domingo, 26 de fevereiro de 2017

Os Viajantes (Teaser)

Os Viajantes


As folhas secas do meio do outono eram arrastadas através dos céus os céus. Os ventos sopravam fortes naquele sombrio fim de tarde. Era como se a colina uivasse imponente, anunciando a chegada dos desconhecidos, recebendo-os com um sorriso macabro.
Sob sua sombra, um carro solitário parou. De lá, um homem e uma mulher desceram. Eram jovens os dois. Suas roupas eram relativamente simples, suficientemente preparados para o frio. Pareciam que estavam juntos, de férias, fazendo uma trilha, cercados pela natureza, prontos para se livrarem da tensão de suas rotinas maçantes.
O problema, porém, era o motivo da pequena aventura; não se tratava de lazer, mas sim, trabalho. A seriedade no rosto do casal era a preocupação pelo o que estava por vir.
Que lugarzinho, hein...? Murmurou Rick enquanto tentava encontrar o sol sem sucesso. É cada canto que a Ordem nos manda...
É... Liza suspirou enquanto olhava para a tela do celular. Sem sinal, como sempre.
Nem sei por que você ainda tenta...
Nem eu. Acho que já virou um ritual pra começo de trabalho. Pra dar sorte, sabe...? Ela guardou o aparelho no bolso. Ainda estamos vivos, então acho que está funcionando.
Rick a fitou, mas nada disse. Seus olhos rapidamente se dirigiram para a velha escadaria de pedras logo adiante. Os degraus de rocha cinzenta pareciam haver sido fincados sobre a grama há séculos, seguindo as curvas da terra com harmonia. Aquele deveria ser o único caminho viável para chegarem ao seu destino, além de ser bem prático para uma subida íngreme. Porém, algo parecia atormentar o homem.
O caso da vez vai ser mais pesado que os últimos... A voz reconfortante de Liza tirou o companheiro de seu transe. Não acha...
Hm... Rick hesitou, tentando encontrar palavras. É. Acho que sim... Ele bufou, cruzando os braços sobre o peito em seguida, visivelmente desconfortável. Eu quase posso ouvir os gritos... Quase posso sentir a dor desse lugar... E ainda sinto que estamos longe do epicentro do caos...
Ótimo. Sua companheira soou animada. Talvez a gente consiga uma recompensa boa dessa vez.
Rick não pôde conter um sorriso. Liza retribuiu o gesto com um soco de leve no ombro do parceiro.
Vamos então. Ela disse com firmeza. Sem enrolação.
Ele assentiu. E assim os dois começaram a subida.

O bom humor, entretanto, teria um fim precoce. A aflição não tardou para roubar-lhes os sorrisos dos rostos.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Mundo Cinza

