domingo, 30 de agosto de 2015

Conto 11 - Parte 2 (Final)

Um nome e uma imagem me vieram à cabeça.
Lembrou-se, hein? Ele falou aquilo como se pudesse ler meus pensamentos.
Sim... Lembrei-me. Levei um mão até minha cabeça que, agora, latejava de dor.
E então?
Eu deveria sentir alguma coisa? Perguntei o mais friamente que consegui.
Claro que sim! Você nunca se sentiu assim por ninguém...
Mas ela me abandonou no final! Eu disse rispidamente.
E você resolveu esquecer todos os bons momentos que você passou com ela? É isso?
Você nunca entenderia...
E como você pode saber disso?
Porque você não viveu a minha vida!
Claro, claro... Ele suspirou. E por que sua vida foi tão trágica assim?
Por que ninguém nunca me entenderia... Eu respirei fundo. Não é o tipo de vida sofrida que as pessoas imaginem...
Então, por favor, conte-me como foi a sua vida.
Bem... Desde que eu me lembro, eu estava cercado de pessoas com altas expectativas sobre mim. Minha família me criou para eu ser inteligente, educado, bem em forma... Qualquer coisa que me ajudasse a subir na sociedade, tornar-me rico e, consequentemente, levar o resto deles junto comigo... Percebi que, rapidamente, as minhas memórias iam voltando e, sem pensar, eu já as dizia. Ah... Resumindo, eles nunca me importaram com a minha felicidade. Nem minha família, nem meus amigos...
ela que sim, não é?
Assim eu achava...
Ele te fez te sentir bem, não é? O sujeito me perguntou calmamente. Feliz, como quando você era uma simples e ingênua criança.
Eu assenti.
Foi o sorriso dela, não?
Eu arregalei os olhos.
Você se sentiu apaixonado pela primeira e única vez naquele dia, não é?
É... Admiti. Pela primeira vez em anos, eu não estava cercado de sorrisos sem rostos... Ou olhos que não olhavam diretamente para mim.
Você ainda se lembra daquele primeiro encontro, não é?
Claro que sim. As memórias apareciam vívidas em minha mente. Fazia anos que eu não ficava nervoso, abobado. Eu não consegui conter um sorriso. Ela era linda. Cada vez que ela sorria, ela parecia ainda mais linda.
E o beijo?
Olha... Pensei. Depois de tanto tempo, ainda não tenho palavras para descrevê-lo. Mas tenho certeza que aquele foi o momento em que eu fiquei mais...
Abobado? Ele disse animado.
É. Concordei sorrindo.
E quando você chegou em casa...?
Eu não conseguia parar de pensar nela.
Deixe-me arriscar um palpite: Você foi dormir pensando nela, sonhou com ela e, então, acordou pensando nela?
Não consegui responder com palavras. Então, sorri e assenti.
Você não é a primeira pessoa no mundo a ficar apaixonada. Ele disse em tom surpreendentemente alegre. Tenha certeza disso.
Suponho que sim. Sorri alegremente e, em questão de segundos, eu já estava perdido em meus pensamentos sobre ela, claro. Infelizmente, coisas que eu não queria pensar vieram até mim. Mas...
Mas o quê?
Ela me deixou...
E qual foi o motivo disso?
A carreira dela. Respondi secamente. Ela me disse que não conseguiria conciliar as duas coisas. E, sem pensar muito no assunto, ela me deixou de lado.
E você não acha que ela tinha motivos para isso?
Bem, talvez... Mas...
Você não acha que aquela era a escolha mais segura, mais de acordo com a realidade dela?
Ah... Parei um pouco para pensar a respeito daquilo. Bem, talvez, mas...
E, principalmente, você não acha que ela pode ter se arrependido da escolha dela?
Agora eu teria que parar para pensar bem naquilo.
Eu não sabia quanto tempo havia se passado. Aliás, eu não sabia se aquilo realmente importava. Afinal, até onde eu sabia, eu estava no inferno.
Talvez ela tenha se arrependido da escolha dela... Disse enfim.
Porém...? Ele indagou como se já soubesse que eu tinha mais algo a dizer.
Porém... Foi como eu disse antes. Minhas palavras soaram mais frias naquele momento. Ela praticamente não hesitou com aquela decisão. Foi como se eu não significasse nada para ela...
Pare de ser tão dramático.
Aquelas palavras me irritaram mais do que eu imaginava.
Trinquei os dentes e cerrei meus os punhos. Eu tinha certeza que eu partiria para cima do sujeito a minha frente.
Entretanto, ele tinha mais o que dizer:
Nada o que realmente vale a pena na vida é tão fácil, sabia?
Eu me acalmei ao ouvir aquilo. Afinal, eu realmente acreditava naquilo. Porém, era difícil de seguir aquela ideia na maior parte das vezes.
Aquele pensamento foi o que me fez viver até o dia em que eu conheci a mulher por quem eu me apaixonei.
Mesmo assim... Suspirei. Agora, sem ela, não vejo mais motivo para viver. E foi assim que eu resolvi me matar.
Então você viveu, pelo menos, boa parte de sua vida de maneira errada. Disse ele. Não que existia uma maneira realmente certa de se viver. Entretanto, você poderia ter evitado muitas infelicidades.
Como...?
Importando-se mais com você mesmo. Afinal, apenas você sabe como se sente e, no fim, só você mesmo sabe como ser realmente feliz.
E você acha que eu me importo tanto assim com a opinião dos outros?
Sim. Estou certo disso.
E como você pode ter tanta certeza disso?
Ora... É bem óbvio. Tenho certeza que ele estava sorrindo por baixo da máscara naquele momento. Você sempre se sentiu infeliz por causa do que os outros pensavam de você. Ninguém se importava com o que você realmente pensava ou sentia. Por isso, você se juntou aos outros. Você começou a não se importar com você mesmo. O sujeito fez uma breve pausa. Mas tudo mudou quando você a conheceu, não? Afinal, alguém se importava com você agora...
Uma tempestade de pensamentos me atingiu. Eu respirei fundo. Exalei rapidamente em seguida, exasperado.
Se tinha alguém que estava me irritando, era eu mesmo.
Como eu podia ter sido tão burro e inconsequente? Depois que eu havia, enfim, me apaixonado por alguém e, finalmente, voltado a ser feliz...resolvi desistir de viver por causa de uma breve fase infortuna. As coisas não iam conforme o imaginado. Mas não era sempre assim? Mesmo quando o inesperado acontecia, eu conseguia sorrir quando o meu amor estava comigo. Talvez tudo o que ela havia feito fora me mostrar que eu poderia superar obstáculos por conta própria. Talvez eu devesse ter sido grato pelo tempo que passamos juntos e seguir em frente.
De repente, ouvi uma comoção não muito longe.
As vozes, que não passavam de murmúrios ininteligíveis, vinham da costa.
As pessoas sem rosto se agitavam enquanto o barqueiro vinha de dentro do mar de lava.
Eu olhei impressionado enquanto a gigantesca embarcação de madeira, completamente intacta,  chegava mais e mais perto de mim.
Junto ao timão, estava uma figura como o sujeito com quem eu conversava, com uma diferença: eu não sentia pavor ao olhar para o homem a minha frente.
Não está tão certo quanto à morte agora, não é? O homem mascarado indagou praticamente rindo.
Eu quis gritar com ele, mas uma dor aguda me atingiu. Pateticamente, eu caí de joelhos. Tudo o que eu pude fazer foi emitir um grunhido.
Ora... Parece que você vai perder o seu rosto... O sujeito disse calmamente. Bem como sua própria força de vontade...
Eu queria gritar mais alto do que nunca. Porém, novamente, só soltei um grunhido.
Bem, antes que você não possa mais entender as minhas palavras... Ele continuou falando no mesmo tom. Tenho que te contar sobre os nossos amigos sem expressão. Minha visão estava ficando turva, porém, pude vê-lo apontando na direção de onde eles estavam. Eles realmente não tinham mais razão para viver. Por isso que chegaram aqui sem rosto. Entretanto...você é um caso a parte. E você sabe o porquê.
Claro que eu sabia.
Era tão óbvio.
Afinal, aquilo não tinha que acabar.
Eu não preciso desistir dela. Eu consegui dizer enquanto de levantava lentamente. Afinal, eu não preciso dela. Mas eu quero que ela esteja ao meu lado.
Rapidamente, senti a dor em meu corpo se dissipar.
Ora... O sujeito riu. Imagino que você não vai ir a bordo daquele navio, não é?
Olhei para a costa novamente. Vi dezenas de escadas de corda na lateral do navio. Os sem rosto subiam por elas lentamente, porém, sem hesitar.
Se depender de mim... Sorri. Eu prefiro voltar para ela.
Isso é ótimo! O homem parecia realmente aminado.
Mas... Só um problema...
Diga.
Como eu faço para voltar?
Você tem que esperar...
Esperar pelo quê?
O sujeito não respondeu. Eu senti meu corpo tremer como se eu levasse um choque. Não consegui gritar. Ele riu baixo e disse:
Bem... Estão te chamando de volta. Foi ótimo conhecê-lo, amigo. Aproveite a sua segunda chance.
Sem aviso, uma forte luz branca brilhou forte contra os meus olhos.
Quando percebi, já não estava mais naquele inferno.
Eu estava agora deitado em uma cama gelada numa sala branca. Uma máscara me ajudava a respirar. Uma máquina verificava minha freqüência cardíaca. Soro era injetado em minhas veias.
Ao meu lado, estava a médica responsável por mim. Ela segurava a minha mão com ternura.
Eu conhecia aqueles belos cabelos. Conhecia aqueles olhos brilhantes que agora choravam. Conhecia aquele sorriso inesquecível mesmo por de baixo daquela máscara.

