isso
agora. Você está se envenenando.
—
Envenenando?
—
Sim. Com seus próprios pensamentos. Você está matando a sua própria mente com
tudo isso. Tristeza. Raiva. Remorso. Ódio. Isso está fazendo mal a você, mesmo
que você não perceba. Caso continue assim, até o seu próprio corpo sentirá os
efeitos. — Ele
respirou fundo. —
Você está ainda pior do que antes de você de você conhecer a Lilith. Por mais
frio que você fosse, por mais que você negasse os seus sentimentos...você nunca
chegou a esse ponto.
—
Então...eu estou mais fraco agora?
—
Momentaneamente...sim. E é exatamente por isso que você deve parar de se
preocupar com tudo...pelo menos, por enquanto.
—
Como se fosse fácil...
—
Eu não disse que seria. Sozinho, então, será praticamente impossível. É por
isso que você tem que sair daqui. Aproveite a companhia de seus amigos de
verdade. Shadowing e Astaroth se importam muito com você. Sorrow ainda está se
recuperando, mas, quando ele estiver bem, tenho certeza que ele lhe agradecerá
por tudo e ficará do seu lado. Além deles, há milhares de seres das Trevas que
o admiram. Se você preferir, faça uma missão. De preferência, acompanhado com
alguém. Você pode se esquecer dos seus problemas se tiver outras coisas para
ocupar a sua mente...como não morrer no campo de batalha.
Tristan sorriu.
—
É...tenho certeza que sim. —
O guerreiro suspirou. A expressão no rosto dele se tornou serena e, em uma
fração de segundos, tornou-se confusa. —
Nossa...como eu cheguei a esse estado?
—
Várias coisas ruins acontecendo ao mesmo tempo. —
Nidhogg respondeu calmamente. —
Não se preocupe. Isso acontece com todos os mortais.
—
E não com os deuses?
—
Bem...de vez em quando. Mas é raro.
—
Certo... — Tristan
respirou fundo. —
Maximillian ainda não mandou o mensageiro dele, mas a nossa aliança com a Luz
acabou. Creio que nossas brigas intermináveis com Leviathan voltarão.
—
Espero que sim. — O
Lorde das Trevas sorriu. —
Sinto falta de vocês matando os seguidores deles.
Tristan riu.
—
Sim...saudades disso... —
Tristan coçou a nuca. —
Falando nisso...a investida deles contra a Chimaera...como foi?
—
Não tão bem, pelo o que eu soube. —
O Lorde das Trevas não conseguiu conter um sorriso. — Eles conseguiram invadir a base e matar
praticamente todos os que estavam lá, mas...os líderes da Chimaera eram bem
poderosos.
—
Bem...eu me lembro que a luta contra o Overtrederen não foi nem um pouco fácil.
Se não fosse pelo Leviathan...eu teria morrido.
—
É... — Nidhogg riu. — O Lorde da Luz salvando a
vida do Escolhido do Lorde das Trevas. Ainda é uma boa piada. —Ele suspirou. — Mas...enfim...o grande
problema foram os outros líderes. O chefe de todos nem estava lá, mas...talvez
tenha sido melhor assim para as forças da Luz.
—
Então...dois seguidores de deuses pagãos foram um problema tão grave assim?
—
Não eram meros seguidores. —
Nidhogg abriu um sorriso largo. —
Esse homem e essa mulher...eram Escolhidos.
A surpresa expressa no rosto de Tristan era nítida.
—
Escolhidos... — Ele
murmurou. — De quem?
—
O homem era Escolhido do Deus do Sangue. —
Nidhogg disse. — E, a
mulher, do Deus dos Animais. Eles conseguem manipular os respectivos atributos
com maestria. A mulher convocou um exército de animais para a batalha. O homem
usava o sangue daqueles que morriam como armas.
—
Impressionante.
—
Sim. E, no final de tudo, os dois conseguiram fugir.
—
Eu imagino a frustração estampada no rosto de Gabriel.
—
No meu caso, é com o Leviathan.
Os dois riram. O rosto de Tristan estava, agora, de volta
à cor normal.
—
Bem...eu vou ver agora se tem alguém disponível para uma parceria em uma
missão. — O guerreiro
disse. — Ou
simplesmente beber com o Shadowing e o Astaroth.
—
É...talvez seja uma boa alternativa para se esquecer dos problemas. — O deus sorriu.
—
Sim... — Tristan
estendeu a mão para Nidhogg. —
Obrigado. Por tudo.
O Lorde das Trevas sorriu. Com um aperto de mão, os dois
se despediram. Tristan se transformou em trevas e deixou a sala.
“Shadowing deve estar cuidando do Sorrow. Espero que ele
ainda esteja lá...”.
Rapidamente, o guerreiro das Trevas chegou ao quarto de
Sorrow. Ambos Shadowing e Astaroth estavam no local.
—
Ótimo. — Tristan
sorriu. — Achei
vocês.
—
Tristan... —
Shadowing murmurou.
—
Você...está bem? —
Astaroth perguntou com um tom de voz quase doce.
—
Sim. — O guerreiro
respondeu. — Não se
preocupem com isso. Nidhogg me ajudou mais do que eu esperava.
—
Bem...que bom. —
Astaroth disse em um tom de voz mais alegre.
—
Então...você só veio nos avisar que você está melhor? — Shadowing indagou.
—
Não. — Respondeu
Tristan. — Não é o
único motivo. — Ele
sorriu. — Eu estava
pensando de nós sairmos em uma missão. Lutar contra alguns seguidores da Luz.
Respirar um pouco de ar fresco. Esse tipo de coisa.
Shadowing e Astaroth sorriram.
—
Claro. — O Demônio
encapuzado afirmou. —
Mas...hoje não, você diz, certo?
—
Ele está cuidando do Sorrow. —
Astaroth disse. — Eu
só estou acompanhando, mas, depois, estávamos pensando em visitar um bar novo
que foi inaugurado ontem. Fica em uma vila há alguns poucos quilômetros daqui. — Ele sorriu. — Se quiser se juntar a
nós, sem problemas.
Tristan abriu um sorriso largo.
—
Eu não consigo pensar em nada melhor. —
Ele disse. Em seguida, ele olhou para Sorrow. —
Ele...está melhorando?
—
Sim. — Respondeu
Shadowing. — Aos
poucos. Pelo menos, eu não sou o único cuidando dele agora. Daqui a pouco,
outra pessoa aparece para cuidar dele. —
Ele suspirou. —
Bem...eu devo agradecer ao Nidhogg por isso. A decisão foi dele de me mandar
ajuda.
