domingo, 31 de maio de 2015

Esboço 3

Ideia nova! (não sei quando, ou SE, vou continuar...mas aqui está)


A porta da velha igreja se abriu com um rangido. A porta de madeira, decrépita, quase não conseguia ficar de pé. O mesmo podia ser dito sobre o resto do lugar. O que antes era uma bela construção, com paredes brancas como marfim e vitrais coloridos e cheios de vida, agora não passava de mais um lugar abandonado naquela cidade.
Passos soaram no interior do local. Eles pertenciam a um homem que havia acabado de entrar. Seu rosto era coberto por um capuz preto que se estendia com um manto preto, fosco. Nenhuma parte de seu corpo era visível.
Calmamente, o estranho observou o interior da igreja.
O chão de madeira era coberto por um carpete que, outrora, era vermelho escarlate. Agora, sem brilho se fora, dando lugar a diversas manchas negras.
As janelas e vitrais, belos e frágeis, já haviam sido despedaçados. Com isso, alguns cacos de vidros, de várias cores, estavam espalhados no chão, tanto no lado de dentro quanto no lado de fora da igreja.
Parte do próprio teto havia sido destruído. Com isso, chuvas e ventos ajudaram a corroer o ambiente com o passar do tempo. Agora, não chovia nem ventava. O céu estava repleto de nuvens cinzentas que bloqueavam quase toda a luz do sol. Assim, apenas poucos raios de luz iluminavam o lugar, fazendo com que apenas o centro da igreja fosse iluminado.
Das dezenas de bancos da igreja, apenas alguns poucos estavam inteiros. Dentre eles, estava o que estava na primeira fileira, em frente ao velho altar de mogno, no lado esquerdo da igreja. Nele, havia um homem vestido com uma batina preta surrada e um colarinho branco: eis o padre responsável por aquele lugar.
Claramente, ele havia ouvido a porta se abrir, bem como ouviu os passos do estranho. Entretanto, nada fez o padre a respeito disso. Com uma garrafa de vinho em suas mãos, ele bebia, aparentemente, tranquilo.
O desconhecido se aproximou vagarosamente do padre. Cada passo gerava uma sinfonia de ruídos que eram ecoados por toda a igreja. Entretanto, o padre não se importava com nada além de sua bebida.
Passo a passo, o estranho chegou até o lado do banco que estava atrás do padre. O homem de batina continuou a tomar o seu vinho em paz. Então, o homem encapuzado disse, em alto e bom som:
Padre. Vire-se.
O homem com a garrafa de vinho nas mãos olhou por cima do ombro esquerdo. Mesmo avistando o estranho, ele não teve reação. O padre simplesmente voltou a olhar para frente e tomar vinho.
O desconhecido estava calmo, de um jeito frio, sem emoção. Desse jeito mesmo, ele falou:
Padre. Eu tenho que falar com você. Temos assuntos a tratar.
O padre resmungou algo inteligível e, então, com dificuldade, levantou-se. Ainda segurando sua garrafa de vinho, ele encarou o estranho. O padre, baixo e robusto, tinha a face barbada, outrora pálida, rubra por causa da bebida alcoólica. Os olhos dele, castanhos, não tinham brilho. O desconhecido reconhecia o olhar de um homem que havia perdido as esperanças melhor do que ninguém, por isso, ele tinha certeza que aquele era o caso do padre.
O homem de batina coçou o cabelo castanho claro desgrenhado e, então disse, sem nenhuma empolgação:
Se você veio dar um fim a mim, peço que faça isso rápido. Aproveite que eu não sinto nada nesse momento graças ao vinho.
Ao dizer as últimas palavras, o padre ergueu a garrafa como se propusesse um brinde. O desconhecido apenas o olhou, um pouco entristecido. Após respirar fundo, ele abaixou o capuz. Seus olhos olhavam diretamente para os do padre. Entretanto, o homem barbado não se alterava.
Alguns segundos de silêncio tomaram o lugar. Então, o desconhecido, que tinha seu rosto iluminado pela pouca luz do local, disse com firmeza:
Eu não estou aqui para te matar. Aliás, não estou mais nesse ramo.
O padre encarou o estranho por alguns instantes, não tendo certeza do que acabara de ouvir. Por alguns segundos, ele olhou para a garrafa de vinho em suas mãos, perguntando-se o quão bêbado ele estava no momento. Entretanto, ao olhar de volta para o rosto sério do homem que trajava o manto negro, ele teve certeza que não havia ouvido uma piada à toa. Assim, o padre começou a gargalhar incontrolavelmente.
O desconhecido bufou. Com um estralar de dedos, a garrafa de vinho do padre se quebrou, fazendo com que cacos de vidro e a bebida escura caíssem pelo chão. No mesmo instante, o homem barbado parou de rir.
Com um sorriso no rosto, o desconhecido disse:
Agora que tenho sua atenção... Será que você poderia cooperar?
O que você poderia querer de mim? Indagou, ligeiramente irritado, o padre.
Eu sei sobre o projeto que vocês tinham. Pensei que talvez vocês pudessem me ajudar.
O padre riu e, então, perguntou:
Você pretende acabar com a sua própria existência?
Se for preciso, sim, templário. Respondeu, determinado, o homem de manto negro.
Templário... Balbuciou o padre. Não... Não mais. Creio que você conhecesse a história...
Sim. O que vocês planejavam era considerado heresia. Traição do grau mais elevado. Ele fez uma breve pausa. E é por isso mesmo que eu preciso de sua ajuda. Eu sei que posso confiar em você.
Você é louco.
Eu tenho que ser. Caso contrário, eu já teria perdido as esperanças nesse mundo...
Ah...sim. Um herói louco... É exatamente o que esse mundo precisa.
Tem uma sugestão melhor? Esperar um segundo Arrebatamento, talvez?
O padre ficou em silêncio. Ele sabia que aquilo não aconteceria. Ele havia perdido aquela chance, afinal, ele havia perdido a sua fé. Agora, ele esperava o Apocalipse chegar para exterminá-lo.
O desconhecido bufou e, então, voltou a falar:
O plano de vocês. Ir contra a vontade de Deus e impedir o Apocalipse... Vocês planejavam matar os Quatro Cavaleiros, não?
O padre olhou com medo para o desconhecido. Seu olhar desesperançado agora tinha uma pitada de pavor. Suas pernas tremiam. De repente, o efeito da bebida parecia ter acabado.
O desconhecido, então, sorriu. Com suavidade, ele disse:
Não se preocupe. Eu já havia dito que eu não te mataria. Mas, eu volto a dizer, preciso da sua cooperação.
Onde o Diabo aparece nessa história...? Perguntou, o padre, hesitante.
Que bom que você perguntou. O desconhecido sorriu e fez uma breve pausa. Eu...falei com ele alguns dias atrás. Ele contou o plano dele para mim...e para os meus irmãos também. E, se o Apocalipse acontecer, o plano dele vai dar certo.
Mas...por quê?
Bem...não foram muitas as pessoas salvas pelo Arrebatamento. Talvez Deus tenha sido um pouco criterioso demais sobre quem salvar. Enfim... Como você talvez tenha percebido, muitas pessoas permaneceram na terra. O problema é que, com o Apocalipse, o Diabo pretende obter a alma de todos que permaneceram na terra. Com isso, o poder dele poderá ser uma ameaça até mesmo...
Para Deus...
Exato.
O padre balançou a cabeça de um lado para o outro, incrédulo, por fim perguntando:
Mas...como? Não... Isso não...
Lúcifer não deve ser subestimado. Achei que você, acima de todos, saberia disso. Disse, com firmeza, o desconhecido.
O padre olhou novamente para o rosto do homem a sua frente. A face pálida e de traços finos, apesar de um pouco magra de mais, era bela. Os cabelos prateados eram lisos, caindo até o meio das costas. Os olhos tinham a íris dourada, fazendo com que seu olhar sempre fosse intimidador, dando a ele um ar de superioridade. Sem dúvidas, o padre queria que aquilo não fosse verdade. Aquele homem, ali, tendo aquela conversa com ele. Nada daquilo era falso. E, como o padre bem sabia, a realidade era muito difícil de se lidar às vezes.
O homem barbado respirou fundo e, então, indagou:
E você tem certeza que tudo dará certo?
É claro que não. Admitiu o desconhecido. Mas é a minha única opção. Aliás, é a única opção desse mundo...
O padre ficou calado durante alguns instantes, pensando. O estranho permanecia calmo, aguardando uma pergunta. Enfim, o homem de batina disse:
Eu...ainda não entendo.
O quê? Perguntou, um pouco rispidamente, o estranho.
Por que você escolheu ficar contra o próprio Diabo?
Com um sorriso no rosto, o homem de olhos dourados respondeu:
Eu não quero que esse mundo acabe. Vocês, mortais, são muito divertidos. A graça de tudo acabaria sem vocês.
O padre estava perplexo. Sem dúvida, ele não esperava uma resposta daquelas.
De repente, urros vieram do lado de fora da igreja. O som de pessoas correndo somado com o de armas de fogo atirando vieram em seguida. O cheiro de algo queimando começou a entrar na igreja pelas janelas quebradas. O padre voltou a tremer. Foi aí que o estranho colocou sua mão no ombro dele e disse:
Não se preocupe. Vai ficar tudo bem. Apenas...deixe que eu resolvo isso.
O desconhecido tirou seu manto e o jogou em um dos bancos da igreja. Sua armadura, feita inteiramente de prata, protegia todo o seu corpo, com a única exceção sendo a cabeça. Ela, sozinha, parecia iluminar e trazer vida para todo o lugar apenas com o seu brilho. Por baixo da armadura, ele vestia uma cota de correntes negra. Com um estralar de dedos, ele invocou sua arma: uma foice. O cabo da arma parecia ser feito de ônix. A lâmina afiada, no formato de uma lua crescente, era feita de prata, assim como a armadura. Uma aura branca envolviam o guerreiro e sua arma.
O padre, após respirar fundo, ainda não acreditando muito bem na situação, murmurou:
Boa sorte...Morte.