Afinal, era ela.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Conto 11 - Parte 1

Segunda Chance


Acordei tonto, com o corpo dolorido e sem conseguir pensar direito.
As memórias voltariam aos poucos, eu querendo ou não.
Em questão de segundos, já conseguia me lembrar do meu nome, de vagar pelas ruas cinzentas de minha cidade e, também, de ter bebido. Muito.
Mas aquilo foi preciso. Eu nunca teria tido a coragem de fazer aquilo sóbrio.
Eu nunca teria pulado na frente daquele carro de cabeça sem estar bêbado.
Enfim, minha vida havia chego ao fim. Eu havia escapado de meus arrependimentos e infelicidades.
Agora, restava-me descobrir o que me aguardava no pós vida.
Os céus vermelhos, o chão rochoso cor de asfalto, o impiedoso ar quente e um mar de lava não muito longe de mim.
Aquilo deveria ser o inferno. Pensei. Porém, não havia problema. Eu estava preparado para enfrentar qualquer coisa agora. Afinal, eu não tinha mais nada a perder.
Calmamente, desci a colina em que eu estava, chegando mais e mais perto da costa infernal.
Porém, em questão de instantes, eu percebi que eu não era o único naquele lugar.
A cada passo que eu dava, eu via mais pessoas se aproximando da costa.
Entretanto, elas estavam me deixando inquieto.
Eu olhava atentamente para cada um que passava do meu lado. Homens e mulheres, de várias idades, alturas, etnias, cortes de cabelo e vestidas de forma diferente.
Nada de anormal, certo?  
Errado. Elas não tinham rostos.
Sem bocas, olhos, orelhas, narizes.
Além disso, todas aquelas pessoas eram como zumbis, arrastando-se por aquele inferno e aguardando algo na costa de lava fervente.
Eles estão esperando o barqueiro. Disse uma voz distorcida atrás de mim.
Senti calafrios em minha espinha. Rapidamente, voltei-me para trás para ver quem, ou o quê, era.
Deparei-me com algo que me parecia humano. Porém, eu não tinha como ter certeza. Todo o seu corpo estava coberto por uma túnica cinzenta e gasta, com direito a um capuz e uma máscara branca sem expressão, como a face de um manequim com abertura para os olhos.
Sabe, o barqueiro? Ele indagou. Como Caronte, da mitologia grega, sabe?
Ah, sei... Respondi não muito animado. Então, esse é realmente o inferno...
Mais ou menos.
Como assim?
Bem... Você vai entender se pegar o barco.
Você quer dizer que há a possibilidade de eu não pegar o barco?
É. Mas isso vai depender de você. E de mim.
E... quem seria você?
Um amigo. Uma pessoa que se importa com você.
Claro! Ri com certo desdém.
Qual é a graça?
Olha, parceiro... Ninguém nunca se importou de verdade comigo.
Isso não é verdade.
Claro que é.
Não adianta negar. Eu te conheço tão bem quanto você mesmo.
Pare de falar besteiras.
Besteiras? É assim que você chama o seu tempo com ela?
Eu não consegui responder. Não a princípio, pelo menos.

Ela? 

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Anúncio 11

Não tenho certeza se será um título definitivo, mas, a partir de agora, o "Título Pendente" passa a ser chamado de "Intervenção".
Bem, por hoje é só.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Intervenção, Capítulo 7

7.