“Nidhogg...”
Tristan sorriu.
“Você realmente tem um coração mole, Lorde das
Trevas...”.
—
Bem... — O guerreiro
suspirou. — Então, eu
vou esperar com vocês agora.
—
Depois, vamos para o bar. —
Acrescentou Astaroth
—
E, amanhã, teremos uma missão para cumprir. —
Disse Shadowing.
Os três amigos sorriram. De repente, uma batida soou na
porta do quarto.
—
Presumo que já possamos sair. —
Disse Tristan.
—
Talvez. — Shadowing
andou até a porta e a abriu. —
Não...
—
Saia logo do caminho, moleque! —
A voz de uma senhora ordenou.
Tristan arregalou os olhos.
“Não!”
Shadowing saiu da frente da porta. Maeve entrou na sala.
—
Quem é que eu tenho que tratar!? —
A senhora resmungou.
Tristan olhou para o lado. Astaroth já havia
desaparecido. Sorrow estava deitado imóvel na cama.
“Pobre garoto...”.
Tristan se voltou para frente. Shadowing havia acabado de
sair da sala voando por cima de Maeve.
“Agüente firme, Sorrow...”.
Antes que Maeve pudesse abrir a boca de novo, Tristan se
transformou em trevas e deixou o quarto.
sábado, 21 de maio de 2016
Teaser 1B
Teaser 1B
O vento soprava como se sussurrasse. As poucas nuvens
presentes naquele dia pareciam estáticas no alto. O céu alaranjado anunciava o
fim da tarde. O sol se punha gentilmente, porém, ninguém parecia apreciar sua
beleza. Todos estavam ocupados demais. Com uma exceção.
Um jovem olhava para lugar nenhum. Seus olhos verdes
brilhavam. Seus cabelos estavam dourados sob a luz do sol. Seu rosto jovial
expressava confusão. Dos seus lábios veio um suspiro. Em sua mente, pensamentos
rugiam, digladiando-se como animais selvagens por território. Deitado no teto
de um carro abandonado no canto de um ferro-velho, trajando suas roupas
esfarrapadas, a única coisa da qual não podia reclamar era a vista da beira do
morro.
A cidade em que morava não era nada vista de lá. Era tão
insignificante comparado ao resto.
Grandes planícies que se estendiam até o horizonte.
Montanhas ao norte que pareciam se esticar até além das nuvens. Trilhos de trem
que poderiam muito bem levar uma pessoa até o fim do mundo e trazê-la de volta.
Tudo aquilo parecia tão emocionante e cheio de vida. Tudo aquilo deixava aquele
jovem entusiasmado, pronto para partir numa jornada sem volta sem pensar duas
vezes. Tudo. Até mesma a odiada capital.
Os obeliscos de metal e vidro pareciam uma afronta contra o
próprio céu. Daquelas torres brancas como marfim, pessoas viviam ignorantes ao
mundo abaixo delas. Dinheiro nunca faltava. Muito menos comida. Por suas ruas de
pedra polidas como prata, os moradores da capital andavam despreocupados,
vivendo com soberba e futilidade na mesma proporção.
Aquilo simplesmente deixava o rapaz enjoado. Seus dentes se
trincavam toda vez que pensava naquele lugar. Seus punhos se cerravam toda vez
que se lembrava da culpa da capital. Culpa de qual, ele sabia muito, não era completamente
dela.
Dezessete anos. Com menos de duas décadas de vida, aquele
garoto já carregava um fardo desde o berço. Ele, assim como incontáveis outros,
era vítima de uma guerra da qual não participou, de um massacre do qual não era
nem vivo quando chegou a sua nefasta conclusão.
Marcado por uma maldição, o jovem não era normal. E ele sabia bem disso. Com uma
suposta bênção, seus poderes, veio uma culpa que o consumia de pouco em pouco,
cada dia mais. Sua raiva só servia para mascarar sua tristeza.
Um som quebrou o silêncio. Algo havia acabado de cair,
produzindo um som metálico que rapidamente desapareceu. O rapaz levantou o
tronco e olhou em volta por alguns instantes, sem perceber nada de anormal.
Algum pedaço de sucata havia caído em algum lugar, despencando das montanhas de
metal velho que o cercavam. Não demorou para que o jovem voltasse a se deitar e
se perdesse em seus pensamentos mais uma vez.
Segurança. Sua
busca foi tida como o maior motivador da guerra de anos atrás. Agora, a
segurança é alcançada pela segregação, protegendo os cidadãos de bem da capital dos selvagens anormais do lado de fora.
Mas é claro que não eram apenas os super humanos que foram
excluídos. O senso de comunidade de seus companheiros era muito mais forte.
Famílias permanecerem juntas. Amigos continuaram unidos. Amantes pareciam se
tornarem ainda mais fortes. É claro que existiam as maçãs podres, porém, no
geral, todos os compatriotas viviam em harmonia, mesmo que isso significasse
sustentar a capital com seu suor.
Viver na miséria. Como servos, todos viviam para os senhores
da utopia. Isso era revoltante. O rapaz sabia. Mas também sabia que ele era um
dos culpados, apenas por ter nascido daquele jeito.
O garoto não queria continuar vivendo daquele jeito. Queria
poder fugir de tudo, de todos. Mas não podia. Não conseguia fazer nada.
Sentia-se inútil. A cada dia que passava, afastava-se mais e mais daqueles que
se importavam com ele. Não sabia mais como viver. Apenas sobrevivia.
Então, algo trouxe o jovem de volta à realidade.
Uma simples lata de alumínio. O objeto descreveu uma
parábola no ar e o atingiu, acertando sua testa. Rapidamente, ele se levantou, trincando
os dentes, já sabendo quem estaria sorrindo para ele.
A não mais do que cinco metros de distância do rapaz, uma
jovem parecia esperar a reclamação do amigo.
—
Usar um alvo parado não é fácil demais, Emily? —
O rapaz questionou, erguendo uma sobrancelha, tentando não soar irritado. — Qual é o desafio
nisso...?
—
Nenhum. — Ela admitiu
alegremente. Calmamente, ela andava na direção do rapaz, quase saltitando. — Só achei mais fácil
chamar a sua atenção assim. Mais fácil do que gastar minhas cordas vocais,
gritando pra te tirar do seu transe...
—
Fora que assim você pode me irritar... —
O rapaz saltou de cima do carro. —
Não é?
—
Mas é claro, caro Eric...
Os dois continuaram andando. Em um instante, eles já se
encaravam, estando a um passo de distância um do outro.
