terça-feira, 28 de abril de 2015

A Queda, Capítulo 6

O Estranho


Não demorou muito para que os dez companheiros voltassem a investigar os arredores. A luta anterior fora cansativa, porém, não foi o suficiente para esgotar as energias de nenhum deles. Todos conseguiam não só andar, como também, lutar. Portanto, enquanto ninguém sentisse necessidade de dormir ou comer, os dez poderiam continuar aquela missão.
Entretanto, as lutas não seguiram conforme o planejado. Eles já haviam percebido que não havia muitas criaturas nas redondezas. Agora, então, após matarem o Lobo Alfa, poucas eram as criaturas tolas o bastante para cruzarem o caminho deles.
Nenhum desafio veio até os dez. Algumas duplas ou, no pior dos casos, trios de lobos apareciam esporadicamente para confrontá-los. Aquelas feras pareciam desesperadas. O olhar perdido e a forma de luta imprudente delas evidenciavam isso. Era quase como se aqueles animais não tivessem opção. Como não havia muitas criaturas na redondeza, era possível que aqueles lobos apenas não tivessem outra alternativa para se alimentar.
Porém, nenhum dos dez questionava aquilo. As lutas não apresentavam desafio e, portanto, não os desgastavam muito fisicamente. Além disso, eles também precisariam, eventualmente, alimentar-se. Nenhum deles havia julgado necessário pegar a carne dos lobos do primeiro confronto, com uma exceção: a daquela criatura que se assemelhava a um coelho. Apesar do animal ter parado de exalar aquele cheiro doce com tanta intensidade, não havia como nenhum dos dez esquecer aquele aroma que lhes trazia água na boca.
Antes dos dez resolverem, enfim, parar para comer e descansar apropriadamente, eles conseguiram recolher uma boa quantidade de alimento. Ghost e Huntress se encarregaram de caçar a maioria dos animais que encontraram no caminho. Afinal, armadas com armas que a permitiam atacar a distância, era muito mais fácil para elas acertarem os alvos menores e mais ágeis. Então, a maioria, que lutava usando armas brancas, focou-se em lutar com os poucos lobos que apareciam enquanto Ghost e Huntress, com facas de arremesso e flechas, caçavam outras criaturas, como coelhos e uma espécie de ave.
Esse tipo de pássaro era incomum. Eles não deviam ter muito mais do que trinta centímetros de comprimento da ponta do bico até as penas da cauda. Os pés, que tinham garras afiadas e curtas, eram prateados. As penas de seus corpos eram brancas como a neve. Os bicos, que eram da mesma cor das patas, tinham um formato ovalado, sem ponta. Os olhos, apesar de pequenos, eram de um azul claro intenso, sendo, para alguns, um tanto quanto perturbador.
Quanto os dez decidiram, enfim, fazer uma pausa, eles já tinham comida mais do que o suficiente para todos. De aves a lobos a coelhos, era realmente surpreendente para todos que tamanha variedade fosse obtida. Eles mal podiam esperar para comer a próxima refeição.
Os dez sentaram do lado de fora de um prédio gigantesco. Sua altura, na verdade, não era nada de especial. Entretanto, seu comprimento era assombroso, podendo passar facilmente de um quilometro.
Calmamente, todos se sentaram juntos, formando, de maneira um pouco irregular, um círculo. Os irmãos sentaram juntos. Ghost estava à esquerda e, Specter, à direita. Seguindo essa ordem, sentaram-se, sempre à direita do anterior, o Mago, Overseer, Huntress, Judge, Silver, Pierce, Juggernaut e, enfim, à esquerda da assassina, Psycho.
Após alguns breves minutos de conversa, a fome começou a se tornar um problema para alguns. Apesar de estarem cansados, eles teriam que preparar a refeição. Sem muitas opções, porém, os dez chegaram ao consenso que tudo o que poderiam fazer era limpar, cortar e, por fim, assar a carne. Ghost, Specter, Silver e Judge se voluntariaram para as duas primeiras tarefas. Não houve objeções.
