quarta-feira, 27 de abril de 2016

Capítulo 54

The Tower
A Torre

Em um instante, local se transformou em um caótico campo de batalha. Centenas de guerreiros com armaduras de cristal enfrentavam mercenários e Demônios. Assassinos de ambos os lados esperavam pelo momento certo para matarem os oponentes mais poderosos. Arqueiros faziam chover flechas sobre seus adversários. Magos lançavam os mais variados e mortíferos feitiços a bel-prazer. Tristan sorriu e segurou gentilmente a mão de Lilith.
Vamos passar por cima deles? O guerreiro das Trevas perguntou.
Ah...qual o plano? Lilith indagou.
Ir direto até a torre.
Por que é muito simples.
Não seja tão pessimista. Eu te deixo em algum lugar seguro.
Certo. Eu fico atirando virotes enquanto você extermina metade do exército deles.
Exatamente.
E, após termos causado dano o suficiente, nós invadimos a torre.
Nós dois? Você acha que seremos o suficiente.
Talvez tenhamos mais adeptos à idéia quando formos botar o plano em prática.
Como o Shadowing e o Astaroth?
Sim. Quando eles chegarem. Talvez até tenham mais Demônios e, quem sabe, alguns seguidores das Trevas.
Certo... Lilith ponderou por alguns segundos. Bem...acredito que não podemos perder mais tempo aqui. Temos que seguir com a missão.
Tristan sorriu.
Ótimo. O guerreiro das Trevas trouxe a caçadora para junto de si. Então...vamos!
Em um instante, Tristan e Lilith se transformaram em trevas. Rapidamente, os dois sobrevoaram o campo de batalha. Chamas, tanto vermelhas, tanto negras, trepidavam pelo solo e pela flora da caverna. Águias, lobos e até ursos lutavam lado a lado dos membros da Tiamat. Nuvens negras envolviam e cegavam guerreiros com armaduras de cristal. Rochedos, relâmpagos e até lanças de gelo tiravam a vida de inúmeros seres das Trevas. Demônios, utilizando-se de uma variedade impressionante de armas, ceifavam a vida de incontáveis adversários. Após alguns minutos, Tristan e Lilith chegaram até a frente da torre.
“Ora...”.
 A torre era praticamente isolada do resto do lugar. Ela estava exatamente em cima de um pilar de rochas com o dobro do diâmetro dela. As paredes da construção eram feitas de granito A porta, que parecia ser folheada a ouro, estava trancada. Bem a frente da torre, havia uma ponte, feita também de granito. Ela se estendia por mais de trinta metros. Sua largura permitia que mais de dez pessoas pudessem atravessá-la lado a lado.
“Perfeito”.
Lilith, você pode ficar na ponte. Opinou Tristan. Eu conterei o batalhão da Tiamat. Caso alguém saia da torre, teremos tempo de nos deslocarmos para outro lugar.
Lilith assentiu. Com um beijo rápido, eles se separaram. Tristan foi de encontro aos oponentes. Lilith permaneceu na ponte com sua besta em mãos.
“Vamos...”.
A frente de Tristan, milhares de guerreiros da Tiamat enfrentava algumas centenas de seres das Trevas.
“Por onde eu começo...”.
Tristan sorriu. Em um instante, ele estava no ar. Suas asas feitas com seu poder o sustentavam. Ele respirou fundo. Sua aura brilhou intensamente. Faíscas escarlates surgiam de seu corpo. Rapidamente, toda a sua aura negra havia se tornado vermelha, ofuscando a visão dos guerreiros no campo de batalha. Distraídos pela luz, muitos dos membros da Tiamat ficaram com a guarda exposta, permitindo uma vantagem momentânea para os seres das Trevas.
“Ora...nem eu esperava que isso fosse acontecer”.
Tristan sorriu e, um instante depois, sua expressão se tornou séria. Ele respirou funndo.
“Tenho que me concentrar...”.
O Escolhido de Nidhogg juntou as mãos. Em meio ao caos do campo de batalha, os guerreiros da Tiamat não podiam fazer nada contra Tristan. Porém, a partir de posições estratégicas, alguns arqueiros e magos tentavam atacar o guerreiro das Trevas. Entretanto, nenhum feitiço ou flecha conseguia atravessar a aura de Tristan.
“98...99...100!”.
Tristan abriu as mãos. Um círculo vermelho surgiu em sua frente. Em uma fração de segundos, uma centena de adagas escarlates foi lançada no campo de batalha. As lâminas atingiram, certeiramente, os guerreiros da Tiamat. Independentemente de onde as adagas acertavam, uma explosão exterminava um guerreiro com armadura de cristal.
“Perfeito”.
Tristan pousou em meio a mais inimigos. Com uma seqüência rápida de ataques, o guerreiro das Trevas exterminou uma dezena de adversários a sua volta. A espada de Tristan atravessava as armaduras de cristal como se elas fossem feitas de areia. As espadas e machados dos guerreiros da Tiamat não conseguiam alcançar Tristan. Todos eram mortos antes que pudessem sequer atacar.
“Fácil...”.
Tristan olhou na direção da ponte. Lilith continuava a atirar contra os inimigos. Porém, agora, os virotes eram feitos com a própria energia sombria dela.
“A munição dela acabou. Ela está recorrendo a virotes feitos com a própria energia...”.
Tristan suspirou.
“Espero que ela não se desgaste demais...”.
Mais adversários se juntavam em torno do guerreiro das Trevas. Tristan sorriu. Uma saraivada de feitiços de fogo, gelo, água, ar, eletricidade e até veneno foi lançada contra ele. Em um instante, Tristan se transformou em trevas e surgiu atrás de um dos oponentes. Rapidamente, ele correu pelos oponentes, ceifando a vida deles com sua espada.
“Patéticos...”.
Tristan olhou para trás. Um trio de guerreiro das Tiamat avançava na direção de Lilith. Em um instante, ele surgiu na frente dos oponentes. Um deles, que manejava uma espada com ambas as mãos, atacou Tristan. Com um movimento rápido, o guerreiro das Trevas golpeou a arma do oponente com sua espada. O ataque separou a lâmina da espada de cristal do cabo da arma. Estupefatos com o que acabara de acontecer, os três guerreiros ficaram imóveis. Tristan sorriu. Com um estralar de dedos, chamas negras tomaram conta do corpo do guerreiro que fora desarmado. As chamas o deixaram em pânico. Lentamente, o fogo derretia a armadura de cristal. Desesperado, o homem correu para longe até cair morto. Antecipando-se, os outros dois guerreiros fugiram. Tristan riu e se virou para trás.
Eu não disse? Ele perguntou com um sorriso estampado no rosto. Eu vou te proteger, meu amor. E não só agora.
Obrigada. Lilith sorriu. Mas não espere que eu me torne uma donzela indefesa.
Eu também espero que isso nunca aconteça.
Os dois riram. Tristan perdeu o olhar nos olhos de Lilith. A caçadora fez o mesmo.
“Eu...deveria voltar a batalha, mas...”.
Antes que Tristan pudesse concluir o pensamento, fogo emanou do chão atrás de Lilith. Antes que ela pudesse se virar, uma lança de cristal surgiu dentre as chamas e atravessou suas costas até seu abdômen.
LILITH! Tristan gritou desesperado.
Os olhos da caçadora se arregalaram. Seu rosto ficou pálido. Uma lágrima escorreu do seu olho esquerdo. Lentamente, Lilith olhou para baixo. Ao ver a ponta da lança, ela tentou gritar, sem sucesso. A caçadora olhou de volta para Tristan. Vagarosamente, ela abriu os lábios. Novamente, nenhum som saia. Então, as chamas atrás dela se apagaram. Um homem, trajando uma armadura de cristal completamente vermelha, apareceu manejando a lança. Ele não usava um elmo. Sua pele era cor de marfim. Seus cabelos eram castanhos e desgrenhados. Os olhos azuis do homem encaravam diretamente o guerreiro das Trevas. O homem sorria desafiador.
Queime. O homem sussurrou no ouvido de Lilith. Entretanto, a voz do homem parecia ecoar até atingir Tristan. Até a alma...