Eric olhou para a
amiga de longa data. Seus olhos azuis eram penetrantes. Seus cabelos castanhos
avermelhados escorriam pelos seus ombros. Sua pele era alva como a neve. Em
seus lábios rosados, um sorriso perolado sempre caloroso residia. Mesmo com as
roupas esfarrapadas e algumas marcas de sujeira pretas no rosto, Emily
continuava inegavelmente bela.
Todo o jeito delicado da moça se foi, entretanto, quando
acertou um tapa sonoro no rosto do amigo.
Eric fez uma careta de dor e levou rapidamente uma mão na
direção da bochecha golpeada.
—
Eu sei o que você fez nas minas hoje, moleque. —
Emily disse num tom sério, antes mesmo que o jovem pudesse reclamar. — Por que mais você estaria
aqui, fazendo absolutamente nada, a uma hora dessas?
Parando para pensar por um segundo, Eric percebeu que Emily
só realmente viria até lá para fazer aquele sermão. Era óbvio. Porém, o rapaz
não havia parado para pensar naquilo. Afinal, já estava feliz só de ver o rosto
da amiga. Ele sabia que ela o tiraria daquela tempestade interna, mesmo que
isso significasse entrar em uma discussão tola.
—
Hm... — Eric bufou. — Eu já não tava mais aguentando
aquilo... Você sabe que eu não consigo trabalhar com gente gritando no meu
ouvido...
—
Mas você não ficou uma semana... —
Emily disse ainda incrédula, balançando a cabeça para os lados. — Nem uma semana, e você se
meteu numa briga...
—
Uma briga que eu ganhei. —
Ele interrompeu pomposamente. Então, cruzou os braços. — Sem levar um arranhão, diga-se de
passagem...
—
Que bom... — A garota
retrucou num tom irônico. —
Você deveria arrumar um trabalho onde você pudesse ganhar para bater nas
pessoas! Seria maravilhoso! Um lutador profissional! Um campeão! Homens iriam
querer ser você! Mulheres iriam querer dar pra você! Uhul! Aí a gente poderia
ver quanto tempo demoraria pra descobrirem que você tem poderes! Quanto tempo
até começarem a te caçar, hein!? Uns dois dias depois que descobrirem!?
—
Não enche... — Eric
disse irritado, desviando o olhar da amiga.
—
O que você acha que vai acontecer contigo? —
Emily continuou o sermão. —
O que vai ser de você? Como você pretende viver...!?
—
A gente não vive, ok!? —
O rapaz elevou o tom de voz. —
Isso não é jeito de se viver... E você sabe muito bem...
—
Eu tento fazer o melhor que eu posso! —
A garota disse exasperada. —
Eu faço o que eu não gosto pra não ter que lidar com o pior depois! Você sabe
bem disso! — Ela socou
com força o peito de Eric. —
Eu faço o melhor pra mim... E o melhor pra você também, seu ingrato! Eu...
Eu...
Emily parou. Com o olhar para baixo, respirava fundo,
tentando se acalmar.
Embora fosse apenas um ano mais velha, a jovem agia como a
responsável pelos dois. Já que os pais de ambos haviam morrido quando os dois
eram pequenos, tiveram que confiar em pessoas que acabaram por decepcioná-los
ou, até, traí-los. No fim das contas, a dupla teve que viver junta, confiando
um no outro e, é claro, em seus poderes. Porém, as chamadas bênçãos pareciam
atrair problemas para onde quer que fossem. Então, como nômades, iam de cidade
em cidade, procurando o melhor lugar que poderiam conseguir. E Emily sabia que
os conflitos causados por Eric apenas complicavam ainda mais a situação, por
mais que não quisesse ficar pensando no assunto.
Porém, o rapaz também sabia que era muitas vezes um estorvo
para a amiga.
— Eu vou me desculpar mais
tarde... — Murmurou
Eric, claramente não muito animado. —
Amanhã, talvez... Talvez eu consiga o trampo de novo... Quem sabe...? Ou talvez
eu vá trabalhar em algum outro canto da cidade... Pegar algum bico...
Nesse momento, os dois se olharam bem nos olhos. Mais
palavras não precisaram ser ditas. Ambos queriam que aquilo se tornasse
verdade, sendo que Eric apenas queria despreocupar a amiga.
—
Bem, talvez aí possamos conseguir algo decente pra comer... — Emily suspirou e, então,
levou uma mão à barriga. —
Cansei de tomar sopa e comer carne dura... Mais uns dias assim e aí a gente entra
pra vida do crime...
—
Aí o meu talento de bater nas pessoas seria útil... — Eric abriu um ligeiro sorriso.
—
Aí, talvez, você levasse um tiro na bunda. —
Emily retribuiu o sorriso. —
Aí, talvez, você não poderia falar mais sem
levar um arranhão.
—
É... Talvez.
Então, com mais um sorriso e um abraço, tudo estava de volta
ao normal. Afinal, as discussões e entendimentos dos dois pareciam sempre
seguir um padrão. De fato, era como de a dupla fosse irmão e irmã.
—
Bem... Vamos voltar para a cidade... —
Disse Emily calmamente. —
Já está quase de noite... E não temos certeza de onde vamos dormir ainda.
—
É...
Foi tudo que Eric disse. A garota olhou para o amigo e
percebeu que ele estava, novamente, perdido num mar de ponderações.
A jovem não pensou duas vezes. Ela ergueu um indicador. A
mesma lata de antes se levantou no chão, ganhando altitude de pouco em pouco.
Então, seguindo o movimento do dedo de Emily, o objeto voou na direção da nuca
de Eric.
—
Ei! — Ele reclamou
após levar uma mão à nuca. —
Você não cansa de fazer isso, não?
—
Você não cansa de ficar olhando pro nada, mexendo a boca sem falar nada que nem
um peixe? — A garota
retrucou.
—
É que... — O rapaz
suspirou. — Nada.
—
Pode ir falando. —
Emily insistiu, um tanto quanto curiosa, cruzando os braços. — Não se acanhe, moleque.
—
Hm... — Calmamente, o
garoto procurava as palavras certas. —
É só que eu... — Ele
olhou no fundo dos olhos de Emily. —
Eu sinto que algo está vindo. Algo grande...
— Algo grande... — A jovem repetiu as palavras, tentando entender
o amigo.
—
É só um pressentimento... —
O rapaz deu de ombros. —
Pode não ser nada.
—
Bem... — Emily levou
um dedo ao queixo, pensativa. — Talvez você esteja prestes a arrumar um
emprego que dure mais de duas semanas. —
Ela sorriu. — Isso
sim seria algo grande!