Não muito tempo depois, eles voltaram para a roda dos companheiros. Com eles, pedaços de carne crua estavam prontos para serem assados. Pelo o que tudo indicava, as carnes mais esbranquiçadas eram as das aves, enquanto as mais vermelhas eram provenientes dos lobos e, as mais rosadas, dos coelhos. Prontamente, Psycho propôs que ele preparasse a refeição. Uma vez que o mercenário carregava dezenas de cristais vermelhos consigo e, ainda por cima, conseguia manipular as chamas com maestria, ninguém que se opôs à ideia.
A cena era, no mínimo, inusitada. Enquanto um matador preparava a comida, os outros mercenários, e o próprio Mago, conversavam tranquilamente sobre qualquer assunto. É claro que, naquele grupo, existiam certos conflitos internos. Essas pessoas, obviamente, não conversavam entre si. Mas, no geral, todos estavam rindo e conversando alegremente. Quase não parecia que eles estavam em uma missão em que o desconhecido era confrontado a cada passo.
Quando Psycho terminou de preparar a refeição, rapidamente, Ghost distribui facas para cada um dos aliados. As simples lâminas eram as mesmas que ela usava nas lutas. Ninguém nem sabia de onde todas aquelas facas haviam saído. Foi então que Silver perguntou:
Garota... Quantas dessas daí você carrega?
Acho que a mesma quantidade que você carrega de cristais. Respondeu, Ghost, docemente.
Todos riram alegremente. Foram, sem dúvidas, risadas genuínas, frutos daquele momento. Silver, então, disse:
Você é precavida então.
Melhor ter a mais do que a menos. Argumentou Juggernaut com a voz abafada. Se elas não te atrapalhem, não há problema de carregar muitas.
Antes que alguém pudesse dizer mais alguma coisa, o guerreiro tirou o elmo. Enfim, o rosto de Juggernaut fora revelado. O cabelo loiro era desgrenhado. A barba, rala. Os olhos azuis eram escuros. O queixo, protuberante, tinha uma nítida cova no centro. Uma cicatriz na diagonal, bem abaixo de seu olho direito, marcava o rosto branco de traços fortes.
Poucos já tinham visto de Juggernaut, então, a maioria ficou um tanto quanto surpresa por ver o rosto do guerreiro, principalmente pela beleza dele. Um pouco confuso, ele olhou para os lados. Juggernaut realmente não parecia saber por que todos o encaravam. Após dar de ombros, ele pegou um pedaço de carne de coelho e perguntou:
E vocês? Não vão comer?
  Claro, bonitão. Respondeu Psycho, rindo baixo.
Então, em seguida, o mercenário que havia acabado de preparar a refeição tirou sua máscara. A visão do rosto de Pyscho chocou aqueles que não haviam, anteriormente, o visto. O homem era calvo, sem barba. Toda a superfície de sua cabeça alva era marcada por cicatrizes de, talvez, centenas de pequenos cortes. Seus lábios eram finos e rachados. As íris negras de seus olhos tinham um brilho frio. Então, Psycho disse apontando para a própria face:
Isso tudo é conversa pra outro dia. Se vocês não se incomodam, eu vou permanecer sem a minha máscara por enquanto.
Todos os outros pareciam se entreolhar. Enfim, parecia que ninguém comentaria nada. O clima de tranqüilidade e companheirismo deveria ser mantido. Foi então que Specter comentou:
E eu achando que eu e minha irmã éramos os únicos que éramos assassinos antes de nos tornarmos mercenários...
Com esse comentário, todos os outros voltaram seus olhares para Pyscho. O homem riu baixo e, então, disse:
Como eu já havia dito... Isso é conversa pra outro dia. Ele pegou um pedaço de carne de ave e o levou à boca. Após engolir, ele continuou a falar. E vocês? Temos três encapuzados aqui que eu nunca vi o rosto. Ghost... Specter... Psycho se voltou para o Mago. E não vamos nos esquecer do nosso amigo contratante.
O Mago olhou na direção dos irmãos. O gesto foi recíproco. Os outros olhavam na direção deles. Era óbvio que eles estavam curiosos para saber como eles realmente eram. Então, após murmurarem algo, Ghost e Specter abaixaram seus capuzes, surpreendendo a todos.
Claramente os dois eram irmãos. Os cabelos negros. Os olhos azuis claros penetrantes. A pele pálida. A expressão de serenidade no rosto magro. Todos eram aspectos que os dois assassinos compartilhavam.
Entretanto, também havia diferenças. Specter, por exemplo, parecia ser ainda mais magro que a irmã, basicamente pelo fato de ele ser alto. Com quase um metro e oitenta de altura, o jovem de cabelo desgrenhado não se parecia nem um pouco como um mercenário. Entretanto, ele já havia mostrado ser um excelente lutador em lutas corpo a corpo. Certamente, por mais magro que esguio que fosse o seu físico, Specter era bem musculoso. Ghost, além de não parecer ser uma mercenária, também não parecia ser uma assassina. O rosto delicado da jovem, somado a baixa estatura, um pouco menos de um metro e sessenta, faziam com que ela parecesse uma jovem frágil. Entretanto, após todos a verem em ação, ninguém ousaria dizer algo do gênero.
Parecendo satisfeito, Psycho, então, disse:
Não doeu, não é? Ele riu baixo e, então, voltou-se para o Mago. Só falta você...
Os olhares de todos agora estavam voltados para o Mago. Ele não conseguia entender o porquê de tamanha curiosidade. Enfim, após bufar, o Mago baixou o capuz.
Sua pele era ligeiramente morena. Seus cabelos castanhos curtos eram levemente espetados. Seu rosto liso tinha uma expressão de seriedade. Porém, eram os olhos que chamavam mais atenção, uma vez que suas íris tinham uma coloração violeta que parecia brilhar.
Aquela característica era muito comum em seu povo, por isso o Mago não entendia por que todos os mercenários a sua volta olhavam embasbacados para ele.
Entretanto, antes que alguém pudesse falar mais alguma coisa, um ruído soou. Os dez se voltaram para a origem do barulho. O que quer que fosse aquilo, vinha de dentro do prédio à frente deles.
Mais vezes aquele som soou. Aquilo parecia estar se aproximando dos dez. Ao perceberem isso, todos brandiram suas armas. Eles não poderiam permanecer a guarda baixa. Uma criatura desconhecida poderia vir contra eles a qualquer momento.
Em poucos instantes, os sons se aproximaram. Agora, eles podiam, parcialmente, distinguir o que era aquilo. Pareciam passos dados por alguém trajando uma armadura pesada misturado com algo que eles nunca haviam ouvido antes.
Passados mais alguns instantes, a porta da edificação se abriu. De lá, saiu a criatura mais estranha que eles já haviam visto.
A primeira vista, o ser, esguio, parecia trajar uma armadura de aço prateado que estava colada a sua pele. Entretanto, quanto mais ele se aproximava, mais os dez tiverem certeza de uma coisa: aquela era a pele daquele monstro.
A criatura humanoide carregava em suas costas um objeto que nenhum dos dez poderia conhecer. A arma de metal negro com quase um metro de comprimento não tinha lâminas. Entretanto, ela tinha um gatilho, mira com lentes, um cano, munição e um gatilho.
O androide, então, olhou um por um dos dez com seus olhos completamente brancos, analisando-os minuciosamente. Por fim, ele se dirigiu ao Mago. Com sua voz distorcida, o androide disse como se lamentasse:
Isso tudo é culpa do seu povo podre...

