quinta-feira, 30 de junho de 2016

Capítulo 60

The Mechanical Army
O Exército Mecânico

“Impressionante...”.
Tristan e Astaroth haviam chegado à primeira câmara do covil de Nighthand. O local era gigantesco. As paredes, piso e teto eram feitas de ferro. Dezenas de tochas com fogo verde iluminavam a área completamente. Autômatos humanoides, feitos de bronze e de estatura normal, andavam pela câmara em um ritmo frenético. Os rostos deles eram esculpidos com detalhes, mas não apresentavam nenhum tipo de movimento, como os dos olhos e das bocas. Portas se abriam e se fechavam incessantemente, com mais e mais das criações de Nighthand chegando e deixando o local. Eles carregavam diversos objetos, de ervas a animais recém mortos a peças mecânicas. O cheiro de óleo e graxa no local era intenso.
Certo...mais autômatos. Astaroth respirou aliviado. Ainda bem que eles são nossos aliados.
Sim. Tristan concordou. Mas... Ele olhou rapidamente ao redor. Onde está o nosso anfitrião?
Ah...bem...é. Ele limpou a garganta. Boa pergunta.
Entre as várias portas que se abriam, Nighthand apareceu junto de um autômato diferente dos demais. A máquina era feita de ouro e era muito mais trabalhada do que as outras. Todas as centenas de articulações se moviam com perfeição. O andar do autômato dourado era natural e solto como o de uma pessoa. Ele gesticulava com as mãos enquanto conversava com Nighthand. Seus olhos de safira, suas sobrancelhas e seus lábios se moviam perfeitamente durante o diálogo.
Ah! Nighthand exclamou. Aí estão vocês!
Bem...foi você que desapareceu... Murmurou Tristan.
Só por que vocês estavam demorando a aparecer. O mago suspirou. E eu também tenho algumas coisas importantes para manter em ordem, como por exemplo... Ele alisou a barba. Ah...não eram três de vocês?
Shadowing resolveu não entrar aqui... Disse Astaroth.
Ah...certo. Nighthand continou a alisar a barba. E por que ele decidiu fazer isso?
Alguém tinha que ficar de vigia, não é? Tristan conseguiu falar rapidamente.
Na verdade, não. O ancião parecia sorrir por debaixo do capuz. Do mesmo jeito que eu senti a presença de vocês, eu posso sentir a presença das forças da Luz, caso eles se aproximem.
Tudo isso por causa dos seus autômatos? Astaroth perguntou.
Sim, graças a alguns que são especializados nisso. Respondeu Nighthand. Graças ao meu trabalho e estudos, cada um dos meus autômatos tem talentos especiais. Alguns são caçadores, outros são cozinheiros, há ainda construtores e até aqueles que alertam outros autômatos para suas funções. Ele suspirou. Enfim...vocês podem chamar o seu amigo para vir aqui. Não há nada com o que vocês devam se preocupar.
Espero que você não esteja subestimando Shadowing. Tristan sorriu. Eu tenho certeza que ele virá nos avisar da presença do inimigo antes de seus autômatos.
Ora... O mago riu. Talvez devêssemos fazer disto uma oposta.
Claro! Astaroth abriu seu sorriso maníaco. Aposte esse seu brinquedinho de ouro.
Ah...brinquedinho... O autômato dourado falou. Seu timbre de voz era diferente de qualquer outro. O movimento das engrenagens, bem como o de outras peças metálicas, parecia produzir o som. Entretanto, a voz parecia transmitir certa emoção. No momento, o autômato soava levemente irritado. Eu suponho que essa foi a palavra mais sofisticada que um Demônio pôde pensar.
Como!? Astaroth parecia rosnar.
Desculpe-me. A máquina disse em tom solene. Você não sabe o significado de alguma das palavras que eu usei em minha última constatação?
Astaroth levantou a mão contra o autômato dourado. Tristan segurou o braço do amigo. A expressão no rosto da máquina continuava calma. Nighthand riu alegremente.
Há muitos anos que eu não via uma discussão calorosa como essa. O mago alisou a barba.
Que bom que você está se divertindo. Disse Tristan em um tom frio. Agora...há algo realmente importante que você tenha que nos mostrar aqui?
Bem...talvez eu possa lhes mostrar a extensão da minha residência. Nighthand parecia sorrir orgulhoso por debaixo do capuz. Esses túneis podem nos levar para longe da cidade, sabiam? Eu poderia, agora que somos aliados, estender-los até a cidade de Nidhogg. O que vocês acham?
Sinceramente... Tristan bufou. Eu...
Antes que o guerreiro das Trevas pudesse terminar de falar, Shadowing, com as asas abertas, abruptamente entrou na sala. O Demônio arfava. Todos os que estavam presentes, inclusive os autômatos, pararam o que estavam fazendo para ver o recém chegado.
Shadowing... Tristan o chamou.
As forças da Luz estão chegando! O Demônio encapuzado disse apressadamente. Vamos!
Ora... Nighthand murmurou.
De repente, um som agudo, como o do caranguejo de bronze, soou extremamente alto dentro do local. Milhares de ruídos metálicos vieram em seguida.
Então esse é o tal alerta dos autômatos? Astaroth riu. Parece que você perdeu a oposta.
Infelizmente, para você, nós não tínhamos definido nada. Nighthand suspirou. Portanto, eu não perco nada desta vez.
Miserável... O Demônio de olhos verdes rosnou. Verme escorregadio...
Esqueça o que vocês estão discutindo! Shadowing vociferou. Isso não tem importância agora!
Ele está certo. Disse Tristan. Vamos logo, Astaroth.
Ah...certo... O Demônio bufou. Vamos...
Rapidamente, Tristan, Astaroth e Shadowing voltaram a superfície.
“Droga...”.
Um esquadrão com, pelo menos, uma centena de Anjos atravessava os céus, aproximando-se do trio de seres das Trevas.
Tristan... Shadowing o chamou.
O que foi? O guerreiro perguntou.
Preste atenção... Ele apontou para um Anjo em específico. Ele está muito a frente dos outros...
Ele é bem rápido. Comentou Astaroth. Mas...o que ele tem de especial.
A não ser que exista outro como ele... Tristan suspirou. Bem, eu não creio que exista. Só pode ser ele.
Shadowing assentiu cm a cabeça, concordando com o guerreiro das Trevas.
Do que vocês estão falando? Astaroth parecia legitimamente confuso.
Um...conhecido. Respondeu Shadowing, embora um pouco relutante. Apenas...espere. Não o ataque.
Após poucos segundos, o Anjo aterrissou na frente do trio. A armadura apresentava três cores, branco, prata e bege. As asas eram brancas como as de qualquer outro da sua raça. O rosto era delicado e belo. Os cabelos curtos eram loiros e sedosos. Os olhos tinham cores diferentes, sendo um verde e, o outro, azul. No lado direito de sua cintura, o cabo de uma arma estava preso, apesar de não ter nenhuma utilidadade aparente.
Não esperava te encontrar aqui. Tristan sorriu.
Principalmente agora que não somos mais aliados. Acrescentou Shadowing soturnamente.
Sem dúvidas...não era assim que eu havia imaginado o nosso reencontro. Migrasi bufou. Mas...não há nada o que possamos fazer...a não ser cumprir a nossa missão.

O Anjo sacou o cabo da arma. Uma luz branca intensa brilhou.

domingo, 26 de junho de 2016

Anúncio 30

Chegamos ao trigésimo anúncio! Uhuuul!
E sobre o que falarei hoje...?
Bem... É... Não deu pra escrever nada hoje... Ops...
É... A vida ta corrida. Hoje aproveitei pra descansar um pouco e...
Não quero ficar dando desculpas.
Próximo final de semana tem texto novo, sem falta.
Ah é!
Minhas pseudo-férias estão chegando! Isso significa que talvez, TALVEZ, eu tenha mais tempo p escrever... Por umas duas semanas. Aí volto pro ritmo normal. O ritmo de eventualmente vacilar com postagens novas...
...
Acho que vou parar por aqui.
Até mais!