Mundo Cinza


Um. Dois. Três socos. O último arremessou as costas de Otto contra a parede. Com as forças exauridas, o corpo do jovem foi cedendo, escorregando lentamente até que estivesse sentado no chão. Um riso, então, escapou de seus lábios.
O que é tão engraçado assim? Indagou, exausto, seu agressor. É engraçado sentir dor, hein?
É... Respondeu com um sorriso ainda estampado no rosto. Até que é... Ele pareceu calcular suas palavras. É bom... Sentir dor é bom... Depois de tanto tempo...
Os olhos de Otto fitaram a silhueta forte e a tensão no rosto do então colega de classe Miguel. Ele jurava que, se esforçando um pouco, poderia ouvir os batimentos cardíacos do grandalhão mesmo àquela distância.
Não tinha ideia que você era louco a esse ponto... Miguel disse quase sem forças. Acho que ninguém sabia... Nem você mesmo...
Após as últimas palavras, o corpo de Miguel pareceu desabar, caindo sentado em frente ao velho companheiro.
Talvez seja melhor ser louco assim... Otto retrucou sem muito ânimo. Talvez seja melhor ser assim como eu do que assim como você... Do que ser como os outros...
Do que ser como os outros. Repetiu as palavras como se tentasse decifrá-las. Do que ser como...? Ser uma pessoa civilizada não serve para você...? Só tem graça se for  a porra de um assassino que nem você...!?
Os olhos de Otto agora viajaram para mais longe, pelo menos uma centena de metros além de onde Miguel estava. Lá, o laranja intenso das chamas consumia o campus da faculdade, ardendo majestosamente contra o céu noturno.
É uma bela vista, né? Foi tudo o que saiu de sua boca.
Miguel pareceu aturdido pelas palavras. Ele não conseguia acreditar no que tinha ouvido. A serenidade no rosto do colega era, no mínimo, desumana para tal situação.
Como ficou assim...? Miguel perguntou após um instante de reflexão. Como você chegou a esse ponto...?
Eu cansei. Otto respondeu com simplicidade.
Cansou...? Hesitou. Você... Cansou?
É. Cansei.
Cansou do quê!? Seu tom se tornou mais violento. Cansou da vida!?
Cansei dessa vida...
Explique.
Cansei dessa vida de gado, meu amigo. Disse Otto com tranquilidade invejável. Cansei de ser criado pro abate. Cansei de vagar nesse mundo sem cor, sem sentimento. Cansei dessa seleção artificial. Cansei de ser mantido vivo só pra pagar impostos. Cansei dessa merda toda...
Sei... Miguel pareceu pensativo por um segundo. E a solução lógica era tacar fogo em tudo...?
Dependendo do ponto de vista... É. È sim. Seu olhar, então, pareceu focalizar no nada. Mas não acho que você entenderia.
Acho que nisso você está certo.
Porém... Ele chamou a atenção de Miguel. Eu tenho que te fazer uma pergunta...
Faça então...
Qual foi a última vez que você se sentiu assim?
Assim como...?
Não finja que não sabe do que estou falando...
Um momento de silêncio.
Af... Otto suspirou. Assim, do jeito que você está. Sentindo a adrenalina no seu corpo. Sentindo o sangue pulsando mais rápido em suas veias. Sentindo um medo genuíno. Sentindo uma raiva absoluta. Sentindo vida...
Outro momento de silêncio.
Você quer dizer que fez tudo aquilo pra se sentir bem...? Indagou Miguel.
Mais do que bem. Respondeu com firmeza. Sentido-se vivo de fato. Dando valor à vida por causa da real ameaça da morte, da assustadora incerteza do amanhã...
E por que tirar tantas vidas...?
Porque elas estavam sendo mal utilizadas. E porque o sacrifício delas fará com que os sobreviventes valorizem tal dádiva. Ele deixou escapar uma risada nervosa. Eu até tinha me esquecido como era realmente viver... Bom que eu me lembrei de como é isso no meu último dia nesse mundo cinza.
Eu não vou te matar. Miguel disse prontamente. Eu só queria te parar... Queria tentar entender o porquê daquilo que você fez... Eu nunca...
Nunca disse que você me mataria. Otto o interrompeu. Disse?
Sem pressa, ele retirou uma pistola de um bolso, uma arma que nunca fez questão de sacar durante a luta com o colega.

Sem hesitar, Otto apontou a arma contra a própria têmpora. Miguel nada  pode fazer a não ser observar o amigo fazer a última vítima daquela noite.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Anúncio 48

O capítulo 2 do Alma Negra está para sair. Tive que fazer umas mudanças (quem leu o teaser e depois o incompleto sabe do que eu tô falando). Foi para melhor. Certeza.
Fiquem tranquilos!
Até logo!

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Anúncio 47

Mais de uma semana sem postar nada... Acontece.
Sobre o "Alma Negra": eu ia deixar a história em hiato, escrever algo não relacionado e voltar nela depois. Acontece que todas as ideias que eu estou tendo são para o "Alma Negra" ou pra alguma história nova do mesmo universo. Então, né... Acho que vou acabar continuando o "Alma Negra". É o destino suponho.
Próxima postagem vai ser o segundo capítulo da história. Podem me cobrar.
Até mais.