Old Friend
Velho
Amigo
Tristan piscou várias vezes seguidas duvidando dos
próprios olhos.
—
General Maximilian...é você mesmo? —
O guerreiro das Trevas perguntou. A expressão de surpresa estava estampada na
face do guerreiro.
—
Sim. — Ele respondeu
com simplicidade.
—
Mas...mas...
—
Como eu estou vivo? —
Maximillian se adiantou em completar a pergunta.
—
Sim... — Tristan
respirou fundo. —
Como você sobreviveu ao ataque em White Plains?
—
Você não foi o único a deixar o campo de batalha. — De repente, a expressão de Maximillian se
tornou sombria. — É
claro que eu, diferentemente de você, lutei ao lado dos nossos homens.
—
Eu...
—
Eu não quero ouvir desculpas. O que está feito não pode ser revertido...ainda
mais, depois de todo esse tempo.
“Depois de todo esse tempo...”.
—
Você continua o mesmo daquela época. —
Disse Tristan. — Pelo
menos...o mesmo, em relação à aparência. —
Ele olhou fundo nos olhos do homem a sua frente. —
Então...você foi escolhido por qual deus?
—
Ora... — Maximillian
sorriu. — Vejo que
você continua perspicaz, garoto. Eu achei que o choque por ter me visto vivo
depois de tanto tempo ia fazer com que esse fato passasse despercebido.
—
Responda. — O
guerreiro das Trevas ordenou friamente.
Maximillian abriu os braços e sorriu.
—
Eu sou leal àquele que salvou a minha vida naquele dia. — Ele disse sorrindo. — Eu sou leal ao homem que matou àqueles que
iriam me matar. Eu sou leal àquele que me deu abrigo. Eu sou leal àquele que
fez de mim o que eu sou hoje. Eu sou leal...a Alexander. — Lentamente, os detritos
que haviam caído do andar superior se ergueram no ar e começaram a girar em
torno de Maximillian. —
Eu sou leal ao Deus da Terra!
Tristan sorriu.
—
Você poderia ser menos dramático. —Ele
zombou. — Mas...que
bom que você fez algo de útil com a sua vida desde aquele dia.
—
Ora...obrigado. —
Maximillian sorriu. —
Mas...não foi só isso.
—
Ah...certo. Você também se juntou à Tiamat.
—
Não creio que esse seja o termo certo para definir a minha relação com a
Tiamat.
—
Bem...
“Ele é o Escolhido de um dos deuses pagãos mais
poderosos, logo...”.
—
Você é o líder da Tiamat. —
Disse Tristan. — Você
a fundou. Você que a fez crescer até esse ponto. Você que é um dos maiores
problemas de Leviathan e de Nidhogg.
—
Ora...eu diria que você está certo, se não fosse por um detalhe. — Disse Maximillian.
—
Que seria...?
—
Bem...pessoalmente...eu não me considero um problema.
—
Que alcunha você prefere?
—
Bem...eu pessoalmente prefiro ser visto como o fim.
—
O fim...?
—
O fim. O fim da Luz. O fim das Trevas. E, se você permanecer no meu
caminho...eu também serei o seu fim.
Tristan riu.
—
Belas palavras, General. —
O guerreiro das Trevas sorriu. —
Mas...não é assim que você vai me derrotar. — Ele invocou sua espada e a apontou na
direção de Maximillian. —
Se você for me derrotar...terá que ser assim.
O líder da Tiamat sorriu.
—
Sem dúvida...tem que ser assim. —
Ele confirmou. —
Mas...não agora.
Tristan franziu a testa.
—
Seja senasto, Tristan. —
Maximillian se adiantou em falar. —
Você está desgastado com as últimas lutas, garoto. Se duelássemos agora...não
valeria a pena. A luta simplesmente não seria digna de nosso potencial.
Tristan respirou fundo até se acalmar.
“É verdade...eu gastei muita energia...principalmente
contra o Pyromane. Está...difícil de respirar. Maximillian, por outro lado,
está bem descansado. Eu...provavelmente não teria chance de vencê-lo...”.
—
Por que você propõe isso? —
Tristan indagou. —
Nós poderíamos nos enfrentar agora. A vantagem seria sua. A vitória, muito
provavelmente, também seria sua.
—
Sim, eu sei. — Maximillian
afirmou.
—
Então...por quê?
—
Bem...eu espero que você não me veja como misericordioso. Não se esqueça do
ataque que ambas as cidades de Leviathan e de Nidhogg sofreram. Você é
inteligente. Eu tenho certeza que você percebeu que os estragos foram muito
maiores na sua cidade. Eu queria te desmoralizar. Eu queria te mostrar o poder
do meu exército. —
Ele sorriu. — Eu
creio que eu obtive êxito nesse objetivo. —
Maximillian bufou. — O
fato de você ter sido o meu protegido por tanto tempo...também não importa mais
agora. Você jogou tudo fora quando você fugiu do campo de batalha...quando você
me abandonou...por uma escrava. —
Ele trincou os dentes e cerrou os punhos. —
Bem... — Maximillian
respirou fundo e arrumou o cabelo com as mãos. —
O que você deve saber é que esse fim, eu matar você aqui e agora,
seria...anticlimático.
—Explique.
—
Eu era apenas um guerreiro mortal. Eu não tinha nenhum poder. Eu não era
especial. Porém...quando eu estava a beira da morte, sem esperança de continuar
vivendo, eu fui salvo...por um deus. Aquele que me salvou me deu poderes que eu
nunca antes havia sonhado em ter. Servir Leviathan? — Maximillian riu com desdém. — Nunca mais. Com ele...eu
não era ninguém. Agora...eu sou um dos seres mais poderosos que andam por essas
terras. Eu posso não ser um deus...mas eu estou bem próximo de ser, pelo menos.