Noriko Ikari


Base subterrânea da Behemoth, principal fabricante e distribuidora de armas de fogo do mercado negro da região.
Uma forte explosão abriu um buraco em uma parede de concreto.
O alarme começou a soar. Luzes vermelhas coloriram a sala antes branca e cinza.
Algumas dezenas de homens e mulheres trajando jalecos brancos se assustaram. Alguns tentaram correr para longe. Outros se esconderam atrás do maquinário e escadas.
Pouco mais de dez guardas trajando roupas cinzentas, com coletes a prova de balas negros por baixo, sacaram suas armas. Em pouco tempo, seus rifles estavam apontados para a fissura em chamas na sala.
Noriko Ikari olhava para baixo. Ela sabia que, no momento em que ela pulasse, aqueles atiradores atacariam sem hesitar.
Com isso em mente, Noriko saltou com um sorriso por debaixo de seu capacete.
Rajadas de tiros vieram contra Ikari. Entretanto, nenhuma bala parecia a atingir.
Calmamente, Noriko aterrissou no chão em pé. A queda de cinco metros não parecia para ela.
Os atiradores agora olhavam calmamente para sua adversária.
Ikari , com seu corpo sinuoso de um metro e setenta e cinco, usava uma roupa negra justa em seu corpo. Sua blindagem era tão forte quanto a de seus inimigos. Entretanto, sua agilidade não era prejudicada.
Seu capacete lhe dava um ar de mistério. O visor lhe permitia uma visão excelente, porém, seus inimigos não conseguiam ver seu rosto. E era assim mesmo que ela queria.
Noriko ajeitou seus longos e lisos cabelos negros com a mão esquerda. Ela respirou fundo e estendeu a palma da outra mão para frente.
Os atiradores nem puderam reagir. Uma onda de força os atingiu como uma forte rajada de vento. Alguns perderam o equilíbrio, caindo de joelhos ou até de costas no chão. A maioria acabou soltando as armas.
Aquele era um cenário que Ikari gostava.
O mais rápido possível, a super humana correu contra seus oponentes. Mais balas foram atiradas contra Noriko. Nenhuma surtia efeito. Algumas eram desviadas para longe. Outras atingiam o ar a sua volta e, em instante, caíam no chão, amassadas, como se tivessem atingido uma parede.
Ao se aproximar o suficiente, Ikari pulou e chutou o atirador em sua frente. O homem caiu para trás, de costas, a quase cinco metros de onde estava, derrubando um de seus aliados. Eles não iriam se levantar tão cedo.
Noriko sorriu ao ver seus inimigos aturdidos pelo o que acabara de acontecer. E ela também sabia que aquela era uma ótima brecha para o que viria a seguir.
Ao apontar suas mãos para dois rifles no chão, as armas vieram até Ikari. Os atiradores tentaram atirar nela antes que sua adversária pudesse atacar. Mais uma vez, em vão. Os projéteis foram defletidos como antes. Noriko se manteve calma enquanto fuzilava seus oponentes.
Quando as duas armas foram descarregadas, metade dos atiradores já estava morta. Os que estavam vivos tentavam correr para longe. Grande erro. Ikari tinha apenas que pegar mais dois rifles do chão para dar cabo do restante. E foi exatamente isso o que ela fez.
Após exterminar aqueles guardas, Noriko retirou seu capacete, revelando sua face delicada de feições orientais e uma expressão séria no rosto.
Ela enxugou uma gota de suor que escorria pela face e se voltou para trás, olhando na direção da fenda gigantesca na parede.
Viu? Ikari sorriu. Eu falei que não precisava de ajuda pra derrotar esses caras, Gerrard.
Um homem, de corpo esbelto e pouco mais de um metro e oitenta de altura, caminhou até a beira do buraco na parede. Ele coçou o cabelo loiro desgrenhado com a mão direita. A esquerda segurava seu capacete. Suas roupas eram como as de Noriko. Sua pele era alva. Seus olhos azuis pareciam brilhar. Os traços fortes do rosto e o cavanhaque lhe davam um ar intimidador.
Aquele era Rainier Gerrard, companheiro de Ikari do esquadrão de mercenários super humanos conhecido como Meister.
Você não perde uma chance de se exibir. Disse ele. É só isso, Noriko.
Talvez. Ela riu baixo. Mas talvez seja por que os meus poderes sejam tão úteis, não acha?
Claro, claro... Rainier bufou. Agora, você poderia parar de falar e me ajudar aqui?
Ikari esboçou um sorriso e estendeu sua mão direita na direção do companheiro. Gentilmente, ele foi puxado pelo ar até aterrissar do de sua companheira.
Ainda temos muito o que fazer aqui. Disse Gerrard. Vamos.
Noriko assentiu e colocou seu capacete. Rainier fez o mesmo. Sem tempo a perder, eles seguiram o mais rápido possível pelos corredores da base subterrânea.
O som agudo e constante do alarme. As luzes vermelhas das sirenes espalhadas por todos os lados. Os eventuais atiradores que apareciam no caminho. Nada parecia afetar os dois.
Ikari lançava aqueles que tentavam atirar contra ela ou Gerrard para longe. Suas ondas de força eram mais do que o suficiente para isso.
Rainier se encarregava dos atiradores que chegavam perto demais deles. Eles deveriam achar que, caso se aproximassem, seus tiros atravessariam a barreira de Noriko. Era uma hipótese válida, mas Gerrard não deixaria aquilo acontecer. Sua faca era mais do que o suficiente para aniquilá-los. Golpes certeiros nas gargantas de seus inimigos lhe permitiram poupar seus poderes.
Corredor após corredor, porta após porta, a dupla acabou encontrando rostos familiares.
À direita, havia um homem. Ele tinha quase dois metros e dez de altura. Sua pele negra parecia brilhar com o suor que escorria por sua face. Os olhos eram cor de avelã. Os dreadlocks chegavam até seus ombros. Os traços fortes e a barba por fazer lhe davam um ar intimidador. O corpo musculoso estava coberto pelo mesmo tipo de roupa que Noriko e Rainier trajavam.
Aquele era Zephyr Durant e, sobre o seu ombro esquerdo, estava um homem amordaçado e com os pés e mãos amarrados.
À esquerda, havia uma mulher. Ela tinha pouco mais de pouco menos de um metro e oitenta de altura. Sua pele era como a do homem ao seu lado. O mesmo podia ser dito sobre os seus olhos determinados. Seus cabelos cacheados, porém, pouco volumosos escorriam até um pouco abaixo de seus ombros. Seus belo rosto apresentava traços fortes e lábios carnudos. Bem como os outros, ela também usava o traje a prova de balas especial.
Aquela era Gaia Durant, irmã de Zephyr.
Aqueles quatro estavam entre os melhores soldados da Meister.
Olha só quem achamos. Disse Zephyr com um sorriso no rosto.
Está falando de nós ou desse cara que você ta carregando? Indagou Gerrard.
 Zephyr balançou o homem em seu ombro. Grunhidos irritados abafados vieram dele.
Sem hesitar, o soldado jogou seu refém no chão. Mais gritos abafados vieram como protesto do sujeito.
Rainier e Noriko olharam atentamente para o homem de terno prateado e gravata vermelha. Ele não tinha muito mais de um metro e setenta de altura. A roupa disfarçava bem seu corpo esquelético. O rosto asqueroso e a cabeça quase calva eram tudo o que os dois precisavam para identificá-lo.
Não havia dúvida que aquele no chão era Marcus Heidrich, dono na Behemoth.
Antes que alguém pudesse dizer alguma coisa, o som de tiros e passos acelerados vieram do corredor.
Trouxeram amigos com vocês? Ikari perguntou.
Sempre. Gaia sorriu.
Parece que vocês apanharam um pouco... Observou Gerrard.
Os irmãos olharam um para o outro. Ambos estavam com os trajes bem danificados. Marcas de bala estavam por toda parte. Além disso, nenhum dos dois usava capacete. Certamente eles haviam sido danificados ao ponto que eles estavam mais atrapalhando do que ajudando.
Não podemos negar isso... Zephyr esboçou um sorriso.
É... Concordou Gaia.
Ali estão eles! Alguém gritou.
O quarteto se voltou na direção da origem da voz. Rapidamente, eles se depararam com um trio de atiradores.
Merda... Rainier resmungou.
Os soldados da Behemoth atiraram. Sem dificuldade, Noriko impediu os projéteis de chegarem até eles. Um campo de força bloqueou o corredor em um instante. As balas caíram inutilmente no chão.
Acho melhor vocês dois levarem o senhor Heidrich de volta vivo. Disse Ikari para os irmãos. Ela ainda mantinha o campo de força. Aquilo a cansaria com o tempo. Afinal, foi para isso que viemos aqui, não?
E vocês dois conseguem segurar esses daí? Indagou Zephyr.
Sem problemas. Respondeu Gerrard. Ele olhou diretamente para Gaia. Proteja o seu irmão. Desajeitado do jeito que é, ela não vai conseguir se virar só com uma mão.
Claro que ele não vai. Gaia esboçou um sorriso e, então, olhou para o irmão. Vamos?
Certo, certo. Zephyr pegou Marcus Heidrich do chão e olhou para Noriko e Rainier. Tentem voltar vivos, ok?
Os dois assentiram. Rapidamente, os dois irmãos correram para o caminho de onde a dupla havia vindo.
Ikari baixou o campo de força quando a munição dos rifles dos atiradores havia acabado. Com um movimento de suas mãos, ela puxou a arma do soldado que estava no meio para si.
Não precisamos de munição, não é mesmo? Noriko sorriu para Gerrard.
É claro que não. Ele sorriu ainda mais largamente.
Ikari entregou a arma para o companheiro. Rainier segurou a arma com as duas mãos. Rapidamente, ela começou a emitir luz.
Em alguns instantes, o rifle havia sido transformado em algo que mais parecia ser uma luz dourada pura.
Os três soldados olhavam aturdidos para o que Gerrard fazia. Isso deu todo o tempo que ele precisava.
Mais cinco atiradores vieram. Antes que eles pudessem atirar, porém, Rainier atirou a arma luminescente contra seus adversários.
No mesmo instante em que o rifle tocou um dos soldados, uma explosão violenta os aniquilou.
Nenhum colete a prova de balas poderia oferecer algum tipo de resistência contra aquilo.
A poucos metros de Gerrard e Ikari havia, agora, quase uma dezena de corpos destroçados e chamuscados.
E depois sou eu quem gosto de me exibir... Noriko murmurou.
É. Rainier riu.
Vamos. Ela disse. Certeza que teremos mais alguns desses aí para nos livrar.
Mais passos vieram em direção ao corredor. Ikari e Gerrard tinham sorrisos estampados em seus rostos por debaixo de seus capacetes.