A ponta da lança de metal brilhou da mesma cor da armadura do homem. Rapidamente, o abdômen de Lilith começou a queimar. Rapidamente, as chamas consumiram completamente a caçadora. Em um instante, o corpo de Lilith havia se transformado em cinzas e se dispersado pelo ar.

domingo, 24 de abril de 2016

Conto 19 - Parte 1

O Incêndio


O que aconteceu naquele dia fez Hector questionar suas escolhas, fez com que aquele pobre homem refletisse seriamente sobre o que é certo e sobre o que é errado. Aquele dia faria com que ele, no final de seus dias, sofresse em silêncio, calando a própria boca com um gole da bebida mais forte que encontrasse toda vez que sentisse vontade de gritar desesperado.
Hector era um bombeiro em uma cidade modesta. Morou a vida toda lá, na verdade. O lugar era agradável até. Grande demais para todo mundo se conhecer, pequeno demais para aparecer nos telejornais nacionais. Isso é, até algumas semanas atrás.
Como muitos podem imaginar, aquele homem era visto como um herói. Arriscando sua vida entre as chamas ardentes de um incêndio para salvar alguém que nunca vira antes, Hector havia sido ovacionado algumas boas vezes durante sua carreira. O salário podia não ser dos melhores, mas ser saudado por aqueles que ele havia ajudado compensava.
Além disso, haviam as recompensas por fora.
Havia uma senhora que cozinhava algum agrado para Hector sempre que podia para agradecer pelo resgate de seu neto. A primeira garrafa de cerveja era sempre por conta da casa após o socorro prestado pelo bombeiro ter mantido em pé o boteco perto de sua casa. O dono de uma loja de eletrodomésticos oferecia descontos generosos para o herói local sempre que precisasse, afinal, sua loja e sua vida haviam sido salvas por aquele homem.
Entretanto, nem sempre as recompensas eram materiais. Eu já mencionei a gratidão de milhares de pessoas que Hector nem mesmo conhecia. Entretanto, algumas das pessoas resgatadas por ele, ou amigas delas, expressavam gratidão de maneira diferente do resto. Não que fosse difícil para alguém com o físico dele conseguir um encontro ou uma transa fácil, porém, apenas digamos que as mulheres salvas  por ele tendiam a ser mais generosas que as outras.
Enfim, pode-se dizer que Hector era feliz. Vivia solteiro, no seu ritmo, aproveitando sua vida sem rumo claro, sem roteiro, recebendo surpresas com um sorriso.
Porém, um acontecimento inesperado tiraria seu sono.
Um olhar penetrante seria gravado em sua mente. Um par de belos olhos azuis que emitiam um brilho sobrenatural. Gélidos e desinteressados com o mundo a sua volta em um instante, incandescentes e acompanhados de um sorriso indecifrável no outro.

Aquela jovem seria a ruína de Hector. Mas não só dele.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Capítulo 53