As portas da igreja se abriram. O Quarto Cavaleiro do Apocalipse partiu para o campo de batalha. 

Capítuo 24

The Winged Death Bringer
O Portador Alado da Morte

A fera rugiu e exalou fogo pela boca. Muitos dos sobreviventes da invasão resolveram usar suas últimas forças para fugir do local. Outros, porém, não tinham nem mais energias para se salvarem e, então, escolheram entre apontar suas armas para a criatura ou se jogarem ao chão, convictos de que seus fins haviam chego. Tristan encarou a criatura. Ele segurava sua espada com força. A determinação para enfrentar o dragão estava estampada em seu rosto. Porém, ele não tinha forças para tanto.
“Ótimo...então é assim que eu vou morrer...”.
A fera rondava os céus lançando chamas em todos que sobrevoava. Gritos de desespero eram ouvidos, tanto por aqueles que corriam da fera, tanto pelos que agonizavam enquanto queimavam até a morte.
Não ouse desistir de viver agora, garoto. Nidhogg disse. A aura do Lorde das Trevas brilhava intensamente. A luz púrpura fazia com que o rosto agora sério do deus ficasse ainda mais tenebroso.
“Como ele sabe...? Não, é só um palpite dele”.
Como? Tristan perguntou.
Quer que eu repita? Nidhogg arqueou uma sobrancelha.
Tristan riu.
É tão óbvio assim? Tristan perguntou.
Está estampado no seu rosto. O Lorde das Trevas respondeu.   Na verdade, nos seus olhos. Seu rosto...você consegue consegui fingir que está forte por ele. Mas, no caso de seus olhos...
O quê? Qual o problema com eles?
Eles estão vazios. Sem força. Sem determinação. Sem esperança. O brilho escarlate deles está fraco, quase sem vida. Eles te delatam. Eles dizem que você desistiu de viver.
O guerreiro das Trevas ficou em silêncio.
Pense bem, Tristan. Nidhogg falou calmamente. Você tem motivos para viver, não? Por que você luta? Por que você acorda todos os dias? A voz do Lorde das Trevas era tão tranqüilizante nesse momento que chegava a ser quase hipnótica. Uma pessoa. Nidhogg sorriu para seu Escolhido. É uma pessoa. É o sorriso dessa pessoa. A fala dessa pessoa. A mera presença dessa pessoa melhora o seu dia.
Tristan olhou surpreso para Nidhogg.
Não precisa dizer nada. O Lorde das Trevas sorriu. Eu sei quem é. É óbvio...pelo menos para mim, que sou um deus. Ele riu.
O dragão avançou na direção dos dois que estavam parados no meio da praça. Com um estralar de dedos, Nidhogg ateou fogo na criatura, que começou a se desfazer no ar. Sem deixar vestígios, a fera desaparecia lentamente. De repente, da onde o dragão estava, um vulto surgiu, caindo pelos céus. O Lorde das Trevas se posicionou perto de onde o vulto iria cair e, então, estendeu sua espada na diagonal para cima. Nidhogg riu. Ao atingir a lâmina, o vulto fora cortado ao meio na vertical. O corpo dividido em dois na frente do Lorde das Trevas trajava uma armadura de cristal e uma capa azul. Nidhogg fez com que sua espada desaparecesse nas trevas.
Belo truque, ilusionista. O Lorde das Trevas disse sem ânimo.
“O quê...?”.
Tristan se transformou em trevas e apareceu do lado do deus.
Isso foi obre de um único homem? O guerreiro das Trevas olhou para o corpo cortado ao meio que estava jogado a frente de Nidhogg. Como...?
Ele treinou muito...tanto em qualidade, tanto em quantidade. Nidhogg disse. Os seguidores do Deus da Ilusão conseguem ser muito poderosos caso se dediquem muito. Nem queira saber o quão poderoso o próprio deus era... O Lorde das Trevas riu. Bem...eu conto essa história algum dia. O que você precisa saber é que até acreditei por um instante que aquele dragão era real. Nunca subestime os seguidores da Ilusão. Os poucos que você já enfrentou até hoje...nenhum deles se compara a, por exemplo, esse nosso amigo aqui. Nidhogg apontou para o corpo cortado ao meio.
O Lorde das Trevas olhou para o seu Escolhido. Os sobreviventes ao ataque do ilusionista urravam e glorificavam ainda mais o deus. O clima era de celebração para todos, menos para Tristan.
Nidhogg... O guerreiro das Trevas chamou bem baixo.
Sim? O deus colocou sua mão direita sobre o ombro esquerdo de Tristan. Se é sobre o que eu acho que é...melhor deixar para mais tarde.
Mas...a Isolde...
O que tem ela?
Eu não vou desistir dela...eu...
Espere. Nidhogg interrompeu. O Lorde das Trevas riu. Você tem uma escolha para fazer, você não acha?
Tristan ficou em silêncio.
Pense bem. O Lorde das Trevas advertiu. Você só pode escolher uma das alternativas...e não há nenhum jeito de voltar atrás na escolha. Lilith ou Isolde? Nidhogg sorriu. Eu vou te apoiar em qualquer uma das escolhas, meu amigo. Mas...pense bem. Penso o quanto você tiver que pensar.
Os seres das Trevas sobreviventes aos ataques haviam se reunido em volta de Nidhogg e Tristan a uma distância suficiente para não se intrometerem no que discutiam em particular.
“Espero sinceramente que ninguém tenha ouvido o que acabou de ser falado aqui...”.
O exército urrava vitorioso. Nidhogg estendeu a mão. Todos ficaram quietos, esperando pelo o que o deus iria falar.
Seres das Trevas! A voz de Nidhogg soava imponente a alta o suficiente para que qualquer um que estava na praça pudesse ouvir-lo. Meus fiéis seguidores! Meus soldados! Meus companheiros nessa guerra! Nós resistimos ao ataque do invasor! Nós mostramos para eles que nosso Império não pode ser derrotado nem pela união de dois povos! Nós não podemos ser subjugados, mas nós podemos subjugar! Nós somos o mais poderoso Império dessas terras! Tivemos muitas perdas nessa batalha, é claro. E é exatamente por isso que haverá retaliação. Nós vamos vingar a morte dos que aqui morreram lutando pelo Império, lutando por todos nós! Vamos honrar a memória daqueles que deram o próprio sangue pelo Império! Vamos fazer com que suas mortes não tenham sido em vão! Vamos aniquilar o inimigo! Vamos ceifar a vida de todos os bárbaros e membros da Tiamat que aparecerem em nosso caminho! Vamos marchar até suas casas, fortalezas e reinos! Vamos fazer com que eles sintam não só a dor dos nossos aliados, amigos e familiares que morreram, mas também a nossa dor! A dor daqueles que tiveram peças fundamentais de suas vidas retiradas à força, sem aviso prévio! Vamos fazer com que eles se ajoelhem perante nós! Vamos fazer com que eles implorem por suas vidas patéticas até o último momento! Vamos fazer com que o inimigo agonize até que nossas espadas, flechas e magias acabem com a existência deplorável deles! Vamos, juntos, dar um fim aos que se opõe ao nosso poder!
Uma explosão de palmas e urros surgiu por todos os lados. Todos os que estavam presentes estavam eufóricos e, apesar da exaustão e dos ferimentos, pareciam preparados para mais uma batalha. Nidhogg sorriu ao ver seus homens tão entusiasmados.
Belo discurso. Tristan elogiou.
Obrigado. Nidhogg sorriu. Mas ainda não acabei.
O Lorde das Trevas levantou a mão de novo. Pouco tempo depois, a multidão se acalmou. Apesar de fazem silêncio, todos estavam muito agitados.
É louvável que já se mostrem aptos a uma nova batalha, guerreiros, mas agora não é a hora. Nidhogg disse. Devemos nos preparar não só espiritualmente para a próxima luta. Devemos reconstruir o que foi destruído na cidade. Devemos tratar as nossas feridas. Devemos enterrar nossos companheiros caídos. Devemos estabelecer as melhores estratégias para os confrontos que estão por vir. Devemos saber agradecer uns aos outros por estarmos vivos. Devemos descansar hoje para nos prepararmos para um novo amanhã.
O olhar de todos os Demônios, assassinos, mercenários e ladrões da cidade havia mudado. Um brilho de esperança estava em todos os olhos, sem exceção. Todos aplaudiram o deus e, aos poucos, foram seguindo suas vidas. Alguns foram direto para suas casas, a fim de tratar ferimentos ou recuperar suas energias. Outros foram recolhendo os corpos que estavam espalhados pelo chão ou, então, retirando os escombros de prédios caídos das ruas. Uma minoria que, surpreendentemente, parecia bem já começava a discutir planos para a retaliação contra os bárbaros e a Tiamat.
Bem... melhor eu voltar para o palácio. Disse Nidhogg. Vou ter muito trabalho a fazer agora. O olhar do Lorde das Trevas parecia melancólico. Ninguém disse que seria fácil criar e guiar seu povo, principalmente em situações como essas. Ele sorriu. Mas, bem...fui eu que escolhi isso. Não me arrependo. Espero que você também não se arrependa de suas escolhas, Tristan.
Nidhogg se transformou em trevas e foi direto para o último andar do palácio.
“Minhas escolhas...é...não vai ser fácil...”.
Tristan! A voz de Lilith surgiu em um grito. Droga...perdi o Nidhogg. Só consegui chegar aqui agora. Tinha uma multidão no meu caminho. Literalmente.
Tristan sorriu. Lilith pareceu perdida em seus pensamentos por um instante e, rapidamente, jogou-se contra o guerreiro das Trevas, abraçando-o.
Por um instante, achei que você não tinha sobrevivido. Ele falou com a voz abafada. Seu rosto estava junto ao peitoral da armadura de Tristan. Quando eu vi e ouvi quantos invasores estavam na cidade...e depois apareceu aquele dragão...eu...eu...
Acalme-se. Tristan falou de maneira tranqüilizadora. Está tudo bem agora.
Sim, mas...eu senti tanto medo por você. E não podia sair de onde eu estava. Eu não podia abandonar o Astaroth...
Astaroth... Tristan parecia ter levado um choque ao lembrar do amigo psicótico. Ele está bem?
Ainda está vivo...mas em um sono profundo. Não sei quando ele via recuperar todas as energias.
  Ótimo... Tristan suspirou aliviado. Ele olhou para Lilith. E você? Você parece tão bem que não parece que estava no meio dessa guerra.
Isso porque eu não usei mais nenhuma magia...diferentemente de você. Ela sorriu. Mas vejo que você está inteiro até.
Graças ao Nidhogg.
Mesmo assim...que bom que você não morreu.
Digo o mesmo.
Não que você pareça muito preocupado comigo...
Tristan beijou a bochecha de Lilith e a abraçou mais forte.
Não diga tolices. O guerreiro das Trevas sorriu. Eu posso não demonstrar muito bem, mas acredite, eu estava preocupado.
Se você diz...acho que posso acreditar. Disse Lilith sorrindo.
Tristan a soltou.
  Bem...eu vou tentar recuperar um pouco das minhas energias agora. Tristan disse. Acho que só tenho forças suficientes para chegar até meu quarto.
Nesse caso...bons sonhos. Lilith o beijou na bochecha. Posso não estar esgotada que nem você, mas preciso dormir agora. Até mais!