Certo... Ele suspirou. Vamos! 

domingo, 23 de agosto de 2015

Capítulos 1, 2 e 3

Servant of Darkness
Servo da Escuridão

Por mais quanto tempo teremos que andar por essa floresta? Reclamava um soldado. Contando com ele, eram vinte guerreiros que trajavam armaduras de ferro completas com elmos fechados. Eles empunhavam espadas, adagas, machados, maças, escudos e até arcos. Juntamente a eles, no centro da formação, estavam quatro homens de idade mais avançada, sendo que três deles usavam túnicas brancas mais simples, enquanto um deles usava uma mais ornamentada com detalhes feitos de fios de ouro.
Não reclame. Retrucou outro soldado. Todos nós concordamos em participar dessa missão. Você sabe tão bem quanto qualquer outro aqui que esses clérigos protegem um artefato da Luz e que seu templo fora atacado muitas vezes recentemente. As forças das Trevas descobriram a localização do artefato e iriam continuar a atacar o local a fim de se apossar de seu grande poder.
Bem...eu só decidi participar dessa missão pelo pagamento. Disse o primeiro soldado de maneira ríspida.
Como? Você não se importa com a Luz? Perguntou, irritado, um terceiro soldado.
Nem um pouco. Respondeu o primeiro. Sou um mercenário, oras. Aliás, quase todos aqui são. Precisavam de guerreiros urgentemente, não? Poucos aqui faziam parte da guarda do templo ou da cidade vizinha ao templo. Mas não se preocupe quanto a minha opção política. Eu não apoio as Trevas, caso contrário, não faria parte do nosso adorável esquadrão.
Eu tenho noção que a maioria do grupo é formada por mercenários. Retrucou o terceiro. Eu só não acredito que possa haver pessoas que não apóiam nenhum dos dois lados, nem Luz nem Trevas. São as maiores forças desse mundo.
Havia alguns outros deuses que eram tachados de “pagãos”. Disse o segundo. Acho que alguns sobreviveram às perseguições e aos massacres causados pelas forças da Luz e das Trevas.
Cuidado com o que fala! Ameaçou o terceiro, com a mão no cabo da espada embainhada, pronto para sacá-la.
Não sabe ouvir o que não gosta, hein? Provocou o segundo. Já que não sabe argumentar, quer resolver as coisas na base da violência? Por mim, tudo bem.
Chega! Disse um quarto soldado. Não temos que gostar um dos outros aqui, muito menos concordar com a ideologia de cada um. O que precisamos é escoltar esses clérigos que estão conosco. Quando concluirmos essa missão, podem se matar. Até lá, tentem se comportar e se manter vivos. Já enfrentamos dois grupos de bandidos pela estrada. Não tivemos baixas, pois foram lutas fáceis. O problema é se enfrentarmos algum seguidor das Trevas, ou até algum demônio. Essa é uma possibilidade, uma vez que já tentaram tomar o artefato da Luz que estamos protegendo em outras oportunidades. Vamos permanecer unidos e continuar andando por essa floresta. Espero que não aconteçam mais discussões.
Os quatro soldados, que estavam atrás do resto do grupo, entreolharam-se. Silenciosamente, concordaram com a paz temporária e seguiram floresta adentro.
A floresta pela qual passavam era homogênea, contando com quilômetros e quilômetros de árvores com quase a mesma altura, aproximadamente a altura de dez homens adultos. Já estavam no outono, então o chão da floresta era um tapete de folhas amarelas, vermelhas e laranjas que cobriam as trilhas de terra, tornando a movimentação e localização mais difíceis dentro da área. Outro grande problema eram as possíveis armadilhas camufladas entre as folhas e as emboscadas a partir das árvores altas, locais preferenciais para ataques de arqueiros e arremessadores de facas. Entretanto, era difícil manter-se atento a todos os perigos na condição que os soldados estavam. Eles entraram na floresta quando o sol havia nascido no dia anterior; agora, já estava no fim da tarde. Todos estavam cansados, principalmente porque não fizeram muitas pausas, a fim de atravessarem logo o local. Se não fosse pela brisa fresca de aroma suave que percorria a floresta, todos estariam muito mais exaustos.
Caso alguém ou alguma coisa que use magia das Trevas tente nos emboscar, os clérigos poderiam pressentir a presença? Perguntou um guerreiro, mais jovem que os demais, que estava à frente do batalhão.
Acho que sim. Respondeu um soldado que estava ao seu lado, que era mais alto que todos os outros.
Mas eles não seriam capazes de ocultar sua presença? Perguntou o jovem.
Nesse caso, a gente vai morrer. Disse outro soldado, em um tom pessimista.
Mesmo sem poder ver o rosto do jovem, o guerreiro alto podia ver que ele estava nervoso. Não sabia nada sobre ele, mas sentiu um misto de simpatia e preocupação pelo companheiro, fruto de seu instinto protetor.
Não se preocupe. Disse o guerreiro alto. Não seremos derrotados tão facilmente. Além do mais, olhe para esses clérigos. Eles podem ser velhos, mas são extremamente experientes no manejo de magias da Luz. Eles próprios podem nos ajudar. Ele então sorri para o Jovem. Caso isso aconteça, até os próprios Demônios terão problemas.
Se você diz... Disse o guerreiro pessimista.
O jovem preferiu ignorar o pessimismo do soldado atrás dele e confiou nas palavras daquele ao seu lado.
Obrigado. Disse o jovem, estendendo a mão. Senhor...
Henry. Completou o guerreiro alto, apertando a mão do jovem guerreiro. E seu nome seria?
Gregory Respondeu o Jovem.
Os dois, então, continuaram a conversar enquanto seguiam em direção a uma clareira. Enquanto isso, no topo de uma árvore, cerca de cem metros a frente do batalhão, uma figura observava os alvos.
“Um, dois, três...dez, onze...dezenove, vinte soldados. E mais...quatro seguidores da Luz. Bem...nada de mais. Aquele que com a roupa mais enfeitada deve estar carregando o bracelete. Ótimo, vamos ao trabalho.”
A figura começou a emanar seus poderes sombrios, chamando a atenção dos clérigos.
Trevas. Logo à frente. Disse um deles.
Não devemos avançar. Disse outro clérigo.
Deixe que venham até nós. Disse o último.
Guerreiros, preparem-se! Disse o líder dos clérigos.
Todos os guerreiros se prepararam para a investida do inimigo, brandindo seus machados e espadas, armando suas flechas nos arcos, procurando o alvo.
“Resolveram parar de avançar por causa da minha presença? Que lisonjeiro. Bem, agora terei que pular na direção deles antes de atacar, para encurtar a distância e garantir...hmm...dez mortes? É, acho que da pra matar uns dez no primeiro ataque.”
Logo, o ser sombrio se lançou do topo da árvore em forma de uma fumaça negra, materializando-se em cima dos soldados, pairando no ar com suas asas feitas com trevas.
Os clérigos, imediatamente, criaram escudos de luz em volta deles mesmos, estabelecendo uma formação em que o líder concentrava sua energia para um ataque, e os outros se uniam para formar um escudo que protegia a todos os quatro. Enquanto isso, os soldados ainda estavam assustados com a presença demoníaca acima deles e com o surgimento do campo de força luminoso que os excluía.
“Covardes. Já imaginava que teriam uma atitude dessas. Pobres guerreiros. Consegui concentrar bem a energia devido ao tempo que ficaram parados, só olhando. Bem, vamos escolher dez vítimas.”
Em um instante, o ser lançou dez adagas envolvidas por uma chama negra na direção do elmo de dez soldados aleatórios. As lâminas ignoraram a existência de qualquer tipo de armadura que protegia a cabeça dos guerreiros, levando-os a uma morte instantânea.
Ainda no ar, projetou-se para baixo, mirando em outro guerreiro com sua espada em mãos. Ao cair em cima do alvo, sua espada transpassou o peito do soldado e, ao ver outro alvo amedrontado a sua frente, tirou a espada do peito do guerreiro que tinha acabado de matar e saltou em direção à garganta de outro, degolando o azarado.
Bem...já foi metade. Disse o ser. Espero que essa metade dure um pouco mais.
Agora todos podiam ver melhor o Demônio a sua frente. Era um ser com altura de aproximadamente um metro e oitenta, de rosto humano, jovem, porém, com uma expressão séria que o envelhecia, com um longo cabelo cor de ébano, pele alva e olhos escarlates penetrantes. Ele trajava uma armadura negra que cobria todo seu corpo, com exceção da cabeça. Sua espada era diferente de qualquer outra já vista: era uma haste de metal de um metro de comprimento com a ponta da lâmina reta, formando outra lâmina; porém, o mais curioso era a cor da arma, que era inconstante, variando entre tons de roxo.
