Servant of
Darkness
Servo
da Escuridão
—
Por mais quanto tempo teremos que andar por essa floresta? — Reclamava um soldado.
Contando com ele, eram vinte guerreiros que trajavam armaduras de ferro
completas com elmos fechados. Eles empunhavam espadas, adagas, machados, maças,
escudos e até arcos. Juntamente a eles, no centro da formação, estavam quatro
homens de idade mais avançada, sendo que três deles usavam túnicas brancas mais
simples, enquanto um deles usava uma mais ornamentada com detalhes feitos de fios
de ouro.
—
Não reclame. —
Retrucou outro soldado. —
Todos nós concordamos em participar dessa missão. Você sabe tão bem quanto
qualquer outro aqui que esses clérigos protegem um artefato da Luz e que seu
templo fora atacado muitas vezes recentemente. As forças das Trevas descobriram
a localização do artefato e iriam continuar a atacar o local a fim de se
apossar de seu grande poder.
—
Bem...eu só decidi participar dessa missão pelo pagamento. — Disse o primeiro soldado
de maneira ríspida.
—
Como? Você não se importa com a Luz? —
Perguntou, irritado, um terceiro soldado.
—
Nem um pouco. —
Respondeu o primeiro. —
Sou um mercenário, oras. Aliás, quase todos aqui são. Precisavam de guerreiros
urgentemente, não? Poucos aqui faziam parte da guarda do templo ou da cidade
vizinha ao templo. Mas não se preocupe quanto a minha opção política. Eu não
apoio as Trevas, caso contrário, não faria parte do nosso adorável esquadrão.
—
Eu tenho noção que a maioria do grupo é formada por mercenários. — Retrucou o terceiro. — Eu só não acredito que
possa haver pessoas que não apóiam nenhum dos dois lados, nem Luz nem Trevas.
São as maiores forças desse mundo.
—
Havia alguns outros deuses que eram tachados de “pagãos”. — Disse o segundo. — Acho que alguns
sobreviveram às perseguições e aos massacres causados pelas forças da Luz e das
Trevas.
—
Cuidado com o que fala! —
Ameaçou o terceiro, com a mão no cabo da espada embainhada, pronto para
sacá-la.
—
Não sabe ouvir o que não gosta, hein? —
Provocou o segundo. —
Já que não sabe argumentar, quer resolver as coisas na base da violência? Por
mim, tudo bem.
—
Chega! — Disse um
quarto soldado. — Não
temos que gostar um dos outros aqui, muito menos concordar com a ideologia de
cada um. O que precisamos é escoltar esses clérigos que estão conosco. Quando
concluirmos essa missão, podem se matar. Até lá, tentem se comportar e se
manter vivos. Já enfrentamos dois grupos de bandidos pela estrada. Não tivemos
baixas, pois foram lutas fáceis. O problema é se enfrentarmos algum seguidor das
Trevas, ou até algum demônio. Essa é uma possibilidade, uma vez que já tentaram
tomar o artefato da Luz que estamos protegendo em outras oportunidades. Vamos
permanecer unidos e continuar andando por essa floresta. Espero que não
aconteçam mais discussões.
Os quatro soldados, que estavam atrás do resto do grupo,
entreolharam-se. Silenciosamente, concordaram com a paz temporária e seguiram
floresta adentro.
A floresta pela qual passavam era homogênea, contando com
quilômetros e quilômetros de árvores com quase a mesma altura, aproximadamente
a altura de dez homens adultos. Já estavam no outono, então o chão da floresta
era um tapete de folhas amarelas, vermelhas e laranjas que cobriam as trilhas
de terra, tornando a movimentação e localização mais difíceis dentro da área.
Outro grande problema eram as possíveis armadilhas camufladas entre as folhas e
as emboscadas a partir das árvores altas, locais preferenciais para ataques de
arqueiros e arremessadores de facas. Entretanto, era difícil manter-se atento a
todos os perigos na condição que os soldados estavam. Eles entraram na floresta
quando o sol havia nascido no dia anterior; agora, já estava no fim da tarde.
Todos estavam cansados, principalmente porque não fizeram muitas pausas, a fim
de atravessarem logo o local. Se não fosse pela brisa fresca de aroma suave que
percorria a floresta, todos estariam muito mais exaustos.
—
Caso alguém ou alguma coisa que use magia das Trevas tente nos emboscar, os
clérigos poderiam pressentir a presença? —
Perguntou um guerreiro, mais jovem que os demais, que estava à frente do
batalhão.
—
Acho que sim. —
Respondeu um soldado que estava ao seu lado, que era mais alto que todos os
outros.
—
Mas eles não seriam capazes de ocultar sua presença? — Perguntou o jovem.
—
Nesse caso, a gente vai morrer. —Disse
outro soldado, em um tom pessimista.
Mesmo sem poder ver o rosto do jovem, o guerreiro alto
podia ver que ele estava nervoso. Não sabia nada sobre ele, mas sentiu um misto
de simpatia e preocupação pelo companheiro, fruto de seu instinto protetor.
—
Não se preocupe. —
Disse o guerreiro alto. —
Não seremos derrotados tão facilmente. Além do mais, olhe para esses clérigos.