—
Não enche...
Enquanto Emily, distraída, ria, Eric apontou para a porta do
carro onde estava deitado. Com um movimento rápido de sua mão, o jovem arrancou
o pedaço do resto de veículo, mandando-o contra as costas da garota.
Um ato em vão.
Mesmo de costas, Emily precisou apenas apontar para a porta
para que ela parasse no ar.
Com um sorriso, ela fechou sua mão. A porta, então, foi
esmagada, amassada como uma bola de papel. Inerte, o pedaço de sucata caiu no
chão rochoso e seco.
—
Pobre e ingênuo Eric... —
Emily zombou alegremente. —
Você nunca vai me superar nesse jogo.
—
Eu sei. — O rapaz
sorriu.
O sorriso desapareceu do rosto de Emily quando ela viu que o
garoto apontava para debaixo dela. Em um segundo, a rocha onde pisava se ergueu
do chão e, como um tiro de canhão, foi lançada para longe. Literalmente sem
chão, a jovem caiu sentada num buraco.
—
Pobre e ingênua Emily... —
Agora foi a vez de Eric zombar. —
Você subestima seu oponente e deixa sua guarda aberta... Decepcionante.
—
Moleque... — Ela
trincou os dentes.
Mas já era tarde demais. Eric havia corrido até a beira do
precipício.
—
Ei... — Ele se voltou
para a amiga. — Que
tal uma corrida até a cidade?
Antes que Emily pudesse responder, o rapaz saltou.
Um. Dois. Três. Os segundos passavam rapidamente. Com o
vento correndo por entre seus cabelos, Eric sorriu confiante enquanto se
aproximava do chão. Ele estendeu o braço na direção do solo.
Então, um escudo surgiu.
Uma metade de uma esfera prateada, praticamente invisível,
formou-se abaixo do rapaz. O escudo absorveu todo o impacto da queda e, então,
desfez-se, permitindo uma aterrissagem suave para Eric.
O rapaz gritou o nome da amiga, apressou-a e, sem hesitar,
correu.
Uma hora ele acabaria cansando. O mesmo podia ser dito sobre
Emily. Quando seus pulmões não aguentavam mais, juntarem-se e resolveram andar
pelo resto do percurso.
Sob o céu noturno, cravejado de estrelas, a dupla seguiu
entre risadas e discussões.
Eric conseguia escapar da tempestade interna. Essa era a
intenção desde o começo. Porém, o que ele não percebia, é que aquilo também
fazia bem para Emily. Ver o amigo sorrindo era importante para ela, é claro.
Entretanto, o rapaz não era o único com um conflito dentro de si.
E, então, algo grande chegaria.
quarta-feira, 18 de maio de 2016
Capítulo 56
Old Friend
Velho
Amigo
Tristan piscou várias vezes seguidas duvidando dos
próprios olhos.
—
General Maximilian...é você mesmo? —
O guerreiro das Trevas perguntou. A expressão de surpresa estava estampada na
face do guerreiro.
—
Sim. — Ele respondeu
com simplicidade.
—
Mas...mas...
—
Como eu estou vivo? —
Maximillian se adiantou em completar a pergunta.
—
Sim... — Tristan
respirou fundo. —
Como você sobreviveu ao ataque em White Plains?
—
Você não foi o único a deixar o campo de batalha. — De repente, a expressão de Maximillian se
tornou sombria. — É
claro que eu, diferentemente de você, lutei ao lado dos nossos homens.
—
Eu...
—
Eu não quero ouvir desculpas. O que está feito não pode ser revertido...ainda
mais, depois de todo esse tempo.
“Depois de todo esse tempo...”.
—
Você continua o mesmo daquela época. —
Disse Tristan. — Pelo
menos...o mesmo, em relação à aparência. —
Ele olhou fundo nos olhos do homem a sua frente. —
Então...você foi escolhido por qual deus?
—
Ora... — Maximillian
sorriu. — Vejo que
você continua perspicaz, garoto. Eu achei que o choque por ter me visto vivo
depois de tanto tempo ia fazer com que esse fato passasse despercebido.
—
Responda. — O
guerreiro das Trevas ordenou friamente.
Maximillian abriu os braços e sorriu.
—
Eu sou leal àquele que salvou a minha vida naquele dia. — Ele disse sorrindo. — Eu sou leal ao homem que matou àqueles que
iriam me matar. Eu sou leal àquele que me deu abrigo. Eu sou leal àquele que
fez de mim o que eu sou hoje. Eu sou leal...a Alexander. — Lentamente, os detritos
que haviam caído do andar superior se ergueram no ar e começaram a girar em
torno de Maximillian. —
Eu sou leal ao Deus da Terra!
Tristan sorriu.
—
Você poderia ser menos dramático. —Ele
zombou. — Mas...que
bom que você fez algo de útil com a sua vida desde aquele dia.
—
Ora...obrigado. —
Maximillian sorriu. —
Mas...não foi só isso.
—
Ah...certo. Você também se juntou à Tiamat.
—
Não creio que esse seja o termo certo para definir a minha relação com a
Tiamat.
—
Bem...
“Ele é o Escolhido de um dos deuses pagãos mais
poderosos, logo...”.
—
Você é o líder da Tiamat. —
Disse Tristan. — Você
a fundou. Você que a fez crescer até esse ponto. Você que é um dos maiores
problemas de Leviathan e de Nidhogg.
—
Ora...eu diria que você está certo, se não fosse por um detalhe. — Disse Maximillian.
—
Que seria...?
—
Bem...pessoalmente...eu não me considero um problema.
—
Que alcunha você prefere?
—
Bem...eu pessoalmente prefiro ser visto como o fim.
—
O fim...?
—
O fim. O fim da Luz. O fim das Trevas. E, se você permanecer no meu
caminho...eu também serei o seu fim.
Tristan riu.
—
Belas palavras, General. —
O guerreiro das Trevas sorriu. —
Mas...não é assim que você vai me derrotar. — Ele invocou sua espada e a apontou na
direção de Maximillian. —
Se você for me derrotar...terá que ser assim.
O líder da Tiamat sorriu.
—
Sem dúvida...tem que ser assim. —
Ele confirmou. —
Mas...não agora.
Tristan franziu a testa.
—
Seja senasto, Tristan. —
Maximillian se adiantou em falar. —
Você está desgastado com as últimas lutas, garoto. Se duelássemos agora...não
valeria a pena. A luta simplesmente não seria digna de nosso potencial.