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Capítulo 59

Nighthand, The Creator Automata
Nighthand, o Criador de Autômatos

Todas as máquinas emitiram um ruído agudo ao mesmo tempo. Fumaça negra foi expelida das articulações deles como pequenos gêiseres. Chiados vieram em seguida. Em um instante, todos os autômatos pareciam haver adormecido.
“O quê...?”.
Não se preocupem! O homem em pé em cima da cabeça do autômato gigante disse. Eles nunca atacariam seres das Trevas! Eu não os fiz para que eles agissem assim!
Em uma fração de segundos, o homem se transformou em trevas e surgiu na frente de Tristan. Apesar de ter o rosto coberto pelo capuz negro, sua longa barba grisalha não podia ser escondida.
Nighthand. O guerreiro das Trevas sorriu. Nós estávamos a sua procura.
É claro que estavam. Nighthand resmungou. Por que mais vocês estariam em um lugar desses?
É...ele está certo quanto a isso. Shadowing concordou, embora um pouco relutante.
Astaroth respirou aliviado.
Contanto que eu não tenha que enfrentar essas coisas...eu não tenho motivos para reclamar. O Demônio de olhos verdes sorriu. Agora, podemos focar em enfrentar os seguidores da Luz.
O quê? Nighthand indagou. Seguidores da Luz?
Sim. Respondeu Tristan. É muito provável que alguns deles venham para tentar te matar.
E é exatamente por isso que viemos aqui. Acrescentou Shadowing. Você pode ser um aliado ainda mais valioso para as Trevas caso venha conosco. Trabalhe no Palácio de Nidhogg. Sirva o Lorde das Trevas diretamente.
Ah...não. Respondeu Nighthand. Eu não tenho nenhum problema em ajudar Nidhogg. Eu sou um seguidor das Trevas a final de contas. Mas...eu não deixarei esse lugar. Eu tenho tudo o que eu preciso aqui.
Sério...? Astaroth franziu a testa. Esse lugar está completamente destruído.
Se você realmente acredita que eu moro aqui, vivendo por séculos em meio a esse caos, você é mais estúpido do que parece. Disse o mago. É óbvio que eu não vivo aqui na superfície. Eu apenas saí de minha singela residência por que alguns dos meus autômatos detectaram...bem, vocês. Eles apenas sentiram s suas auras. Logicamente eu fiquei curioso para ver o que estava acontecendo. Não é sempre que eu recebo visitantes...principalmente, seres das Trevas tão poderosos assim. Ele respirou fundo. Enfim...agora, eu tenho outro motivo para permanecer aqui.
E qual seria? Indagou Tristan.
Enfrentar os seguidores da Luz. Nighthand respondeu alegremente. Faz muito tempo desde que eu enfrentei adversários dignos. Ele olhou para as bestas mecânicas abaixo. E eu posso dizer o mesmo sobre os meus autômatos. Ultimamente, eles apenas caçam e buscam por comida e temperos. Chega a ser uma função um tanto quanto ridícula para bestas e guerreiros de bronze gigantescos...
Entendo... Tristan murmurou.
Então, nós vamos enfrentar os seguidores da Luz... Astaroth sorriu. Ótimo!
Nighthand riu.
Vejo que um de vocês já se entusiasmou com a idéia. Ele disse e, em seguida, olhou para Tristan e Shadowing. Mas...e quanto a vocês dois?
Os dois amigos se entreolharam. Sem dizer uma palavra, os dois chegaram a um consenso.
Caso você prometa se aliar diretamente às Trevas, não creio que existam motivos para não lutarmos lado a lado agora. Decidiu Tristan.
  Ótimo. Disse Nighthand satisfeito. Então...caso não hajam objeções, sigam-me.
Para onde? Perguntou Shadowing.
Para minha humilde residência. O mago alisou a longa barba. Vamos.
Bem...antes disso, há algo que eu preciso perguntar. Disse Tristan.
Você pode me perguntar enquanto andamos, não?
Ah...eu suponho que sim...
Ótimo! Então...vá perguntando.
Nighthand se virou para outra direção e começou a andar para longe de Tristan. O guerreiro olhou para os amigos.   
Bem...vamos segui-lo. Disse Shadowing. Eu também tenho algumas perguntas.
De uma maneira ou de outra, não podemos ir embora ainda. Astaroth sorriu. Temos que esperar nossos amigos da Luz aparecerem antes.
Certo... O guerreiro bufou.
Em um instante, Tristan, Shadowing e Astaroth pareceram ao lado de Nighthand.
Então... O Escolhido de Nidhogg limpou a garganta. Como você conseguiu sobreviver esse tempo sozinho?
Eu não estava sozinho. O mago respondeu. Eu estava com as minhas criações.
Certo...
Você me parece bem são para alguém que não teve contato com pessoas por tanto tempo. Admitiu Shadowing. Pelo menos, comparado ao Astaroth.
Aceite isso como um elogio. O Demônio de olhos verdes gargalhou.
Viu...? Shadowing riu. Completamente insano.
Sim... Nighthand parecia levemente assustado. Mas...creio que vocês subestimam as minhas criações...
Como assim? Indagou Tristan.
Bem...creio que é melhor vocês verem por vocês mesmos...  O mago riu. Vamos um pouco mais rápido agora, certo?
Em um instante, Nighthand se transformou em trevas e, rapidamente, distanciou-se de Tristan e seus amigos.
“Droga...”.
Rapidamente, Shadowing abriu as sãs e voou atrás de Nighthand. Tristan se transformou em trevas e alcançou o mago. Astaroth surgia e desaparecia incansavelmente pelas sombras, acompanhando os outros.
Não se preocupem, já estamos chegando! Nighthand riu.
Após mais alguns segundos de perseguição, o mago se transformou de volta ao normal.
É aqui. Nighthand anunciou.
Tristan, Shadowing e Astaroth surgiram em atrás do mago.
Aqui...? O Demônio de olhos verdes parecia confuso. O...
Antes que Astaroth pudesse terminar de falar, Nighthand estralou os dedos. Faíscas verdes envolveram a mão do mago. Um ruído agudo como os dos autômatos soou do chão a frente deles. O símbolo das Trevas, com cerca de meio metro de diâmetro, brilhou no solo. Lentamente, o pedaço do chão se ergueu, revelando uma escadaria que descia dezenas de metros para o subsolo.
Então...essa é a entrada para a sua casa? Indagou Tristan.
É uma delas. Nighthand respondeu. Para ser mais preciso...essa era a mais próxima.
Quantas são no total? Shadowing perguntou.
Ah...bem...boa pergunta. O ancião riu. Eu nem faço ideia. Sinceramente, eu só me lembro das mais recentes e das mais antigas. Ele alisou a barba. Creio que eu saiba da localização de uma centena. Deve haver pelo menos umas quinhentas passagens na cidade inteira.
Nossa...impressionante. Tristan admitiu.
É...creio que sim. Nighthand suspirou. Foram séculos de trabalho. Eu criei túneis no subsolo dessa cidade a partir de uma simples caverna. Eu criei muitos autômatos  para me ajudarem. E...a população da cidade também me ajudou, tanto na construção dos túneis, tanto na dos autômatos. Ele cerrou os punhos. Eles me ajudaram tanto, mesmo sem saber sobre o meu passado... Nighthand sacudiu a cabeça para os lados. Mas...bem...isso não é importante. O que vocês precisam saber é que todo o trabalho da minha vida como mago está bem debaixo de seus pés. Quilômetros e quilômetros de túneis recheados com as minhas invenções, incluindo maquinários, autômatos e...bem...vocês verão em breve.
“Ah...memórias prendem Nighthand a esse lugar. Muitos morreram enquanto o ajudavam. Talvez as forças da Luz vieram aqui exatamente para matá-lo. Ele...não deseja abandonar aqueles que deram a vida pela dele...”.
Bem...para você ter sobrevivido aqui por tanto tempo, tenho certeza que a infra-estrutura que você criou é excelente. Admitiu Shadowing. Imagino que você tenha criações para buscar alimento, cozinhá-los...certo?
Nighthand riu.
Bem...vocês podem tentar ficar adivinhando... O mago começou a descer as escadas. ...ou vocês podem me seguir e descobrir por si mesmos.
Tristan, Astaroth e Shadowing se entreolharam. O Demônio de olhos verdes andou até o começo da escadaria e olhou para a escuridão abaixo.
Bem, vamos seguir um mago imortal, que era um assassino, para o esconderijo dele no subsolo que, sem dúvidas, está cheio de brinquedinhos, criados por ele, com a capacidade de nos matar. Disse Astaroth. Bem...isso certamente é loucura. Ele gargalhou. Então...vamos?
Tristan riu.
Claro...por que não? O guerreiro andou até o lado de Astaroth.
Ótimo. O Demônio abriu seu sorriso largo e brilhante.
E você, Shadowing? Tristan sorriu. Preocupado?
Sempre. O Demônio encapuzado respondeu. Alguém aqui tem que ter bom senso.
Pare de ser irritante! Astaroth zombou. Vamos logo!
Não era você que estava com medo do desconhecido? Shadowing indagou.
Sim. Mas agora o Nighthand não é um desconhecido. Os autômatos dele não vão nos atacar. Então...vamos!
Você não está nem um pouco desconfiado dele?
Não. Astaroth bufou. Vamos!
Shadowing. Tristan o chamou com a voz calma. Não se preocupe. Mesmo se ele tentar nos atacar, nós três estaremos juntos. Não há como ele nos derrotar.
Eu não confio nele. Disse o Demônio encapuzado. Ele está escondendo alguma coisa. Eu tenho certeza. E, agora, nós estamos prestes a entrar no covil dele...
Bem...fique ai então. Sugeriu o guerreiro das Trevas. Caso as forças da Luz venham nos atacar...você nos avisa com antecedência. Está bom assim?
Shadowing assentiu. Tristan se virou para trás e começou a descer as escadas. Astaroth o seguiu.
Tristan... O Demônio o chamou. Você...tem certeza quanto a isso?
Não se preocupe. O guerreiro pediu. Shadowing deve ter os motivos dele para estar desconfiado. Eu não vou forçá-lo a fazer algo que ele não esteja confortável.
Ah...certo...
Passo a passo, Tristan e Astaroth desceram os degraus da escadaria rumo ao desconhecido.