Eles podem ser velhos, mas são extremamente experientes no manejo de magias da
Luz. Eles próprios podem nos ajudar. —
Ele então sorri para o Jovem. —
Caso isso aconteça, até os próprios Demônios terão problemas.
—Se
você diz... — Disse o
guerreiro pessimista.
O jovem preferiu ignorar o pessimismo do soldado atrás
dele e confiou nas palavras daquele ao seu lado.
—
Obrigado. —Disse o
jovem, estendendo a mão. —
Senhor...
—
Henry. — Completou o
guerreiro alto, apertando a mão do jovem guerreiro. — E seu nome seria?
—
Gregory — Respondeu o
Jovem.
Os dois, então, continuaram a conversar enquanto seguiam
em direção a uma clareira. Enquanto isso, no topo de uma árvore, cerca de cem
metros a frente do batalhão, uma figura observava os alvos.
“Um, dois, três...dez, onze...dezenove, vinte soldados. E
mais...quatro seguidores da Luz. Bem...nada de mais. Aquele que com a roupa
mais enfeitada deve estar carregando o bracelete. Ótimo, vamos ao trabalho.”
A figura começou a emanar seus poderes sombrios, chamando
a atenção dos clérigos.
—
Trevas. Logo à frente. —
Disse um deles.
— Não
devemos avançar. —
Disse outro clérigo.
— Deixe
que venham até nós. —
Disse o último.
—Guerreiros,
preparem-se! — Disse
o líder dos clérigos.
Todos os guerreiros se prepararam para a investida do
inimigo, brandindo seus machados e espadas, armando suas flechas nos arcos,
procurando o alvo.
“Resolveram parar de avançar por causa da minha presença?
Que lisonjeiro. Bem, agora terei que pular na direção deles antes de atacar,
para encurtar a distância e garantir...hmm...dez mortes? É, acho que da pra
matar uns dez no primeiro ataque.”
Logo, o ser sombrio se lançou do topo da árvore em forma
de uma fumaça negra, materializando-se em cima dos soldados, pairando no ar com
suas asas feitas com trevas.
Os clérigos, imediatamente, criaram escudos de luz em
volta deles mesmos, estabelecendo uma formação em que o líder concentrava sua
energia para um ataque, e os outros se uniam para formar um escudo que protegia
a todos os quatro. Enquanto isso, os soldados ainda estavam assustados com a
presença demoníaca acima deles e com o surgimento do campo de força luminoso que
os excluía.
“Covardes. Já imaginava que teriam uma atitude dessas.
Pobres guerreiros. Consegui concentrar bem a energia devido ao tempo que
ficaram parados, só olhando. Bem, vamos escolher dez vítimas.”
Em um instante, o ser lançou dez adagas envolvidas por
uma chama negra na direção do elmo de dez soldados aleatórios. As lâminas
ignoraram a existência de qualquer tipo de armadura que protegia a cabeça dos
guerreiros, levando-os a uma morte instantânea.
Ainda no ar, projetou-se para baixo, mirando em outro
guerreiro com sua espada em mãos. Ao cair em cima do alvo, sua espada
transpassou o peito do soldado e, ao ver outro alvo amedrontado a sua frente,
tirou a espada do peito do guerreiro que tinha acabado de matar e saltou em
direção à garganta de outro, degolando o azarado.
—
Bem...já foi metade. —
Disse o ser. — Espero
que essa metade dure um pouco mais.
Agora todos podiam ver melhor o Demônio a sua frente. Era
um ser com altura de aproximadamente um metro e oitenta, de rosto humano,
jovem, porém, com uma expressão séria que o envelhecia, com um longo cabelo cor
de ébano, pele alva e olhos escarlates penetrantes. Ele trajava uma armadura
negra que cobria todo seu corpo, com exceção da cabeça. Sua espada era
diferente de qualquer outra já vista: era uma haste de metal de um metro de
comprimento com a ponta da lâmina reta, formando outra lâmina; porém, o mais
curioso era a cor da arma, que era inconstante, variando entre tons de roxo.
Os oito guerreiros remanescentes decidiram atacar o ser:
esforço, sem dúvida, em vão. O primeiro atacou verticalmente com o machado e,
transformando-se em trevas, o ser se esquivou rapidamente para o lado direito
do guerreiro e, então, golpeou-o com a espada numa estocada, causando um
ferimento letal abaixo da axila e acima das costelas. Outro soldado correu em
direção ao guerreiro sombrio apenas para ter sua barriga atravessada pela
espada púrpura. Aproveitando-se do que parecia uma brecha, um arqueiro lançou
uma flecha em direção ao inimigo. Porém, o ser sombrio pegou a flecha no ar.
—
Mas que pena...foi quase —
O ser ironizou,com um sorriso amargo, enquanto incendiava a flecha em sua mão
até virar cinzas.
Com um estralar de dedos, ateou fogo no arqueiro. Chamas
negras derretiam a armadura no soldado enquanto todos olhavam sem saber o que
fazer.
Um guerreiro, aparentemente mais calmo que os outros,
arremessou sua adaga em direção ao oponente. Com apenas um passo para o lado, o
ser desviou do ataque e arremessou a própria espada no peito no guerreiro,
pregando-o a uma árvore. Vendo a oportunidade, outro guerreiro disparou em
direção do ser, que agora estava desarmado.