Os oito guerreiros remanescentes decidiram atacar o ser: esforço, sem dúvida, em vão. O primeiro atacou verticalmente com o machado e, transformando-se em trevas, o ser se esquivou rapidamente para o lado direito do guerreiro e, então, golpeou-o com a espada numa estocada, causando um ferimento letal abaixo da axila e acima das costelas. Outro soldado correu em direção ao guerreiro sombrio apenas para ter sua barriga atravessada pela espada púrpura. Aproveitando-se do que parecia uma brecha, um arqueiro lançou uma flecha em direção ao inimigo. Porém, o ser sombrio pegou a flecha no ar.
Mas que pena...foi quase O ser ironizou,com um sorriso amargo, enquanto incendiava a flecha em sua mão até virar cinzas.
Com um estralar de dedos, ateou fogo no arqueiro. Chamas negras derretiam a armadura no soldado enquanto todos olhavam sem saber o que fazer.
Um guerreiro, aparentemente mais calmo que os outros, arremessou sua adaga em direção ao oponente. Com apenas um passo para o lado, o ser desviou do ataque e arremessou a própria espada no peito no guerreiro, pregando-o a uma árvore. Vendo a oportunidade, outro guerreiro disparou em direção do ser, que agora estava desarmado.
Tolo. Disse o ser, simplesmente, estendendo a mão direita, transformava a espada em sombras e a materializava em sua mão, no tempo suficiente para se virar e cortar a armadura e atingir até o estômago de seu oponente com um corte horizontal. Bem, só faltam três agora.
Já chega! Disse um dos guerreiros sobreviventes. Os outros dois sobreviventes eram Gregory e Henry. Você não tem porque nos matar! Você só quer a relíquia da Luz, não é!?
É exatamente isso. Respondeu o ser. Se você quiser fugir, fuja. Matar vocês não é o meu objetivo. Só comecei a matança porque sabia que vocês não se renderiam se estivessem em um grande número.
Os guerreiros sobreviventes se entreolharam. Não sabiam se podiam confiar do demônio a sua frente: era provável que não.
Se é assim, eu me despeço. Disse o guerreiro, enquanto se afastava de Henry e Gregory.
O ser apenas observava, sem se mexer.
Vai realmente nos deixar ir embora assim? Perguntou Gregory.
Sim. Disse o ser. Se você puder confiar na palavra de um humano seguidor das Trevas, então sim.
Então você é humano!? Perguntou Henry.
Sim. Respondeu. Tive um pai e uma mãe. Já amei e fui amado. Nasci e ainda não fui morto.
Ótimo! Disse Henry, alegremente. Odiaria ser morto por um animal, demônio ou anjo. Se for para ser morto, que seja por um guerreiro ou por um deus.
E você ousaria se opor a um deus? Questionou o ser.
Talvez. Respondeu. Mas eu teria que ter um bom motivo. Talvez morrer bravamente conte como um bom motivo. Pra mim seria o suficiente. Mas eu posso me contentar com um humano com poderes das Trevas.
Então você não teme a morte? Sua expressão se tornou um pouco menos séria, quase esboçando um sorriso. Ótimo. Venha e me enfrente.
Garoto! Henry se dirigiu a Gregory. Você tem muita coisa para viver. Muitos sucessos e muitos fracassos. Saia daqui. É aqui onde eu devo morrer, mas morrerei seguindo os costumes do povo de meu pai.
Como assim?
Meu pai era das Terras do Norte. Ele veio para cá para saquear algum reino e acabou conhecendo minha mãe. Ele se apaixonou por ela e largou a vida de saqueador para cuidar dela e, posteriormente, de mim. Ele me ensinou a lutar e ensinou os costumes do povo dele. “Lutar bravamente até a morte”. Foi isso o que me foi ensinado. Morrer perante um oponente valoroso, essa é uma das maiores recompensas da vida!
Você é louco!
Talvez. Henry não pode conter as risadas. Venha me enfrentar, criatura das Trevas!
Em uma fração de segundos, o ser havia surgido atrás de Henry, que teve seus dois braços cortados em uma fração de tempo ainda menor.
Para você, que é do povo do norte, só lhe desejo a morte. Disse o ser, com os olhos ainda mais vermelhos e trincando os dentes.
Novamente, com um estralar de dedos, o ser ateou seu fogo negro a um guerreiro. Dessa vez, Henry agonizava até a morte, enquanto Gregory, que não havia conseguido fugir no curto período de tempo, olhava e se enraivecia.
  Desgraçado! Vocês, seres das Trevas, trarão a ruína do mundo se a Luz não impedir vocês! Piedade? Honra? Justiça? Isso e muito mais são negados por vocês, escória do mundo!
E vocês da Luz podem dizer alguma coisa? A expressão no rosto do ser voltou a ser fria e séria. Vocês promoveram tantos massacres quanto às Trevas ao longo dos anos. Perceba algo logo, moleque: não há o Bem, não há o Mal, é tudo uma questão de perspectiva. A Luz pode afetar o planeta tanto quanto as Trevas, e cada qual tentará justificar de seu modo. Olhe para seus amigos clérigos. Eles não se importam se vocês morram ou não. Eles só estão se preocupando na sobrevivência deles mesmos desde o começo. Por isso que criaram a barreira só envolta deles. Eu me aliei ás Trevas por um motivo pessoal, só isso. E antes de me aliar às Trevas, eu era aliado da Luz, para proteger o reino onde fui criado. Pare de defender cegamente o seu ponto de vista, ainda mais quando seus argumentos são tão vazios.
Eu...eu...
Nesse momento, Gregory ergueu sua espada e correu em direção do ser, apenas para ser cortado horizontalmente no meio.
E é por isso que fanáticos da Luz me irritam tanto. Apontou em direção dos clérigos, ainda sob seu escudo. Vocês acham que todo sangue derramado por vocês é justificado por algum ideal maior. Justiça? Por favor, nem falem nada sobre justiça. Vocês sempre são os heróis de qualquer conto ou lenda, ou até da própria História. As Trevas pelo menos são sinceras e aceitam o fato de que matar nem sempre tem alguma justificativa plausível.
O ser olhava para a barreira luminosa a sua frente. Ao estender sua mão envolta por trevas contra a barreira, um dos clérigos começou a rir.
Qual é a graça? Questionou o ser, um pouco irritado.
Enquanto nós três estivermos mantendo essa barreira, qualquer ataque externo é inútil! Respondeu um dos clérigos. Você teria que ser o próprio Senhor das Trevas para derrubar essa barreira!
Bem, vamos por isso a prova então. Disse o ser, com escárnio.
Com um soco, o braço do ser atravessou a barreira de luz, bem como o corpo do clérigo que o desafiara. Rapidamente, o ser repetiu o processo com os outros. Logo, os três clérigos estavam mortos e a barreira, abaixo.
Achei que teria mais tempo para carregar o ataque, mas deve ser o suficiente. Disse o líder dos clérigos. Você não deve morrer imediatamente, mas posso matá-lo em uma segunda tentativa.
O líder criou uma explosão de luz em sua volta, envolvendo o ser a sua frente.
Patético. Disse o ser, enquanto andava em direção ao líder. A criatura estava envolta pela própria aura sombria, que agora brilhava intensamente.
Mas...não...o que você é!? A expressão no rosto do clérigo era de pavor.
Adivinhe. Eu não sou o Lorde das Trevas, Eu sou humano. Essas são as dicas.
O ser avançava em direção ao líder, que agora havia caído de costas e rastejava futilmente para trás, com uma expressão de medo ainda maior estampada em seu rosto.
Você é o...Escolhido dele!? Perguntou o líder, tremulo. Você é o Escolhido do Deus das Trevas!?
Sim. Tristan é o meu nome Disse o ser, com uma expressão de superioridade. Agora, me dê o bracelete. Tristan puxou o braço do clérigo e, com um corte da espada, decepou o antebraço direito do oponente.
Maldito! O líder gritava de dor enquanto sangrava.
Ótimo. Só tenho que destruir isso agora. Disse o ser, enquanto olhava para a relíquia que segurava.
Você está louco? Essa relíquia é indestrutível!
Tristan colocou o bracelete no chão. Concentrou sua energia das Trevas na perna e pisou em cima do bracelete, quebrando-o em dezenas de pedaços.
O que você disse mesmo? Disse Tristan, olhando para o clérigo com certa decepção.
Seu...demônio! Gritou o líder, enquanto lançava uma pequena explosão de luz na direção de Tristan.
O Escolhido pegou a explosão de luz com as duas mãos e foi comprimindo-a até desaparecer. Tristan deslocou-se em direção ao clérigo, que estava quase inconsciente, porém, ainda com uma expressão estupefata, sem compreender os limites do poder do oponente. Sem cerimônias, o ser das Trevas fincou sua espada no peito dele.
Com o bracelete destruído e os seguidores da Luz mortos, a missão de Tristan estava concluída. Agora, ele deveria voltar ao Império das Trevas. Logo, o Escolhido se transformou em sombras e sumiu no horizonte.

