— Ele sorriu. — Durante todos esses
anos...desde aquele fatídico dia...eu me fortaleci. — Maximillian gargalhou. — Você não vê, Tristan? — O sorriso no rosto do
líder da Tiamat era tão largo que era assustador. — Nós somos iguais. Nós vivemos praticamente a
mesma vida nesses últimos anos.
—
Você...parece um maníaco falando assim, mas...faz sentido. — Tristan respirou fundo. — Você está curioso para
saber quem se tornou o mais forte. Tudo o que você fez...foi para que
chegássemos a esse ponto. —
Ele sorriu. — Muito
bem. Você conseguiu atiçar a minha curiosidade. Eu quero te enfrentar mais do
que qualquer outra coisa...mas...esse não é o momento.
Maximillian sorriu.
—
Vejo que você entendeu tudo perfeitamente. —
O Escolhido do Deus da Terra ergueu ambas as mãos. Todas os escombros que
flutuavam a sua volta, bem como os que somente estavam caídos no chão,
levitaram até o andar superior. —
Então, se você não se incomodar, eu decidirei o local e a data do nosso duelo.
—
Sem objeções. — Disse
Tristan.
—
Ótimo. Eu mandarei um mensageiro até a sua cidade quando eu decidir. Não se
preocupe, não seria a primeira vez que um dos meus homens invade a cidade de
Nidhogg.
—
Eu sei. Só tente não deixar uma trilha de mortos dessa vez.
—
Eu tentarei, mas não posso prometer nada...principalmente, depois de hoje.
—
Ah... — Tristan
sorriu. — As forças
das Trevas fizeram um belo estrago aqui, não é mesmo?
—
Sim...mas sem problemas. Eu ainda respiro. A Tiamat viverá enquanto eu viver.
—
Por que você tem tanta certeza disso?
—
Por que fui eu que a fundei. —
Maximillian riu. —
Graças ao apoio de alguns deuses pagãos e seus seguidores, todos oprimidos pela
Luz e pelas Trevas, a Tiamat se tornou o que ela é hoje. Entenda, garoto...
pessoas insatisfeitas com seus governantes, ou até, oprimidas pelos mesmos, são
como a espada mais poderosa já forjada. Porém, essa arma tem um grave defeito.
Não me entenda mal, não é culpa dela. Ela é apenas uma espada e, como tal, não
pode lutar sozinha. Ela precisa de alguém que tanto saiba afiá-la tanto como
usá-la propriamente. Essa espada precisa de um guerreiro que a maneje. — Ele sorriu. — Eu sou esse guerreiro. Eu
sou o líder que os oprimidos precisam. Eu sou aquele que tem os ideais a serem
seguidos. Eu sou aquele que guia. Eu sou aquele que afia a espada. Eu sou
aquele que maneja a espada. Eu sou aquele aponta a espada contra os opressores.
Eu sou aquele que irá mudar o mundo.
Tristan estava sem reação. Maximillian sorriu. Passos
apressados podiam ser ouvidos subindo as escadarias.
—
Acredito que sejam seus amigos. —
O líder da Tiamat sorriu. —
A Tiamat pode ter perdido essa batalha, mas, com certeza, ela vencerá a
próxima. Até mais.
Em um instante, Maximillian se transformou em uma estátua
de areia e se desfez, lançando-se para longe.
“Essa próxima luta...não vai ser fácil. Essa é a minha
única certeza...”.
O guerreiro das Trevas caiu, exausto, com as costas no
chão. Calmamente, ele fechou os olhos e respirou fundo.
—
Tristan! — A voz de
Astaroth o chamou. —
Você está vivo ainda!?
Lentamente, o guerreiro abriu os olhos. O Demônio sorria
largamente.
—
Aí está você! —
Astaroth gargalhou.
Vagarosamente, Tristan se levantou.
—
A Lilith não estava com você? —
O Demônio perguntou.
O guerreiro das Trevas permaneceu em silêncio. Lágrimas
voltaram a escorrer de seus olhos. O sorriso no rosto de Astaroth desapareceu.
Sem dizer nada, ele simplesmente se aproximou de Tristan e abriu os braços.
Tristan olhou nos olhos do amigo. A expressão no rosto do Demônio era zelosa e
tranqüilizadora. Tristan respirou fundo e abraçou Astaroth. Os dois não
disseram mais nada. Mais seres das Trevas chegavam até a sala onde eles
estavam. Os urros de alegria pela vitória se extinguiam ao verem a cena.
—Não...
— Tristan murmurou.
Delicadamente, o guerreiro das Trevas se afastou do
amigo.
—
Não parem de comemorar. —
Tristan disse se dirigindo a todos os que estavam presentes. — Por favor, não parem.
Tivemos uma vitória muito importante aqui hoje. Não devemos deixar que as
nossas perdas ofusquem nossa glória. —
Ele respirou fundo. —
Agora...vamos voltar para Nidhogg.
Shadowing apareceu em meio a multidão que se retirava.
Ele andou até Tristan e pousou a sua mão no ombro do amigo.
—
Conversaremos...depois... —
Tristan disse.
Shadowing e Astaroth assentiram. Em um instante, eles
deixaram a sala. Tristan respirou fundo.
“Lilith...”.
Em um instante, sua manopla esquerda se desfez. Ele
enxugou as lágrimas que ainda escorriam pelo rosto.
“Maximillian...”.
Ele cerrou os punhos e bufou.
“Não tenho nem mais condições para me preocupar com
qualquer coisa no momento...”.
Tristan esboçou um sorriso. Em um instante, ele se
transformou em trevas e desapareceu.
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