—
Tolo. — Disse o ser,
simplesmente, estendendo a mão direita, transformava a espada em sombras e a
materializava em sua mão, no tempo suficiente para se virar e cortar a armadura
e atingir até o estômago de seu oponente com um corte horizontal. — Bem, só faltam três
agora.
—
Já chega! — Disse um
dos guerreiros sobreviventes. Os outros dois sobreviventes eram Gregory e
Henry. — Você não tem
porque nos matar! Você só quer a relíquia da Luz, não é!?
—É
exatamente isso. —
Respondeu o ser. — Se
você quiser fugir, fuja. Matar vocês não é o meu objetivo. Só comecei a matança
porque sabia que vocês não se renderiam se estivessem em um grande número.
Os guerreiros sobreviventes se entreolharam. Não sabiam
se podiam confiar do demônio a sua frente: era provável que não.
—
Se é assim, eu me despeço. —
Disse o guerreiro, enquanto se afastava de Henry e Gregory.
O ser apenas observava, sem se mexer.
— Vai
realmente nos deixar ir embora assim? —
Perguntou Gregory.
—
Sim. — Disse o ser. — Se você puder confiar na
palavra de um humano seguidor das Trevas, então sim.
—
Então você é humano!? —
Perguntou Henry.
—
Sim. — Respondeu. — Tive um pai e uma mãe. Já
amei e fui amado. Nasci e ainda não fui morto.
—
Ótimo! — Disse Henry,
alegremente. —
Odiaria ser morto por um animal, demônio ou anjo. Se for para ser morto, que
seja por um guerreiro ou por um deus.
—
E você ousaria se opor a um deus? —
Questionou o ser.
—
Talvez. —Respondeu. — Mas eu teria que ter um
bom motivo. Talvez morrer bravamente conte como um bom motivo. Pra mim seria o
suficiente. Mas eu posso me contentar com um humano com poderes das Trevas.
—
Então você não teme a morte? —
Sua expressão se tornou um pouco menos séria, quase esboçando um sorriso. — Ótimo. Venha e me
enfrente.
—
Garoto! — Henry se
dirigiu a Gregory. —
Você tem muita coisa para viver. Muitos sucessos e muitos fracassos. Saia
daqui. É aqui onde eu devo morrer, mas morrerei seguindo os costumes do povo de
meu pai.
—
Como assim?
—
Meu pai era das Terras do Norte. Ele veio para cá para saquear algum reino e
acabou conhecendo minha mãe. Ele se apaixonou por ela e largou a vida de
saqueador para cuidar dela e, posteriormente, de mim. Ele me ensinou a lutar e
ensinou os costumes do povo dele. “Lutar bravamente até a morte”. Foi isso o
que me foi ensinado. Morrer perante um oponente valoroso, essa é uma das
maiores recompensas da vida!
—
Você é louco!
—
Talvez. — Henry não
pode conter as risadas. —
Venha me enfrentar, criatura das Trevas!
Em uma fração de segundos, o ser havia surgido atrás de
Henry, que teve seus dois braços cortados em uma fração de tempo ainda menor.
—
Para você, que é do povo do norte, só lhe desejo a morte. — Disse o ser, com os olhos
ainda mais vermelhos e trincando os dentes.
Novamente, com um estralar de dedos, o ser ateou seu fogo
negro a um guerreiro. Dessa vez, Henry agonizava até a morte, enquanto Gregory,
que não havia conseguido fugir no curto período de tempo, olhava e se
enraivecia.
— Desgraçado! Vocês, seres
das Trevas, trarão a ruína do mundo se a Luz não impedir vocês! Piedade? Honra?
Justiça? Isso e muito mais são negados por vocês, escória do mundo!
—
E vocês da Luz podem dizer alguma coisa? —
A expressão no rosto do ser voltou a ser fria e séria. — Vocês promoveram tantos massacres quanto às
Trevas ao longo dos anos. Perceba algo logo, moleque: não há o Bem, não há o
Mal, é tudo uma questão de perspectiva. A Luz pode afetar o planeta tanto
quanto as Trevas, e cada qual tentará justificar de seu modo. Olhe para seus
amigos clérigos. Eles não se importam se vocês morram ou não. Eles só estão se
preocupando na sobrevivência deles mesmos desde o começo. Por isso que criaram
a barreira só envolta deles. Eu me aliei ás Trevas por um motivo pessoal, só
isso. E antes de me aliar às Trevas, eu era aliado da Luz, para proteger o
reino onde fui criado. Pare de defender cegamente o seu ponto de vista, ainda
mais quando seus argumentos são tão vazios.
—
Eu...eu...
Nesse momento, Gregory ergueu sua espada e correu em
direção do ser, apenas para ser cortado horizontalmente no meio.
—E
é por isso que fanáticos da Luz me irritam tanto. — Apontou em direção dos clérigos, ainda sob
seu escudo. — Vocês
acham que todo sangue derramado por vocês é justificado por algum ideal maior.
Justiça? Por favor, nem falem nada sobre justiça. Vocês sempre são os heróis de
qualquer conto ou lenda, ou até da própria História. As Trevas pelo menos são
sinceras e aceitam o fato de que matar nem sempre tem alguma justificativa
plausível.