The Relentless Invasion
A Invasão Implacável

O batalhão correu por entre os pinheiros em direção a fortaleza inimiga. Os urros e passos pesados e apressados quase não podiam ser ouvidos em meio à tempestade. A chuva torrencial, os ventos estrondosos e as trovoadas deixavam o cenário caótico. Além de iluminar a área, os raios também derrubavam árvores rapidamente.  À medida que se aproximava, Tristan podia ver os detalhes da fortaleza. A construção parecia ser uma estátua gigantesca. Esculpida a partir de uma montanha, o lugar parecia uma obra de arte. Desde as janelas, aos portões, às escadarias, às inscrições rúnicas, aos murais e estátuas dos deuses pagãos, tudo fora feito perfeitamente.
“Impressionante. Mas, mesmo assim...eles não têm chance de vencer”.
Tristan segurou a mão de Lilith.
Vamos. O guerreiro das Trevas disse.
A caçadora assentiu com a cabeça. Em um instante, os dois ascenderam aos céus. Cerca de vinte Demônios os acompanharam. Pelo ar, eles avançaram rapidamente até a fortaleza.
“Ora, ora...”.
Mais de uma centena de Demônios avançava de todas as direções até o topo da fortaleza. O local parecia ser o cume da montanha planificado com uma muralha no entorno.  A frente de todos, estava Shadowing. Tristan aterrissou no topo da fortificação junto ao amigo. Centenas de membros da Tiamat, muitos dos quais estavam armados com arcos e flechas, estavam preparados para o confronto. Tristan sorriu. Em um instante, Lilith e Shadowing foram atrás de seus próprios alvos.
“Ótimo”.
Uma flecha passou a centímetros do rosto do guerreiro das Trevas. Tristan arremessou uma adaga escarlate no oponente que havia tentado o atacar. A explosão arremessou o oponente para longe com a armadura completamente dilacerada.
“Vejo que o treinamento com o elixir teve resultados. Esses idiotas me pareciam muito mais resistentes antes...”.
Enquanto Tristan estava distraído, dois guerreiros avançaram ferozmente contra ele. Ambos atacaram simultaneamente com suas espadas de duas mãos. Os golpes horizontais acertaram somente o ar. Antes que os guerreiros da Tiamat percebessem, Tristan já havia surgido atrás deles. Rapidamente, o guerreiro das Trevas tocou nas costas dos oponentes com as palmas de suas mãos. Marcas vermelhas surgiram na armadura deles. Ao sentirem um toque nas costas, os guerreiros se viraram para trás. Entretanto, Tristan já havia se afastado do local. Com um estralar de dedos de cada mão, duas explosões arremessaram os guerreiros para longe.
“Isso vai ser divertido...”.
Dezenas de Demônios e guerreiros da Tiamat se enfrentavam incansavelmente. Entretanto, apesar da desvantagem numérica, os seres das Trevas já estavam em maior número.
“A vitória será nossa, caso continuemos assim”.
Tristan sorriu.
As coisas estão indo bem, não? Lilith apareceu do lado das Trevas.
Sim... Tristan concordou. Está se divertindo?
Lilith assentiu com a cabeça. Antes que Tristan pudesse dizer mais alguma coisa, um guerreiro manejando um machado com ambas as mãos. Lilith se virou para trás rapidamente. No momento em que ela atiraria com sua besta, Tristan surgiu na frente do guerreiro da Tiamat. Com uma estocada, o Escolhido de Nidhogg atravessou o peitoral do inimigo. A espada atravessou a armadura de cristal sem dificuldades.
Alguém certamente ficou muito mais forte. Lilith sorriu.
Sim. Tristan concordou com certa apreensão.
Ah...o que foi?
Eu não achava que você se separaria de mim durante essa missão.
Nem eu. Lilith riu.
Rapidamente, a caçadora atirou um virote. O projétil se cravou na garganta de um guerreiro com armadura de cristal. O inimigo estava tentando se aproximar pelas costas de Tristan.
Não se preocupe. Lilith disse. Eu não vou me afastar de você. Não mais.
Bem...ótimo. Tristan sorriu. Eu preciso de você cobrindo minha retaguarda.
E eu também preciso de você me protegendo. Aquilo...foi só um momento de loucura.
Uma vontade de se atirar no campo de batalha e matar os inimigos.
Exatamente. Ela sorriu. Ainda bem que você me...
Tristan arremessou uma adaga. A lâmina passou a centímetros do rosto de Lilith e atingiu um guerreiro atrás dela. A caçadora se virou para trás. A adaga estava cravada no elmo de um guerreiro que estava agora caído. Outro membro da Tiamat avançava contra ela. O guerreiro carregava uma clava em uma mão e um escudo na outra. Antes que ele pudesse atacar, Lilith pulou para trás. O guerreiro da Tiamat grunhiu. Em um instante, Tristan surgiu a frente do adversário. Rapidamente, o guerreiro ergueu o escudo.
“Inútil...”.
Com um golpe horizontal com sua espada, Tristan cortou o escudo do adversário ao meio. Paralisado de medo por um instante, o guerreiro da Tiamat ficou com a guarda aberta. Rapidamente, Tristan dilacerou a garganta do oponente com um golpe preciso de sua espada.
Então... Tristan suspirou e olhou para Lilith. Vamos sair daqui?
Ah...como? A caçadora arqueou uma sobrancelha.
A maior parte da fortaleza fica no subsolo. Tenho certeza que o líder deles deve estar escondido lá em baixo.
Certo...eu vou ignorar o fato que você quase me matou com uma adaga.
Ora...falando assim até parece que você não confia na minha mira.
Você poderia ter me avisado pelo menos.
Ah...talvez. Mas não seria tão rápido assim. Ele suspirou. Enfim...vamos?
Tristan estendeu sua mão para Lilith. Ela sorriu.
Claro. A caçadora respondeu. Por que não?
Ela segurou a mão de Tristan. Ele a trouxe para junto de si. Em um instante, eles se transformaram em trevas e desceram a escadaria. Os dois passaram rapidamente pelos outros andares da fortaleza. Ao todo, milhares de seres das Trevas e guerreiros da Tiamat se enfrentavam. Sangue corria pelo chão e tingia as paredes cinzentas de vermelho. Centenas de guerreiros, de ambos os lados, já haviam sido mortos. A presença de chamas, raios, nevascas e até animais selvagens deixava o ambiente ainda mais caótico.
“Ainda temos a vantagem...eu espero...”.
Seguindo lances e mais lances de escadas em direção ao subterrâneo, Tristan prosseguiu, junto de Lilith, sem hesitar. Ao chegar ao andar térreo, os dois se viram em um cenário um pouco mais pacífico. Os seres das Trevas haviam derrotado todos os seus oponentes naquele andar. Tristan saiu da forma de trevas e respirou fundo.
Homens! O guerreiro das Trevas bradou. Vamos continuar a marchar! Nós marcharemos até o líder da Tiamat! Nós o faremos implorar por piedade! Piedade que ele nunca terá!
Os seres das Trevas urraram.
Senhor! Um assassino, junto a outros dois aliados, chamou a atenção de Tristan. Nós descobrimos a passagem para o subsolo!
Ótimo! O guerreiro das Trevas sorriu. Guie-nos então.
Os três assassinos assentiram. Eles se voltaram para trás e seguiram, apressadamente, em direção a um corredor. Tristan, Lilith e o resto dos seres das Trevas seguiram o trio. O corredor dava acesso a várias outras salas menores nas laterais, grande parte delas, agora, em ruínas, devido às batalhas. De algumas delas, alguns sobreviventes se juntavam ao exército. Após alguns minutos, Tristan já podia ver o portão ornado no fim do corredor.
Presumo que tenhamos que ir até aquela sala. Disse o guerreiro sombrio enquanto olhava para frente.
Sim. Um dos assassinos concordou.
Teremos que descer a escadaria no centro da sala. Outro assassino acrescentou.
E...bem, não há como você se preparar para o que tem lá em baixo. O terceiro disse.
  Certo... Tristan bufou.
“Espero que ele não esteja exagerando...”.
O trio entrou na sala no fim do corredor. Tristan e Lilith entraram logo em seguida.
Impressionante. Admitiu Tristan.
A sala era gigantesca. Murais com mais imagens de deuses pagãos decoravam o lugar. As imagens eram mosaicos constituídos por pedras e metais preciosos. Exatamente no centro do local, uma escadaria em espiral descia até o desconhecido.
A largura desses degraus... Disse Tristan. Talvez dez pessoas consigam descer lado a lado.
Suponho que sim. Um dos assassinos concordou.
Então...vamos? O terceiro perguntou.
Tristan assentiu. Ele e Lilith, juntamente ao trio de assassinos, continuaram a frente do resto do exército. Após algum tempo, o ambiente começou a mudar. As paredes ornadas e planas deram lugar a versões rochosas e irregulares. O mesmo ocorreu com as escadas, que se transformaram em rampas, ainda em espiral, porém, tortuosas. Os ruídos provenientes da tempestade haviam sido deixados para trás. Agora, uma brisa serena e fresca preenchia o lugar. O aroma de uma variedade enorme de flores tomava conta do ar, ficando mais forte a cada metro que eles desciam.
Isso até faz com que a gente se esqueça dessa missão. Lilith disse calmamente para Tristan. Ela respirou fundo e sorriu. Todo esse ambiente...consegue com que eu me acalme.
Sério? Tristan arqueou uma sobrancelha. Temos um exército enorme logo atrás de nós. E, como se só isso não bastasse, eles são bem barulhentos.
Eu sei que sim, mas...parece que eu não sinto nenhuma preocupação...nenhuma problema...nenhuma angústia...
Apenas com o aroma das flores e essa brisa fresca?
Sim.
Ah...certo. A expressão de Tristan se tornou pensativa.
O que foi? Lilith soou ligeiramente preocupada. Algo te incomoda?
Não. Eu estava apenas...pensando.
Ah, é? Sobre o quê?
Sobre você.
Sério? Lilith sorriu. Sobre o que exatamente?
Sobre o seu passado.
Ah... A expressão dela se tornou um pouco sombria.
Você disse que esse aroma...que essa brisa...a agradam. Não é muito comum para uma matadora.
E isso o intriga?
Um pouco. Tristan olhou fundo nos olhos de Lilith enquanto ainda desciam a rampa. Nostalgia.
O quê?
Esse ambiente...é nostálgico para você. Isso tudo de faz lembrar sobre uma época mais calma...tranquila...mais feliz. Ele voltou a olhar para frente. Creio que sua infância tenha sido bem normal...até algum evento trágico acontecer.
Ah... Lilith tentou esboçar um sorriso. Você...ainda está bem intrigado com o meu passado, pelo visto.
Bem...você sabe do meu...mas eu ainda não sei do seu.
Sim...
Eu sei que esse não é o momento certo para isso.
É...
Mas, algum dia, eu espero que você me conte.
Eu...vou contar. Algum dia...eu juro que vou. Mas...não é fácil.
Entendo...
Eu nunca contei para ninguém. Ela suspirou. Eu...acredito que o único que sabe dele é o Nidhogg. Mas isso...é só por que ele me acolheu. Aliás, boa parte da cidade me acolheu. Lilith sorriu. Eu...sou muita grata por todos os que me ajudaram quando eu precisei.
Foi por isso que você estava tão disposta a ajudar a todos da cidade após o ataque da Tiamat.
Sim. Ela respirou fundo. Bem...agora, você já sabe de algumas coisas.
É...eu tenho ainda mais perguntas agora, mas...eu posso esperar.
Tristan e Lilith se entreolharam e sorriam.
Bem...estamos chegando. Um dos assassinos disse.
Ótimo. Disse Tristan.
Após seguir por mais alguns metros, o caminho saiu do padrão. A rampa se tornou uma passagem plana que terminava em uma curva. A partir desse ponto, havia a saída da caverna.
Chegamos. Um dos assassinos anunciou.
O som de água corrente soava ruidosamente. O trio de assassinos se adiantou em atravessar a saída. Tristan e Lilith correram atrás deles.
“Nossa...”.
Tristan e Lilith ficaram boquiabertos. A frente dos dois estava o resto da base da Tiamat. O lugar era uma caverna gigantesca onde nem se conseguia ver a parede oposta de onde estavam. Um labirinto de plataformas de pedra, conectados por pontes e escadas de madeira, estava à frente deles. Dezenas de rios corriam por todos os cantos, sendo que, alguns deles, terminavam em cachoeiras. A vegetação era extremamente variada, com plantas e árvores de todas as cores, tamanhos e aromas. Pelo ar e pelas paredes, milhares de esferas de fogo iluminavam o lugar. Uma quantidade quase imensurável de membros da Tiamat andava pelo local.
“Ótimo...temos um número descente de inimigos...”.
No centro da local, uma única torre gigantesca, construída como o resto da base na superfície, quase tocava o teto da caverna.
“Lá. O líder deles deve estar escondido lá dentro...”.
Uma flecha de cristal se cravou próximo aos pés de Tristan. Um pequeno grupo de membros da Tiamat já havia detectado seus inimigos. Urros e gritos foram ouvidos a distância. Aos poucos, mais e mais dos guerreiros com armadura de cristal ficavam alertas da presença de Tristan e de seus homens.