Com essas palavras, ele apontou o rifle para a cabeça do Mago.

domingo, 26 de abril de 2015

A Queda, Capítulo 5

Alfa


Com as mãos próximas da extremidade irregular do cajado, rapidamente, o Mago atacou o oponente que estava no ar. A arma, que emanava chamas, acertou a lateral esquerda da face do Lobo Alfa em um golpe horizontal vindo da direita para a esquerda. O impacto lançou a criatura pouco mais de um metro para trás. Entretanto, o golpe parecia não ter afetado o animal. Rosnando e exibindo ameaçadoramente as presas, o lobo parecia estar apenas irritado.
Enquanto isso, Overseer tinha três oponentes para enfrentar. Entretanto, por mais habilidoso que o líder mercenário fosse, ele sabia que não era mais o mesmo de outrora. Os anos haviam o enfraquecido, tirando sua agilidade, tanto física tanto mental. A experiência que ele havia ganhado com os anos, entretanto, era essencial para poder liderar aquele clã. Sua sabedoria, somada ao seu carisma e senso de justiça, o tornavam um grande líder. Overseer, bem como todos os outros que o conheciam, sabiam disso. E é exatamente por ser sábio que ele tinha que reconhecer que aquela luta podia ser desafiadora. Aqueles animais eram muito mais ágeis que ele. Felizmente, um deles estava imobilizado, com as patas congeladas no chão. As outras duas feras já não estavam em condições plenas para lutar. Isso tudo graças ao Mago. Overseer sabia que o contratante não havia feito aquilo para se exibir. Aquele não combinava como Mago. Enfraquecer as feras para ajudar o aliado, permitindo que esse aliado pudesse parecer forte nos olhos daqueles que o respeitavam. Aquilo parecia algo do feitio do Mago.
Tendo isso em mente e um sorriso no rosto, Overseer apontou sua refinada espada prateada na direção das feras a sua frente. Rosnando, os lobos aceitaram o desafio. Um deles avançou pela frente. O outro, entretanto, seguia mais rapidamente por uma trajetória curva. Overseer entendia aquela estratégia perfeitamente. As feras esperavam que ele permanecesse imóvel, pronto para um contra-ataque. E era aquilo o que o líder mercenário faria, já que não tinha chance de vencê-las sendo mais ágil. Porém, Overseer sabia o que aconteceria com ele se ele permanecesse parado. As velocidades das criaturas eram diferentes, entretanto, também eram as distâncias que elas percorriam. Assim, em determinado instante, ambas atacariam simultaneamente. Um lobo o flanquearia enquanto o outro desferiria um ataque frontal. Prevendo a estratégia de seus oponentes, então, Overseer sorriu calmamente e, o mais rapidamente possível, avançou em linha reta.
Aquilo fez com que o lobo a frente do mercenário fosse obrigado a antecipar o seu ataque, exatamente como ele previu. Com um movimento rápido, Overseer brandiu sua espada para frente, fazendo com que a fera, ao pular, fosse de encontro contra a lâmina. Assim, a arma nas mãos do mercenário entrasse na boca da criatura e, por fim, atravessasse seu crânio. Quanto à outra criatura, ela agora avançava contra Overseer, ainda pela lateral. A espada do mercenário ainda estava cravada no outro animal, mas ele sabia que aquilo não seria problema. Overseer trouxe o corpo da fera morta para perto. Com a mão esquerda, ele segurava o animal. Com a direita, a arma. O lobo avançava ferozmente contra ele. Então, em um momento, tudo acabou. A fera pulou contra o mercenário que, em um instante, conseguiu retirar a lâmina, com força, do crânio da criatura morta e, no mesmo movimento, golpear o animal que o atacaria em pleno ar, sem mesmo olhar para o lobo, decapitando-o.