Tristan se despediu com um aceno de mão. Rapidamente, ele se transformou em trevas e surgiu em seu quarto, caindo no sono no mesmo instante que se deitou em sua cama.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Nightmareland, Capítulo 3

A Origem da Voz


Escuridão. Nada além disso. Pelo menos, escuridão era tudo o que existia a minha frente.
O pouco de luz que havia naquele corredor vinha de trás de mim. Com alguns passos para trás, eu estaria de volta ao lugar que eu achava seguro. Entretanto, eu conseguia manter a minha cabeça no lugar, pelo menos, naquele instante. Segurança era apenas uma ilusão, obra do demônio que me colocou lá. Eu sabia que não poderia baixar a guarda.
A voz soou de novo. Dessa vez, mais alta e, também, ecoando por todo o corredor.
Aquilo foi inesperadamente bom. Com isso, digo que foi útil. Eu estava começando a me perder em meus pensamentos. E eu sabia que, se eu fosse morrer naquele lugar, seria por algum descuido meu. Por isso, em meio às trevas, eu continuei caminhando. Foi aí que eu ouvi.
Um som alto, como um trovão, soou atrás de mim. Abruptamente, eu me virei para trás.
A passagem havia sido fechada. Alguém, ou algo, a havia fechado, batendo a porta com força além do necessário. Com isso, eu estava, agora, completamente imerso nas trevas.
A voz voltou a falar algo. Não sabia, ainda, o que dizia. Além disso, eu nem sabia de onde ela vinha. De dentro do corredor, o som parecia vir de todos os lados, ecoando por o que parecia ser uma eternidade.
Tentei me manter calmo. Toquei a parede que estava à minha esquerda. Em seguida, fiz o mesmo com a direita. Elas continuavam lá. Por isso, o meu caminho continuava o mesmo: seguir, reto, o corredor.
Sussurrando trechos de músicas, assoviando e até estralando os dedos, eu continuava a andar.
Cinco minutos? Talvez dez? Talvez apenas dois? Quem sabe uma hora? Eu não sabia quanto tempo havia se passado. E eu não queria saber se para isso eu tivesse que pensar. Enquanto minhas pernas não estivessem latejando de dor, eu continuaria em frente.
Em intervalos completamente irregulares, a voz falava algo. Às vezes se passavam não mais do que dez segundos. Noutras, passavam-se o que eu sentia ser minutos. Porém, pude chegar a uma conclusão: eu nunca entenderia o que a voz falava.
Não importava o quanto eu me aproximasse ou o quanto eu estivesse atento, as palavras ditas por ele, ou ela, eram totalmente incompreensíveis para mim. Isso por que elas estavam sendo ditas em uma língua que eu não conhecia.
Apesar de eu nem saber que idioma era aquele, eu ouvi vezes o suficiente aquela frase para saber pronunciá-la.
Era estranho, porém, prazeroso. Seja o que for que eu estava falando, soava bem. Era como cantar uma música de uma banda estrangeira na língua deles. Não fazia sentido, mas era simplesmente uma ótima sensação.
De repente, a voz gritou. Eram as mesmas palavras desconhecidas, mas a entonação era completamente diferente. Eu podia sentir o desespero na voz.
Uma. Duas. Três vezes. E não parava. A voz gritava com toda a força. Apenas a lembrança daquele som agudo me gela a espinha. Isso por que...por que foi aí que eu percebi que aqueles gritos desesperados pertenciam a uma criança de não mais de cinco anos idade.
Eu comecei a correr. A situação era inquietante além do imaginável. Todo aquele tempo que eu ouvi a voz...era uma criança sofrendo.
A cada passada que eu dava, eu pensava mais na história daquela mãe desnaturada e de seu filho não amado. Muita coisa não estava clara. Eu não sabia se ficava feliz ou não com isso. Mas eu tinha certeza que a história não teve um final feliz. Não era preciso ser nenhum tipo de adivinho para se chegar a tal conclusão.
Enquanto corria, comecei a achar que estava enlouquecendo. As paredes pareciam estar mudando de cor. Alias, não só elas. Todo o lugar parecia se transformar em uma fração de segundos e, com a mesma facilidade, voltava a ser o corredor imerso nas trevas.
Aquilo estava me deixando um pouco enjoada. Porém, eu continuava correndo.
Mas não demorou muito para eu perceber. Toda transformação conseguia se manter por alguns instantes a mais que a anterior. Assim, fui percebendo o novo cenário.
Paredes verdes e decrépitas. Luzes amarelas e fracas vindas do teto. Chão de madeira que rangia a cada passo que eu dava. Escuridão à distância. Droga... Foi aí que eu percebei que o novo cenário era, na verdade, o velho cenário: eu estava de volta ao mesmo corredor que estava quando saí do quarto branco.
Eu nem havia percebido, mas eu havia hesitado. Com isso, digo que eu havia não só parado de correr, como também parado de me mover. Logo em seguida, senti algo gelado tocar as minhas costas.
O frio tomou conta de meu corpo. Minha mente parou de funcionar naquele instante. Meu medo de me virar para trás e ver o que estava lá era grande demais. Entretanto, eu não tive que me mover. Algo passou por entre as minhas pernas. Senti todos os pelos de meu corpo se arrepiarem. Quando olhei para baixo, porém, nada havia lá...a não ser mais uma carta luminescente.
Como eu esperava, era mais uma mensagem do demônio.
“Você não devia ter parado...”.
Era difícil ler sob aquela luz fraca. Inconscientemente, eu balbuciei as palavras que estavam escritas no papel.
“Você...não...devia...ter...”.
Eu havia lido a última palavra, mas não a havia balbuciado. Algo acabou me impedindo.
Enquanto eu olhava para a carta, uma mão surgiu das trevas, agarrando o meu pescoço e me erguendo no ar. Então, eu o vi.
Em meio às trevas, o monstro surgiu, aos poucos, bem na minha frente.
Aquilo parecia uma pessoa, mas, tenho certeza de que não era. O corpo era musculoso, porém, esguio. Ele devia ter quase dois metros de altura. A pele era negra como carvão, sem brilho algum. Sua cabeça era um oval, lisa. O monstro não tinha cabelo, nem orelhas, nem nariz. Os olhos dele eram apenas círculos brancos que brilhavam intensamente. A boca era apenas um buraco largo e assimétrico na cabeça do monstro. Os dentes, contorcidos em um sorriso macabro, eram quadrados irregulares também feitos do que me parecia ser carvão.
