The Trickster
O
Trapaceiro
Quase todos se surpreenderam pela atitude de Tristan. O
único que sorria era Gabriel.
—
Eu...não... — O
assassino tentou dizer algo, mas a espada em seu peito não lhe permitiu.
As mãos do guerreiro das Trevas brilhavam. Parecia que
toda a sua energia estava concentrada em suas mãos. Quando o assassino caiu no
chão, Tristan, rapidamente, estendeu os braços para cada lado e, em uma fração
de segundos, movimentou cada braço para a direção oposta. No mesmo instante, dois
arcos de energia sombria foram traçados no ar e, de cada um deles, três adagas
surgiram, cada uma delas rumo a um dos assassinos. Antes que os guardas da
cidade pudessem entender o que havia acontecido, todos os sete seguidores das
Trevas estavam mortos, todos com lâminas cravadas no peito.
“Pronto”.
Tristan olhou para trás. Gabriel sorria. Todos os outros
estavam boquiabertos e confusos.
—
Tristan...? —
Astaroth arriscou chamar o amigo. —
Mas que droga foi essa?
—
Fiz o que tinha que ser feito. —
O guerreiro das Trevas respondeu friamente enquanto transformava sua espada em
Trevas e a retirava do corpo do assassino.
—
Mas...
—
Você não percebeu nada? —
Gabriel perguntou para Astaroth.
Astaroth olhou intrigado para o guerreiro da Luz. Em
seguida, com a mesma expressão, olhou para Tristan. Murmúrios começaram entre
os guardas. O guerreiro das Trevas riu.
—
Você precisa melhorar nesse aspecto, Astaroth. —
Tristan disse.
—Que
aspecto? — O Demônio
indagou.
—Ver
através de Ilusões. —
Tristan apontou a espada na direção do telhado de uma casa. — Não é mesmo?
Uma risada veio do lugar onde o guerreiro das Trevas
apontava.
Os guardas ficaram apreensivos e apertaram suas armas com
força.
—
Nada mal, Escolhido de Nidhogg. —
A voz aguda disse. —
Acho que apenas você e o outro Escolhido perceberam que isso era tudo um
truque.
—
Sinceramente, eu não acredito que eu teria descoberto que era um truque...sem a
sua ajuda. — Tristan
disse.
—
Como?
—
Nós, seres das Trevas...não somos como você pensa que somos. É verdade que muitos
entraram em uma vida fora da lei por falta de opções e dificuldades vividas,
mas nós não somos dramáticos. Não gostamos de reclamar do que aconteceu e do
que não pode mais ser mudado. Nós queremos viver, não morrer. A parte que você
disse sobre morrer por um ideal... —
Tristan riu. — Isso
não faz o menor sentido para nós. Nós não nos queremos morrer para o bem estar
de alguém...a idéia me faz querer vomitar. O único motivo pelo qual nós lutamos
lado a lado em guerras é que é mais fácil sobreviver em equipe. Nós cuidamos
dos nossos feridos para que eles possam lutar novamente aos nossos lados. A
morte em campo de batalha...é algo que nenhum de nós deseja. Mas, se o eventual
e involuntário sacrifício de um de nós ajudou alguma vida...nós honramos a
morte dessa pessoa ou Demônio. —
Ele se voltou para Astaroth. —
Não é mesmo?
—
Sim, mas... —O
Demônio organizava seus pensamentos. —
Eu achei essas atitudes estranhas, mas...como você pôde ter certeza de que eles
não eram seguidores das Trevas? As roupas e poderes...eram tudo parte da
ilusão?
—
Sim. Foi um belo truque. Mas eu tive que me guiar pelo comportamento deles
mesmo, confiar na minha intuição. —
Tristan bufou. — Você
já pode parar com esses truques...seja lá quem você for.
—
Se você insiste... —
A voz disse sem muita animação.
Aos poucos, a imagem do inimigo foi aparecendo. A partir
dos pés, o ilusionista foi tomando forma. Os sapatos eram pontudos. O tecido da
roupa era cetim. A cor das vestes, roxo e verde musgo. Na cintura, dois punhais
de prata. Na cabeça, um capuz e uma máscara dourada com um sorriso estampado
mais sinistro do que o de Astaroth. O ilusionista tinha pouco mais de um metro
e meio de altura e era extremamente magro. Ele estava sentado no telhado da
casa com os pés balançando e com a cabeça apoiada no braço.
—
Satisfeito? — O homem
perguntou.
—
Eu ainda não consigo ver o seu rosto. —
Tristan respondeu secamente.
—
E você nem poderá. Ninguém pode. Conforme-se.
—
Nós veremos o seu rosto logo após a sua morte. —
Gabriel disse rispidamente. —
E, acredite em mim, isso será mais breve do que você imagina.
O ilusionista gargalhou.
—
Como você é presunçoso! —
O homem magricela levantou-se com um salto e sacou os dois punhais. — Vocês não são páreos para
a minha Ilusão Final!
—
Um ataque especial seu, presumo. —
Tristan disse sem interesse. —
Com um nome desses, quem é que o presunçoso?
—
Você se acha tão poderoso e esperto, não? —O
ilusionista riu. — Os
meus poderes estão além de sua compreensão!
De repente, o homem magricela arremessou um de seus punhais
para cima e, com a mão que estava agora livre, sacou outro punhal idêntico aos
outros das costas. Em um instante, o ilusionista estava fazendo malabarismo com
as armas.
“Sério...?”.
—
Esse é o ataque poderoso do qual você havia falado? — Tristan indagou. — Não parece grande coisa.
—
Você ousa me subestimar? —
O ilusionista não parecia irritado apesar de sua reação. — Meus poderes me permitem
copiar outras magias e me tornar invisível. Isso é somente a parte que você
sabe. Somente com esses meus dons, eu já posso fazer muito. Não se esqueça de
que eu sabia que você, o Escolhido do Lorde das Trevas, estaria em trégua com a
Luz e, principalmente, eu sabia que você visitaria este local. Como? Ora...eu
tenho uma rede de espiões sob meu comando. Minha influência vai além de seus
conhecimentos, moleque. E agora, eu, o grande Buffone, irei mostrar a todos
vocês todo o meu poder!
De repente, a máscara do ilusionista brilhou tão
intensamente que todos ficaram cegos momentaneamente.
“Maldição! Que golpe baixo...”.
Após alguns segundos, Tristan pôde abrir enxergar.
Olhando para baixo, ele viu um círculo dourado de encantamento de u metro de
diâmetro com a figura de um triângulo no centro. Em cada ponta da figura, os
punhais de prata estavam cravados no chão em pontos equidistantes. Bem a frente
do guerreiro das Trevas, Buffone estava em pé.
—
Vamos? — O
ilusionista perguntou.
Antes que Tristan pudesse reagir, Buffone estralou os
dedos. De repente, tudo havia sumido diante do guerreiro das Trevas.
“O que ele fez? Que lugar é esse?”.
Tristan estava em um lugar completamente em branco. Não
havia aroma, não havia vento. Parecia não haver chão, mas o guerreiro das
Trevas não caía.
—
Buffone! — Tristan
bradou. — Onde você
está!?
A gargalhada do ilusionista parecia vir de todas as
direções. De repente, pedras cinzentas em formato de cubos começaram a surgir
abaixo do guerreiro das Trevas. Em alguns instantes, um piso que se estendia
até o horizonte fora construída. Em seguida, Buffone surgiu a dois metros de
distância de Tristan.
—
Bem vindo a minha Ilusão Final, Escolhido das Trevas. — Buffone gargalhou.
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