domingo, 19 de junho de 2016

Conto de Terror 14

O Destino tem um Senso de Humor Peculiar


Sempre me considerei um sujeito bem humorado. Otimista, sempre consegui ver o lado positivo de qualquer situação, sempre fui abençoado com a capacidade de levantar o moral dos que estavam ao meu redor. As pessoas pareciam se aproximar de mim como uma mariposa atrás de uma chama e, como uma chama, eu aconchegava quem se aproximasse.
Foi assim que eu a conheci: a mulher da minha vida. Ninguém teve tanto impacto na minha vida quanto ela, disso eu tenho certeza.
Aquele anjo me presenteou de várias formas, retribuindo a minha bondade inúmeras vezes, algo que ninguém nesse mundo parecia ser capaz de fazer. Era inacreditável. Era lógico que eu acabaria de apaixonando por ela e, com o tempo, receberia o maior de todos os presentes: a minha adorável filha.
Aquela criança era simplesmente perfeita. A minha princesa. A razão do meu viver. Eu me sacrificaria pela minha filha sem pensar duas vezes.
Eu sorria quando ela gargalhava. O mundo parecia um paraíso por alguns instantes preciosos, instantes que me acalmavam mesmo nas horas mais difíceis.
Meu estômago se revirava quando ela estava infeliz. Por um segundo interminável, parecia que tudo desmoronaria a minha volta.
O tempo passava, porém, eu não mudava.
Minha esposa, entretanto, era uma história diferente.
Aquela que era o meu anjo mudou. E não foi pouco.
Ela se tornava mais distante a cada dia que se passava, mais fria a cada momento.
A vida em casa teria se tornado um inferno se não fosse pela minha filha. Enquanto ela estivesse sorrindo, enquanto eu fosse o herói dela, tudo estava certo.
Com o tempo, eu parei de me importar com minha esposa. A língua peçonhenta, as garras afiadas, a aura gélida. Nada me afetava. Eu via a frustração e o ódio em seus olhos. Aquilo de nada adiantava.
Aquela bruxa precisaria de algo muito pior para me quebrar.
Então, ela o fez.
Foi algo tão simples que eu nem previ.
O divórcio veio e, então, ela me tirou o maior dos presentes.
Eu ainda podia ver a minha princesa, porém, não era mais como antes. Nunca mais seria.
Toda vez que meus olhos se dirigiam àquela face rosada, eu via um sorriso. Meu coração se alegrava. Porém, não durava mais que um segundo, afinal, eu podia sentir o que minha filha sentia. Eu via que ela tentava me deixar feliz, mas eu também via que ela estava infeliz. Infeliz com aquela casa sem mim, infeliz com aquela bruxa que era a mãe dela, infeliz com aquela vida.
Meu coração não aguentava aquilo. As coisas precisavam mudar. De algum jeito. O mais rápido possível.
Eu estava perdendo o foco na vida. Com isso, não demorou para que eu perdesse o meu emprego. As contas em casa começaram a apertar. E é claro que aquele demônio me ligaria, cobrando a pensão para a minha filha, piorando ainda mais a situação.
A raiva começou a me consumir. Resolvi ignorar a minha ex. Parecia a melhor coisa a fazer.
Porém, com o passar dos dias, o desespero foi tomando conta de mim. Meu celular tocava incessantemente. Já eram dezenas de ligações perdidas daquela víbora, vinte e sete para ser exato. Eu não tinha como ir buscar a minha filha, pelo menos, não com ela estando sob as garras da mãe.
Então, eu fiz o que eu tinha que fazer.
Algo imperdoável, sim, mas, também, algo necessário. Eu podia viver com a culpa se minha filha estivesse bem.
Eu não havia contado o que havia acontecido com a mãe, porém, minha princesa parecia saber. E não se importava. É como se minha garotinha, apesar de tão nova, já soubesse o que era o melhor para si. Eu me orgulho tanto dela.
Fugir. Era isso o que eu tinha que fazer. Era o que eu e minha filha tínhamos que fazer. Afinal, perguntas começariam a aparecer, acusações começariam a surgir. Se achassem o corpo daquela bruxa, ela conseguiria novamente me separar da minha princesa. E eu não aguentaria aquilo de novo.
Porém, algo fez um calafrio percorrer a minha espinha.
Quando olhei meu celular, percebi que não devia ter economizado balas com aquele demônio. Ao todo, eu tinha trinta e cinco ligações perdidas do número daquela bruxa, e uma outra chamada começaria instantes depois.
Dirigi desesperado até o lago onde eu havia despejado o corpo. Parei meu carro na beira da estrada, beijei minha filha na testa e falei para ela não se preocupar. Nadei nas águas geladas, vasculhando todos os cantos submersos até achar onde o caixão havia parado. Lá, o pavor tirou a cor do meu rosto e o oxigênio de meus pulmões.
Achei que morreria afogado ali, petrificado, ao ver a tampa destroçada do caixão. Antes de nadar até a superfície do lago, juro ter visto marcas de garras na superfície de madeira. Algo saiu lá de dentro sem ajuda. Algo que não era humano já fazia tempo.
Voltei nadando até a margem, corri até meu carro. Vi que minha filha estava bem, o que fez meu coração desacelerar um pouco.
Naquele momento, não contei à minha filha o que havia acontecido exatamente. Porém, não fiz questão de esconder a verdade dela por muito tempo. Ela é inteligente, mais madura hoje do que eu já fui na minha vida, apesar de não querer admitir para ela a última parte.
Hoje, eu ainda corro. Aliás, nós ainda corremos. Minha filha e eu somos ainda nômades. Sabemos que criaturas obscuras rondam por essas terras. Parecemos as atrair de vez em quando.
Sempre rodeado, acho que ainda sou a chama das mariposas. Felizmente, aprendi a queimar os insetos que chegam perto de mais. E minha princesa parece ter herdado meu jeito.
Agradeço todos os dias por minha garotinha ainda estar perto de mim e, principalmente, por ela estar viva, principalmente depois de todos esses anos, depois de tudo que nós enfrentamos.
Entretanto, penso todos os dias no que teria acontecido caso eu tivesse aceito me separar de minha filha. Estaria eu com a minha boa e tranquila vida de anos atrás? Estaria eu vivendo em paz, sem medo? Conseguiria eu viver assim?
Realmente, o preço que eu paguei pela minha princesa foi alto demais. Mas sinto que foi o único jeito. O único jeito de viver.