Não tem volta agora... Tristan respirou fundo e se voltou para trás. Homens! Ele invocou sua espada e virou para frente. Com a arma, o guerreiro das Trevas apontou para a torre na distância. EM FRENTE!

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Anúncio 24

O que dizer sobre ontem...?
Nada. Não muita coisa, pelo menos.
Não vou ficar falando de política. Acho que os feeds do facebook de todo mundo já devem estar insuportáveis o suficiente. Só vou falar mesmo que eu acompanhei as tretas e, é... Não tive tempo de escrever. Nada. Absolutamente nada. Dia totalmente improdutivo ontem. Pois é.
Vou me redimir essa semana ainda. Feirado tá chegando. Preparem-se.
Até quinta (talvez)!

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Capítulo 52

Enemy Territory
Território Inimigo

Quatro dias depois...
Espero que todos estejam prontos. Tristan sorriu.
Lilith estava ao lado do guerreiro das Trevas. Atrás deles, uma tropa de quinhentos seres das Trevas. O batalhão estava em um campo verde musgo. A frente deles, uma cadeia de montanhas cinzentas pareciam se estender até o infinito. O céu acima deles estava coberto por nuvens negras. O som de trovões podia ser ouvido à distância. O vento parecia uivar. O aroma dos pinheiros da floresta após as montanhas chegava até onde o batalhão se encontrava.
Eu também espero. Um Demônio a frente dos outros concordou. O guerreiro carregava um machado em cada mão e trajava uma armadura cor de sangue. Ele tinha mais de dois metros de altura. Nós já percorremos uma distância enorme até chegarmos a Wolfrealm. Caso alguém desista agora, eu mesmo matarei o cretino.
Murmúrios começaram dentro do batalhão. Tristan sorriu.
E você...quem seria? O guerreiro das Trevas perguntou.
Grimmig, sem dúvidas, o Demônio mais poderoso que esse exército possui! O guerreiro se vangloriou.
Os murmúrios continuaram, porém, desta vez, acompanhados de algumas risadas e xingamentos.
“Ora...vejo que a fama desse daí não é muita boa...”.
Grimmig grunhiu. Os olhos amarelos dele pareciam soltar faíscas pela pequena abertura de seu elmo. Ele se voltou para trás.
Algum de vocês crê ser mais forte do que o grande Grimmig!? O Demônio urrou.
Fique quieto. Uma voz disse acima de Grimmig.
Shadowing desceu dos céus e pousou suavemente bem a frente de Tristan.
Não gaste seu tempo ouvindo o que esse idiota tem a dizer. O Demônio encapuzado disse. Esse Grimmig é apenas um mercenário. O poder dele é apenas sua força bruta. Patético, eu digo.
Shadowing! Grimmig abriu os braços. Talvez seja hoje o dia em que você finalmente me enfrenta. Ele gargalhou. Isso é, se você não fugir de medo de novo!
Shadwoing bufou.
Eu não tenho nenhum motivo para de matar...por enquanto. O Demônio encapuzado disse. Continue me atormentando e eu ficarei feliz em atravessar o seu crânio com a minha alabarda. Ele respirou fundo. Mas...se possível, não agora. Temos uma missão para cumprir.
Grimmig grunhiu em protesto, mas Shadowing o ignorou.
Amigo interessante. Disse Tristan.
Claro...acredito que essa seja uma maneira apropriada de se referir àquilo. Shadowing respirou fundo. Enfim...acredito que estamos prontos para entrar nas cavernas.
Todos os batalhões estão posicionados?
Shadowing assentiu com a cabeça.
Ótimo. Tristan sorriu.
Shadowing voou para longe.  O guerreiro das Trevas olhou para a entrada estreita de uma caverna na montanha. Ela estava a poucos metros de distância. Tristan andou até o lugar e, rapidamente, voltou-se para o batalhão.
Chegou o momento! O guerreiro das Trevas bradou para que todos pudessem ouvir. Homens...em frente!
Tristan adentrou a caverna. A passagem permitia que apenas três pessoas pudessem entrar de cada vez. O guerreiro das Trevas e a caçadora andavam a frente do resto do esquadrão. Os Demônios urravam cheios de energia, preparados para a batalha. Os mercenários contavam piadas e riam alto. Os magos conversavam tranquilamente. . Os assassinos estavam tentando se concentrar, completamente calados.
Eu realmente acredito que todos estão preparados. Disse Tristan para Lilith. Ninguém parece muito apreensivo ou desesperado. Isso é um bom sinal.
Sim... A caçadora concordou praticamente sussurrando.
Ah...certo. Tem uma pessoa que não está muito bem.
Lilith deu um soco fraco no ombro de Tristan. O guerreiro riu.
Eu admito...eu estou um pouco apreensiva ainda. Lilith respirou fundo. Guerras...não fazem parte das minhas especialidades.
Eu sei... Disse Tristan. Shadowing também não é assim, mas...podemos lutar do jeito que escolhermos.
Sim...mas tentar assassinar seus inimigos um a um  enquanto você foge de um exército...é bem complicado. O Shadowing pelo menos tem a alabarda dele. Minha besta e minhas katares não foram feitas para enfrentar vários inimigos ao mesmo tempo.
E é exatamente por isso que estaremos juntos. Você não percebeu?
O quê?
Eu vou ter que me preocupar com muitos inimigos ao mesmo tempo. Isso significa que algum tente me atacar furtivamente. Caso você esteja cobrindo a minha retaguarda, você pode matar esses sujeitos mais...sorrateiros para mim. Além de você poder matar alguns dos guerreiros da Tiamat com sua besta.
E, como troca, você vai me proteger dos guerreiros deles?
Exatamente.
Lilith respirou fundo.
Bem...eu me sinto muito mais segura agora. A caçadora sorriu e segurou a mão de Tristan.
Eu digo o mesmo. O guerreiro sorriu. Eu odeio ter que me preocupar com os assassinos e arqueiros inimigos.
Os dois riram. Seguindo por mais quinze minutos pela caverna, o aroma dos pinheiros se tornou muito mais forte. Após mais alguns minutos, o som da chuva começou a soar juntamente com trovões. Alguns metros à frente, podia-se ver a água da chuva escorrendo para dentro da caverna. Os ventos sopravam mais fortes e frios.
“Ótimo...a tempestade começou...”.
Após quase mais meio quilômetro de caminhada pela caverna encharcada, Tristan avistou a saída do lugar. Pela passagem estreita, o clarão provocado pelos raios iluminava o céu. Tristan apertou o passo. Lilith o seguiu. Ao chegarem até a saída, Astaroth surgiu bem à frente deles.
Ora... O Demônio parecia surpreso. Vocês acabaram de chegar, hein? Um sorriso maníaco surgiu em seu rosto. Perfeito.
Os outros batalhões já chegaram às saídas de suas cavernas? Perguntou Tristan.
Sim. Vocês foram os últimos a chegar. Creio que essa passagem tomou mais tempo do que as outras.
Ótimo. Avise para os outros batalhões que iremos atacar em um minuto.
Bem...espero conseguir avisar todos os outros nove batalhões a tempo...
Astaroth desapareceu. Tristan olhou para Lilith. Ela respirava apressadamente e ficava mexendo nas flechas em sua aljava. Tristan segurou a mão dela delicadamente.
Vai dar tudo certo. O guerreiro sussurrou para a amada e sorriu.
Lilith sorriu de volta, mas a preocupação ainda estava estampada em seu rosto.
Após a passagem de um minuto, Tristan saiu da caverna juntamente com Lilith. O batalhão o acompanhou aos poucos pela passagem estreita.
“Mas que dia lindo...”.
O céu estava completamente negro. O som da chuva pesada atingindo o solo era tão ensurdecedor quanto o trovejar. Os raios iluminavam o céu por frações de segundos. Os ventos mandavam folhas e pequenas pedras para todas as direções possíveis.
“Então...aquele é o lugar...”.
 Seguindo por uma passagem entre os pinheiros, estava uma construção do tamanho de uma montanha. Mesmo ainda estando longe do lugar, era possível ver alguns detalhes do forte. Ele parecia ter sido esculpido diretamente de uma montanha cinzenta. Janelas e escadarias podiam ser avistadas. Algumas tochas eram acessas e apagadas constantemente.
“Então...essa tempestade parece estar prejudicando eles também”.
Tristan riu. Ele voltou-se para o seu batalhão, que já havia deixado a caverna.
Esses vermes da Tiamat não estão acostumados à escuridão! Tristan bradou. Mas nós estamos! Ele gargalhou. Homens! Vamos mostrar a eles quem são os mais fortes!
O batalhão urrou em uníssono.
“Espero que os outros batalhões estejam avançando também...”
Tristan invocou sua espada e a ergueu em direção aos céus.