O ser olhava para a barreira luminosa a sua frente. Ao
estender sua mão envolta por trevas contra a barreira, um dos clérigos começou
a rir.
—
Qual é a graça? —
Questionou o ser, um pouco irritado.
—
Enquanto nós três estivermos mantendo essa barreira, qualquer ataque externo é
inútil! — Respondeu
um dos clérigos. —
Você teria que ser o próprio Senhor das Trevas para derrubar essa barreira!
—
Bem, vamos por isso a prova então. —
Disse o ser, com escárnio.
Com um soco, o braço do ser atravessou a barreira de luz,
bem como o corpo do clérigo que o desafiara. Rapidamente, o ser repetiu o
processo com os outros. Logo, os três clérigos estavam mortos e a barreira,
abaixo.
—
Achei que teria mais tempo para carregar o ataque, mas deve ser o suficiente. — Disse o líder dos
clérigos. —Você não
deve morrer imediatamente, mas posso matá-lo em uma segunda tentativa.
O líder criou uma explosão de luz em sua volta,
envolvendo o ser a sua frente.
—
Patético. — Disse o
ser, enquanto andava em direção ao líder. A criatura estava envolta pela
própria aura sombria, que agora brilhava intensamente.
—Mas...não...o
que você é!? — A
expressão no rosto do clérigo era de pavor.
— Adivinhe.
Eu não sou o Lorde das Trevas, Eu sou humano. Essas são as dicas.
O ser avançava em direção ao líder, que agora havia caído
de costas e rastejava futilmente para trás, com uma expressão de medo ainda
maior estampada em seu rosto.
—Você
é o...Escolhido dele!? —
Perguntou o líder, tremulo. —
Você é o Escolhido do Deus das Trevas!?
—
Sim. Tristan é o meu nome —
Disse o ser, com uma expressão de superioridade. —
Agora, me dê o bracelete. —
Tristan puxou o braço do clérigo e, com um corte da espada, decepou o antebraço
direito do oponente.
—
Maldito! — O líder
gritava de dor enquanto sangrava.
—Ótimo.
Só tenho que destruir isso agora. —
Disse o ser, enquanto olhava para a relíquia que segurava.
—
Você está louco? Essa relíquia é indestrutível!
Tristan colocou o bracelete no chão. Concentrou sua
energia das Trevas na perna e pisou em cima do bracelete, quebrando-o em
dezenas de pedaços.
—
O que você disse mesmo? —
Disse Tristan, olhando para o clérigo com certa decepção.
—
Seu...demônio! —
Gritou o líder, enquanto lançava uma pequena explosão de luz na direção de
Tristan.
O Escolhido pegou a explosão de luz com as duas mãos e
foi comprimindo-a até desaparecer. Tristan deslocou-se em direção ao clérigo,
que estava quase inconsciente, porém, ainda com uma expressão estupefata, sem
compreender os limites do poder do oponente. Sem cerimônias, o ser das Trevas
fincou sua espada no peito dele.
Com o bracelete destruído e os seguidores da Luz mortos,
a missão de Tristan estava concluída. Agora, ele deveria voltar ao Império das
Trevas. Logo, o Escolhido se transformou em sombras e sumiu no horizonte.
Nidhogg, The Lord
of Darkness
Nidhogg,
o Lorde das Trevas
Viajando em forma de trevas, Tristan conseguia se
deslocar rapidamente, podendo deixar as Terras do Noroeste de Wolfrealm e
chegar à capital de Dragonrealm, o Império das Trevas, em menos de uma hora.
Enquanto viajava, o guerreiro sombrio observava a área
dos reinos. Ele sobrevoava as florestas alaranjadas pela estação das ilhas de
Wolfrealm, o mar cor de safira que as separava do resto do continente, os
planaltos rochosos e planícies verdejantes de Lionrealm a distância e,
finalmente, as árvores gigantescas com troncos robustos que se espalhavam pelos
tapetes cor de esmeralda de Dragonrealm.
O lugar quase parecia pacífico, até chegar a grande
cidade de Nidhogg, batizada com o nome do Lorde das Trevas. O lugar era
monumental, protegido por uma grande barreira expressa e circular de mais de
dez metros de altura. Toda a cidade era marcada por uma coloração cinzenta como
um nevoeiro com um céu sempre nublado, fazendo com que toda a área estivesse
imersa em uma noite sem fim. No centro da grande cidade circular, uma
construção parecia desafiar os céus: um palácio gigantesco construído de ônix e
prata, envolto por mansões menores construídas no mesmo estilo, propriedade dos
grandes nobres da cidade, líderes e donos de facções de ladrões, assassinos,
mercenários e mercadores de itens ilegais.
Ao entrar pela forma de trevas no último andar, dois
Demônios da guarda real estavam diante da porta da sala do trono. Tinham mais de dois metros de altura cada e
trajavam armaduras cor de sangue, além de portarem lanças cor de ébano.
—
Vejo que retornou com sucesso de sua missão...de novo. — Disse o Demônio da direita.
—
Obviamente. Caso contrário, não teria retornado. —
Respondeu Tristan no tom frio habitual.