É. O destino tem um senso de humor peculiar.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Anúncio 29

Fala, galera! Como vão?
Então... Vou ser breve. Tentar, pelo menos.
Estou tendo várias ideias pra história de antes (o do teaser 1). Talvez saia algum capítulo, ou mais um teaser, esse fim de semana.
Bem, era isso.
Consegui ser breve.
Vitória do dia.
Uhul!
Ok, até mais!

domingo, 12 de junho de 2016

Crônicas de Gehenna, Capítulo 1 (Incompleto)

Capítulo 1


Aquela era mais uma noite da qual Lucy se arrependia de ter saído de casa. Mais uma para a coleção.
A jovem se impressionava com o quão tediosa aquela vida havia se tornado. Pensou que tirar um ano para si mesma seria algo vantajoso. Ela deixaria os estudos de lado por algum tempo, teria seu descanso merecido, viveria um pouco para variar antes de entrar para a faculdade. Aliás, também aproveitaria os doze meses para se decidir sobre qual curso faria. Eram muitos para escolher apenas um. Além disso, eram muitas as suas afinidades e desavenças com suas alternativas. Trezentos e sessenta cinco dias talvez não fossem o suficiente para tomar uma decisão.
Enquanto bebia uma dose de um drinque que nem sabia o que era exatamente, Lucy parecia entender o problema: ela pensava demais. O tempo todo. Sempre se preocupando com o que acontecia, com o que aconteceu e com o que aconteceria. Mas a garota não conseguia evitar. Era o jeito dela.
Lucy olhou ao redor, para os amigos e amigas que a trouxeram para aquela festa, para outras dezenas de pessoas que não fazia ideia de quem fossem. Elas pareciam estar se divertindo. Falavam, dançavam, gritavam, bebiam, beijavam-se ao som da incompreensível música alta e remixada. E certamente não pensavam em nada.
A garota não queria admitir, mas os invejam.
Lucy queria estar ali no meio da pista, longe de suas preocupações e daquele canto frio, curtindo a vida. Mas não conseguia.
Havia um conflito dentro da jovem.
Uma parte dela se achava ruim demais para estar ali. Ficaria nervosa com toda a agitação, não conseguiria dançar, provavelmente cairia de cara na frente de todo mundo e seria a piada da festa. Também não saberia como se comportar na frente de gente nova, principalmente se fosse um rapaz. Era provável que diria algo estúpido ou suas pernas tremesse. Afastaria qualquer um que parecesse estar interessado nela. No final, voltaria derrotada para casa.
A outra parte, porém, era bem diferente: ela se achava boa demais para estar ali. Ninguém ali parecia estar ao nível dela. Poderiam haver algumas jovens mais atraentes que ela naquele lugar? Sim, porém, eram poucas. E essas poucas certamente eram tão rasas quanto poças de água, oferecendo um papo tão superficial e genérico que fariam os olhos de Lucy se revirarem inúmeras vezes. Aliás, esse parecia ser o grande problema daquela festa. E de outras festas. E de praticamente qualquer lugar onde a jovem botava os pés: ninguém parecia realmente a interessar. Todos pareciam tão insignificantes quando abriam a boca. Aquilo a deixava irritada. No final, voltaria insatisfeita para casa.
Alguém parece entediada... Disse alguém.
A voz não era de alguém conhecido de Lucy, porém, serviu para tirá-la de seus pensamentos por um instante.
A jovem olhou para seu interlocutor. Um rapaz que devia ter a mesma idade que ela. Era magro, um pouco musculoso, de altura acima da média. Seus cabelos eram negros e lisos, penteados para trás. Seus olhos eram verdes escuros. Sua pele era pálida, como se nunca tivesse tomado sol na vida. Seu sorriso, porém, era ainda mais branco. Sua camisa preta era regata, deixando os braços tatuados à mostra. Quanto ao resto do vestuário, vestia jeans que pareciam novos e tênis esportivos da mesma cor de sua camisa.
Ou talvez você esteja apenas esperando por alguém...? O sujeito arriscou um palpite. Sua  voz profunda era aveludada, agradável ao ouvido,. Ou algo...?
Tipo um milagre? Lucy virou o copo e terminou de beber seu drinque colorido. Porque isso seria bom...
Milagre? O jovem coçou o queixo, pensativo. As coisas estão tão ruins assim?
Não... Ou sim... Ou... Ela bufou. Nem sei mais. Só sei que eu me coloquei nessa situação. E eu vou me tirar dessa.
Algo me diz que você não está falando somente dessa festa...
Pois é... Sua atenção se focou, por alguns instantes, em algumas pessoas aleatórias gritando e dançando na pista. É a vida...
Se importa de me dizer algo menos vago? Ele pediu com certa cortesia.
Não quero perder tempo... Nem o meu, nem o seu, amigo.
Sinceramente, não vejo como você poderia desperdiçar meu tempo. O rapaz suspirou. Vim aqui só por causa de dois amigos meus... Meu plano era unir os dois, sabe? Ser o cupido e ficar me gabando depois...
Porém...? Lucy parecia curiosa.
Porém... Deu certo demais... E agora está um tanto quanto chato ficar perto deles... Ele bufou. Deus, eles não conseguem terminar uma frase sem que um enfie a língua na garganta do outro...
O rapaz soltou uma risada breve. Lucy apenas esboçou um breve sorriso. Pensativa, ela tentava analisar o rapaz.
E agora você está procurando alguém para que você possa fazer o mesmo? Ela ergueu uma sobrancelha. É isso?
Não necessariamente... Ele respondeu calmo.  Eu só estava entediado. Eu... Os olhos dele foram rapidamente dos pés à cabeça de Lucy, parando fixamente nos olhos azuis celestes da garota. Esses olhos...
O que tem...? Ela cruzou os braços e, atenta para o garoto, começou a ponderar. Vai elogiá-los? Dizer como são belos e fazer uma cantada barata?
O sujeito esboçou um sorriso. Mais uma vez, seus olhos foram dos pés a cabeça da garota. Dessa vez, mais lentamente. Dos sapatos pretos com salto alto à calça jeans justa. Da camiseta cinza coberta por uma jaqueta negra até o belo rosto alvo. Dos lábios rosados até os longos cabelos ruivos. Ele parecia estar gostando do que via. Porém, seu olhar parecia se perder nos olhos azuis da garota.