AVANÇAR! 

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Anúncio 23

Então...
É, final de semana foi corrido. Não consegui escrever nada de novo. Fico devendo.
O que vai ser o próximo texto a ser escrito?
Boa pergunta. Provavelmente um teaser de um capítulo novo do The Godsbane. Sinto que eu to negligenciando um pouco a história, ainda mais que devo fazer uma pausa dela por um tempo.
Não se preocupem. Quando escrever algo novo, logo posto aqui.
Valeu, gente!
Abraço.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Capítulo 51

The Calm Before The Storm
A Calmaria Antes da Tempestade

Três dias depois...
Nidhogg? Tristan chamou o Lorde das Trevas.
O guerreiro estava de volta à sala do trono. Nidhogg conversava com uma pessoa que trajava uma capa com capuz de cor prata.
Ah...Tristan. O Lorde das Trevas sorriu. Ótimo. Você chegou.
O homem encapuzado olhou de relance para Tristan e, em seguida, voltou-se a Nidhogg.  
Quem é esse? O guerreiro das Trevas perguntou enquanto encarava o estranho.
Ele? Nidhogg sorriu. Ninguém...só o nosso maior aliado nesta missão.
E por que você diz isso? Tristan indagou.
Ora...por que ele é um dos Capitães da Tiamat.
Ah... Tristan parecia levemente surpreso. Um traidor, então?
Quando você fala desse jeito, parece algo horrível e imperdoável...mas, é. O Lorde das Trevas riu. Ele está abandonando a Tiamat e se juntando a nós. Ele acredita que nossa vitória ocorrerá mais cedo ou mais tarde.
Então...ele resolveu se juntar ao lado vencedor no último instante?
Sim. Mas, também, com isso, ele evitará muitas perdas do nosso lado.
Como?
Convencendo os outros oficiais a mudaram o plano de defesa deles. O plano é, basicamente, fazer com que eles dêem prioridade a algumas entradas da base. Assim, as passagens que não usaremos estarão mais protegidas e, a que usaremos, estará bem menos guardada.
Isso não vai gerar suspeitas?
Se fizermos isso direito, não.
E como faremos isso direito?
Ainda estarão protegendo a passagem que usaremos. O nível de defesa dela estará igual ao de outra, então, não gerará suspeita.
Presumo que essa passagem que usaremos seja menos óbvia ou de acesso mais difícil acesso...pelo menos, em relação às outras.
Exatamente. A base da Tiamat fica em uma floresta densa em Wolfrealm. Dois terços da base se encontram no subsolo. Existem galerias subterrâneas na região. Alguns túneis podem nos levar diretamente para dentro da base, mas...
Esses são os caminhos mais bem protegidos, presumo.
Sim.
Atravessarmos a floresta também não é uma opção, certo?
Certo. A floresta é gigantesca, então existem vários acampamentos espalhados, além de alguns assassinos e arqueiros patrulhando o local.
Então, como chegaremos lá?
Usaremos algumas das galerias subterrâneas. Muitas levam a cavernas na superfície. Dividiremos o exército em vários pelotões e...bem, acho que já está claro o que vai acontecer.
Sim...mas a parte superior da base não é muito bem protegida, é isso?
Ela é protegida...mas não tanto quanto o subsolo e a floresta. E, além do mais, as cavernas nos levarão muito próximo da base. Os guardas da Tiamat não terão tempo  para se reagirem. É bem provável que eles apenas emitam um alerta para o resto da base, mas...isso, não temos como evitar. Estaremos atacando a base deles, não é mesmo? Nidhogg sorriu. Além do mais, as cavernas nos levarão a vários pontos ao entorno da base. Atacaremos pelo sul, sudeste e norte. As outras passagens serão a que serão guardadas em vão, que estão no nordeste e leste.
Entendo... Tristan sorriu. Acredito que nunca havíamos traçado um plano de invasão assim.
Como?
Deixando para o último instante.
Nidhoog riu.
Ora...creio que você está certo. O Lorde das Trevas olhou para o Capitão da Tiamat. Não há mais nada para discutirmos, certo?
O homem encapuzado sussurrou algo.
“Ele está tão próximo de mim, mas...eu não consigo ouvir sua voz. Esse homem...não tenho como confiar nele. Não só por ele estar traindo a Tiamat, mas também pela presença dele. Eu havia me esquecido que ele estava aqui. É quase como se ele tivesse desaparecido. Por ser um Capitão da Tiamat, certamente ele é um seguidor de algum deus pagão, mas...eu não consigo sentir a aura dele. Será que é mais um Ilusionista...? Espero que não...”. 
Certo. Nidhogg disse sério. Muito bem. Espero vê-lo amanhã ao nosso lado, Capitão.
O homem encapuzado assentiu com a cabeça e, sem dizer mais nada, andou apressadamente até a saída da sala.
Devo me preocupar com ele? Tristan indagou.
Creio que não. O Lorde das Trevas respondeu. Ele ganhará mais nos ajudando.
Mesmo assim, se ele é capaz de trair os seus companheiros, ele pode muito bem nos trair.
Eu sei.
Por que está tão certo assim que ele não nos trairia?
Porque ele receberá uma grande recompensa e a minha palavra de que nós não o mataríamos.
Só por isso?
O Lorde das Trevas gargalhou.
Ora...você sabe o que uma promessa minha significa. Nidhogg sorriu. Não é?
Claro... Tristan respondeu não muito animado. Um pacto. Ele firmou um pacto com você.
Exatamente.
Qual seria a punição para ele?
Se ele for tolo o suficiente para quebrar o pacto...eu mesmo irei caçá-lo. A voz do Lorde das Trevas se tornou mais grave. Eu mesmo asseguraria que ele sofresse durante os instantes finais de vida. Eu o faria implorar por uma morte rápida. Eu faria que ele sentisse uma dor equivalente a dez vidas em um único minuto. Nidhogg sorriu. Bem... A voz dele voltou a ser mais suave. É por isso que eu creio que ele não nos trairia.
Ah...certo. Entendi...
“Nem a Deusa da Tristeza conseguiu me assustar tanto assim em tão pouco tempo...”.
Ah...acho que isso é tudo. Disse o Lorde das Trevas. Você está dispensado. Aproveite o dia para fazer os seus últimos preparativos e descansar bem, certo?
Certo. Tristan respondeu.
“Ótimo...ele voltou a ser amável. Tentarei não reclamar mais desse lado dele”.
Tristan se despediu de Nidhogg e caminhou para fora da sala do trono. Ele andou calmamente pelos corredores do palácio até chegar a um quarto próximo ao seu. Tristan abriu a porta lentamente. Entro do quarto, Sorrow estava deitado em uma cama. Sentado em uma cadeira ao lado dele, Shadowing observava o homem.
Como ele está? Tristan perguntou calmamente.
Shadowing suspirou.
Um pouco melhor. O Demônio olhou com tristeza para o homem. A aparência dele ainda está ruim, mas...já melhorou um pouco. Ele conseguiu acordar algumas vezes. Foi bom. Ele pôde se alimentar.
Ele me parece um pouco menos pálido também.
Sim. A alimentação ajudou um pouco, bem como o tratamento. Porém, creio que o fator principal para a melhora foi a morte da deusa.
Entendo. Ele era atormentado não só pelos gritos dela, mas como também pelas memórias que aquele lugar trazia.
É... Shadowing respirou fundo. Espero que não demore muito tempo para que ele fique melhor. Ele tem alguém a agradecer.