—
Não esperava menos do preferido do chefe. —
Disse o Demônio da esquerda, num tom zombeteiro. —
Você só tem que aprender a socializar um pouco mais. Não é porque somos
assassinos sanguinários que não podemos rir de vez em quando. — E começou a rir
juntamente com o outro Demônio.
“Eu sou o Escolhido do Lorde das Trevas, mas tenho que
ficar aturando vermes como esses...”.
—
Se já se divertiram, abram a porta. Eu tenho que falar com o Lorde. — Disse Tristan,
rispidamente.
Os Demônios abriram a porta e Tristan entrou na sala do
trono. O lugar era um grande corredor com paredes negras com estandartes das
Trevas: a cabeça de um dragão negro visto de frente em um fundo roxo, fazendo
com que os olhos da fera tivessem a mesma cor do fundo. No chão, um tapete
rubro se estendia pelo centro da sala, subindo as escadarias e chagando até os
pés do trono feito de ônix com detalhes imitando escamas e garras de dragão. O
ar era preenchido com o aroma de hidromel, bebida a fermentada feita a base de
mel, a favorita do deus.
Lá, sentado pacientemente, esperando pela volta de
Tristan, estava Nidhogg, o Lorde das Trevas.
—
Missão concluída com sucesso. —
Disse Tristan, aproximando-se a cada passo do trono e do deus. Apesar de
estar falando com o Lorde das Trevas, usava o mesmo tom com que falava com
todos: frio.
—
Você nunca me decepciona, não é? —
Disse Nidhogg, com um sorriso caloroso, enquanto terminava uma taça de hidromel
e a apoiava no braço do trono. Por ser um deus, não envelhecia. Apesar de ter
quase cinco mil anos de idade, tinha a aparência de um mortal de pouco menos de
quarenta anos. Seus cabelos e olhos eram como os de Tristan, mas seu rosto
tinha uma expressão mais alegre, quase jovial, fazendo parece com que os dois
tivessem a mesma idade. O deus era um pouco mais alto, cerca de três
centímetros a mais que Tristan. Quanto à vestimenta, ele trajava uma túnica
negra com botas e manoplas feitas de ferro quase tão enegrecidas quanto às
paredes de seu palácio. —
Não teve um único dia em que em tenho me arrependido em ceder parte dos meus
poderes para te transformar em meu Escolhido. Você até me lembra eu mesmo, uns
três mil anos atrás, massacrando as forças da Luz com as próprias mãos. — O Lorde gargalhou,
enquanto a expressão de Tristan se mantinha a mesma. — Bem...eu era um pouco mais bem humorado,
para dizer a verdade.
—
Mais algum pedido?
—
Não...acho que não. —
Disse o deus, coçando a nuca. —
Lembrei! Algo muito importante está para se concretizar!
—
E o que seria?
—
O nascimento do meu filho! —
O sorriso no rosto do deus era ainda maior.
—
Seu...filho? —
Perguntou Tristan, com uma expressão de confusão no rosto.
—
Sim! Sim! — Nidhogg
pareceu notar a expressão no rosto de seu Escolhido. —Creio que eu não cheguei a explicar isso a
você. — O deus se
levantou, caminhou até Tristan e apoiou o braço direito sobre o ombro esquerdo
do guerreiro. — Do
mesmo modo que eu posso dar parte do meu poder para um mortal para ele se
tornar um mestre das Trevas, eu posso deixar parte do meu poder em um
recipiente para ele evoluir, criando um novo ser. Ele virá a se tornar mais
forte que você com o tempo. Infelizmente, essa evolução é demorada e eu só
posso criar um herdeiro de uma vez. Logo, eu só posso ter um filho a cada mil
anos, aproximadamente. Isso também vale para nosso querido Leviathan, o Lorde
da Luz. Ele tem um escolhido e, em breve, também terá um herdeiro.
—
E aonde eu entro nessa trama? —
Disse Tristan, enquanto tirava o braço de Nidhogg de cima de seu ombro.
—
Bobinho. Você é quem vai treiná-lo!
— Como?
— Disse Tristan,
irritado. — Mais uma
obrigação? Por mais quanto tempo você irá negar o meu pedido?
—
Tudo ao seu tempo. Tenha calma.
—
Calma? Para um ser que não sente o tempo passar, pode ser fácil. Para uma
criatura incapaz de amar, é uma tarefa trivial. Mas e para mim? Eu tive o amor
da minha vida tirado de mim. Você sabe bem disso. Eu só me aliei a você para
que você a pudesse trazer de volta.
—
E eu pretendo cumprir com a minha palavra. Tente entender a situação, sim? Você
envelhece mais vagarosamente enquanto é meu Escolhido. Quando eu trouxer sua
Isolde de volta, ela amará o mesmo rosto jovem e heróico pelo qual se
apaixonou. — A
expressão de Nidhogg se tornou mais séria. —
Ajude-me nessa guerra. Treine meu filho. Guie-nos a vitória. — O deus sorriu. — Pense assim: quando meu
filho chegar ao seu nível, não precisarei mais de você. Ele ocupará seu cargo.
Aí, enquanto as Trevas dominam o mundo, você pode aproveitar o resto de sua
vida ao lado de sua amada sem se preocupar com guerras. O que você me diz?