Enquanto isso, o Mago ainda travava o seu duelo contra o Lobo Alfa. Desviar das investidas do animal e, em seguida, atacar com golpes rápidos com o cajado normalmente era uma estratégia eficaz, gastando o mínimo de energia possível e conseguindo, sem muito esforço, nocautear o adversário. Tais habilidades estavam muito além da maioria dos magos, conhecidos pela sua força mental, e não física. Entretanto, o Mago manipulava fogo, gelo e eletricidade com maestria. Isso, sem dúvida, o tornava membro de uma categoria rara de pessoas, tendo grande força e agilidade não só física, mas como também mental. Porém, nada parecia ser capaz de matar o Lobo Alfa.
O Mago precisava derrotar logo o seu adversário. Ele, bem como boa parte de seu povo, tinha certo conhecimento sobre animais. Para o Mago era uma hipótese plausível que, uma vez que o Lobo Alfa fosse derrotado, os demais lobos desistiriam de atacar suas presas e, então, fugiriam. Por isso, os mercenários dependeriam dele naquele momento, pois, ele tinha certeza que mais feras surgiriam enquanto o líder delas ainda estivesse de pé.
Entre esquivas e golpes com o cajado, o Mago já havia lançado de bolas de fogo a raios a correntes de ar gélidas contra o oponente. A criatura, entretanto, não parecia se abalar. Nenhum dos elementos que o Mago manejava tão bem parecia funcionar contra a fera. Era quase como se a pelagem cor de grafite do animal o tornasse imune a tudo aquilo. E, para agravar a situação, a cada segundo que se passava, o Mago ficava mais e mais cansado. A exaustão causada pelo desgaste físico, lutando com o cajado, e espiritual, usando magia, faria com que ele fosse eventualmente atingido pela criatura. Embora ofegante, o Mago não desistiria. Ele sabia como ganhar aquela luta. Porém, ele esperava não ter que chegar a fazer aquilo.
A tribo a qual o Mago pertencia tinha muitos costumes e tradições consideradas, no mínimo, estranhas para o resto do mundo. O contato com a natureza e o talento natural de manejar alguns elementos com magia era, sem dúvida, algo fora do normal para aquelas que eram de outros povos. Entretanto, talvez o que causasse mais estranhamento para os forasteiros fosse o que os membros da tribo não faziam. Afinal, eles eram extremamente poderosos. A manipulação de magia somada ao conhecimento do inimaginável eram ferramentas poderosas. Assim, eles poderiam se firmar, sem muitos problemas, como os governantes do mundo. No entanto, eles se contentavam em manter pequenos grupos pacíficos espalhados pelo mundo, sem construir castelos e exércitos como os outros faziam. Isso tudo por causa dos ensinamentos que eram passados de geração em geração. Assim sendo, eles tinham certas proibições. Portanto, essa era a justificativa, por mais que não muito profunda, para eles, por exemplo, não usaram os cristais e, na maioria dos casos, evitarem matar outros seres vivos. Naquela situação, o Mago não deveria matar o Lobo Alfa. Afinal, ele era apenas um animal. Caso não fosse se alimentar da carne do animal ou usar sua pele para algo útil, o Mago deveria apenas o nocautear o lobo. Entretanto, o jeito não letal não estava funcionando. Se o Mago não matasse a criatura, ele seria morto por ela. Após respirar fundo, o homem em frente à fera refletiu sobre aquilo. Uma vez que ele já estava desrespeitando algumas regras de seu povo, como entrar naquelas ruínas e se aliar a mercenários que usavam discriminadamente os cristais, o Mago concluiu que matar aquele lobo seria algo quase trivial. Assim, ele avançou contra a fera.