Tristan sorriu.
Bem...eu não vou morrer tão cedo. O guerreiro das Trevas disse seguramente. Em algum momento, ele vai levantar e me agradecer.
Sim. O Demônio sorriu e fitou Sorrow. Esse homem já passou por coisas demais nessa vida.
Sim... Tristan respirou fundo. E ele agüentou todas elas...e sem perder as esperanças...sem desistir de viver.
E é exatamente por isso que ele não vai morrer agora.
Sim. Ele coçou a nuca. O único problema vai ser o que aconteceu com os outros moradores do vilarejo...
Espero que você não esteja se culpando.
É claro que não. Não se preocupe quanto a isso. Tristan bufou. Aquele grito...quando eu deixei o vilarejo e fui para o covil da deusa...
Não tinha como ninguém imaginar a potência daquilo...e muito menos as conseqüências. A não ser que você pudesse prever aquilo.
Não.
Ótimo. Então, eu sugiro que você pare de pensar nisso. Amanhã teremos algo um tanto quanto importante para fazermos, não é?
Sim, mas...e você?
Eu o quê?
Por que você está se preocupando tanto assim com ele? Você ficou realmente emocionado com o que aconteceu com ele. Ótimo, sem problemas. Mas por que é você que o está acompanhando? Os seus conhecimentos em magias curativas não são muito bons. Você sabe muito bem disso. Tristan bufou. Então...por quê?
Shadowing permaneceu em silêncio.
Ah...entendi. Tristan bufou. Eu não sei exatamente o motivo, mas...sei qual o seu sentimento.
Sério? Shadowing arqueou uma sobrancelha. Então...diga.
Tristan respirou fundo.
Culpa. O guerreiro das Trevas disse calmamente. Eu não sei o porquê, mas...é isso o que você sente. Você se culpa pelo o que aconteceu com o Sorrow.
Ora... Shadowing esboçou um sorriso. É tão óbvio assim?
Pelas suas ações e pelo seu olhar...é.
Entendo...
Presumo que você ainda vai me contar o porquê...mas não será tão cedo.
É bem provável.
Certo. Então...nos falamos mais tarde.
Shadowing assentiu com a cabeça. Tristan deixou o quarto de Sorrow e andou até o seu. O guerreiro andou até a varanda e olhou para os céus.
Pensando na vida? A caçadora perguntou.
Tristan se virou para trás. Lilith havia acabado de entrar no quarto. Tristan sorriu.
Eu até gostaria de poder estar pensando. O guerreiro admitiu.
Nossa... Lilith suspirou e foi caminhando na direção do amado. Tanta coisa assim acontecendo?
Você nem faz idéia...ou melhor...você faz, sim.
É... Ela sorriu. Mas você é o Escolhido do Lorde das Trevas. Você agüenta.
Será?
Bem...eu confio em você. Ela segurou as mãos de Tristan delicadamente com as suas.
Eu sei.
Com uma troca rápida de olhares e um sorriso, os dois se beijaram.
Então...o que te aflige? Lilith perguntou.
Bem...toda essa confiança. Tristan respondeu.
Como assim? Ter um Império inteiro confiando em você não é bom?
Não se essa confiança vem com cobrança.
Você...está preocupado com a possibilidade de você falhar?
É.
E desde quando você se importa com as outras pessoas?
Eu...não sei. Eu realmente não sei quando eu mudei tanto. Só sei que foi nesse ano.
Talvez...tenha sido isso mesmo.
Como assim?
Aconteceram muitas coisas nesse ano. Você mudou o seu jeito de se relacionar com algumas pessoas também, não é? Pelo o que eu entendi, você não era muito sociável.
É...eu devo admitir que é verdade. Eu...só queria ter a Isolde de volta do meu lado. Eu...
“Isolde...”.
Tristan olhou para Lilith.
Ah...o que foi? A caçadora indagou.
Nada... O guerreiro respondeu. Eu...só...
Tem algo a ver com Isolde?
Ah...é.
O que foi?
“Ela não pode saber do que aconteceu na caverna. Eu...eu nem tive tempo para pensar naquilo”.
Lilith fitava Tristan. Ela suspirou.
Acho que eu entendi. A caçadora disse.
“Como!?”.
Ah...como assim? Tristan perguntou, tentando permanecer calmo.
Você...acha que eu tenho algum tipo de problema com a Isolde. Lilith respondeu. Bem...ela pode ter conseguido o seu coração antes de mim, mas isso não importa mais. Ela se foi...e você permaneceu aqui. Agora... Ela entrelaçou os braços ao redor da cintura de Tristan. Agora você é meu. E só meu. Certo?
O guerreiro sorriu.
Certo. Ele respondeu e retribuiu o gesto. Você é a única para mim.
Eu digo o mesmo. Lilith sorriu por um instante e, logo em seguida, a expressão dela se tornou de preocupação. Então...prometa que você ficará bem. Eu não posso perder você, Tristan. Eu...
Antes que ela pudesse terminar de falar, Tristan a beijou.
Não se preocupe. Tristan sorriu. Eu já devo ter te falado milhares de vezes. Eu não pretendo morrer tão cedo.
Lilith respirou aliviada e sorriu, mas a expressão de preocupação não havia desaparecido de seu rosto.
Vai dar tudo certo amanhã. Disse Tristan. Estaremos juntos. Eu te protegerei...e espero que você me proteja.
Com relação a isso...você pode ter certeza. Lilith abraçou Tristan. Mas...mesmo assim...você entende o porquê de eu insistir em agir assim, não é?
Claro que sim. O amor é uma coisa fascinante. Ele faz com que dois matadores como nós dois tenham momentos meigos como este.
Lilith riu.
É...verdade. Ela olhou fundo nos olhos de Tristan. Eu te amo, meu guerreiro.
E eu amo você, minha caçadora. Tristan disse com o mesmo carinho.
Uma batida forte soou na porta do quarto.
“Droga...”.
Se não respondermos, talvez nos deixem em paz. Lilith sugeriu.
Tristan assentiu com a cabeça. Os dois ficaram em silêncio. Uma conversa podia ser ouvida do lado de fora do quarto, apesar das palavras não soarem nitidamente.
“Quem será que...?”.
De repente, a conversa cessou.
“Ufa...”.
Tristan! Astaroth gritou.
O Demônio havia acabado de surgir no quarto a partir das sombras. Ao ver Tristan junto de Lilith, Astaroth parecia ter ficado paralisado.
Ah...eu...estou atrapalhando, não é? O Demônio riu forçadamente. Eu...eu...
Se você veio falar alguma coisa, pode falar. Tristan disse. Mas...tente falar rápido.
Bem...certo. Eu...ia chamar você para vir comigo, com o Shadowing e com mais alguns seres das Trevas para beber alguma coisa...sabe como é um dia antes dessas missões importantes, não é? Mas...enfim...vejo que você já está ocupado...então...até amanhã, vocês dois.
Em uma fração de segundos, Astaroth desapareceu nas sombras.
“Bem...e lá se vai o clima...”.
Antes que Tristan pudesse dizer alguma coisa, Lilith o beijou.
Vamos voltar para onde nós estávamos, certo? A caçadora sorriu.
Claro. O guerreiro respondeu.
“Ufa...”.
Ele olhou fundo nos olhos de Lilith.
“Eu tenho que aproveitar esse dia, esse momento. Amanhã...”.
Tristan... Lilith o chamou. Eu sei que nós dois estamos preocupados com o amanhã, mas...agora...
Vamos nos esquecer dessas preocupações. Ele disse. Só por enquanto...é isso que você pensou?
Lilith suspirou aliviada.
Sim...exatamente isso. Ela respondeu.
Ótimo. Tristan sorriu. Do que você quer falar agora?
No momento... Ela segurou as mãos de Tristan. Nada.
Ora... Ele puxou Lilith delicadamente para junto de si e a beijou. Perfeito.