A mão dele continuava a apertar o meu pescoço. Cheguei a pensar que ele o monstro o quebraria. Porém, enquanto o meu ar acaba e minha visão se embaçava, percebi que a criatura tinha optado por uma maneira mais lenta de me matar.
Foi aí que eu ouvi o som de algo se quebrando. Foram as lâmpadas do teto.
Em um instante, o monstro desapareceu. Eu caí de joelhos no chão. Eu respirava desesperadamente para recuperar o ar. Levei minha mão esquerda ao meu pescoço. Eu o sentia latejar. Por pouco, eu não havia morrido.
Envolto pela escuridão, e agora sem um monstro tentando me matar com um sorriso no rosto, eu vi de volta ao breu.
Porém, no mesmo instante em que eu havia pensado nisso, uma pequena luz brilhou, poucos metros a minha frente.
Lentamente, quase me arrastando, eu fui até o que eu tinha certeza que era mais uma mensagem do demônio.
Ao chegar lá, vi que eu estava certo. Agora, havia uma porta bem na minha frente com uma carta pregada nela.
“Você devia ter visto a sua cara! Hahahaha!”.
Ótimo. O Demônio estava tirando sarro de mim.
De repente, algo passou pela fresta da porta. Aos meus pés, estava mais uma carta luminescente. Nela, nada havia além de uma foto minha. O pavor estava estampado em meu rosto. O suor escorria pela minha face. Minha cara se contorcia de dor enquanto eu era estrangulado por uma mão negra como carvão.
Enquanto eu sentia o meu corpo tremer, outra carta passou por debaixo da porta.
“Hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha!”
Isso estava escrita em letras exageradamente grandes. Claramente, o demônio estava gostando de ver o meu sofrimento.
Eu amassei a última carta e a joguei para trás. Rapidamente, tentei girar a maçaneta da porta. O ato fora em vão. Ela estava trancada. Furiosamente, comecei a bater na porta. Outra ação minha em vão. Quando percebi, minhas mãos estavam rubras, a ponto de começarem a sangrar.
Eu respirei fundo, exalando lentamente, tentando me acalmar. Repeti o ato algumas vezes.
Quando eu consegui voltar a pensar, ouvi o som de outra carta passando por debaixo da porta.
“Agora que você está mais calminho, eu vou abrir a porta. Quando você entrar nessa sala, procura a lâmpada. Não é difícil, viu?”.
Resolvi manter aquilo em mente. Após eu ouvir o som da porta se destrancando pelo lado de dentro, eu girei a maçaneta. A porta se abriu.
Mais trevas estavam a minha frente. Eu já estava me acostumando com aquilo. Por isso, não hesitei ao entrar na sala.
Não havia nada de especial lá. O ambiente era ligeiramente mais frio e úmido. Porém, eu ainda tinha em mente o que o demônio me contou na última carta.
Após dois passos dados para frente, eu senti que eu havia batido a cabeça em algo. Calmamente, eu envolvi aquilo com minha mão direita. O objeto era leve, frio e longo: uma pequena corda de metal.
A lâmpada. Aquilo deveria acender-la. Com isso em mente, puxei a corrente.
O ambiente a minha volta era desconcertante. O chão e o teto eram cinzentos. As paredes eram de pedra, também cinzas. Nelas, entretanto, estava o motivo de minha inquietação.
Palavras em algum idioma estranho estavam escritas nessas paredes. Alguém as havia escrito com várias cores diferentes. Todas as letras haviam sido escritas de um jeito preguiçoso, arrastado. Além disso, haviam algumas marcas de unhas nas superfícies rochosas.
Foi então que eu ouvi um estrondo como o de um trovão novamente. Eu não precisava me virar para saber que a porta atrás de mim havia se fechado.
Calmamente, eu me voltei para trás. Olhei para a porta que, agora, percebi ser de metal. Nela, havia uma carta branca que brilhava, bem como, perturbadoramente, mais marcas de unhas.
“Resolvi te contar como a história termina! Então, lembra que a mãe falou que não ia matar o filho? Então... Hahahahaha! Ela resolveu trancar o moleque neste quarto! Ela fazia isso sempre que ela sentia vontade! Haha! Só que tem um problema! Um dia, ela teve que sair de casa! Não me lembro o que ela foi comprar...mas isso não importa! O que importa é que ela acabou sendo atropelada! Haha!”.
O desfecho da história é, no mínimo, inquietante.
“E o moleque? Ele acabou ficando preso nesse quarto! Sem nada pra comer ou beber! Só foram achar o corpo dele muito tempo depois! No tempo que ele ficou aqui, ele tentou escapar cavando com as próprias mãos! Que idiota! Mas não antes de ele escrever com os gizes de cor nas paredes! Sabe o que elas dizem? É claro que não! Mas não se preocupe! Eu traduzo!”.
Abismado, eu li:
“Eu prometo que vou me comportar, mamãe! Deixe-me sair, por favor!”.
Para finalizar, eu tremi enquanto lia o fim da carta.
“E foi exatamente isso o que você estava ouvindo o fantasma do menino gritar esse tempo todo! Haha!”.
Eu gostaria de dizer que eu estava paralisado de medo, mas a verdade era que eu estava tremendo como nunca antes.
Eu tentei respirar fundo. Eu tinha que me acalmar. Mas eu não consegui. Mais uma vez, eu ouvi a voz. Desta vez, ainda mais próxima e, também, eu pude entender o que ela disse:

Eu prometo que vou me comportar, mamãe! Deixe-me sair, por favor! O menino fez uma breve pausa e, então, disse algo novo enquanto senti algo gelado tocando a parte de trás de minha perna esquerda. Que bom que eu não estou sozinho agora...

quarta-feira, 27 de maio de 2015

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Então, sobre o Damian... Por enquanto, não vou continuar a escrever. Acabei percebendo que o universo que eu comecei semana passada pode ser expandido muito mais. Consequentemente, várias novas ideias me surgiram sobre a série, desde detalhes sobre as regiões, seus habitantes e até sobre a própria guerra que acontece. Enfim, tudo isso me levou a seguinte conclusão: não escrever mais nada por enquanto. Vou ir bolando, aos poucos, mais detalhes. É o tipo de livro que pode acabar criando outros livros, contando histórias diferentes no mesmo universo.
Já como eu já tenho outras três séries em andamento, creio que a minha melhor alternativa é me focar nelas. Porém, do jeito que eu sou, daqui a pouco acabo escrevendo o primeiro capítulo (ou um rascunho) de outra história.
Quem sabe? Talvez eu conseguisse escrever algo decente sobre vampiros. Isso seria interessante...