Tristan respirou fundo até se acalmar.
“É verdade...eu gastei muita energia...principalmente
contra o Pyromane. Está...difícil de respirar. Maximillian, por outro lado,
está bem descansado. Eu...provavelmente não teria chance de vencê-lo...”.
—
Por que você propõe isso? —
Tristan indagou. —
Nós poderíamos nos enfrentar agora. A vantagem seria sua. A vitória, muito
provavelmente, também seria sua.
—
Sim, eu sei. — Maximillian
afirmou.
—
Então...por quê?
—
Bem...eu espero que você não me veja como misericordioso. Não se esqueça do
ataque que ambas as cidades de Leviathan e de Nidhogg sofreram. Você é
inteligente. Eu tenho certeza que você percebeu que os estragos foram muito
maiores na sua cidade. Eu queria te desmoralizar. Eu queria te mostrar o poder
do meu exército. —
Ele sorriu. — Eu
creio que eu obtive êxito nesse objetivo. —
Maximillian bufou. — O
fato de você ter sido o meu protegido por tanto tempo...também não importa mais
agora. Você jogou tudo fora quando você fugiu do campo de batalha...quando você
me abandonou...por uma escrava. —
Ele trincou os dentes e cerrou os punhos. —
Bem... — Maximillian
respirou fundo e arrumou o cabelo com as mãos. —
O que você deve saber é que esse fim, eu matar você aqui e agora,
seria...anticlimático.
—Explique.
—
Eu era apenas um guerreiro mortal. Eu não tinha nenhum poder. Eu não era
especial. Porém...quando eu estava a beira da morte, sem esperança de continuar
vivendo, eu fui salvo...por um deus. Aquele que me salvou me deu poderes que eu
nunca antes havia sonhado em ter. Servir Leviathan? — Maximillian riu com desdém. — Nunca mais. Com ele...eu
não era ninguém. Agora...eu sou um dos seres mais poderosos que andam por essas
terras. Eu posso não ser um deus...mas eu estou bem próximo de ser, pelo menos.
— Ele sorriu. — Durante todos esses
anos...desde aquele fatídico dia...eu me fortaleci. — Maximillian gargalhou. — Você não vê, Tristan? — O sorriso no rosto do
líder da Tiamat era tão largo que era assustador. — Nós somos iguais. Nós vivemos praticamente a
mesma vida nesses últimos anos.
—
Você...parece um maníaco falando assim, mas...faz sentido. — Tristan respirou fundo. — Você está curioso para
saber quem se tornou o mais forte. Tudo o que você fez...foi para que
chegássemos a esse ponto. —
Ele sorriu. — Muito
bem. Você conseguiu atiçar a minha curiosidade. Eu quero te enfrentar mais do
que qualquer outra coisa...mas...esse não é o momento.
Maximillian sorriu.
—
Vejo que você entendeu tudo perfeitamente. —
O Escolhido do Deus da Terra ergueu ambas as mãos. Todas os escombros que
flutuavam a sua volta, bem como os que somente estavam caídos no chão,
levitaram até o andar superior. —
Então, se você não se incomodar, eu decidirei o local e a data do nosso duelo.
—
Sem objeções. — Disse
Tristan.
—
Ótimo. Eu mandarei um mensageiro até a sua cidade quando eu decidir. Não se
preocupe, não seria a primeira vez que um dos meus homens invade a cidade de
Nidhogg.
—
Eu sei. Só tente não deixar uma trilha de mortos dessa vez.
—
Eu tentarei, mas não posso prometer nada...principalmente, depois de hoje.
—
Ah... — Tristan
sorriu. — As forças
das Trevas fizeram um belo estrago aqui, não é mesmo?
—
Sim...mas sem problemas. Eu ainda respiro. A Tiamat viverá enquanto eu viver.
—
Por que você tem tanta certeza disso?
—
Por que fui eu que a fundei. —
Maximillian riu. —
Graças ao apoio de alguns deuses pagãos e seus seguidores, todos oprimidos pela
Luz e pelas Trevas, a Tiamat se tornou o que ela é hoje. Entenda, garoto...
pessoas insatisfeitas com seus governantes, ou até, oprimidas pelos mesmos, são
como a espada mais poderosa já forjada. Porém, essa arma tem um grave defeito.
Não me entenda mal, não é culpa dela. Ela é apenas uma espada e, como tal, não
pode lutar sozinha. Ela precisa de alguém que tanto saiba afiá-la tanto como
usá-la propriamente. Essa espada precisa de um guerreiro que a maneje. — Ele sorriu. — Eu sou esse guerreiro. Eu
sou o líder que os oprimidos precisam. Eu sou aquele que tem os ideais a serem
seguidos. Eu sou aquele que guia. Eu sou aquele que afia a espada. Eu sou
aquele que maneja a espada. Eu sou aquele aponta a espada contra os opressores.
Eu sou aquele que irá mudar o mundo.
Tristan estava sem reação. Maximillian sorriu. Passos
apressados podiam ser ouvidos subindo as escadarias.
—
Acredito que sejam seus amigos. —
O líder da Tiamat sorriu. —
A Tiamat pode ter perdido essa batalha, mas, com certeza, ela vencerá a
próxima. Até mais.
Em um instante, Maximillian se transformou em uma estátua
de areia e se desfez, lançando-se para longe.
“Essa próxima luta...não vai ser fácil. Essa é a minha
única certeza...”.
O guerreiro das Trevas caiu, exausto, com as costas no
chão. Calmamente, ele fechou os olhos e respirou fundo.
—
Tristan! — A voz de
Astaroth o chamou. —
Você está vivo ainda!?
Lentamente, o guerreiro abriu os olhos. O Demônio sorria
largamente.
—
Aí está você! —
Astaroth gargalhou.
Vagarosamente, Tristan se levantou.
—
A Lilith não estava com você? —
O Demônio perguntou.
O guerreiro das Trevas permaneceu em silêncio. Lágrimas
voltaram a escorrer de seus olhos. O sorriso no rosto de Astaroth desapareceu.
Sem dizer nada, ele simplesmente se aproximou de Tristan e abriu os braços.
Tristan olhou nos olhos do amigo. A expressão no rosto do Demônio era zelosa e
tranqüilizadora. Tristan respirou fundo e abraçou Astaroth. Os dois não
disseram mais nada. Mais seres das Trevas chegavam até a sala onde eles
estavam. Os urros de alegria pela vitória se extinguiam ao verem a cena.
—Não...
— Tristan murmurou.
Delicadamente, o guerreiro das Trevas se afastou do
amigo.
