Os Viajantes
As folhas secas do meio do outono eram arrastadas através
dos céus os céus. Os ventos sopravam fortes naquele sombrio fim de tarde. Era como
se a colina uivasse imponente, anunciando a chegada dos desconhecidos,
recebendo-os com um sorriso macabro.
Sob sua sombra, um carro solitário parou. De lá, um homem e
uma mulher desceram. Eram jovens os dois. Suas roupas eram relativamente simples,
suficientemente preparados para o frio. Pareciam que estavam juntos, de férias,
fazendo uma trilha, cercados pela natureza, prontos para se livrarem da tensão
de suas rotinas maçantes.
O problema, porém, era o motivo da pequena aventura; não se
tratava de lazer, mas sim, trabalho. A seriedade no rosto do casal era a
preocupação pelo o que estava por vir.
—
Que lugarzinho, hein...? —
Murmurou Rick enquanto tentava encontrar o sol sem sucesso. — É cada canto que a Ordem
nos manda...
—
É... — Liza suspirou
enquanto olhava para a tela do celular. —
Sem sinal, como sempre.
—
Nem sei por que você ainda tenta...
—
Nem eu. Acho que já virou um ritual pra começo de trabalho. Pra dar sorte,
sabe...? — Ela
guardou o aparelho no bolso. —
Ainda estamos vivos, então acho que está funcionando.
Rick a fitou, mas nada disse. Seus olhos rapidamente se
dirigiram para a velha escadaria de pedras logo adiante. Os degraus de rocha
cinzenta pareciam haver sido fincados sobre a grama há séculos, seguindo as
curvas da terra com harmonia. Aquele deveria ser o único caminho viável para
chegarem ao seu destino, além de ser bem prático para uma subida íngreme.
Porém, algo parecia atormentar o homem.
—
O caso da vez vai ser mais pesado que os últimos... — A voz reconfortante de Liza tirou o
companheiro de seu transe. —
Não acha...
—
Hm... — Rick hesitou,
tentando encontrar palavras. —
É. Acho que sim... —
Ele bufou, cruzando os braços sobre o peito em seguida, visivelmente desconfortável.
— Eu quase posso
ouvir os gritos... Quase posso sentir a dor desse lugar... E ainda sinto que
estamos longe do epicentro do caos...
—
Ótimo. — Sua
companheira soou animada. —
Talvez a gente consiga uma recompensa boa dessa vez.
Rick não pôde conter um sorriso. Liza retribuiu o gesto com
um soco de leve no ombro do parceiro.
—
Vamos então. — Ela
disse com firmeza. — Sem
enrolação.
Ele assentiu. E assim os dois começaram a subida.
O bom humor, entretanto, teria um fim precoce. A aflição não tardou para roubar-lhes os sorrisos dos rostos.