terça-feira, 26 de maio de 2015

A Queda, Capítulo 10

Caminho Sem Volta


O grupo liderado por Overseer seguiu o seu caminho sem falar muito. Eles estavam em um território completamente estranho e, agora, sem a ajuda do androide. O bando preferia não arriscar chamar a atenção de alguma criatura desconhecida. A luz emitida pelas chamas em suas mãos já era um tanto quanto arriscado, mas era o único jeito de se atravessar as trevas que os cercavam.
Entretanto, por boa parte do caminho, nada apareceu para atacá-los. Andando por corredores e descendo escadarias de aço o grupo chegou a um grande elevador. Estranhamente, o uso de magia elétrica não fora necessária desta vez. Todos se entreolharam, porém, sem a opinião do andróide, eles não tinham certeza se poderiam haver, de fato, elevadores como aquele. Entretanto, não lhes restava outra alternativa a não ser embarcar nele. Afinal, aquele era o único caminho possível.
A porta de aço indestrutível, que separou o grupo em dois, não havia sido um caso isolado. Felizmente, ninguém havia sido separado desta vez. Ao invés disso, as portas de aço apenas impediram a passagem deles em algumas ocasiões. Assim, até onde o grupo de Overseer sabia, apenas um único caminho foi disponibilizado para eles. E, claro, isso os preocupava.
Dez minutos se passaram. Nenhum dos seis membros do grupo se incomodaria em caminhar durante esse tempo. Mas todos estavam inquietos. Nada mais normal. Afinal, dez minutos foi o tempo que o elevador demorou a chegar ao solo.
Aqueles foram momentos agonizantes para o grupo. Afinal, nada podiam eles fazer a não ser esperar.
Enfim em contato com o solo, a porta do elevador se abriu. Claridade preencheu a câmara metálica. Os olhos de todos arderam.
Felizmente, não demorou muito para que eles se acostumassem com a claridade. Assim, eles puderam ver onde estavam.
Naquele momento, todos estavam embasbacados, sem nem saber o que dizer sobre o esplendor do local.
O grupo estava, agora, debaixo da cidade. O céu deles eram as paredes da caverna. As superfícies rochosas e irregulares de coloração bege tinham, espalhadas desordenadamente, multicoloridos cravados por toda parte. A luz que provinha das jóias iluminava o local. Abaixo deles, um abismo negro, coberto por neblina, parecia os ameaçar. Entretanto, a luz dos cristais fazia com que essa neblina fosse tingida de cores. Assim, abaixo do grupo, algo semelhante a uma aurora boreal se estendia, fazendo com que o abismo parece um pouco menos ameaçador.
De fato, as cores daquele lugar, somadas às brisas gentis que sopravam o aroma de dezenas de flores, eram tranquilizadoras. Um som único também ecoava pelo lugar. Era como uma delicada e esplendorosa sinfonia de sons de origem desconhecida. Entretanto, todos os seis membros do grupo ainda estavam extasiados com a visão majestosa do lugar.
Todos demoraram a perceber que as plataformas metálicas continuavam naquela área. Pontes de aço azul cruzavam o abismo de vários ângulos, conectando grandes plataformas de metal e de rocha umas com as outras. Alguns túneis de metal atravessavam certas áreas rochosas que mais pareciam montanhas de ponta cabeça. Algumas escadas ligavam certas plataformas e pontes, uma vez que toda a área se estendia por quilômetros abaixo.
Overseer, com um largo sorriso no rosto, quebrou o silêncio:
Esse lugar não para de me surpreender...
Sim... Concordou Specter. Isso me faz perguntar...
“O que mais nos aguarda neste lugar?” Arriscou Judge.
Sim. O assassino concordou sorrindo.
Não faço ideia. Disse Juggernaut. Só sei que não podemos baixar a guarda.
Isso é verdade... Concordou o líder mercenário.
Assentindo com a cabeça, os outros também concordaram com o que Juggernaut havia dito.
Silver, de repente, voltou-se para o Mago e disse:
Nem mesmo você sabe, não é?
Como eu poderia? Respondeu o Mago indagando.
Silver deu de ombros e murmurou:
Sei lá...
Overseer respirou fundo, estufando o peitoral e enchendo os pulmões. Então, exalou calmamente e perguntou:
Vocês vão continuar apreciando a paisagem?
Não seria uma má ideia... Murmurou Silver. Logo em seguida, ele sorriu. Aliás, é uma bela ideia.
Suponho que descansarmos um pouco não faria mal... Acrescentou Judge.
Overseer ergueu uma sobrancelha. Claramente, ele não esperava aquela resposta. Entretanto, o líder mercenário estava um pouco cansado, bem como todos os outros ali também estavam. Eles haviam caminhado muito e só haviam parado antes de se encontrarem com o androide. Além disso, aquela jornada parecia estar sendo mais cansativa psicologicamente do que fisicamente. Logo, Overseer suspirou e disse:
Creio que...nós merecemos um pequeno descanso.
Ninguém contestou o que foi dito pelo líder mercenário. Com um sorriso no rosto, todos se sentaram.
A plataforma de rocha onde eles estavam sentados não era muito grande. Não havia espaço suficiente para eles, por exemplo, se deitarem. Mas, caso conforto não fosse muito importante, não haveria problema.  
Juggernaut e Overseer haviam se encostado-se à parte de fora do elevador. Specter, Judge, Silver e o Mago estavam sentados ao lado deles, fazendo um círculo.
Todos haviam se alimentado bem da última vez. Logo, ninguém sentia fome, o que era bom, já que eles teriam que conseguir mais comida.
Não demorou muito para os corpos dos seis companheiros amolecerem. Mesmo tentando conversar, e até contar algumas piadas, eles acabaram adormecendo.
Realmente, o cansaço físico e psicológico havia os enfraquecido. Porém, não havia sido aquilo que os havia derrubado. De fato, o lugar onde eles estavam providenciou aquilo: o doce aroma que eles haviam sentido era sonífero.

Apesar de fraco, aquilo fora o suficiente para fazê-los dormir. Em breve, o grupo se acostumaria com aquilo. O aroma das flores não surtiria mais efeito neles. Mas não antes dos seis despertarem com um ruído estrondoso vindo do elevador.