—
Não parem de comemorar. —
Tristan disse se dirigindo a todos os que estavam presentes. — Por favor, não parem.
Tivemos uma vitória muito importante aqui hoje. Não devemos deixar que as
nossas perdas ofusquem nossa glória. —
Ele respirou fundo. —
Agora...vamos voltar para Nidhogg.
Shadowing apareceu em meio a multidão que se retirava.
Ele andou até Tristan e pousou a sua mão no ombro do amigo.
—
Conversaremos...depois... —
Tristan disse.
Shadowing e Astaroth assentiram. Em um instante, eles
deixaram a sala. Tristan respirou fundo.
“Lilith...”.
Em um instante, sua manopla esquerda se desfez. Ele
enxugou as lágrimas que ainda escorriam pelo rosto.
“Maximillian...”.
Ele cerrou os punhos e bufou.
“Não tenho nem mais condições para me preocupar com
qualquer coisa no momento...”.
Tristan esboçou um sorriso. Em um instante, ele se
transformou em trevas e desapareceu.
domingo, 15 de maio de 2016
Anúncio 26
Fala, galera!
Então...
Quem se lembra daquele teaser de uma história que ainda nem tinha nome? Alguém? Alguém tem que se lembrar... Alguém se lembrou. Certeza. Enfim...
Sobre a história: ela ainda não tem título. Nem nada muito definido... Porém: tentarei escrever mais sobre ela. É sério. Confiem em mim. Tanto que mudei o nome para Teaser 1A (antes era um negócio zoado). As próximas partes da história vão sair em 1B, 1C, etc. Quando eu tiver uma noção melhor sobre o texto, aviso e começo a postar bonitinho, sabem? "Nome tal, Capítulo X". Nesse esquema.
Hoje devo começar um novo teaser. Todo mundo comigo? Tudo mundo depositando suas esperanças em mim...?
Ótimo.
Até a próxima!
Então...
Quem se lembra daquele teaser de uma história que ainda nem tinha nome? Alguém? Alguém tem que se lembrar... Alguém se lembrou. Certeza. Enfim...
Sobre a história: ela ainda não tem título. Nem nada muito definido... Porém: tentarei escrever mais sobre ela. É sério. Confiem em mim. Tanto que mudei o nome para Teaser 1A (antes era um negócio zoado). As próximas partes da história vão sair em 1B, 1C, etc. Quando eu tiver uma noção melhor sobre o texto, aviso e começo a postar bonitinho, sabem? "Nome tal, Capítulo X". Nesse esquema.
Hoje devo começar um novo teaser. Todo mundo comigo? Tudo mundo depositando suas esperanças em mim...?
Ótimo.
Até a próxima!
quarta-feira, 11 de maio de 2016
Conto 20 - Completo
Não foi Apenas um Sonho
Luz. Em um segundo, todas as sombras foram dissipadas. Cada
canto daquele campo que parecia não ter fim estava agora preenchido pela
claridade. Um mundo escuro estava agora pintado de branco.
No centro de tudo, algo tomava forma. Um homem aparecia e
caia de joelhos.
Seus olhos se abriram. Sua respiração, pesada e ofegante,
era o segundo sinal de vida dado pelo sujeito. O rosto pálido e a expressão
assustada o faziam parecer com um cadáver ambulante.
Aquele homem olhava rapidamente de um lado para o outro claramente
confuso. Afinal, um instante atrás, ele estava sendo afogado pelas trevas,
desesperado, sem salvação aparente. Antes disso, não existiam memórias em sua
mente. Não tão recentes, pelo menos.
—
Você. — Uma voz inquietante
o chamou. — Vire-se.
Assustado, o homem engoliu em seco. Talvez aquela pessoa
pudesse o ajudar, porém, não era o que seu bom senso dizia. Aquela voz não era
natural. Definitivamente não pertencia a um ser humano.
—
Você não é surdo. — O
ser afirmou num tom neutro. — Sei que você pode me
ouvir... E sei que está com medo...
Dizer que o sujeito estava petrificado seria um equívoco
grosseiro. Suas pernas tremiam. Suas mãos suavam. Sua respiração estava
ofegante. Seu coração palpitava com o temor. Ele podia sentir no ar que estava
em perigo.
—
Você não vai vir até mim...? —
A voz indagou. — Não
vai se voltar para trás...?
O silêncio praticamente absoluto do mundo foi a resposta.
—
Não importa... — O
ser disse desprovido de qualquer emoção positiva ou negativa. — Eu vou até você...
O homem arregalou os olhos. Sua boca se abriu, porém, nenhum
som dela veio. Não havia tempo para reagir.
Um vento gélido atravessou o sujeito. Os pelos de seu corpo
se arrepiaram. Seu coração pareceu parar de bater. Sua visão se tornou turva.
Algo parecia agarrar sua garganta.
Porém, nada daquilo durou mais que alguns instantes.
Quando se deu por si, o sujeito foi surpreendido pelo ser a
sua frente.
A forma era etérea, quase irreal. O homem mal podia
distinguir as características do ser que o encarava.
Sua cor parecia variar entre uma infinidade de tons pastel,
todas quase brancas, quase desaparecendo. Seus membros pareciam inconstantes,
tremeluzindo como chamas sob uma ventania. De seu rosto, apenas um leve sorriso
era nítido.
Fora isso, nem mesmo o gênero do ser era claro. O timbre de
sua voz era ambíguo, parecendo um homem e uma mulher falando em uníssono. Seu
tórax era menos efêmero que seus
membros, porém, parecia coberto por algum tipo de manto sedoso tão
delicado quanto às pétalas de uma flor.
—
Antes de mais nada... — O
ser voltou a falar. —
Isso não é um diálogo. É um monólogo. Você vai apenas ouvir o que eu tenho a
dizer, certo?
O homem permaneceu em silêncio, ainda temendo o que o
desconhecido faria. Assim, ele apenas assentiu com um movimento rápido e
discreto com a cabeça.
O ser, então, inclinou sua cabeça para a direita. Sua
expressão se tornou um pouco mais nítida. Era possível ver que ele estava um
pouco incomodado. A resposta de seu interlocutor parecia decepcioná-lo.
— Ótimo...
— Ele bufou. — Alguma pergunta...?
É claro que haviam. Muitas. O suficiente para aquele homem
não saber por qual começar. Como o ser não havia tentado matá-lo ainda, julgou
que não seria uma má ideia pensar a respeito.
Quem é você? O que é
você? Onde estamos? Como vim parar aqui? Como eu saio daqui?