Faz tempo... O sujeito sorriu. Faz tempo desde a última vez que eu vi um olhar assim... Determinado, sonhador, ambicioso... Qualidades raras hoje em dia, ainda mais em conjunto...
Lucy não soube como responder. Quase se sentiu mal por ter achado que o sujeito diria algo estúpido e previsível.
Hm... Ela limpou a garganta. Obrigada...
Apenas disse o que eu senti que deveria dizer... Explicou. Nem precisava ter agradecido... Então, sua atenção se dirigiu para seu bolso. Droga... Ele pegou o celular e, após um instante, bufou... Bem, parece que meus dois amigos conseguiram se desgrudar... Mesmo que por pouco tempo... E agora querem ir para outra festa que começou agora pouco...
Outra? Lucy pegou seu celular. Já passou de duas da manhã... E ela só está começando?
A noite é uma criança. O rapaz suspirou. E meus amigos são minha carona pra fora daqui... Então eu meio que tenho que ir com eles...
E você tem que ir agora mesmo? A garota perguntou mantendo a calma, sem parecer desesperada. Se a festa lá só está começando...
Infelizmente, tenho alguns assuntos pendentes pra resolver lá. Ele disse desanimado. Não vai ser divertido no começo, mas vai melhorar... Ou assim espero...
Sei...
Lucy abaixou a cabeça, desviando o olhar do rapaz. Desanimada, tentava aceitar que talvez a única coisa boa daquele dia mal chegara e já partia. Já considerava voltar para casa. Talvez fosse a melhor opção.
Ei... O sujeito limpou a garganta. Você poderia vir nessa outra festa. Ele soou um pouco animado. Não é nada muito reservado, sabe? Deve ter quase tanta gente lá quanto aqui... A gente poderia continuar o papo lá...
É... Lucy bufou, apesar de querer sorrir. Mas, sei lá... Acho melhor não... Já está meio tarde... E lá não vou ter ninguém que eu realmente conheça... Se você estiver ocupado, e você vai estar pelo que eu entendi, provavelmente vou ficar parada num canto, que nem aqui...
Ela desviou o olhar do rapaz e coçou a nuca. Uma parte dela queria ir com o sujeito, era verdade. Faria algo diferente, algo espontâneo, sem ter que pensar. Porém, outra parte dela sabia dos riscos. Ela não conhecia aquele cara, nem seu nome ela sabia ainda. Tudo podia acabar horrivelmente errado. Voltar para casa poderia significar evitar um desastre.
Entendo... O rapaz tentou não soar desanimado. Bem... Não vou te forçar a nada, Lucy. Porém... Ele sorriu. Algo me diz que nos veremos de novo... Aí nos conheceremos devidamente, certo?
Lucy abriu a boca, mas não respondeu. Ela concordaria felizmente com a proposta do rapaz, porém, algo a incomodou.
Eu te contei meu nome...? Ela indagou.
Ah... O sujeito ergueu uma sobrancelha. Não contou...? Não...?
Eu não me lembro de ter contado... Ela contou um pouco desconfiada.
Hm... Talvez não tenha mesmo... Mas eu achei que você tinha cara de Lucy, então... Ele olhou para a garota que, claramente, estava incomodada. Enfim... Meu nome é Alex... Se é que eu não falei. Eu falei?
Acho que não...
Hm... Minha memória não anda boa ultimamente, pelo visto... Ele esboçou um sorriso. Enfim... Até mais!
Com um aceno de mão, o garoto se despediu. Com passos rápidos, ele desapareceu no mar de pessoas. Lucy, apesar de desconfiada, não tentou acompanhá-lo.
Havia algo inquietante sobre Alex. Desde a primeira troca de olhares ela sentiu isso. Porém, ainda não sabia dizer se aquilo seria algo bom ou ruim.
E mais uma vez, ela estava no canto de uma festa que, se ela fosse embora, não faria diferença. Porém, dessa vez, não hesitou em partir.
Lucy estava cansada. Saiu do lugar sem se despedir dos amigos. Aliás, ainda estava na dúvida se queria continuar saindo com eles. No momento, parecia uma perda de tempo, entretanto, não queria tomar nenhuma decisão precipitada. Seria uma decisão para depois.
Fora do prédio, a garota olhou para os arredores. As ruas da cidade eram frias. Àquela hora, pareciam quase mortas. A fraca luz amarelada dos postes não servia de nada contra as sombras da noite. Uma massa de nuvens negras no céu cobriam o brilho da lua e das estrelas sem dificuldade. Uma simples caminhada de duas quadras até um ponto de ônibus parecia uma tarefa arriscada demais. Se ela tivesse dinheiro para um táxi, gastaria sem remorso. Porém, a situação não era essa.
Não vai demorar nem cinco minutos. Esse era o pensamento que Lucy usava para se manter calma. Foi algo que funcionou bem por cerca de trinta segundos. Em seguida, Alex surgiu em seus pensamentos.
O sorriso enigmático do rapaz parecia perturbar seus pensamentos. Algo nele era anormal, desumano. No bom sentido, é claro. A fala dele prendeu a atenção de Lucy, algo que alguém não conseguia fazer há tempos. Era como se a voz do sujeito a prendesse, a deixasse curiosa para saber quando ele falaria novamente.
Era algo quase enlouquecedor. E igualmente sedutor.
Então, algo fez com que Lucy voltasse a realidade: o som de um trovão.
Com uma expressão irritada, ela olhou para o alto. Em questão de instantes, finas gotas de água gélida começaram a verter do céu.
Droga... A jovem resmungou.
Ela tentaria se manter positiva. Ela deveria estar a passos do ponto de ônibus. Mesmo que fosse encharcada pela chuva, não teria que correr para lugar nenhum. Talvez até chegasse seca em casa.
Porém, não foi o que aconteceu.

Lucy percebeu que não sabia onde estava.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Anúncio 28

Fala, gente! Tudo certo?
Então, como vocês devem ter percebido (ou alguns... Ou um pelo menos), o último teaser foi de uma história diferente, por isso 2A no nome. Não tenho muita certeza pra onde vou com ela, mas tenho certeza que, quando parar pra escrever o primeiro capítulo oficial, vou mudar muita coisa. Tipo, muita coisa. Sério.
Mas isso vai demorar um pouco ainda. Acho.
Veremos.
É, acho que era só isso que eu tinha pra falar...
Bem, até a próxima!