domingo, 24 de maio de 2015

Morning Star, Capítulo 1

O Discurso


De repente, houve silêncio na cidade. Milhões de pessoas pararam de falar. Todas sabiam o que aconteceria. Muitos estavam ansiosos por aquele momento. Outros, entretanto, apenas queriam que aquilo acabasse o mais rápido possível. Então ele apareceu.
Andando sobre um palco suspenso a mais de vinte metros de altura, lá estava Adrian Bennett. Câmeras transmitiam a imagem dele por incontáveis telões espalhados pela cidade. O homem de pouco mais de um metro e oitenta de altura exibia um sorriso branco perfeito. Seu cabelo escuro era penteado para trás. Seus olhos verdes brilhavam. A pele era cor de alabastro. O lustroso terno que ele trajava era prata com uma gravata azul índigo. Aquele homem, que havia chegado aos quarenta anos de idade recentemente, era o líder de toda aquela nação que o observava.
Enquanto os milhões de cidadãos da grande nação de Camelot olhavam em sua direção, Adrian sorria calmamente. Ele não só estava acostumado com aquilo: ele adorava toda aquela atenção.
Confiante e elegante como sempre, ele começou a proferir o seu discurso:
Como todos sabem, trinta anos atrás, nossa grande nação, Camelot, viu-se obrigada a entrar em confronto com a outra potência deste continente: Asgard. Depois de dez anos de guerra, nós, bem como eles, colocamos em prática os nossos mais ambiciosos projetos de guerra.
Alguns dos telões começaram a apresentar novas imagens. Adrian continuou a falar, desta vez, mais sério:
A Iniciativa Mjolnir usou todos os avanços tecnológicos desenvolvidos pela Asgard em pró da construção de um exército robótico. Altamente resistentes a danos físicos, de tiros de rifles a explosão de granadas, os androides inimigos não temem nada. Usando armas de altíssima qualidade, o exército de Asgard luta usando sempre cem por cento de seu potencial. Além disso, por serem máquinas, eles podem ser construídos e consertados com rapidez estonteante. Assim, a população de Asgard se sente confiante que seus servos robóticos, ao serem instruídos corretamente, poderão levá-los à vitória.
Os telões apresentavam os robôs de Asgard. Um exército monumental de aço, com soldados de várias formas e tamanhos, podia ser visto por todos. Murmúrios preocupados começaram entre a população. Adrian não sabia podia ouvir exatamente o que diziam, mas ele não se abalou. Tudo seguia conforme ele havia planejado.
Com o sorriso caloroso e confiante de volta em seu rosto, ele continuou o seu discurso:
Entretanto, nós, de Camelot, escolhemos outro caminho. Através da Iniciativa Excalibur, nós apostamos no fator humano. Inúmeras batalhas já foram vencidas no passado por causa do esforço de um pequeno grupo de soldados que, apesar de se encontrarem em situações desfavoráveis, escolheu não desistir. E esse é o poder único da humanidade. A nossa determinação pode mover montanhas se realmente nos empenharmos. E foi exatamente por isso que colocamos o nosso futuro nas mãos de nosso povo e, em especial, nas mãos de nossas novas gerações.
As imagens do exército inimigo já haviam desaparecido dos telões. Agora, o foco era Adrian.
Mais murmúrios vieram. Desta vez, porém, o teor de preocupação parecia haver diminuído. Bennet continuou:
E por isso que hoje é um dia especial. Neste dia, vinte anos atrás, a Iniciativa Excalibur começou e, agora, além de milhões de soldados que escolheram servir o exército de Camelot, temos também dezenas de milhares de guerreiros únicos. Criados desde o nascimento para esta guerra, estes jovens surpreendem a nós e, principalmente, a Asgard. Ele fez uma breve pausa. Entretanto, diferente de como os povos antigos fariam, nós não o submetemos a um treinamento militar brutal, quase desumano. Isso iria contra os nossos princípios. Afinal, o nosso objetivo era criar um exército humano. Os olhos de Adrian brilhavam ainda mais agora. Acreditando que cada indivíduo tem um talento especial para algo, nossos jovens guerreiros foram criados com este objetivo em mente: achar tal talento.
Os telões começaram, agora, a mostrar imagens do exército de Camelot. Usando armaduras cinzentas, feitas com tecnologia de ponta, estavam tropas de homens e mulheres, sem capacetes, no plano de fundo. Em destaque, estavam os jovens criados pela Iniciativa Excalibur. Armados com armas de fogo de ponta, todos exibiam um olhar confiante, porém, caloroso. Como Adrian havia dito há pouco, o exército ainda era humano.
Ao ouvir murmúrios suficientes, Adrian resolveu dar continuidade ao discurso, desta vez, com uma voz mais terna, como um professor ou um pai ensinando algo para uma criança pequena:
Obviamente, certos treinamentos foram obrigatórios para todos. Não se pode ir para uma guerra sem ter certo condicionamento físico ou, por exemplo, sem saber atirar com um rifle. Entretanto, a partir do momento em que um dos jovens encontrasse algo em que fosse excepcionalmente bom, nós o incentivávamos a seguir por tal caminho.
De repente, todos os telões se apagaram. Este um segundo foi o suficiente para surpreender a todos que ouviam o discurso. Entretanto, Bennett continuava sorrindo confiante. Assim, ele disse, em alto e bom som, com sua voz ecoando por todo o lugar:
De todos os guerreiros criados pela Iniciativa Excalibur, pode-se destacar três. Esses são aqueles que frustram constantemente os planos de Asgard. Esses são aqueles que são praticamente invencíveis no campo de batalha. Esses são praticamente deuses que caminham entre nós.
A habilidade de Adrian Bennett transformar um discurso em um show era invejável por muitos. Sua voz profunda e imponente refletia o seu dom natural para a oratória.
Os telões voltaram a transmitir imagens. Um jovem, de não mais de seis anos e com cabelos castanhos, podia ser visto por todos. Bennett começou a dizer:
Era uma vez um simples garoto aficionado por tocar piano e jogar videogames. Um jovem não muito fora do normal, com talvez a exceção da escolha do instrumento musical. Entretanto, descobrimos algo: ele tinha um desempenho muito acima da média em tais atividades. Isso se deve a agilidade que ele tinha com as mãos, em especial com os dedos, e, também, com os olhos. Em não muito tempo, com o apelido de Gunslinger, o jovem de, agora, dezessete anos de idade, tornou-se uma lenda usando dois revólveres. Uma escolha de armas estranha para muitos. Entretanto, poucos são aqueles que conseguem, de fato, dominar o uso de tais pistolas. Gunslinger consegue sacar os revólveres, mirar, puxar o gatilho e até recarregar as armas em uma velocidade muito maior do que muitos androides feitos para tal propósito.
As imagens finais exibiam Rick Greyman, o Gunslinger, demonstrando suas habilidades impecáveis com suas armas favoritas. Ele tinha, agora, quase um metro e oitenta de altura, com porte físico esguio. O rosto trazia traços finos e uma expressão compenetrada. Os cabelos desgrenhados, bem como os olhos, eram castanhos.
De repente, os telões exibiam imagens de outra criança. Desta vez, era uma garota de longos cabelos castanhos claros, com a idade por volta de cinco anos. Adrian prosseguiu:
Outro caso extraordinário é de uma jovem que, atualmente, tem dezesseis anos. Apesar de ser a mais nova dentre os nossos três grandes guerreiros, ela é capaz de fazer algo que ninguém, a não ser ela, consegue fazer com tamanha maestria. Sempre meticulosa e com mania de perfeição, a garota que ficou conhecida como Deadeye é, sem dúvida, a melhor atiradora de elite que a Iniciativa Excalibur já criou. Chega a ser engraçado como a adorável jovem que, quando pequena, era a única preocupada com colorir um desenho sem ultrapassar suas linhas agora é uma artista com um rifle de precisão.
Edith Stone, a Deadeye, podia ser vista com performances espetaculares nas salas de treinamento pelos telões. Com quase um metro e setenta de altura ela era, talvez, um pouco magra demais. A jovem tinha uma expressão calma, quase entediada, no rosto de pele clara com algumas sardas. Seu longo cabelo castanho claro tinha, agora, uma mecha lilás próxima a sua orelha esquerda. Seus olhos azuis eram estonteantemente claros, quase irreais.