“Maldito”.
—
Eu...aceito. — Disse
Tristan, sabendo que não havia escolha. Ele não conseguia parar de pensar em
Isolde.
—
Ótimo! — Disse o
deus, ainda mais sorridente. —
Bem...você está dispensado, por enquanto. Vá descansar, beber, comer alguma
coisa. Você fez por merecer, como sempre.
Tristan saiu da sala e se dirigiu à sacada de seu quarto
no palácio.
“Isolde...quanto tempo faz...? Quanto tempo faz desde que
você se foi?”
Tristan olhava para o céu sombrio da capital do Império.
“Há quantos anos eu me transformei nisso? Se não fosse
para conseguir ter você de volta, eu já teria desistido de ser essa criatura”.
Tristan agora sorria, apesar da expressão em seu rosto
não ser de muita felicidade.
“Engraçado. Eu sofro por você, Isolde. E por você, eu
sofro. Isolde, minha querida Isolde...”.
Tristan foi dormir, ainda pensando na amada. As
lembranças daqueles dias fatídicos ainda o atormentavam.
The Prodegy
O
Prodígio
Anos antes...
—
Preparado? —
Perguntou um guerreiro trajando uma armadura tão bem polida que parecia ser feita
de prata. O rosto do homem inspirava liderança e coragem, com cabelos e barba
castanhos claro bem aparados e olhos azuis. Caso sua expressão não fosse
bondosa, certamente seria intimidador, graças a sua altura de um metro e
noventa e a espada pouco menor que ele próprio.
—
Como sempre, general Maximillian. —
Respondeu Tristan, sorrindo. Naquela época, o rosto do guerreiro demonstrava
alegria e jovialidade, em vez da expressão fria e séria. Seu cabelo era
castanho claro como o de Maximillian, mas o corte era mais irregular, mas não
muito longo. Seus olhos eram cor de mel em vez de vermelhos, refletindo sua
bondade e certa inocência. A armadura que trajava era quase idêntica ao de seu
general, com a exceção do fato de que a de Tristan não era tão bem cuidada. — Acho que vai ser rápido.
Depois que derrubarmos os portões da fortaleza, a vitória já estará garantida. — Tristan segurava sua
espada e seu escudo ansioso. A arma era um pouco mais curta que a que usa
atualmente, e a cor tanto da espada quanto a do escudo eram prateadas, mas a
lâmina da arma estava muito bem cuidada, evidenciando a preferência de Tristan
pelo ataque em relação a defesa.
Os dois se entreolharam e sorriram e, em seguida,
colocaram seus elmos. Ambos tinham um fogo no olhar. Ambos estavam mais do que
prontos para a batalha.
A fortaleza que iriam atacar estava a meio quilômetro de
distância. Não era tão impressionante, mas as paredes altas de rocha branca
pareciam ser bem resistentes, deixando como única opção de invasão a porta da
frente. Fora da fortificação, um batalhão estava protegendo os portões de
madeira do local. Nas muralhas, arqueiros estavam de prontidão. Porém, atrás de
Tristan e Maximillian havia um verdadeiro exército de aliados, prontos para o
combate.
— Essas
planícies verdes serão tingidas de vermelho. O aroma de flores do campo será
substituído pelo de corpos sem vida estirados no chão. — Disse Tristan, sem um sorriso no rosto dessa
vez. — É uma pena.
—
Mas é o nosso trabalho, nosso dever, nosso ganha-pão. — Disse Maximillian. — Orgulhe-se. Você é o maior guerreiro da
região. O Duque reconhecerá seu valor em breve. Eu mesmo farei questão de te
dar destaque no relatório desse ataque, caso você mereça. — O general riu,
familiarizado desempenho habitual do companheiro em batalhas.
—
Está certo. —Tristan
riu, animado. —
Agora, dê as ordens, general. Comece o ataque.
—
Vejo que alguém está bem ansioso. Ótimo. —
Maximillian olhou para trás, em direção aos seus homens. — Vamos, soldados! Atacar!
Os soldados então urraram e avançaram em direção à
fortaleza à frente. Ambos os exércitos começaram a se enfrentar. Mortes
ocorriam dos dois lados. Sangue era espalhado por espadas e machados, Flechas
acertavam brechas de armaduras, tirando a vida de muitos. O exército de
Maximillian era muito maior. O batalhão que se encontrava fora da fortificação
já havia sido quase dizimando, porém, os arqueiros nas muralhas tiravam a vida
de muitos guerreiros sem poderem ser confrontados. Poucas flechas do exército
conseguiam acertar os inimigos no alto da fortificação.
Tristan corria pela planície ceifando a vida dos inimigos
sem dificuldades. Um inimigo veio atacá-lo com um golpe horizontal de um
machado, da esquerda para a direita. Tristan simplesmente se agachou e fincou
sua espada no pé do oponente, facilmente abrindo uma fenda na bota de sua
armadura de couro do seu alvo, derrubando-o com um golpe do escudo contra o
capacete, que já estava gritando de dor. Rapidamente, Tristan golpeou a
garganta do oponente, exatamente na brecha entre o elmo e o peitoral da
armadura, dilacerando-a e matando o oponente. Ao olhar para frente, viu outros
dois guerreiros armados com espadas quase tão grandes quanta às de Maximillian
correndo em sua direção. Eles atacaram horizontalmente com as armas, permitindo
que Tristan desviasse com uma cambalhota, posicionando-se atrás dos inimigos,
cravando sua espada nas costas do guerreiro da esquerda. Quanto ao da direita,
esse tentou agora um ataque vertical de cima para baixo, forçando Tristan a
bloquear o ataque e a deixar sua espada enfiada no inimigo agora morto.