domingo, 5 de junho de 2016

Teaser 2A

Teaser 2A


Era mais uma vez que Lucy se arrependia de ter saído de casa.
Ela devia estar relaxando, não pensando nas aulas e nas provas. Deveria estar se divertindo com seus amigos e amigas, como qualquer jovem de dezessete anos, deixando as preocupações para depois, sendo estúpida voluntariamente se isso significasse rir um pouco.
Porém, não conseguia. E não era por falta de tentar.
Tudo parecia tão chato. Todos pareciam tão patéticos. Ela só queria se esquecer daquela noite, voltar para casa o mais rápido possível e se jogar na sua cama, de volta ao seu refúgio daquele mundo.
A jovem, entretanto, sabia que aquilo não aconteceria tão cedo.
Parada sozinha na rodoviária, apoiando seus braços sobre uma mureta de concreto, Lucy esperava pelo próximo ônibus até a sua casa. Demoraria pelo menos mais uma hora até o próximo chegar devido ao horário.
Três e meia da manhã. O sol demoraria pelo menos mais três horas para nascer. E lá estava Lucy, num dos piores bairros de sua cidade, bebendo goles incessantes de uma lata de refrigerante de limão, refletindo sobre praticamente todas as decisões erradas de sua vida, desejando ter dinheiro o suficiente para um táxi ou, então, disposição para uma caminhada de mais de uma hora no meio da madrugada.
O barulho a fazia perder a linha de raciocínio. Música alta de baixa qualidade, pessoas gritando sem saber o que saiam de suas bocas, gritarias incessantes. Tudo acontecia a alguns metros dali, numa praça pública, lugar que recebia um festival popular. Ou assim chamavam aquilo.
Lá era onde Lucy estava.
A intenção era reunir jovens que se importassem com o que estava acontecendo com o país, estudantes que pretendiam entrar em grandes faculdades, cidadãos engajados com política e que queriam fazer a diferença.
Essa era a propaganda. A realidade era assustadoramente diferente.
Não que Lucy acreditasse que tudo fosse ser perfeito, mas aquilo que foi lhe foi apresentado era revoltante. Se as pessoas quisessem se reunir em algum canto da cidade para beberem, se drogarem e agirem como trogloditas, ela não era contra. Porém, chamar aquilo de um evento em prol do futuro da nação ou um encontro pela democracia era uma péssima piada. Piada da qual a garota não faria parte.
O festival não consegue agradar a todos. Uma voz grave disse, imponente.
Lucy voltou seu olhar para a sua esquerda. Lá, um homem de vinte e poucos anos sorria discretamente para ela.
O sujeito quase parecia um viking perdido nos dias de hoje. Era alto, com braços fortes, costas e ombros largos. O rosto tinha traços fortes. A barba rala e o cabelo desgrenhado eram loiros. Os olhos eram de um azul celeste penetrante. Ele estava arrumado e perfumado com uma colônia que demonstrava bom gosto. Trajava uma camisa social azul quase impecável e calças cor de grafite. Os sapatos pretos lustrosos brilhavam com certo charme.
 Lucy pensou bem antes de dizer algo para o sujeito. Afinal, ele mal parecia real. Não só pelo fato de ele ser inacreditavelmente belo, mas também porque não fazia sentido aquele homem estar ali.
Então, a curiosidade a venceu.
É... Ela olhou o sujeito no fundo dos olhos. Mas você não parece do tipo que vai num festival desses...
Deuses, não! Ele riu.
Então... Ela se afastou da mureta, deixando seu refrigerante de um lado por um instante, e cruzou os braços, ficando frente a frente com seu interlocutor. O que você faz aqui?
Eu estava no casamento de um amigo meu... O homem olhou rapidamente para o próprio corpo. O que deve explicar o que eu estou vestindo... Aliás, eu fui o padrinho dele. Grande festa. Muita comida. Todos felizes e um tanto quanto bêbados... Seu olhar foi em direção à praça e, rapidamente, voltou para o rosto de Lucy. O que me parece um pouco melhor do que aquilo ali...
Parece que sim... A garota concordou, ainda um pouco séria. E por que veio para cá?
Emprestei um pouco de dinheiro para um amigo meu pegar um táxi. Ele explicou calmo. O sujeito saiu da festa uma hora antes de mim. Acabou que eu não prestei atenção em quanto dinheiro eu tinha... Nem quanto eu emprestei exatamente... O que me deixou com... O homem levou uma mão a um bolso na calça. De lá, tirou algumas moedas e uma nota amassada. Um pouco mais que o suficiente para um ônibus. Guardou o dinheiro preguiçosamente de volta. Então caminhei por uns dez minutos até aqui.
Entendo... Lucy disse não muito animada. E por que resolveu vir conversar comigo?
Cheia de perguntas, não, senhorita? Ele sorriu.
Sou curiosa... Ela afirmou. E gosto de saber com quem eu estou conversando, saber suas intenções... Afinal, você poderia ter ido conversar com qualquer outra pessoa daqui da rodoviária...
É... O sujeito olhou ao seu redor. Haviam algumas pessoas esperando por seus ônibus também. Homens, mulheres, idosos. Pouco mais de dez delas. Uma mais estranha que a outra. Umas um tanto quanto suspeitas. Nenhuma parecia aberta a uma conversa para matar tempo. Mas você parecia ser a mais interessante... E a mais bonita também...
Eu tenho dezessete anos... Lucy retrucou, antecipando qualquer gracinha que o sujeito tentasse. Além disso, ela nunca achava sincero um elogio à beleza dela. Com uma camiseta preta de banda, calças jeans surradas, tênis velhos e o mínimo de maquiagem possível, a jovem não tentava ser bela. Claro que seus olhos verdes, lábios rosados e cabelo castanho-avermelhado tinham certo charme, mas queria que não tivessem. Acho que você devia parar...
Foi apenas um elogio. O homem disse rapidamente. Você pode aceitá-lo e dizer um simples obrigada. Além disso, beleza é subjetiva. Eu posso achar belo algo que você não ache. E vice-versa.
Hm... Lucy esboçou um sorriso. É... Obrigada... A garota disse um pouco mais confortável.
Um sorriso. Mais um vindo daquele homem que Lucy desconhecia. Porém, desta vez, ela sorriu de volta como se fosse algo natural, o que era estranho para a garota. Um pressentimento estranho a acertou. Era como se algo a dissesse que aquele sujeito viria a ser alguém importante para ela, alguém próximo. Esse tipo de pressentimento já parecia algo desconhecido da jovem.