Como esperado, as imagens mudaram. Agora, os telões mostravam um garotinho de pele cor de café, cabelo raspado rente e um sorriso branco contagiante. Adrian prosseguiu:
Por último, temos o líder nato. Com agora dezoito anos de idade, temos Commando. Este homem sempre teve um desempenho acima da média em todos os treinamentos. Entretanto, diferentemente de Gunslinger ou de Deadeye, Commando nunca se especializou no uso de nenhuma arma. E isso é por que este não era o talento especial dele. Felizmente, descobrir o que o tornava único foi fácil. Sempre rodeado de pessoas, ele era, como eu disse antes, um líder nato. Ninguém duvidava das palavras ditas por Commando. Não por medo, mas sim, por confiança e respeito. Ele era, sem dúvida, o amigo que todos queriam. Incentivando a todos a lutarem por Camelot e, no geral, mantendo o bom humor de todos, apartando eventuais brigas internas e, até, ajudando outros guerreiros a descobrirem os seus talentos especiais: estas são as coisas que Commando faz com um sorriso no rosto enquanto esta fora do campo de batalha.
Como alguns já imaginavam, os telões praticamente não mostravam Thomas Moss, o Commando, armado. As imagens o mostravam sempre rodeado de seus amigos, sempre sorrindo. O jovem homem, de um metro e oitenta cinco de altura, era musculoso e confiante. Seu sorriso, branco e contagiante, e seu corte de cabelo, rente, não haviam mudado desde que ele era pequeno. Entretanto, seu queixo quadrado e seu olhar determinado o faziam parecer muito mais maduro.
Para finalizar seu discurso, Adrian Bennett disse, mais confiante do que nunca:
Camelot, vocês podem ter certeza que estão em boas mãos. Eu darei continuidade ao trabalho que meu pai começou. No final, os humanos prevalecerão. Eu liderarei vocês a vitória. O continente de Morning Star será reunificado. E, principalmente, as novas gerações nos levarão ao futuro: um futuro glorioso, livre de guerras e, sem dúvidas, próximo.
Com urros e palmas, Adrian Bennett foi ovacionado por todos que ouviram seu discurso. O sorriso no rosto do líder evidenciava que ele estava mais do que satisfeito ao ouvir aquilo.
Distante da grande multidão, em um bar, um grupo de quatro amigos estava sentado a uma mesa. Eles comiam batatas fritas enquanto assistiam ao discurso em um telão próximo. Quando Bennett começou a ser ovacionado, um deles disse:
Nada mal... Nada mal mesmo.
Havia sido Victor Andersen que havia falado. O jovem tinha dezessete anos de idade. Com um metro e setenta e cinco de altura, ele não era o mais alto do grupo, mas era, sem dúvida, o mais forte. O cabelo dele era escuro e levemente espetado. Os olhos eram cor de mel. No geral, ele era quieto, quase passando despercebido por onde passava. Entretanto, junto dos melhores amigos, ele conseguia ser um pouco mais extrovertido.
É. Mas ele podia ter falado de mais gente. Nada contra o Thomas e o Rick, mas...
 Agora havia sido Nick Hunter que havia falado. Ele era o mais velho do grupo, com dezenove anos de idade. Com quase a mesma altura de Commando, porém, com um porte físico mais esguio, ele chamava a atenção muito facilmente. Um dos motivos era o cabelo, penteado para trás, sem um único fio fora do lugar, e colorido de prateado. Seus olhos verdes eram penetrantes. Para completar, o rosto dele era belo, com traços delicados e uma expressão confiante. Na maior parte do tempo, ele era tranqüilo, sem nunca ter tido problemas para conquistar quem ele quisesse.
Nossa, mas, mesmo assim, aquilo foi muito legal. Até meio... surreal. O mandante de toda Camelot...falando daquele jeito...de alguns dos nossos melhores amigos...
Sandy Hunter comentou. Com dezessete anos de idade e um metro e setenta de altura, ela era a irmã mais nova de Nick. Bem como o irmão, ela também era extrovertida e, acima de tudo, linda. Os seus cabelos ruivos eram longos e ondulados. Seus olhos eram da mesma cor dos do irmão, porém, eles eram mais gentis e calorosos. O belo rosto tinha uma expressão brincalhona, quase sempre otimista, talvez um pouco infantil.
É... Nossa, a gente brincava de pega-pega com eles. Como o tempo passa rápido...
O último a falar foi Jerry Fey. Com um metro e sessenta e cinco de altura e dezesseis anos, ele era o mais baixo e, também, o mais novo do grupo de amigos. Seu cabelo loiro era desgrenhado. Seus olhos eram negros como a noite. No rosto, sempre havia uma expressão brincalhona. Sem dúvidas, ele era o mais extrovertido do grupo. Raramente ele tinha problemas para começar amizades. Além disso, ele tinha o dom natural para a comédia. Fazer os amigos rirem era uma tarefa fácil para ele.
Enquanto o quarteto de amigos ria e conversava, dois homens se aproximaram. Ambos deviam ter quase um metro e noventa de altura. O da esquerda segurava uma garrafa de cerveja com a mão esquerda. O da direita tinha os braços cruzados na frente do peito. Ambos pareciam irritados.
Os quatro amigos pararam de conversar e olharam para os dois homens. Jerry, então, perguntou:
Algum problema?
A gente ouviu o que vocês estavam falando. Respondeu o da direita.
Vocês disseram que conheciam os caras que apareceram nos telões. Acrescentou o da esquerda.
Sim... Concordou Nick, tentando entender o que eles queriam.
Após um segundo de silêncio, o homem da esquerda disse:
A gente não acredita nisso.
Por que não? Indagou Sandy.
Por que vocês não parecem ser soldados. Respondeu o da direita. Principalmente você, princesa.
Princesa... Balbuciou Nick. Ele era um tanto quanto super protetor com a irmã. Por isso, ele cerrou os punhos. Em seguida, porém, ele abriu um sorriso zombeteiro. Até parece que dois gorilas bêbados como vocês teriam alguma chance com ela...
O homem da esquerda trincou os dentes. O da direita esbravejou:
Com quem você acha que você ta falando!?
Com alguém que não vale a pena. Respondeu Victor no lugar de Nick. Ele, então, olhou nos olhos do amigo. Ele entendia o porquê de ele ficar irritado com aqueles dois. Mesmo assim, Andersen desaprovava a atitude de Nick. Não é mesmo?
Você também acha que pode tirar sarro da gente!? Esbravejou, agora, o da esquerda.
Se você não quiser que tirem sarro de você, não os perturbe. Disse mais outra pessoa.
Os dois homens mal encarados se voltaram para trás. Mesmo embriagados, não era difícil de reconhecer quem estava na frente deles. Afinal, aquele jovem de cabelos castanhos e olhar compenetrado havia aparecido nos telões há pouco tempo atrás.
Os quatro amigos sorriram ao ver Rick Greyman, o Gunslinger. O jovem retribuiu o sorriso e, então, disse:
Esses dois estão perturbando vocês?
Os dois homens tremeram. Aparentemente, eles não estavam bêbados ao ponto de ignorarem os revólveres nos coldres do Gunslinger. Após balbuciarem algo inteligível, os dois se afastaram. Com um sorriso no rosto, Rick olhou para os amigos e disse:
Se eu não apareço, vocês estariam em apuros.
Se você acha... Murmurou Jerry.
Greyman e Fey não conseguiram conter o riso. Andersen e os irmãos Hunter abriram um sorriso cada. De fato, os cinco já se conheciam há muito tempo e sempre foram bons amigos. Rick, Victor e Nick, em especial, eram bem próximos, já que treinavam muito juntos.
Apesar de estarem aproveitando o clima tranqüilo, eles sabiam que, com Greyman por perto, em pouco tempo eles estariam em uma missão. Assim, Jerry perguntou:
Temos mais quanto tempo de folga, senhor Gunslinger?
Por volta de mais uns dez minutos... Rick respondeu, não muito animado.
O quarteto se entreolhou. Eles sabiam que essa tranqüilidade não duraria para sempre. Então, sem protestarem, todos se levantaram. Nick, então, perguntou:
Quais de nós você vai precisar?
De todos. Respondeu Gunslinger.
Os quatro se entreolharam novamente. Agora, porém, eles abriram um sorriso confiante. Assim, Sandy disse:
Bem...isso parece que vai ser divertido.
Vocês podem apostar nisso. Sorriu Rick. Vamos. Sigam-me.