Após pensar por alguns momentos, o sujeito decidiu por qual
começaria. Ele limpou a garganta e, com toda a coragem que reuniu perante a
entidade, abriu a boca para fazer sua pergunta.
Porém, nenhum som saiu.
O sujeito pareceu não entender a princípio. Dentro de sua
cabeça, ele ouviu sua voz. Porém, após abrir sua boca, nenhum som chegou aos
seus ouvidos.
Ele tentou de novo. E novamente. E mais uma vez. E limpou a
garganta. Forçou-a até começar a tossir. Porém, não conseguia fazer nenhum
barulho. Nenhuma palavra saia. Gritos completamente abafados vieram então. Suas
mãos trêmulas foram até sua cabeça. Seus dedos se entrelaçaram por seu cabelo.
Suor começou a escorrer pela sua testa Ele gritou em vão uma segunda fez. E uma
terceira. E uma quarta. Seu rosto se esticava. Sua boca se abria até seu
limite. Entretanto, um silêncio inquietante ainda reinava. Um vazio caótico o
intoxicava. A insanidade parecia brotar e florescer a partir da paz a sua
volta.
O homem caiu de joelhos. Impotente, ele queria chorar. Mas
nem isso ele conseguia fazer.
—
Ei... — O ser o
chamou com certo bom humor. —
Não se desespere com tão pouco...
O homem olhou para a entidade. Ele queria sentir raiva. Era
quase como se aquele ser havia caçoado de sua situação. Porém, suas palavras
soaram um tanto quanto gentis. Por isso, resolveu não se precipitar.
—
Isso foi apenas um teste. —
O ser afirmou. — Você
não conseguir falar significa que está tudo indo conforme o planejado.
Observar o olhar do sujeito era o suficiente para saber que
ele estava confuso. As últimas palavras de seu interlocutor pareceram ter
deixado o pobre homem ainda mais confuso, tão aturdido quanto se tivesse levado
um soco contra a têmpora.
—
Deixe-me explicar... —
A entidade pareceu tomar fôlego. —
Você está vivo. Você está deitado em sua cama, dormindo. No momento, estamos no
seu subconsciente. É como se você estivesse sonhando... Mas não exatamente.
Afinal, eu não faço parte de sua imaginação. Eu sou bem real, apesar de não
estar vivo... Sim. Eu estou morto. Sou um espírito. Sim, espíritos conseguem se
comunicar com os vivos. De várias maneiras, na verdade. A que eu estou usando
é, bem... Especial. Não são todos que
podem fazer o que eu estou fazendo, entende?
Suas palavras foram claras, em bom som. O ser havia falado
quase pausadamente, como se falasse com uma criança. Era muita informação para
ser assimilada, é claro. Porém, como o sujeito a sua frente havia assentido,
presumiu que havia entendido tudo e que poderia continuar sua explicação sem
problemas.
—
Perfeito... — A
entidade sorriu com certa ternura. —
Então, continuando... Eu sou o que alguns podem chamar de um espírito evoluído, uma alma forte ou uma alma boa. Não importa muito o nome. O que importa é que eu tenho mais
valor no pós-vida do que na vida na Terra... O que é uma forma de compensação,
creio eu... — O ser
bufou. — Sabe, eu era
bem fraco, apesar de ter tentado não ser. Lutei muito para conseguir pouco. Foi
pisoteado por todos. Nunca realizei nenhum de meus sonhos. Morri
miseravelmente... —
Sua voz estava se alterando de pouco em pouco, bem como o seu rosto. Ao
perceber isso, respirou fundo e se acalmou. —
Enfim... Agora, morto, recebi uma oferta irrecusável. Algo que vale a pena
sacrificar a minha alma, o que resta de mim, para que se torne realidade. Algo
que nenhum mortal seria capaz de fazer. Algo digno dos deuses antigos!
Curioso, o homem observava o espírito. Sua atenção estava
voltada completamente para cada pequena palavra dita por ele. Perceber aquilo
fez o ser efêmero sorrir satisfeito, mesmo que quase imperceptivelmente.
—
Sobre o pós-vida... —
A entidade parecia escolher as palavras com cuidado. — Eu não posso te contar muito. Peço
desculpas. Se eu contar... Estarei quebrando uma clausula do meu contrato... E
fazer isso seria suicídio de minha parte... Literalmente.
— Seu olhar parecia
ter se perdido no grande vazio além de seu interlocutor. — Mas... Eu posso te
afirmar que nem tudo e preto no branco, bom ou mal... Existe muita coisa no
meio. Existem muitas criaturas no
meio. Não são anjos. Nem mesmo demônios. São... Diferentes de tudo já descrito
por humanos. Não posso ficar falando muito deles... Só direi que um deles veio
até mim. Ele me convenceu a não ir para o Grande Além com algumas poucas palavras...
E uma promessa. Uma promessa de poder...
O sujeito estava, agora, boquiaberto. Seus lábios se moviam
lentamente apesar de não fazerem nenhum som. Ele certamente tentava encontrar
palavras para dizer, tentava formular a pergunta mais importante no momento. Um
ato em vão, é claro. Sua voz não havia retornado. Porém, o espírito ficou
contente com o entusiasmo de seu ouvinte, com o desejo de saber pertencente
àquele reles homem.
—
Aposto que você deseja saber que tipo de poder eu consegui... — A entidade falou com uma tranquilidade
invejável, quase sussurrando suas palavras. —
Não é mesmo?
O homem assentiu sem pensar.
—
Ótimo. — O olhar do
ser etéreo se voltou para o alto por alguns segundos e, então, voltou a
encontrar o de seu ouvinte. —
Vou te contar... —
Ele fez uma breve pausa. Sua forma parecia se agitar, cada vez mais efêmera. — É algo realmente simples
de se explicar. Porém, as consequências de meu poder são... Absolutas. De um certo modo, ao menos...
Afinal, só uma pessoa é afetada... Você.
O sujeito pareceu um tanto quanto confuso. Por alguns
instantes, ele permaneceu em silêncio, pensativo, tentando prever as próximas
palavras de seu interlocutor. Mas não conseguia. Então, simplesmente apontou
para o próprio peito e perguntou, movendo os lábios e sem emitir um som: eu?
—
Sim, é claro. — O ser
respondeu a pergunta óbvia com boa vontade. —
Por isso que estou aqui falando com você... Para te avisar que posso ser o seu
anjo da guarda. — Ao
ver o sujeito levantar uma sobrancelha, o espírito viu que deveria continuar
falando. — Não seja
cético. Anjos da guarda realmente existem. E é assim que eles surgem. Alguém
sacrifica sua alma para uma dessas criaturas... Em troca, esse benfeitor pode arrumar a vida de alguém amado... Algo
muito melhor que apenas sorte, sabe?