Nidhogg, The Lord of Darkness
Nidhogg, o Lorde das Trevas

Viajando em forma de trevas, Tristan conseguia se deslocar rapidamente, podendo deixar as Terras do Noroeste de Wolfrealm e chegar à capital de Dragonrealm, o Império das Trevas, em menos de uma hora.
Enquanto viajava, o guerreiro sombrio observava a área dos reinos. Ele sobrevoava as florestas alaranjadas pela estação das ilhas de Wolfrealm, o mar cor de safira que as separava do resto do continente, os planaltos rochosos e planícies verdejantes de Lionrealm a distância e, finalmente, as árvores gigantescas com troncos robustos que se espalhavam pelos tapetes cor de esmeralda de Dragonrealm.
O lugar quase parecia pacífico, até chegar a grande cidade de Nidhogg, batizada com o nome do Lorde das Trevas. O lugar era monumental, protegido por uma grande barreira expressa e circular de mais de dez metros de altura. Toda a cidade era marcada por uma coloração cinzenta como um nevoeiro com um céu sempre nublado, fazendo com que toda a área estivesse imersa em uma noite sem fim. No centro da grande cidade circular, uma construção parecia desafiar os céus: um palácio gigantesco construído de ônix e prata, envolto por mansões menores construídas no mesmo estilo, propriedade dos grandes nobres da cidade, líderes e donos de facções de ladrões, assassinos, mercenários e mercadores de itens ilegais.
Ao entrar pela forma de trevas no último andar, dois Demônios da guarda real estavam diante da porta da sala do trono.  Tinham mais de dois metros de altura cada e trajavam armaduras cor de sangue, além de portarem lanças cor de ébano.
Vejo que retornou com sucesso de sua missão...de novo. Disse o Demônio da direita.
Obviamente. Caso contrário, não teria retornado. Respondeu Tristan no tom frio habitual.
Não esperava menos do preferido do chefe. Disse o Demônio da esquerda, num tom zombeteiro. Você só tem que aprender a socializar um pouco mais. Não é porque somos assassinos sanguinários que não podemos rir de vez em quando. E começou a rir juntamente com o outro Demônio.
“Eu sou o Escolhido do Lorde das Trevas, mas tenho que ficar aturando vermes como esses...”.
Se já se divertiram, abram a porta. Eu tenho que falar com o Lorde. Disse Tristan, rispidamente.
Os Demônios abriram a porta e Tristan entrou na sala do trono. O lugar era um grande corredor com paredes negras com estandartes das Trevas: a cabeça de um dragão negro visto de frente em um fundo roxo, fazendo com que os olhos da fera tivessem a mesma cor do fundo. No chão, um tapete rubro se estendia pelo centro da sala, subindo as escadarias e chagando até os pés do trono feito de ônix com detalhes imitando escamas e garras de dragão. O ar era preenchido com o aroma de hidromel, bebida a fermentada feita a base de mel, a favorita do deus.
Lá, sentado pacientemente, esperando pela volta de Tristan, estava Nidhogg, o Lorde das Trevas.
Missão concluída com sucesso. Disse Tristan, aproximando-se a cada passo do trono e do deus. Apesar de estar falando com o Lorde das Trevas, usava o mesmo tom com que falava com todos: frio.
Você nunca me decepciona, não é? Disse Nidhogg, com um sorriso caloroso, enquanto terminava uma taça de hidromel e a apoiava no braço do trono. Por ser um deus, não envelhecia. Apesar de ter quase cinco mil anos de idade, tinha a aparência de um mortal de pouco menos de quarenta anos. Seus cabelos e olhos eram como os de Tristan, mas seu rosto tinha uma expressão mais alegre, quase jovial, fazendo parece com que os dois tivessem a mesma idade. O deus era um pouco mais alto, cerca de três centímetros a mais que Tristan. Quanto à vestimenta, ele trajava uma túnica negra com botas e manoplas feitas de ferro quase tão enegrecidas quanto às paredes de seu palácio. Não teve um único dia em que em tenho me arrependido em ceder parte dos meus poderes para te transformar em meu Escolhido. Você até me lembra eu mesmo, uns três mil anos atrás, massacrando as forças da Luz com as próprias mãos. O Lorde gargalhou, enquanto a expressão de Tristan se mantinha a mesma. Bem...eu era um pouco mais bem humorado, para dizer a verdade.
Mais algum pedido?
Não...acho que não. Disse o deus, coçando a nuca. Lembrei! Algo muito importante está para se concretizar!
E o que seria?
O nascimento do meu filho! O sorriso no rosto do deus era ainda maior.
Seu...filho? Perguntou Tristan, com uma expressão de confusão no rosto.
Sim! Sim! Nidhogg pareceu notar a expressão no rosto de seu Escolhido. Creio que eu não cheguei a explicar isso a você. O deus se levantou, caminhou até Tristan e apoiou o braço direito sobre o ombro esquerdo do guerreiro. Do mesmo modo que eu posso dar parte do meu poder para um mortal para ele se tornar um mestre das Trevas, eu posso deixar parte do meu poder em um recipiente para ele evoluir, criando um novo ser. Ele virá a se tornar mais forte que você com o tempo. Infelizmente, essa evolução é demorada e eu só posso criar um herdeiro de uma vez. Logo, eu só posso ter um filho a cada mil anos, aproximadamente. Isso também vale para nosso querido Leviathan, o Lorde da Luz. Ele tem um escolhido e, em breve, também terá um herdeiro.
E aonde eu entro nessa trama? Disse Tristan, enquanto tirava o braço de Nidhogg de cima de seu ombro.
Bobinho. Você é quem vai treiná-lo!
Como? Disse Tristan, irritado. Mais uma obrigação? Por mais quanto tempo você irá negar o meu pedido?
Tudo ao seu tempo. Tenha calma.
Calma? Para um ser que não sente o tempo passar, pode ser fácil. Para uma criatura incapaz de amar, é uma tarefa trivial. Mas e para mim? Eu tive o amor da minha vida tirado de mim. Você sabe bem disso. Eu só me aliei a você para que você a pudesse trazer de volta.
E eu pretendo cumprir com a minha palavra. Tente entender a situação, sim? Você envelhece mais vagarosamente enquanto é meu Escolhido. Quando eu trouxer sua Isolde de volta, ela amará o mesmo rosto jovem e heróico pelo qual se apaixonou. A expressão de Nidhogg se tornou mais séria. Ajude-me nessa guerra. Treine meu filho. Guie-nos a vitória. O deus sorriu. Pense assim: quando meu filho chegar ao seu nível, não precisarei mais de você. Ele ocupará seu cargo. Aí, enquanto as Trevas dominam o mundo, você pode aproveitar o resto de sua vida ao lado de sua amada sem se preocupar com guerras. O que você me diz?
“Maldito”.
Eu...aceito. Disse Tristan, sabendo que não havia escolha. Ele não conseguia parar de pensar em Isolde.
Ótimo! Disse o deus, ainda mais sorridente. Bem...você está dispensado, por enquanto. Vá descansar, beber, comer alguma coisa. Você fez por merecer, como sempre.
Tristan saiu da sala e se dirigiu à sacada de seu quarto no palácio.
“Isolde...quanto tempo faz...? Quanto tempo faz desde que você se foi?”
Tristan olhava para o céu sombrio da capital do Império.
“Há quantos anos eu me transformei nisso? Se não fosse para conseguir ter você de volta, eu já teria desistido de ser essa criatura”.
Tristan agora sorria, apesar da expressão em seu rosto não ser de muita felicidade.
“Engraçado. Eu sofro por você, Isolde. E por você, eu sofro. Isolde, minha querida Isolde...”.
Tristan foi dormir, ainda pensando na amada. As lembranças daqueles dias fatídicos ainda o atormentavam.


