sábado, 13 de outubro de 2018

Poema - Leviatã



Uma vez ouvi que a esperança
Era o perfeito oposto do medo
Dois inimigos unidos numa dança
Com deveras imprevisível enredo
Que transforma doce lembrança
Num episódio de gosto azedo

Mas nunca antes consegui entender
Nunca antes em toda sua plenitude
Nunca até que eu pudesse enfim ver
De um pesadelo a real magnitude
Quando ele demonstrava seu poder:
A negação de todas as virtudes

Então senti o ar pesar ao meu redor
E um vento gélido soprou na terra
Quase como se anunciasse algo pior
Que sentimentos torpes desenterra
Uma dolorosa certeza cada vez maior
 De que o amanhã pode ser uma guerra

Agora posso ver o medo claramente
Estampado no rosto daqueles que amo
Reduzidos a mais um bando descrente
Pelo sofrimento de vocês eu exclamo
Pois não aguento mais este ar doente
Por seus sorrisos de antes ainda clamo

E ainda há aqueles que tentam resistir
Motivados por um desespero dos mais puros
Tentam se segurar em algo para não cair
Não querem ser dragados pelos mares escuros
Então inventam a luz na figura de um vizir
Num falso deus que os faça se sentir seguros

E o tempo galopa no seu ritmo incessante
Marcha pronto até a hora da verdade
Se tornando cada vez menos distante
A trilha até o olho dessa tempestade
Se tornando cada vez mais agonizante
A espera da iminente calamidade

Chamas eclodem por todos os lados
O fogo ardente de uma conflagração
O ódio ruge com discursos inflamados
Dois os lados que acusam um vilão
Queimando outros por falsos pecados
Tudo queima, mas é em vão...

Porque no final só nos resta aguardar
A decisão sobre quem subirá ao divã
Juntaremos forças de novo para suportar
A mais nova face desse velho leviatã
Outra batalha ecoará nesse mesmo lugar
Se quisermos levantar mais um amanhã