Alguém manipulando o universo para salvar alguém de acidentes de trânsito,
relacionamentos amorosos sem futuro... Até mesmo um sentido para a vida, a
superação de uma crise terrível... Esperança. Uma verdadeira luz no fim do
túnel. Qualquer coisa pode ser arranjada. Tudo
pode ser arranjado. —
Ele sorriu gentilmente. Suas formas pareceriam mais nítidas, mesmo que por um
segundo apenas. —
Você ficaria surpreso em saber quantos pais se sacrificam por seus filhos,
quantas avós abandonam suas almas por seus netos, quantos homens apaixonados
escolhem ver suas almas gêmeas seguirem em frente... Ouvi tantos relatos
disso... Quase faz a sua fé na humanidade voltar...
Nesse momento, a entidade percebeu que seu ouvinte sorria.
Era um sorriso discreto, porém, genuíno, com olhos marejados e brilhantes. Sua
expressão era de um contentamento indescritível.
—
Você não sabe quem eu sou... —
O espírito disse num tom solene. —
Mas adoraria saber. Adoraria que eu te contasse.
O sujeito assentiu. Uma lágrima escorreu de seu olho
direito.
—
Eu... — O ser pareceu
escolher bem as suas próximas palavras. —
Eu... Sou alguém que você pisou em cima.
Mais uma vez, o sujeito estava confuso. Ele queria poder
pedir para o espírito repetir o que havia acabado de dizer. Afinal, aquela
última frase parecia não fazer sentido.
—
Eu sou alguém que você usou. —
O ser disse em alto e bom som. —
Quando minha utilidade acabou, fui descartado... Por ninguém menos que você, é
claro... — Sua voz se
tornava gradativamente mais alta, mais carregada de raiva. — Tenho certeza de que você
nem deve se lembrar de mim. Afinal, como poderia? Foram vários como eu que
foram pisados por você. Porém... Eu estou aqui bem na sua frente... E eu
pretendo falar mais um pouco... —
Ele rosnou como um animal selvagem. —
Eu sofri até o último instante da minha vida. Vi minha família se afastando de
mim enquanto eu enlouquecia. Vi o pouco que eu havia conquistado em minha vida
ser tirado de mim. Tentei recuperar a minha felicidade de outras maneiras. Tudo
em vão. No fim, morri na sarjeta com uma agulha fincada em meu braço. Tudo
porque eu era bondoso demais. Bondoso demais para um mundo caótico e vil... — Um momento de silêncio.
Um momento para que um sorriso desumano surgisse nitidamente no rosto do
espírito. — Mas,
agora... Eu vou poder ser feliz... Nos meus últimos momentos de vida... Eu
serei feliz... Eu serei vingado... Porque a sua vida é minha para brincar...
Seu destino será traçado pelas minhas mãos... O seu fim será dos mais
agonizantes... Pois eu serei o seu diabo...
A expressão de felicidade no rosto do homem havia
desaparecido há muito tempo. Até mesmo a confusão havia se dissipado. Tudo
estava tão claro agora.
O sujeito tremia por completo. Ele se sentia envolto por um
ar gélido que parecia penetrar seus ossos. Parecia que seu corpo estava prestes
a se desfazer, pronto para desmoronar e ver seus cacos se estilhaçando contra o
chão.
—
Você morrerá... — O
ser disse com prazer. —
Mas não antes de sua família perecer... Não antes do império que você construiu
ruir... Não antes de você antes de você se afogar lentamente no mar do
desespero e se embriagar com suas águas escuras...
Como um animal encurralado, o homem atacou.
Ele não queria mais ouvir aquilo. Não importava quanto medo
sentia, aquele homem não abaixaria a cabeça e aceitaria aquilo. Não sem lutar
ao menos.
Seu soco, entretanto, de nada foi útil.
Seu punho atravessou o corpo do espírito como se
atravessasse uma nuvem de fumaça.
Desequilibrado, o homem caiu. Seu rosto foi de encontro com
o chão. Seu corpo pesou. O tempo pareceu passar devagar enquanto ele via o ser
rindo e andando calmamente para longe de sua vista.
—
Não desista ainda... —
Ele zombou. Sua voz ecoava no lugar vazio. —
Você ainda tem anos a sua frente... Eu tenho certeza disso...
Um ruído veio debaixo do solo: um som baixo que se propagava
continuamente. A cada segundo que se passava, ele se tornava mais alto. Não
demorou muito para que o piso começasse a tremer, nem para que começasse a se
desfazer.
Era como se uma força puxasse um ponto do chão para baixo,
criando um buraco que parecia sugar tudo a sua volta. O piso se entortava,
criando uma ladeira que logo se transformaria num abismo.
O desespero começou a dominar o corpo do homem. Seu
semblante aterrorizado deixava isso nítido. Se aquilo não era o suficiente para
provar tal afirmação, o que faria a seguir certamente seria.
Com um salto, o sujeito se levantou. Ele avistou o espírito,
afastando-se dele, caminhando calmamente para longe do epicentro do caos.
O homem respirou fundo. Seus olhos se fecharam. Sua cabeça
se abaixou. Seu coração bateu mais rápido. Ele mal sentia seus pés tocarem o
chão. Seus lábios se abriram. Ele sentiu algo vindo de dentro de si.
Com um grito retumbante, o homem tomado pelo desespero
correu através de seu nêmeses.
Então, ele sentiu um peso caindo de seus ombros. Seu corpo,
tomado pela adrenalina, parecia indestrutível. Era como se flutuasse: seus pés
pareciam não tocar o chão.
E, de fato, não tocavam.
Quando se deu por si, o homem percebeu que algo o estrangulava:
era uma das mãos do ser, não mais tão etéreo, erguendo-o acima de um abismo
negro e sem fim.
Inutilmente, o sujeito levou as duas mãos até as garras
daquele demônio. Sem conseguir respirar direito, sua visão começava a ficar
turva.
—
Quando você acordar... —
O ser disse pausadamente. —
Tenha certeza de que isso não foi apenas um sonho...
Com essas últimas palavras, o demônio soltou sua vítima e
riu com deleite enquanto ouvia o grito do homem sumindo em direção às trevas.
Aquele era apenas o começo do pesadelo que seria a vida
daquele pobre homem. Ambos tinham certeza disso.
Assinar:
Postagens (Atom)