O casal passou a noite juntos. No dia seguinte, os dois acordaram e prepararam para a guerra iminente.

domingo, 3 de abril de 2016

Teaser 1A

Teaser 1A


A noite rugia. Nenhuma alma parecia disposta a se aventurar no meio da tempestade. O vento soprava forte, assoviando enfurecido. Raios iluminavam o céu negro esporadicamente. Trovões pareciam fazer com que o próprio chão tremesse de medo. A chuva caia pesada, anulando até mesmo o som dos roncos dos motores que deixavam a cidade.
Por uma estrada rochosa agora coberta de lama, quatro veículos seguiam pelo temporal. Três carros blindados e um caminhão. Todos tão escuros quanto a escuridão que os cercavam. Os faróis amarelos ofuscantes pareciam ser o único indicador de suas presenças.
Meia hora se passou. Os veículos pararam. Seu destino era óbvio. Fora um velho armazém, nada havia naquele pedaço de rocha sem vida.
Prontamente, os homens saíram dos carros. Apenas dos carros. O motorista do caminhão permaneceu quieto.
Eram quinze no total.
Treze eram os típicos capangas. Brutos, com a cara fechada, armados com rifles e escopetas. As roupas escuras eram esfarrapadas, surradas. Certamente não os protegeriam da chuva. Seriam ainda menos úteis contra balas. Nenhum parecia ter algum tipo de treinamento formal, por assim dizer. Eram do tipo de mercenários que poderiam ser facilmente descartados após o uso.
Os outros dois eram os chefes. Parceiros de longa data, apesar de haver certa rivalidade entre a dupla. Os cabelos eram bem arrumados. As barbas, bem feitas. Os sorrisos esbanjavam autoconfiança. Os ternos, um cinza e outro branco, estavam impecáveis. É claro que dois capangas viriam com guarda-chuvas para manter os chefes a salvo das gotas de chuva. Não me surpreenderia se aquilo fizesse parte do contrato.
Com passos rápidos, os homens se dirigiram até a porta. Dois deles vinham atrás, carregando pesadas maletas prateadas. As batidas fortes e impacientes no portão de aço vieram seguidas de sua identificação. Então, as portas se abriram para os compradores.
Dentro do armazém, pouco era visível. As luzes brancas eram fracas, incapazes de dissipar as sombras. Alguns caixotes estavam espalhados pelos cantos, muitos cobertos por lonas brancas. Porém, os olhos de nenhum deles se focavam naquilo. Algo no centro da sala era bem mais tentador.
Longos cabelos ruivos. Pele alva como marfim. Olhos cor de mel. Lábios doces e delicados. Um sorriso branco perfeito. Aquela mulher poderia seduzir qualquer um daqueles homens grosseiros, fazê-los se ajoelhar e obedecer cada um de seus comandos.
Porém, não o faria.
Não era assim que aquela mulher trabalhava. De fato, parecia detestar sua aparência certos dias.
Terno preto para esconder o corpo. Rabo de cavalo para prender o cabelo. Uma expressão séria que fazia seu sorriso angelical desaparecer por completo. E, mesmo assim, seu profissionalismo era questionado. Aquilo a tirava do sério.
A mulher tirou um isqueiro de prata do bolso esquerdo. Do direito, veio um maço. Ela retirou um e guardou os demais. Com calma, levou o cigarro à boca e o acendeu.
Então... Ela começou a falar enquanto tragava a fumaça. Sua voz era monótona, sem emoção.   Trouxeram o dinheiro?
Ora... O homem de terno branco sorriu. Não é uma recepção muito calorosa essa sua, não acha? Seu tom de voz era acolhedor, um tanto quanto sedutor. Por que não se aproxima, minha cara...? Ele deu um passo a frente. Ou prefere que eu me aproxime...?
Nem um nem outro... A mulher soprou a parte da fumaça cinzenta. É verdade. É uma recepção fria. Mas não vai mudar. Eu gosto das coisas assim. São negócios, não é mesmo? Eu apertaria a sua mão, mas você me parece daquele tipo de cara que não vai se contentar só com isso...
O sorriso sumiu no rosto do homem. O parceiro dele deu um tapa de leve em seu ombro.
Não vai conseguir nada com essa daí. Advertiu o de terno cinza com sua voz rouca. Seu olhar se dirigiu à vendedora. É praticamente um homem com tetas.
O desgraçado sorriu, mostrando seus dentes amarelados para a mulher. Era óbvio que ele esperava algum tipo de reação. Mas nada veio. Não dela, pelo menos.
Era um mau pressentimento, pra dizer o mínimo. Algo parecia ter se agitado naquele armazém. Os olhos dos dois chefes e de alguns capangas tentaram seguir os sons.
Alguém estava no andar de cima, nas passarelas de metal.
Por um momento... O de terno branco suspirou. Achei que você estivesse só aqui.
Não pensou que eu seria tão estúpida, não é? A mulher soprou mais fumaça na direção dos compradores. Se eu escolhi o local, é claro que vim mais preparada que vocês... Ela bufou. Um toque leve do dedo fez as cinzas caírem da ponta do cigarro. Porém... Isso não importa... Ou assim espero.
Mas é claro. O de terno cinzento assentiu. Vamos aos negócios... Ele esfregou uma palma da mão na outra. Onde está a mercadoria?
Nos caixotes. Ela respondeu. Ao seu redor. Experimente se quiser.
Mas é claro...
O homem de terno cinza andou calmamente até uma das grandes caixas de madeira. Ele levantou a tampa pesada e a deixou de lado. Seus olhos pareciam brilhar ao ver a mercadoria.
Olha só... O homem sorriu satisfeito. Fazia tempo que eu não via tanto pó junto...
Ele levou uma mão até o bolso direito. De lá, tirou um estilete. Depois, tirou um dos sacos do caixote. Com um corte rápido, fez uma pequena abertura. Seu indicador foi até o pó branco e, em seguida, para sua boca.
O homem de terno cinza se virou para a mulher. Sua boca formou um sorriso satisfeito. A vendedora manteve sua expressão séria.
Ok... Ele se voltou para seus capangas. É da boa. Podem pagar à moça.
Os homens que carregavam deixaram as maletas prateadas aos pés da mulher. Ela olhou para elas sem muito entusiasmo, pressentindo algo errado.
Setenta e cinco mil. Anunciou o home de terno cinza com o saco de cocaína ainda em mãos. Como prometido.
Ah... A mulher soprou fumaça inquieta. Como prometido. Repetiu. Não, não... Ela inclinou a cabeça para a esquerda. Não acho que tenha sido esse o trato...
Querida... Ele sorriu. Somos os melhores compradores que você terá na vida. Nunca que você conseguiria todo esse dinheiro de uma vez...
Parece que você está certo. Afinal, não tenho todo esse dinheiro. Não tenho os meus cem mil.
Olhe... O homem parecia irritado agora. Nós somos da capital. Da capital, sabe? Nós ditamos os preços, doçura. Se eu estou falando que setenta e cinco mil é o que isso vale...
Então você não vai levar toda a mercadoria. Ela retrucou.
O homem de terno cinza bufou. Estava à beira de perder a paciência. Ele havia dito a seu parceiro que conseguiria o desconto, que conseguiria convencer a compradora a se contentar com menos dinheiro. Porém, nunca em sua vida aquele desgraçado havia negociado com uma mulher daquelas.
Setenta e cinco por cento. Ela disse calma. Ou seja... Quinze dos vinte caixotes. Ou isso ou você volta da próxima vez com todo o dinheiro... Ou não volta mais.
Escuta aqui, sua vadia...!
O rugido veio em seguido. O brado chamou a atenção de todos. Então, um vulto gigantesco pulou do segundo andar.
Ele pousou, bem ao lado da mulher, estremecendo o chão. Calma, a expressão do seu rosto não se alterou. Ela já estava acostumada com o estilo de chegada de seu aliado.