“Ótimo. Afora eu estou desarmado, contando apenas com um
escudo em um bloqueio constante. São em situações assim que eu sou grato pelo
treinamento de meu pai”.
Rapidamente, vendo a brecha na guarda do oponente que estava
com o abdômen exposto, Tristan chutou o alvo com toda força que tinha na perna
direita, derrubando o guerreiro e sua espada para trás. Tristan jogou o escudo
para perto do oponente que fora morto.
“Daqui a pouco me rearmo. Agora, vou me divertir como
antes de entrar para o exército”.
Ao se levantar, o
inimigo levou dois socos, um com o punho e esquerdo e outro com o direito,
direto na barriga, abrindo a guarda para Tristan golpeá-lo ainda mais, agora
com uma seqüência composta por um soco com o punho direito na face do oponente,
seguido por um soco com o esquerdo, girando no sentido horário, terminando com
uma cotovelada de direita, derrubando o inimigo para longe da espada de duas
mãos. Rapidamente, Tristan pegou a arma e a cravou no peito do oponente,
matando-o, enfim.
Tristan recuperou rapidamente sua espada e escudo e
correu para socorrer dois companheiros que estavam ali pero. Utilizando-se do
elemento surpresa, desferiu três golpes nas costas de três inimigos distintos,
derrotando-os sem dar chance de reação.
—
Obrigado. — Disse um
dos aliados que acabara de ajudar. —
Acho que é melhor você se juntar àquele grupo. —
Ele apontou para um grupo que carregava um aríete e avançava para o portão da
fortaleza. — Os
arqueiros das muralhas podem atrapalhá-los. Tente bloquear algumas flechas por
eles.
—
Certo! — Respondeu
Tristan, e foi em direção ao grupo do aríete.
Acabou ultrapassando-os, chegando antes do que o grupo ao
portão. Arqueiros aliados atiravam flechas incendiárias no portão, mas a
estrutura resistia.
“Será mesmo esse portão feito de madeira comum?”
Ao chegar o grupo, olhou a portão mais de perto.
“É feito de madeira, mas é bem espessa. Parecem várias
camadas de madeira com camadas finas de ferro entre elas. Inteligente. Assim,
fica mais difícil destruir o portão apenas ateando fogo. O jeito é atacar com o
aríete mesmo”.
Tristan saiu do meio do caminho dos aliados e se
posicionou para defendê-los das flechadas. O grupo de soldados começou a atacar
violentamente o portão com a arma de dez metros de comprimento. O aríete era
feito de madeira e em sua ponta havia uma cabeça de grifo (em homenagem a
Griffinrealm, o reino da Luz, ao qual eram aliados), feita de ferro,
aproveitando o bico afiado como a forma de ataque.
—
Veio se juntar a equipe de proteção? —
Disse Tristan sorrindo por baixo do elmo, ao ver Maximillian correndo na
direção deles carregando dois escudos.
—Claro!
— Respondeu o
General, rindo. — Nós
dois sabemos que não somos bons arqueiros. Aliás, quase ninguém no nosso
exército é. Nossa melhor chance de matar aqueles arqueiros e invadir o local e
correr até eles com uma espada em uma mão e um escudo na outra.
— Sim!
— Tristan riu. — Então, vamos!
Os dois se posicionaram cada um de um lado do grupo e
começaram a interceptar os ataques dos arqueiros, juntamente com outros
guerreiros que chegavam com mais escudos. Enquanto isso, o grupo atacava
repetidamente o portão com o aríete.
Pouco tempo depois, o portão ruiu e todos urravam
triunfantes enquanto adentravam o forte.
—
Agora que a diversão começa! Avançar, homens! —
Disse Maximillian, enquanto guiava suas tropas rumo à ruína dos oponentes.
Tristan correu animado escadas acima. Todo inimigo que
surgia em sua frente, era morto rapidamente. Um guerreiro o atacou com uma
lança apenas para ele desviar com um passo para o lado e puxar o oponente pela
arma e golpeá-lo no peito com sua espada. Outro avançou em sua direção com um
machado e um escudo na frente. Esse levou um chute contra o escudo, caindo para
trás, com as costas no chão, olhando para cima enquanto Tristan pulava por cima
dele e golpeava sua garganta com sua arma. Outro ainda surgiu pulando do andar
de cima da muralha com uma adaga em cada mão. Em um movimento rápido, Tristan
bloqueou uma das adagas com o escudo e a outra com a própria espada, empurrando
os braços do inimigo para fora, deixando o corpo dele totalmente exposto para
uma joelhada na barriga, ganhando tempo para então desferir uma espadada na
garganta do oponente.
Ao chegar ao topo da muralha, Tristan sorriu.
—
Agora, é a vez de vocês se sentirem indefesos!