Rindo e conversando, o quinteto começou a andar pela multidão até a sede da Excalibur. Lá, além do centro de treinamento e das acomodações, também se encontrava o quartel general de Camelot. Em pouco tempo, eles saberiam qual missão os aguardava.

sábado, 23 de maio de 2015

Capítulo 23

The Might of Nidhogg
O Poder de Nidhogg

Acorda! Uma voz gritou.
“O quê...?”.
Tristan estava deitado de costas no tapete vermelho da sala do trono do Lorde das Trevas. Bem a sua frente, Nidhogg olhava para ele. A expressão do rosto do deus era uma mistura de preocupação com raiva.
Acorda! Nidhogg berrou. Levante-se logo, Tristan!
O que aconteceu? Tristan perguntou. Seu rosto estava contorcido de dor e, sua visão, embaçada.
O guerreiro das Trevas esfregou as pálpebras com as pontas dos dedos. Sua visão parecia ter se normalizado um pouco.
Pense um pouco... Respondeu Nidhogg.
“Bem...”.
Tristan franziu o cenho.
“Uma onda de poder...acho que foi isso...”.
O guerreiro das Trevas olhou para o rosto agora sorridente de Nidhogg. Tristan bufou.
O que você fez comigo? O guerreiro sombrio perguntou.
Eu tentei de ajudar. O Lorde das Trevas respondeu.
Como assim?
Não sentiu nenhum efeito ainda?
Aparentemente, eu fiquei inconsciente por alguns instantes.
Fora isso?
Nada.
Nenhum efeito positivo?
Não...
Bem...talvez tenhamos que esperar um pouco.
Esperar?
Nidhogg não respondeu. Ele caminhou até seu trono e permaneceu em silêncio.
A sua cidade está sendo atacada. Disse Tristan. Você não deveria fazer alguma coisa?
Alguns segundos se passaram.
“O quê?”.
De repente, o corpo inteiro de Tristan começou a brilhar com uma luz roxa bruxuleante. Uma explosão de energia pulsava pelo corpo do guerreiro.
Finalmente. Disse Nidhogg.
O que é isso!? Tristan perguntou euforicamente. O poder que fluía pelo corpo do guerreiro estava o deixando ele mesmo inquieto.
Eu transmiti mais uma parte de meus poderes a você.
Como?
Você já tinha esgotado quase todos os seus poderes, além de já ter tomado sua poção. Eu não poderia deixar meu Escolhido se jogar no campo de batalha com a certeza de que ele não sobreviveria, não é?
É, mas...e seus poderes?
Não se preocupe. Eu ainda tenho de sobra. O Lorde das Trevas sorriu. E, após eliminarmos todos os invasores da cidade, eu pego de volta o que eu te emprestei hoje. Ele olhou Tristan diretamente nos olhos. A expressão brincalhona do deus estava séria como nunca. Estamos de acordo? Nidhogg perguntou solenemente e estendeu a mão.
Tristan sorriu e apertou a mão do Lorde das Trevas.
Sim. O guerreiro das Trevas disse. Sua voz parecia mais firme do que nunca.
Ótimo. Nidhogg sorriu, porém, o tom solene se mantinha. Agora vamos antes que minha cidade seja destruída completamente.
Os dois se transformaram em trevas e saíram pela janela do palácio rumo a praça central da cidade. Centenas de batalhas ocorriam cidade afora, porém, o ataque principal da Tiamat era um contingente esmagador que marchava pela rua principal. O exército de guerreiros com armadura de cristal estava a poucos metros da praça que já era palco de alguns combates menores.
É a primeira vez que lutamos lado a lado, como iguais. Nidhogg disse. Não me decepcione.
Não se preocupe. Tristan invocou sua espada.  Eu não vou.
Ótimo.
Nidhogg se transformou em trevas e avançou sozinho contra o exército inimigo, atravessando a fileira de inimigos que estava no meio da formação.  Todo adversário que ele tocava enquanto estava em forma de trevas era marcado com a marca vermelha de um dragão. Após chegar ao outro lado da formação, dezenas de inimigos estavam com a marca das Trevas em algum lugar do corpo.
Isso é por acharem que vocês poderiam invadir minha cidade. O Lorde das Trevas disse com ódio evidente em sua voz.
Em um instante, uma grande seqüência de explosões dizimou mais de uma centena de guerreiros que trajavam armaduras de cristal, uma vez que as explosões afetaram também os aliados que estavam próximos dos alvos de Nidhogg.
“Nada mal...”.
Tristan começou a arremessar a arremessar adagas escarlates contra o exército inimigo. Nidhogg, em forma de trevas, ziguezagueava entre os inimigos, voltando para sua forma normal por alguns instantes para atacar algum adversário com sua espada. As mortes causadas pelos dois levaram quase todo o exército à morte.
“Nunca foi tão fácil enfrentar a Tiamat”.
De repente, mais tropas inimigas se aproximaram por ruas menores vindas da esquerda.
“Droga...”.
O Lorde das Trevas surgiu rapidamente do lado de Tristan.
Use todo o seu poder. Nidhogg disse. Não ouse se conter.
O Lorde das Trevas disparou novamente contra o exército da Tiamat.
“Não se conter...”
Tristan respirou fundo.
“Ótimo”.
Tristan surgiu na frente da tropa de inimigos que vinha pela esquerda. Sua espada soltava pequenas faíscas e centelhas púrpuras.  Sua aura pesava em volta dele, fazendo com que os oponentes não conseguissem ficar com as colunas retas. O medo que os membros da Tiamat sentiam do ser das Trevas a sua frente era quase palpável.
“Acho que já está bom assim para intimidá-los”.
Tristan cravou sua espada no peito do guerreiro a sua frente, ignorando completamente a existência da armadura dele. Rapidamente, ele se jogou contra um adversário do seu lado, derrubando-o no chão e, com um soco, quebrando o elmo dele.
“Nossa...”.
Tristan não havia percebido que sua própria aura brilhava mais intensamente agora. Seus punhos soltavam tantas centelhas e faíscas quanto a sua espada.
“Essa foi só mais uma pequena parcela de poder do Nidhogg. Realmente, o nível de poder de um deus é muito maior do que eu posso imaginar”.
Um guerreiro manejando um machado com as duas mãos avançou desesperadamente na direção de Tristan. O guerreiro das Trevas desapareceu e surgiu atrás do oponente, cravando sua espada nas costas dele.
Mais alguém? Tristan perguntou com um sorriso no rosto.
Três guerreiros avançaram ao mesmo tempo, cada um manejando uma arma diferente.
Espadas, machados, maças...não adianta. Tristan riu. Vocês não vão conseguir me derrotar.
Tristan foi de encontro com o guerreiro que manejava o machado. O adversário desferiu um ataque horizontal, permitindo que Tristan se agachasse para desviar do ataque. Antes que qualquer um dos guerreiros da Tiamat pudesse fazer qualquer coisa, Tristan atravessou o abdômen do oponente a sua frente com sua espada. Rapidamente, os outros dois guerreiros atacaram ao mesmo tempo com ataques verticais de cima para baixo. Sem dificuldades, Tristan surgiu atrás do guerreiro que manejava a maça e, em uma fração de segundos, invocou uma adaga escarlate e cortou a garganta dele. Antes que o outro inimigo pudesse apontar sua espada contra o guerreiro das Trevas, Tristan avançou rapidamente contra o oponente e cravou a adaga em seu peito.
“Tão fácil...”.
Tristan levantou o inimigo no ar pelo pescoço e o arremessou na direção de outros dois membros da Tiamat. Com o impacto, a adaga explodiu, envolvendo os três adversários na explosão.
Vocês tem certeza de que querem continuar? Tristan perguntou. Cada um de vocês...eu prometo a cada um de você uma morte indolor. Ele sorriu. O que me dizem?
Um dos guerreiros apontou  sua lança para Tristan.
Se é para morrer...eu prefiro morrer lutando. O guerreiro disse com firmeza.
Belas palavras. Tristan sorriu. Agora, mostre-me atitude. Melhor ainda. Mostrem-me atitude, todos vocês. O guerreiro das Trevas olhou para os outros guerreiros. Eram quase trinta, no total. Todos pareciam paralisados de medo. Vão ajudar o seu amigo aqui? Ou preferem morrer pateticamente?
Os guerreiros se entreolhavam. Aquele que desafiara Tristan olhava para os aliados. Ele parecia estar esperando que mais alguém o acompanhasse. Tristan olhou para o chão na direção do primeiro membro da tropa que ele havia derrotado.
“Estranho...”.
O guerreiro em questão trajava uma armadura de cristal azul e usava uma capa vermelha presa por um medalhão dourado. Tristan se transformou em trevas e surgiu ao lado do corpo do guerreiro.
Essa era o capitão de vocês, por acaso? Tristan perguntou.
Não houve resposta.
Pelo visto, sim... Disse Tristan. O guerreiro das Trevas riu. Então é por isso que vocês estão tão desanimados.
Morra, desgraçado! O guerreiro com a lança bradou. Sua voz estava dominada pela ira.
Ele avançou contra Tristan e desferiu um ataque.  O guerreiro das Trevas desviou com um passo largo para a direita e, então, agarrou a arma do oponente e a puxou de suas mãos. Rapidamente, Tristan desferiu um ataque com a base da lança contra o elmo do oponente, deixando-o aturdido. Aproveitando-se do momento em que o seu oponente estava indefeso, o guerreiro das Trevas sacou sua espada e, com um ataque horizontal, decapitou seu adversário.
Então...ele morreu em vão. Tristan riu. Ele olhou friamente para os oponentes. Vocês são realmente patéticos. Façam-me o favor de ficarem ajoelhados em linha reta. Desse modo, posso cortar fora a cabeça de todos vocês o mais rápido possível.
Os guerreiros se entreolharam novamente.
E então...? Tristan perguntou impacientemente.
Todos os guerreiros sacaram suas armas ao mesmo tempo. Tristan riu.
Melhor assim. O guerreiro das Trevas fez com que sua espada desaparecesse. Agora a luta vai ser mais divertida.
Os membros da Tiamat correram em volta de Tristan até formarem um círculo em volta dele.
Bom...muito bom. Tristan sorriu. Agora...venham!
Todos os guerreiros avançaram simultaneamente. Tristan estralou os dedos. Sua aura tornou-se avermelhada e radiante como fogo. Os guerreiros hesitaram por um segundo. Tristan sorriu e se explodiu. Uma esfera colossal se formou e dizimou todos os guerreiros de uma vez. Dentre as cinzas no chão, Tristan restaurou sua forma normal.
“Isso foi divertido”.
O guerreiro das Trevas voltou à praça central. Nidhogg parecia estar enfrentando todos os oponentes que apareciam sem dificuldades. Centenas de corpos de seres das Trevas e membros da Tiamat estavam espalhados pelo local.
 “Será que todos os seguidores de Deuses com algum poder acabaram morrendo? Faz tempo que eu não vejo um...”.
Tristan sacou sua espada e começou a atacar os guerreiros remanescentes da Tiamat junto com Nidhogg. O deus sorriu ao perceber que Tristan estava ao seu lado.
Não se acostume a sua nova força. Nidhogg disse entre uma transformação em trevas e outra. Vou pega-la de volta assim que terminar de matar esses arruaceiros.
Não se preocupe. Tristan disse após matar mais um membro da Tiamat com sua espada. As coisas estão tão fáceis que estão sem graça.
Sério? Nidhogg sorriu. Bom saber.
Em instantes, os últimos invasores estavam mortos. Os Demônios e seguidores das Trevas sobreviventes urravam pela vitória. Nidhogg tocou no peitoral da armadura de Tristan novamente.
Droga! Tristan gritou.
Desculpe-me. Nidhogg disse calmamente. Não sabia que você sentiria dor quando eu tirasse o seu excesso de poderes.
Você poderia ter me avisado, pelo menos!
O Lorde das Trevas pensou por um instante.
É verdade. Ele concluiu. Desculpe-me de novo.
“Droga...pelo menos o Nidhogg brincalhão teria pedido desculpas melhores. Nunca tinha visto ele ficar tão irritado...”.
De repente, um rugido veio dos céus. O chão tremeu com o impacto. O vento se agitou. Uma sombra negra descia os céus rapidamente. Alguns instantes depois, a criatura se tornou visível. O mais de dez metros de criatura da fera era o que menos preocupava quem estava a vendo. A pele revestida por escamas cor de jade, os olhos completamente vermelhos, os chifres, garras e presas brancos como a neve...a criatura seria linda se não fosse tão intimidadora. Com um balançar de suas asas, a fera criava ventanias, forçando muitos dos sobreviventes a se ajoelhar para não serem mandados para longe.
Ora, ora... Murmurou Nidhogg.
Um dragão! Um Demônio gritou. Um dragão de verdade!
O pânico se alastrou pela praça central da cidade.