Uma vez ouvi que a
esperança
Era o perfeito
oposto do medo
Dois inimigos
unidos numa dança
Com deveras
imprevisível enredo
Que transforma doce
lembrança
Num episódio de
gosto azedo
Mas nunca antes
consegui entender
Nunca antes em
toda sua plenitude
Nunca até que eu
pudesse enfim ver
De um pesadelo a real
magnitude
Quando ele demonstrava
seu poder:
A negação de todas
as virtudes
Então senti o ar
pesar ao meu redor
E um vento gélido
soprou na terra
Quase como se
anunciasse algo pior
Que sentimentos
torpes desenterra
Uma dolorosa
certeza cada vez maior
De que o amanhã pode ser uma guerra
Agora posso ver o
medo claramente
Estampado no rosto
daqueles que amo
Reduzidos a mais
um bando descrente
Pelo sofrimento de
vocês eu exclamo
Pois não aguento mais
este ar doente
Por seus sorrisos
de antes ainda clamo
E ainda há aqueles
que tentam resistir
Motivados por um
desespero dos mais puros
Tentam se segurar
em algo para não cair
Não querem ser dragados
pelos mares escuros
Então inventam a
luz na figura de um vizir
Num falso deus que
os faça se sentir seguros
E o tempo galopa
no seu ritmo incessante
Marcha pronto até
a hora da verdade
Se tornando cada
vez menos distante
A trilha até o
olho dessa tempestade
Se tornando cada
vez mais agonizante
A espera da iminente
calamidade
Chamas eclodem por todos os lados
O fogo ardente de
uma conflagração
O ódio ruge com discursos
inflamados
Dois os lados que
acusam um vilão
Queimando outros por
falsos pecados
Tudo queima, mas é
em vão...
Porque no final só
nos resta aguardar
A decisão sobre
quem subirá ao divã
Juntaremos forças de
novo para suportar
A mais nova face desse
velho leviatã
Outra batalha
ecoará nesse mesmo lugar
Se quisermos levantar
mais um amanhã