Então... O homem voltou a falar, mantendo um tom calmo. Se você já está satisfeita com as respostas que dei... Acho que é a minha vez de te fazer algumas perguntas...
Hm... Lucy suspirou. Certo. Ela fez uma breve pausa, pensativa. Pode perguntar.
Como você veio parar aqui? Ele perguntou rapidamente.
Ah... A jovem coçou a nuca. Eu estava me perguntando isso mais cedo... Ai foi lembrando, passo a passo... Ela estendeu uma mão até a mureta, pegou o refrigerante, tomou um gole e colocou a lata de volta no lugar. Vim com alguns amigos que... Bem... Nem sei direito porque ainda sou amiga deles. Eles... Me acolheram numa época difícil pra mim, sabe...? Já saímos várias vezes, fui me enturmando com o pessoal deles... Mas...
Você nunca se sentiu como um deles... O homem arriscou um palpite.
É... Lucy respondeu sem hesitar. Eu não queria dizer que eu sou boa demais pra eles ou algo do tipo, mas fica difícil de achar outras palavras pra descrever isso. É divertido sair, quebrar a rotina, beber de vez em quando... Fazer as coisas sem planejar... É uma aventura, sabe? Uma parte minha adora eles... Todos os rapazes e as garotas da turma... Mas eles não têm foco na vida. Eles não querem saber de nada, não levam nada a sério... Mesmo quando eles falam que levam alguma coisa a sério, eles parecem não pensar direito. Ela bufou. Então, seu olhar foi na direção da praça. É que nem a droga desse evento... Todos os que estão lá... Parece uma competição pra ver quem desperdiça mais a vida... Pra ver quem vai ter o futuro mais medíocre. A garota riu com escárnio. E ainda dizem que querem um futuro melhor, que querem mudança... É estranho pensar que as pessoas que mais querem mudança são as que menos querem mudar. Elas só querem que o mundo se conforme com o jeito delas de viver, que suas visões de certo e errado sejam o padrão. É tão... Egoísta... Então, deu de ombros. Mas, no final, quem não é egoísta? Quem faz algo que não vai te beneficiar, algo que pode até te prejudicar, por vontade própria? Só sendo louco...
Lucy, então, parou de falar. Ela sentiu sede. Pensou em tomar mais um gole de seu refrigerante, porém, percebeu que seu companheiro a encarava. Não era de uma maneira assustadora, que a deixasse particularmente desconfortável. O sujeito parecia sério, perdido em seus pensamentos enquanto olhava para o rosto da jovem.
O silêncio, porém, começou a se tornar desconfortável. Lucy estava prestes a dizer alguma coisa, qualquer coisa. Entretanto, não foi necessário.
Você realmente é única. O homem disse com um sorriso estampado no rosto. Ainda melhor do que eu esperava.
Oi? Lucy indagou confusa.
Você é do tipo que tem algo a mais... Ele continuou o que mais pareciam ser uma série de elogios. Alguém que está destinado a coisas grandes... Algum com um potencial imensurável... Posso sentir nesse seu jeito... Nessa sua fala...
A jovem pensou em dizer para que o homem se calasse, para parar com aquilo. Porém, não conseguia. As palavras do sujeito eram sinceras e, principalmente, pareciam ter um propósito maior.
Você aceitaria um desafio? Ele perguntou simplesmente.
Desafio...? Ela repetiu a palavra como se não a tivesse entendido no primeiro momento. Do que você está falando...? Que tipo de desafio...?
Uma aventura. O homem respondeu. Algo digno de alguém como você...
Claro... Ela sorriu e cruzou os braços. Pode mandar.
É bem simples... Ele fez uma breve pausa. Ande.
Ande...?
É... O sujeito sorriu. Ande. Por esse bairro. Até sua casa, se preferir. Você verá que esse lugar tem coisas que passam despercebidas aos olhos de muitos... E a calma das ruas vazias a essa hora a ajudará nesse desafio. Tente e verá que é verdade.
Lucy não disse nada. Ela estava intrigada. O homem parecia sensato. Tampouco parecia um piadista. Aquilo parecia sério.
Além disso, a garota tinha um bom pressentimento sobre aquilo. Ela sentia uma energia que há tempos não sentia. Algo a dizia que aquilo seria a coisa certa a ser feita.
Um pouco arriscado... A garota comentou, disfarçando o que sentia. A esse horário, nesse bairro... Não acha?
Um desafio tem que ter uma parte desafiadora, não é? O sujeito indagou. Caso contrário, não seria um desafio...
Não tenho como argumentar contra a sua lógica... A jovem murmurou.
Então... Ele olhou a garota no fundo dos olhos. Isso é um sim para o desafio?
Hm... Lucy deu de ombros. Por que não? Acho que realmente não tenha mais nada a perder... Já devo ter cumprido a meta de tragédias dessa noite.
Gostei do entusiasmo...
Eu tento o meu melhor... A jovem pegou sua lata, porém, não bebeu nada, apenas a segurou junto de si. E você, vai esperar seu ônibus? Não vai partir numa aventura?
Eu estou bem aqui... Ele bocejou. E estou cansado... Devo estar ficando velho...
Você que sabe... Ela acenou para o homem, despedindo-se. Até mais!
Até! Ele acenou de volta. Vá com minha bênção, Lucy!
Confiante, a jovem seguiu para fora da rodoviária. Ela passou por perto da praça. Pensou em se despedir dos amigos, mas resolveu que não perderia tempo com aquilo.
Graças àquele homem, Lucy recebeu um incentivo, por mais ilógico que fosse, de seguir em uma aventura, algo que faria a noite valer a pena.
Caso se encontrasse com aquele sujeito algum outro dia, o agradeceria pela ajuda.
Lucy, então, percebeu que não havia perguntado o nome do companheiro.
Ele não havia contado.
Do mesmo jeito que ela não havia contado o dela.
De repente, o ar noturno pareceu se tornar mais gélido. Numa rua completamente deserta, Lucy podia apenas ouvir sons vindos de longe. O que eram gritos de desespero eram apenas sussurros para ela. Passos pareciam ecoar pela cidade. Vozes pareciam se aproximar enquanto ela andava cautelosamente, medindo cada passada.
O coração de Lucy batia forte em seu peito.
Porém, algo parecia guiar a jovem.