O recém chegado tinha mais de dois metros de altura. Seu corpo branco e musculoso era coberto de tatuagens negras, marcando inclusive o topo de sua cabeça calva. De roupas, só vestia calças pretas e coturnos escuros. Em seu rosto, uma expressão de raiva residia, mostrando os dentes como presas enquanto bufava.
Talvez seja meio óbvio, porém, contarei assim mesmo: a reação de todos os capangas, por mais assustados que estivessem, foi apontar suas armas para o gigante.
Então... O homem de terno branco limpou a garganta. Esse é o seu reforço?
Meu guarda-costas. A mulher explicou. E um de meus amigos mais antigos... Ele sempre se irrita quando falam mal de mim. Eu não ligo, sabe? Ela cruzou os braços e olhou para o companheiro. Nunca fui muito de me deixar levar pela a opinião de gentinha que nem vocês... Mas aí o grandão aqui não leva tão na boa...
Adorável. O homem de terno cinza disse num tom sarcástico. Agora peça pro seu bichinho ficar quieto. Caso contrário, ele vai ficar cheio de buracos.
Pouco provável. A vendedora discordou. Ele é bem forte, sabe...?
Você não consegue ficar com essa boca fechada!?
Poderia dizer o mesmo sobre você...
Olha aqui, sua vaca...!
Então, aquilo aconteceu. O gigante avançou sem hesitar, urrando como uma fera, até sua mão direita agarrar o rosto do homem de terno cinza.
Ele pediu por ajuda, tentando se soltar de seu agressor sem sucesso. Seus gritos eram abafados pela mão do gigante. Os capangas pareciam ainda mais assustados. Suas mãos tremiam. Não conseguiriam acertar um alvo parado agora se tentassem.
Não atirem! Pediu o homem de terno branco para seus homens. Por favor, não atirem!
É claro que ele estava preocupado. Aqueles brutamontes iriam acabar atirando em seu parceiro se apertassem os gatilhos. Mesmo que não estivessem nervosos eles acabariam acertando a pessoa errada.
Com seus gritos abafados de dor, o homem do terno cinza estava perdendo as forças. Tremendo de medo, sentindo sua face sendo esmagada, ele se ajoelhou. Não aguentava mais ficar de pé. Se o gigante o soltasse, era provável que caísse inerte, quase morto.
Sabe qual o problema? A mulher perguntou e, então, soprou uma nuvem cinzenta para o alto. Digo, qual o problema de vocês?
O olhar de todos se dirigia à vendedora agora. Ela não gostava de tanta atenção, porém, dessa vez seria diferente, seria bom.
Vocês, pessoas fracas... E com isso não me refiro à fraqueza física necessariamente, mas me refiro com certeza à fraqueza intelectual de vocês... É que vocês não sabem respeitar. Vocês não querem respeitar. Vocês não conseguem simplesmente obedecer a uma regra após pesar os prós e contras e decidir pela alternativa mais viável, enxergar que as regras estão aqui para ajudá-los tantas vezes... Não! É algo muito além de vocês... Vocês têm que discordar, vocês têm que causar um tumulto apenas por quererem, apenas por poderem... Apenas por se acharem fortes... Mas vocês não são fortes. Ela disse pausadamente. Vocês não têm a capacidade de respeitar... Mas vocês têm a capacidade de fazer as coisas por outros motivos, sabe? De serem coagidos, de seguirem regras por medo, de aprenderem com os próprios erros, de aprenderem com a dor, com o arrependimento... Um sorriso sinistro se formou em seus lábios. É por isso que não dá pra conversar com vocês... É por isso que é preciso ser bruto com a sua raça... Então...
Nesse instante, o gigante soltou o rosto do homem com o terno cinza. Ele respirou ofegante, parecendo que havia quase se afogado, sendo salvo no último instante.
Entretanto, o homem não pôde comemorar.
A mão do gigante agarrou sua mandíbula em seguida, puxando seu rosto aterrorizado na direção da vendedora.
É por isso que vocês têm que aprender com o medo. Ela continuou. Alguém tem que aprender com a dor...
Enquanto o desgraçado sentia sua mandíbula sendo puxada até se soltar se seu crânio, enquanto sua língua coberta de sangue era separada do resto de seu corpo, ele pôde jurar que viu a mulher zombando dele, sussurrando gentilmente:
Agora você nunca mais vai conseguir fechar essa boca imunda...
O homem de cinza começou a se debater no chão, tentando gritar de dor sem poder articular palavra alguma. Seu sangue jorrava para todos os lados enquanto o pé do gigante o impedia de fugir.
Não demorou para que o chão negro fosse tingido de vermelho.
Horrorizados, os homens tremiam. Eles não sabiam como reagir a algo tão brutal.
Ah... Ah... O homem de branco tentava montar uma frase. Vocês...! Ele se voltou para os capangas. Atirem... Atirem nele! Atirem naquele monstro!
Os capangas demoraram um instante para entender. Não eram soldados treinados afinal.
Quando começaram a atirar, porém, não pararam até que as balas acabassem.
Durante o frenesi, nem mesmo perceberam que seus esforços haviam sido em vão.
Centenas de projéteis haviam acertado o corpo do gigante, mas nenhum conseguiu causar mais do que alguns arranhões. Nem mesmo os disparos contra a cabeça dele tiveram algum efeito.
Essa aberração... O homem de branco conseguiu dizer tremendo. O que é...?
Ora... A mulher sorriu. Alguém que veio aqui te ensinar pelo medo. Achei que isso já estivesse bem claro...
Então, ela assoviou. A ordem foi entendida.
Da escuridão acima dela, disparos vieram. Como uma chuva de metal, balas de pistolas, rifles e metralhadoras vieram. Um a um, os capangas caíam. Em questão de segundos, o homem de branco viu seus capangas morreram. Eles estavam tão inofensivos quanto ele agora.
Espero que você não tenha achado que eu só tinha um aliado. A vendedora falou com sinceridade.
O homem olhou para ela. Quando percebeu, já era tarde demais. A mão do gigante já estava apertando sua nuca, forçando-o a ajoelhar como seu parceiro havia ajoelhado.
Isso é o que faremos... A mulher começou a dizer, olhando seu cliente de cima. Você vai deixar todo o dinheiro aqui. E não vai levar nada. Entendido?
Tremendo, ele assentiu.
Ela, então, tragou o cigarro e cuspiu a fumaça no rosto do homem assustado. Ele fechou os olhos e tossiu.
É claro que você entendeu. A mulher afirmou. Não respeitam. Sentem medo. Enfim entendem a mensagem. Tudo o que eu acabei de falar faz sentido...
A vendedora estendeu sua mão na direção do rosto do comprador, apagando seu cigarro em sua testa lentamente enquanto ele gritava de dor.
Bem, esse acabou sendo um dia bem lucrativo. Ela sorriu para o gigante. Então, voltou-se para o homem. Não hesite em me procurar para futuros negócios, ok?
Após essas palavras, o gigante soltou o comprador. Sem hesitar, o homem se levantou e, aos tropeços, correu para fora do armazém, passando pelos corpos de seus capangas e de seu amigo sem olhar para trás.
Tudo certo... A mulher respirou fundo. Então, olhou para cima.  Valeu, gente! Agora vamos voltar pra casa!
Com essas palavras, cinco pessoas pularam das passarelas de ferro. Eram homens e mulheres. Todos vestindo roupas blindadas. Todos fortemente armados.

Vocês merecem uma salva de palmas! A vendedora sorriu. E alguns drinques. Por minha conta. Dinheiro não é problema hoje... Ela riu contente. Vamos, família.