The Prodegy
O Prodígio

Anos antes...
Preparado? Perguntou um guerreiro trajando uma armadura tão bem polida que parecia ser feita de prata. O rosto do homem inspirava liderança e coragem, com cabelos e barba castanhos claro bem aparados e olhos azuis. Caso sua expressão não fosse bondosa, certamente seria intimidador, graças a sua altura de um metro e noventa e a espada pouco menor que ele próprio.
Como sempre, general Maximillian. Respondeu Tristan, sorrindo. Naquela época, o rosto do guerreiro demonstrava alegria e jovialidade, em vez da expressão fria e séria. Seu cabelo era castanho claro como o de Maximillian, mas o corte era mais irregular, mas não muito longo. Seus olhos eram cor de mel em vez de vermelhos, refletindo sua bondade e certa inocência. A armadura que trajava era quase idêntica ao de seu general, com a exceção do fato de que a de Tristan não era tão bem cuidada. Acho que vai ser rápido. Depois que derrubarmos os portões da fortaleza, a vitória já estará garantida. Tristan segurava sua espada e seu escudo ansioso. A arma era um pouco mais curta que a que usa atualmente, e a cor tanto da espada quanto a do escudo eram prateadas, mas a lâmina da arma estava muito bem cuidada, evidenciando a preferência de Tristan pelo ataque em relação a defesa.
Os dois se entreolharam e sorriram e, em seguida, colocaram seus elmos. Ambos tinham um fogo no olhar. Ambos estavam mais do que prontos para a batalha.
A fortaleza que iriam atacar estava a meio quilômetro de distância. Não era tão impressionante, mas as paredes altas de rocha branca pareciam ser bem resistentes, deixando como única opção de invasão a porta da frente. Fora da fortificação, um batalhão estava protegendo os portões de madeira do local. Nas muralhas, arqueiros estavam de prontidão. Porém, atrás de Tristan e Maximillian havia um verdadeiro exército de aliados, prontos para o combate.
Essas planícies verdes serão tingidas de vermelho. O aroma de flores do campo será substituído pelo de corpos sem vida estirados no chão. Disse Tristan, sem um sorriso no rosto dessa vez. É uma pena.
Mas é o nosso trabalho, nosso dever, nosso ganha-pão. Disse Maximillian. Orgulhe-se. Você é o maior guerreiro da região. O Duque reconhecerá seu valor em breve. Eu mesmo farei questão de te dar destaque no relatório desse ataque, caso você mereça. O general riu, familiarizado desempenho habitual do companheiro em batalhas.
Está certo. Tristan riu, animado. Agora, dê as ordens, general. Comece o ataque.
Vejo que alguém está bem ansioso. Ótimo. Maximillian olhou para trás, em direção aos seus homens. Vamos, soldados! Atacar!
Os soldados então urraram e avançaram em direção à fortaleza à frente. Ambos os exércitos começaram a se enfrentar. Mortes ocorriam dos dois lados. Sangue era espalhado por espadas e machados, Flechas acertavam brechas de armaduras, tirando a vida de muitos. O exército de Maximillian era muito maior. O batalhão que se encontrava fora da fortificação já havia sido quase dizimando, porém, os arqueiros nas muralhas tiravam a vida de muitos guerreiros sem poderem ser confrontados. Poucas flechas do exército conseguiam acertar os inimigos no alto da fortificação.
Tristan corria pela planície ceifando a vida dos inimigos sem dificuldades. Um inimigo veio atacá-lo com um golpe horizontal de um machado, da esquerda para a direita. Tristan simplesmente se agachou e fincou sua espada no pé do oponente, facilmente abrindo uma fenda na bota de sua armadura de couro do seu alvo, derrubando-o com um golpe do escudo contra o capacete, que já estava gritando de dor. Rapidamente, Tristan golpeou a garganta do oponente, exatamente na brecha entre o elmo e o peitoral da armadura, dilacerando-a e matando o oponente. Ao olhar para frente, viu outros dois guerreiros armados com espadas quase tão grandes quanta às de Maximillian correndo em sua direção. Eles atacaram horizontalmente com as armas, permitindo que Tristan desviasse com uma cambalhota, posicionando-se atrás dos inimigos, cravando sua espada nas costas do guerreiro da esquerda. Quanto ao da direita, esse tentou agora um ataque vertical de cima para baixo, forçando Tristan a bloquear o ataque e a deixar sua espada enfiada no inimigo agora morto.
“Ótimo. Afora eu estou desarmado, contando apenas com um escudo em um bloqueio constante. São em situações assim que eu sou grato pelo treinamento de meu pai”.
Rapidamente, vendo a brecha na guarda do oponente que estava com o abdômen exposto, Tristan chutou o alvo com toda força que tinha na perna direita, derrubando o guerreiro e sua espada para trás. Tristan jogou o escudo para perto do oponente que fora morto.
“Daqui a pouco me rearmo. Agora, vou me divertir como antes de entrar para o exército”.
 Ao se levantar, o inimigo levou dois socos, um com o punho e esquerdo e outro com o direito, direto na barriga, abrindo a guarda para Tristan golpeá-lo ainda mais, agora com uma seqüência composta por um soco com o punho direito na face do oponente, seguido por um soco com o esquerdo, girando no sentido horário, terminando com uma cotovelada de direita, derrubando o inimigo para longe da espada de duas mãos. Rapidamente, Tristan pegou a arma e a cravou no peito do oponente, matando-o, enfim.
Tristan recuperou rapidamente sua espada e escudo e correu para socorrer dois companheiros que estavam ali pero. Utilizando-se do elemento surpresa, desferiu três golpes nas costas de três inimigos distintos, derrotando-os sem dar chance de reação.
Obrigado. Disse um dos aliados que acabara de ajudar. Acho que é melhor você se juntar àquele grupo. Ele apontou para um grupo que carregava um aríete e avançava para o portão da fortaleza. Os arqueiros das muralhas podem atrapalhá-los. Tente bloquear algumas flechas por eles.
Certo! Respondeu Tristan, e foi em direção ao grupo do aríete.
Acabou ultrapassando-os, chegando antes do que o grupo ao portão. Arqueiros aliados atiravam flechas incendiárias no portão, mas a estrutura resistia.
“Será mesmo esse portão feito de madeira comum?”
Ao chegar o grupo, olhou a portão mais de perto.
“É feito de madeira, mas é bem espessa. Parecem várias camadas de madeira com camadas finas de ferro entre elas. Inteligente. Assim, fica mais difícil destruir o portão apenas ateando fogo. O jeito é atacar com o aríete mesmo”.
Tristan saiu do meio do caminho dos aliados e se posicionou para defendê-los das flechadas. O grupo de soldados começou a atacar violentamente o portão com a arma de dez metros de comprimento. O aríete era feito de madeira e em sua ponta havia uma cabeça de grifo (em homenagem a Griffinrealm, o reino da Luz, ao qual eram aliados), feita de ferro, aproveitando o bico afiado como a forma de ataque.