Ela ainda tinha um bom pressentimento sobre aquilo.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Capítulo 58

Unending Ruins
Ruínas Intermináveis

No dia seguinte...
“Fantástico...”.
Tristan, Astaroth e Shadowing estavam na beira de um precipício. Um grande campo verde esmeralda se estendia atrás deles. Dezenas de metros abaixo estavam as ruínas de uma cidade antiga. O céu estava completamente coberto por nuvens negras. O vento soprava forte. Dezenas de ruídos desconhecidos vinham dos resquícios da cidade.
Ah...não tenho certeza se isso foi uma boa idéia... Astaroth disse.
Você quer falar de uma idéia que não foi boa? Shadowing riu. Aparentemente, eu vou ter que te contar tudo o que aconteceu tudo o que aconteceu ontem à noite.
Já que você não se lembra... Tristan acrescentou.
Ah...melhor não. Astaroth bufou. Eu...vou ficar quieto.
Pra compensar ontem... O guerreiro acrescentou.
Tristan e Shadowing riram.
Vocês também fiquem quietos! Astaroth bradou.
Não desconte os seus problemas com bebida em nós. Shadowing disse.
Você que não soube a hora de parar de beber. Tristan acrescentou. E você também foi quem escolheu essa missão.
Eu sei, mas....esse lugar... Astaroth respirou fundo. Eu tenho um mau pressentimento. É só isso.
Bem...isso eu até posso entender. Admitiu Tristan. Mas já aceitamos a missão agora. Não vamos desistir.
Shadowing assentiu, bem como Astaroth, apesar de certa relutância.
Vamos. Disse o guerreiro sombrio.
Em um instante, Tristan se transformou em trevas, Shadowing abriu as asas e Astaroth desapareceu nas sombras. Um segundo depois, todos estavam na entrada da cidade.
“Bem...o lugar parece ainda pior de perto...”.
A cidade parecia ser um labirinto parcialmente destruído. Centenas de paredes e colunas de pedra cinzentas estavam caídas, bloqueando muitas passagens. Boa parte do que não havia sido destruído, incluindo o piso, estavam cobertos por rachaduras e teias de aranhas. O cheiro de óleo e graxa impregnava o ar. Mais ruídos soavam pelas ruas da cidade, agora, um pouco mais nítidos. O som de peças metálicas se arrastando pelo local parecia ser ininterrupto.
“O que está acontecendo aqui...?”.
Então...Nighthand deve realmente estar aqui...em algum lugar. Concluiu Shadowing.
Como você pode ter tanta certeza? Astaroth indagou.
Essa era a suspeita de Nidhogg. Tristan respondeu. E, pelo o que se sabe sobre o Nighthand...faz sentido que ele esteja.
Somada a esses cheiro no ar e a esses sons metálicos...é. Shadowing disse. Eu acredito que ele realmente esteja aqui.
Certo... Astaroth coçou a nuca. Mas...quem é esse Nighthand mesmo?
Você realmente não presta atenção em nada... Tristan bufou. Praticamente todos os seres das Trevas já ouviram sobre a lenda de Nighthand.
Ah...ta. Astaroth forçou uma risada. Pelo visto, eu sou um dos poucos que não ouviu.
Ou que não prestou atenção. Shadowing suspirou. É muito mais provável, no seu caso.
É...acho que sim. Astaroth concordou. Bem...algum de vocês poderia me contar qual a lenda dessa tal de Nighthand?
Bem resumidamente... Shadowing respirou fundo. Ele foi um dos melhores e mais inteligentes assassinos de todos os tempos. Porém, ele era apenas um mortal. A velhice chegou até para ele. Seu corpo não era mais tão ágil ou forte como outrora. Então, antes que ele fracassasse em uma missão, ele decidiu mudar o seu ofício. Ele se tornou um mago. Ele passou a estudar com afinco as magias das Trevas. Porém, ele tinha um objetivo secreto: a imortalidade.
Ele queria se tornar imortal!? Astaroth riu. Como se isso fosse possível para um ser humano sem a ajuda de um deus...
Mas ele conseguiu. Disse Tristan.
O quê!? Astaroth arregalou os olhos. Vocês estão falando sério!?
Sim. Shadowing respondeu. Mas...não foi bem como ele havia imaginado...
Por quê? O Demônio de olhos verdes indagou.
Por que ele envelheceu. Tristan respondeu. Nighthand tinha pouco mais de quarenta anos de idade quanto ele fez o feitiço da imortalidade. No mesmo instante, ele foi fadado a viver no corpo de um ancião.
O que fez com que ele se dedicasse a ser um mago para sempre. Acrescentou Shadowing. Por mais de quinhentos anos, ele se dedicou a construir autômatos...e, de acordo com rumores, algumas criaturas de carne e osso também.
Certo, mas...por que ele ainda estaria aqui? Perguntou Astaroth.
Ele morava aqui antes de um ataque das forças da Luz. Tristan respondeu. Isso foi há mais de duzentos anos. Entretanto, ninguém nunca mais viu Nighthand desde aquele dia.
Mas, de acordo com relatos, alguns dos autômatos que ele criou ainda vagam pela cidade. Shadowing acrescentou. Então, não temos certeza se ele ainda está vivo e produzindo mais servos, uma vez que a imortalidade de Nighthand era apenas contra o tempo. Uma flechada na cabeça ou uma lança atravessando seu peito o matariam sem problemas. Ele respirou fundo. Esse cheiro que impregna o ar...é uma mistura de óleo com graxa. É bem provável que esses materiais tenham sido usados na construção de novos autômatos, ou, até, na manutenção deles.
Então...vocês acham que ele ainda mora aqui? Astaroth franziu a testa. Nada contra, mas...esse lugar está...digamos...um pouco destruído, não é?
Sim, mas não se esqueça que ele constrói autômatos. O Demônio encapuzado disse. Não seria nenhum desafio para ele construir um esconderijo nas proximidades da cidade ou, até, embaixo daqui.
Astaroth olhou para baixo.
Esse pensamento é um pouco desconcertante... Ele murmurou.
Você não me parece tão confiante quanto o de costume. Tristan sorriu. Eu ouso dizer que você está com medo.
Se vocês não têm medo do desconhecido, vocês não são corajosos, são burros. Astaroth disse. Não saber o que eu vou enfrentar...é aterrorizante, principalmente por que nós podemos ser atacados de surpresa. Ele riu nervoso. Como vocês estão tão calmos...eu realmente não sei.
Tristan e Shadowing se entreolharam.
Bem...o que você disse...faz sentido. O guerreiro das Trevas admitiu. Mas sinceramente, eu não acho que esse é o tipo de situação que me assusta.
Sim. Shadowing concordou. Eu acredito que Tristan e eu já temos alguns fatos do nosso passado que nos assombra o suficiente. Disse em um tom sombrio.
Ah...certo. Astaroth franziu a testa. Então...ah...vamos  investigar o local...?
Tristan e Shadowing assentiram.
“Shadowing...seu passado continua sendo desconhecido para mim...”.
Os três companheiros começaram a andar pelas ruas da cidade. Os ruídos metálicos dos possíveis autômatos soavam cada vez mais nítidos e numerosos. Entretanto, nada, a não ser pelos três amigos, movia-se no local.
Quanto tempo nós levaremos para andar por toda a cidade? Tristan perguntou.
Não sei ao certo. Shadowing respondeu. A cidade me parecia ser relativamente grande. Talvez pudéssemos nos separar para reduzir o tempo, mas...
Não vamos correr o risco de enfrentar autômatos sem reforços. Astaroth disse meio nervoso. Eu...eu espero...
Não se preocupe. Tristan sorriu. Não vejo motivos para nos separarmos. Concluiremos essa missão, não importa quanto tempo leve.
Só há um problema grave que não podemos esquecer. Disse Shadowing.
Ah...sim. Concordou Tristan. As forças da Luz podem aparecer em breve aqui a procura de Nighthand.
Como!? Astaroth arregalou os olhos.
Eles também acreditam que o Nighthand possa estar vivo. Shadowing lembrou. Eles vão tentar matá-lo. Nossos batedores interceptaram uma mensagem deles. Ela continha o relatório de alguns viajantes que passavam pela região. Os sons estranhos, provindos dos autômatos, eram mencionados várias vezes.
Isso nos deu mais convicção de que Nighthand realmente está vivo. Acrescentou Tristan. Entretanto, supomos que, mesmo interceptando a mensagem de um único agente da Luz, mais algum dos seguidores da Luz deve ter entregado a mensagem para Nidhogg. Ele olhou para o alto. Então...caso algum seguidor da Luz apareça aqui, bem...já esteja avisado.
Eu quero mais é que eles apareçam! Astaroth abriu um sorriso largo. Assim, eu poderei matar algo que eu conheça.
De repente, um amontoado de escombros próximos dos três amigos começou a tremer. Ruídos, tanto metálicos tanto completamente desconhecidos, soaram quase ensurdecedoramente.
Não... Astaroth resmungou. Não me diga que...
Um ruído agudo soou por toda a cidade. Tristan, Astaroth e Shadowing foram forçados a tapar os ouvidos com as mãos. Do meio do amontoado de detritos, uma criatura apareceu.
“Então...isso é um autômato...”.
A frente dos três aliados, um caranguejo feito de bronze com quase um metro de altura os encarava. A pinça esquerda era relativamente pequena comparada ao tamanho da criatura. Entretanto, a direita era quase do tamanho do próprio autômato. Ele emanava uma aura sombria comparável a de um Demônio. Os olhos vermelhos pareciam fixos nos alvos.
Ah...então isso é um autômato... Astaroth respirou aliviado. Sinceramente, eu esperava algo muito pior, como....
Vários uivos soaram pelo local, seguidos por uma seqüência de passos rápidos. Em um instante, mais autômatos haviam se juntado ao caranguejo de bronze. Uma matilha de mais de dez lobos, agora, cercavam Tristan, Shadowing e Astaroth. As criaturas, apesar de estarem sobre as quatro patas, tinham pouco menos de dois metros de altura. Todos eram feitos com bronze e irradiavam uma aura sombria. Seus olhos brilhavam como chamas verdes.
“Ótimo...a situação se tornou um pouco mais desafiadora...”.
Um estrondo soou atrás deles. Outro autômato havia surgido. Esse era um humanóide, assemelhando-se a uma estátua comum, exceto pela altura, de mais de cinco metros, e pelas articulações móveis. Ele carregava um machado com ambas as mãos. A arma era, de fato, um pouco maior do que o próprio autômato. Os olhos deles brilhavam com uma luz púrpura. Ele estava envolto por uma aura negra comparável a de Tristan.
Fugir me parece uma escolha puramente estratégica no momento. Shadowing murmurou.
Esperem. Tristan pediu. Em seguida, ele apontou para o gigante de bronze que se aproximava. Olhem...em cima da cabeça dele...
A silhueta de uma pessoa estava em pé exatamente em cima da cabeça do autômato.
“Será que...”.
O homem gargalhou. O gigante continuava avançando na direção deles. As bestas mecânicas ao entorno deles estavam inquietas.
“Droga...espero que ele não faça nada que nos force a lutar de volta...”.

Autômatos! A voz do homem era cansada e áspera. Vocês sabem o que fazer!