—
Não ouse ficar com toda diversão! —
Disse Maximillian, aparecendo do outro lado do topo da muralha, vindo de outra
escada.
Os dois então começaram um pequeno massacre. Seus estilos
de luta eram parecidos e pensavam de maneira quase idêntica no campo de
batalha, então ambos adotaram a mesma abordagem: correr em direção aos alvos
com o escudo levantado, deixando pouco espaço para fugirem, enquanto bloqueavam
as flechas e, ao se aproximarem o suficiente, desferir um único ataque para
matar-los.
Essa estratégia funcionou, permitindo a eles matar todos
derrotar todos os arqueiros. Um a um, os inimigos foram mortos, fazendo com que
os companheiros se encontrassem no centro do topo da muralha.
—
Acho que eu matei mais que você. —
Disse o general, rindo.
—
Eu acho que não, velho. —
Zombou Tristan.
—
“Velho”? — O rosto de
Maximillian não podia ser visto por causa do elmo, mas Tristan imaginava que o
companheiro devia estar com uma expressão aturdida pela brincadeira. — Perdeu o respeito pelo
seu general enquanto massacrava alguns arqueiros? — Os dois riram. — Bem...ainda não terminamos o nosso trabalho.
Os inimigos só serão derrotados caso se rendam ou sejam todos mortos.
—
Espero que se rendam. A luta está boa, mas se trouxermos sobreviventes para o
Duque, ele terá mais escravos e nossa recompensa será maior.
—
Verdade. —
Maximillian viu que alguns inimigos subiam as escadas e seguiam em direção dos
dois. — Ótimo. De
volta à matança.
Agora, Tristan e Maximillian estavam lutando lado a lado.
“Agora, somos quase invencíveis”
Os dois se alternavam com maestria nas funções de “isca”
e “predador”. Ora Tristan abria a guarda de um inimigo e Maximillian cravava
sua espada no peito do oponente, ora o general deixava um alvo exposto e o
guerreiro o finalizava.
Ao chegarem à sala do trono da fortaleza, os dois
depararam-se com algo que não esperavam.
—
Então...enquanto eu e o Tristan estávamos matando arqueiros, vocês mataram a
guarda real e a família real se rendeu? —
Disse Maximillian ao analisar a cena: guerreiros fortemente armados mortos no
chão enquanto algumas pessoas com vestimentas vistosas se ajoelhavam no chão
com uma pequena tropa de seus soldados apontando suas armas aos supostos
nobres. — É isso?
— Precisamente,
general. — Respondeu
um dos soldados.
—
O Duque ficará feliz com alguns escravos de sangue azul, não? — Perguntou outro soldado,
enquanto ria dos nobres.
—
Sim. — Concordou o
general. — Bem...então
é isso. Trabalho bem feito, homens. Saqueiem tudo o que for de valor. Por favor,
não destruam mais nada para não termos trabalho a mais reformando o lugar.
Agora esse forte é nosso! E...alguém amordace e amarre os nobres. Não quero que
eles fiquem falando ou tentem fugir. Dormiremos aqui essa noite, mas amanhã
acordaremos o mias cedo possível, então tratem de cuidar de qualquer ferimento
agora. Quanto antes voltarmos para o Duque, mais cedo receberemos nossa
merecida recompensa e mais cedo podemos celebrar a vitória em nossa missão!
Os soldados começaram cumpriram as últimas ordens enquanto
cantavam e tagarelavam. O general se dirigiu a Tristan e ambos retiraram seus
elmos.
—
Muito bom trabalho hoje, garoto. —
Disse. Sua expressão era um misto de alegria e cansaço devido à vitória na
árdua batalha. — Não
se surpreenda se o próprio Duque Wallace te convocar para agradecer-lhe
pessoalmente.
—
Muito obrigado, general. —
Disse Tristan, com a mesma expressão mista no rosto.
—
Glórias ainda maiores o esperam no futuro. Muitas guerras travadas. Muitas
vitórias conquistadas. —
Maximillian conseguiu forças para dar um sorriso um pouco maior. — Eu até já consigo te ver
como general daqui a uns anos. Talvez o homem mais jovem a se tornar general.
—
Eu... — Tristan
corou, meio sem jeito pelos elogios. —
Nem sei o que dizer.
—
Apenas aceite seu futuro. Eu, quando tinha sua idade, também não acreditava que
eu chegaria à posição que estou atualmente. Mas os anos passaram. Ganhei
experiência. Melhorei minhas técnicas no campo de batalha. Aprendi estratégias
novas. — O general
apoiou a mão direita sobre o ombro esquerdo de Tristan. — E eu era muito mais despreparado que você
quando eu tinha sua idade. Acredite em mim, um dia você chegará onde estou.
—
Bem...se o senhor diz...você deve estar certo.
—
Claro que estou certo. Eu sou o general. —
Disse Maximillian, em um tom brincalhão. —
Agora vá ajudar os outros com os saques, garoto! Vamos passar a noite aqui e
amanha voltaremos para White Plains para sua recompensa mais que especial.
Tristan sorriu e foi ajudar seus aliados.
“Vamos ver o que o futuro tem a me oferecer”.
Na manhã seguinte, o exército marchou de volta para a
cidade.