Veio se juntar a equipe de proteção? Disse Tristan sorrindo por baixo do elmo, ao ver Maximillian correndo na direção deles carregando dois escudos.
Claro! Respondeu o General, rindo. Nós dois sabemos que não somos bons arqueiros. Aliás, quase ninguém no nosso exército é. Nossa melhor chance de matar aqueles arqueiros e invadir o local e correr até eles com uma espada em uma mão e um escudo na outra.
Sim! Tristan riu. Então, vamos!
Os dois se posicionaram cada um de um lado do grupo e começaram a interceptar os ataques dos arqueiros, juntamente com outros guerreiros que chegavam com mais escudos. Enquanto isso, o grupo atacava repetidamente o portão com o aríete.
Pouco tempo depois, o portão ruiu e todos urravam triunfantes enquanto adentravam o forte.
Agora que a diversão começa! Avançar, homens! Disse Maximillian, enquanto guiava suas tropas rumo à ruína dos oponentes.
Tristan correu animado escadas acima. Todo inimigo que surgia em sua frente, era morto rapidamente. Um guerreiro o atacou com uma lança apenas para ele desviar com um passo para o lado e puxar o oponente pela arma e golpeá-lo no peito com sua espada. Outro avançou em sua direção com um machado e um escudo na frente. Esse levou um chute contra o escudo, caindo para trás, com as costas no chão, olhando para cima enquanto Tristan pulava por cima dele e golpeava sua garganta com sua arma. Outro ainda surgiu pulando do andar de cima da muralha com uma adaga em cada mão. Em um movimento rápido, Tristan bloqueou uma das adagas com o escudo e a outra com a própria espada, empurrando os braços do inimigo para fora, deixando o corpo dele totalmente exposto para uma joelhada na barriga, ganhando tempo para então desferir uma espadada na garganta do oponente.
Ao chegar ao topo da muralha, Tristan sorriu.
Agora, é a vez de vocês se sentirem indefesos!
Não ouse ficar com toda diversão! Disse Maximillian, aparecendo do outro lado do topo da muralha, vindo de outra escada.
Os dois então começaram um pequeno massacre. Seus estilos de luta eram parecidos e pensavam de maneira quase idêntica no campo de batalha, então ambos adotaram a mesma abordagem: correr em direção aos alvos com o escudo levantado, deixando pouco espaço para fugirem, enquanto bloqueavam as flechas e, ao se aproximarem o suficiente, desferir um único ataque para matar-los.
Essa estratégia funcionou, permitindo a eles matar todos derrotar todos os arqueiros. Um a um, os inimigos foram mortos, fazendo com que os companheiros se encontrassem no centro do topo da muralha.
Acho que eu matei mais que você. Disse o general, rindo.
Eu acho que não, velho. Zombou Tristan.
“Velho”? O rosto de Maximillian não podia ser visto por causa do elmo, mas Tristan imaginava que o companheiro devia estar com uma expressão aturdida pela brincadeira. Perdeu o respeito pelo seu general enquanto massacrava alguns arqueiros? Os dois riram. Bem...ainda não terminamos o nosso trabalho. Os inimigos só serão derrotados caso se rendam ou sejam todos mortos.
Espero que se rendam. A luta está boa, mas se trouxermos sobreviventes para o Duque, ele terá mais escravos e nossa recompensa será maior.
Verdade. Maximillian viu que alguns inimigos subiam as escadas e seguiam em direção dos dois. Ótimo. De volta à matança.
Agora, Tristan e Maximillian estavam lutando lado a lado.
“Agora, somos quase invencíveis”
Os dois se alternavam com maestria nas funções de “isca” e “predador”. Ora Tristan abria a guarda de um inimigo e Maximillian cravava sua espada no peito do oponente, ora o general deixava um alvo exposto e o guerreiro o finalizava.
Ao chegarem à sala do trono da fortaleza, os dois depararam-se com algo que não esperavam.
Então...enquanto eu e o Tristan estávamos matando arqueiros, vocês mataram a guarda real e a família real se rendeu? Disse Maximillian ao analisar a cena: guerreiros fortemente armados mortos no chão enquanto algumas pessoas com vestimentas vistosas se ajoelhavam no chão com uma pequena tropa de seus soldados apontando suas armas aos supostos nobres. É isso?
Precisamente, general. Respondeu um dos soldados.
O Duque ficará feliz com alguns escravos de sangue azul, não? Perguntou outro soldado, enquanto ria dos nobres.
Sim. Concordou o general. Bem...então é isso. Trabalho bem feito, homens. Saqueiem tudo o que for de valor. Por favor, não destruam mais nada para não termos trabalho a mais reformando o lugar. Agora esse forte é nosso! E...alguém amordace e amarre os nobres. Não quero que eles fiquem falando ou tentem fugir. Dormiremos aqui essa noite, mas amanhã acordaremos o mias cedo possível, então tratem de cuidar de qualquer ferimento agora. Quanto antes voltarmos para o Duque, mais cedo receberemos nossa merecida recompensa e mais cedo podemos celebrar a vitória em nossa missão!
Os soldados começaram cumpriram as últimas ordens enquanto cantavam e tagarelavam. O general se dirigiu a Tristan e ambos retiraram seus elmos.
Muito bom trabalho hoje, garoto. Disse. Sua expressão era um misto de alegria e cansaço devido à vitória na árdua batalha. Não se surpreenda se o próprio Duque Wallace te convocar para agradecer-lhe pessoalmente.
Muito obrigado, general. Disse Tristan, com a mesma expressão mista no rosto.
Glórias ainda maiores o esperam no futuro. Muitas guerras travadas. Muitas vitórias conquistadas. Maximillian conseguiu forças para dar um sorriso um pouco maior. Eu até já consigo te ver como general daqui a uns anos. Talvez o homem mais jovem a se tornar general.
Eu... Tristan corou, meio sem jeito pelos elogios. Nem sei o que dizer.
Apenas aceite seu futuro. Eu, quando tinha sua idade, também não acreditava que eu chegaria à posição que estou atualmente. Mas os anos passaram. Ganhei experiência. Melhorei minhas técnicas no campo de batalha. Aprendi estratégias novas. O general apoiou a mão direita sobre o ombro esquerdo de Tristan. E eu era muito mais despreparado que você quando eu tinha sua idade. Acredite em mim, um dia você chegará onde estou.
Bem...se o senhor diz...você deve estar certo.
Claro que estou certo. Eu sou o general. Disse Maximillian, em um tom brincalhão. Agora vá ajudar os outros com os saques, garoto! Vamos passar a noite aqui e amanha voltaremos para White Plains para sua recompensa mais que especial.
Tristan sorriu e foi ajudar seus aliados.
“Vamos ver o que o futuro tem a me oferecer”.

Na manhã seguinte, o exército marchou de volta para a cidade.