O cajado nas mãos do Mago brilhava. O tom vermelho da arma bruxuleava. O Lobo Alfa rosnava, preparando-se para contra-atacar. Entretanto, a fera não tinha como imaginar a magnitude do próximo ataque que estava por vir. Ao apontar o cajado na direção da criatura, chamas surgiram. Entretanto, não foi um simples ataque. A magia era contínua. Ininterruptamente, chamas surgiam e se dissipavam da extremidade irregular do cajado. O fogo, como previsto, não causava danos à fera. Entretanto, o calor gerado pela magia incomodava o animal, fazendo-o recuar lentamente. E era exatamente isso o que o Mago queria. Mudando seu cajado para o normal, ele atacou. O primeiro golpe veio da esquerda para a direita, acertando o lado direito da face da fera. Em seguida, com um movimento rápido, o Mago atacou com o movimento oposto o outro lado da face da criatura. Aqueles dois golpes foram o suficiente para aturdir ligeiramente o Lobo Alfa. Assim, o Mago conseguiu uma brecha para mais um ataque. Virando de costas, tornando-se extremamente exposto por alguns instantes, ele atacou a fera com a extremidade regular do cajado. Como uma estocada, ele acertou a criatura exatamente entre os olhos. Agora, a criatura estava claramente desorientada. O Mago se voltou, novamente, para frente. Com um salto frontal, ele aterrissou com a extremidade regular do cajado no topo da cabeça do Lobo Alfa, batendo-a contra o chão. O Mago não tinha mais como recuar agora. Com o pé direito, ele pisou em cima da cabeça do Lobo Alfa, segurando-o contra o piso metálico. Enquanto o animal rosnava, tentando se levantar, o Mago girou o cajado no ar enquanto a arma mudava de cor. O poder do gelo emanava agora da haste em suas mãos. O Mago, agora, segurava alto o cajado. A extremidade irregular apontava para baixo. O centro da arma estava bem diante de seus olhos, cerca de três centímetros de distância de seu nariz. Então, em um instante, o Mago atacou para baixo. Em uma fração de segundos, uma lâmina, afiada como a de uma adaga, surgiu na extremidade irregular do cajado. Assim, a arma se tornou uma lança, com uma ponta feita de gelo, e, então, cravou-se na nuca do Lobo Alfa.
Enfim, a criatura foi morta.
O Mago respirou fundo, acalmando-se, e, por fim, ele olhou a sua volta.
Os mercenários já haviam derrotado vários daqueles animais e, entretanto, mais pareciam surgir. Entretanto, tudo acabou naquele momento.
No momento em que o Lobo Alfa morreu, ele emitiu um último som. Parecia um uivo baixo e grave. Porém, aquele ruído silencioso parecia ter se espalhado pelo campo de batalha.
Em um instante, todos os lobos remanescentes tiveram a sua atenção voltada para o seu líder caído. Era como se fosse uma última ordem do Lobo Alfa. E seus subordinados a obedeceram. Rapidamente, eles se dispersaram, fugindo do local, correndo para ruas e becos.
Naquele momento, todos os mercenários se entreolharam. E seguida, seus olhos se voltaram na direção do Mago. Ninguém precisava dizer nada. Estavam todos cansados naquele instante e, ao mesmo tempo aliviados. Todos haviam sobrevivido. Ninguém estava ferido. Aquilo já era motivo suficiente para celebrarem. Então, Overseer disse, em alto e bom som:
Nada mal. Nada mal mesmo... Ele riu baixo. Eu diria que merecemos uma pausa.

Ninguém questionou. Ao ouvirem aquelas palavras, o corpo de todos os dez parecia ter amolecido. No segundo seguinte, todos estavam sentados ou deitados no chão. Alguns resolveram se apoiar em alguma parede. O chão gélido de metal azulado parecia, de repente, extremamente confortável.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Anúncio 4

Bem, hoje eu vou ter que ser sincero: hoje eu não vou conseguir escrever nada. Basicamente pelo fato de que eu tô meio sem tempo e disposição. Por quê? Porque eu estou resolvendo algumas coisas refertes ao livro principal, como o registro de direitos autorais e a apresentação dele para editoras.
Eu peço desculpas por não conseguir postar nada hoje sem ser este anúncio, mas a prioridade mesmo agora é resolver essa etapa que pode levar, talvez, à publicação do livro.
A propósito, o nome do livro será Soulless, traduzindo, Desalmado. Quem já leu pelo menos um pouco do livro vai entender o porquê.
Enfim, em breve eu vou poder escrever mais um conto ou até mais um capítulo de algumas das séries novas.
Voltaremos assim que possível para a programação normal.

terça-feira, 21 de abril de 2015

A Queda, Capítulo 4

Confronto


Enfrentar animais selvagens não era a especialidade da maioria dos mercenários ali reunidos. Entretanto, um confronto com alguns lobos não seria um problema, independentemente do tamanho deles.
Mais e mais criaturas pareciam surgir. Os animais tentavam cercar os mercenários e o Mago, separando-os um dos outros. Porém, a maioria deles já estava acostumada a lutar individualmente. A estratégia das feras era boa, mas não era tão efetiva contra os adversários em questão.
Juggernaut olhos para os seus lados. À esquerda, bem como à direita, havia um lobo. O guerreiro segurou sua espada, firmemente, com ambas as mãos. No momento em que os lobos avançaram, ele se voltou para a direita e atacou. Com um golpe horizontal, vindo da esquerda para a direita, Juggernaut decepou o topo da cabeça de um dos lobos bem acima do focinho da fera. Inabalada, a outra criatura pulou nas costas do guerreiro, tentando fincar suas garras no oponente, agarrando-se nele. Entretanto, a armadura era resistente. As garras criaram pequenos sulcos na superfície de metal, mas não atingiram a pele de Juggernaut. Mesmo assim, aquela não era a intenção do lobo. Uma vez nas costas do guerreiro, a fera atacou com uma mordida a cabeça do adversário. As presas do lobo eram consideravelmente mais poderosas do que suas garras. Logo, o elmo de Juggernaut começava a ser triturado. Rapidamente, o guerreiro, utilizando a sua mão esquerda, agarrou a fera de suas costas e a arremessou para frente. O lobo atingiu o solo. O impacto parecia não ter causado muito dano à fera. Rapidamente, a criatura já estava de pé. Sem hesitar, o lobo pulou contra Juggernaut. Novamente, o guerreiro utilizou sua mão esquerda contra a fera. Desta vez, ele agarrou o lobo em pleno ar, apertando o pescoço do animal. Rapidamente, Juggernaut atacou com o pomo de sua espada que estava na mão direita. O golpe deixou a fera aturdida. Logo, o guerreiro a soltou, deixando a criatura cair no chão e, então, atacando com sua espada. Com um golpe vindo de cima para baixo, Juggernaut acertou o estômago do animal, transpassando suas costas e erguendo o agora corpo sem vida do lobo.
Silver contemplava calmamente as três criaturas a sua frente. Ele tinha certeza que elas tentariam atacar todas de uma vez. Assim, não havia como o mercenário se defender. Logicamente, ele teria que usar uma de suas armas favoritas: os seus cristais. Rapidamente, Silver retirou de seu cinturão um cristal amarelo e o esmagou com a mão direita. Ao apontar para frente, raios surgiram de seus dedos. Em um piscar de olhos, a descarga elétrica acertou o lobo que estava no meio dos outros. Instantaneamente, o pelo da fera se encolheu, defensivamente, com todos os fios de pelo de seu corpo arrepiados e, enfim, permanecendo paralisada naquela posição. As duas outras criaturas rosnaram. Silver sorriu satisfeito. Rapidamente, os dois lobos vieram contra o mercenário simultaneamente, como era esperado. Sem hesitar, Silver arremessou sua adaga contra o lobo que estava à esquerda. A arma atingiu a cabeça da fera, exatamente entre os seus olhos, matando-a no instante em que a lâmina atravessou seu crânio. Entretanto, a outra criatura ainda avançava contra Silver que, agora, estava desarmado. Erguendo o braço direito, rapidamente, o mercenário pôde se defender das garras do lobo e, ainda por cima, golpear a fera. O golpe, entretanto, não causara dano à criatura, mas foi o suficiente para abrir um pouco de espaço entre os dois. Usando esta vantagem, Silver levou sua mão direita ao seu cinturão, pegando, desta vez, uma jóia azulada, quase branca: o cristal com o poder do gelo. Com isso, o mercenário congelou as patas do lobo no chão. Com uma expressão de alívio no rosto, Silver andou calmamente até o lobo que ele havia matado com sua adaga e, com força, puxou a sua arma do crânio do animal morto. Agora armado, o mercenário atacou o estômago do lobo que, indefeso, apenas rosnava. Um golpe bem aplicado fora o suficiente para ceifar a vida daquela criatura. Com a mesma calma, ele agora andou até o lobo que havia sido paralisado. A fera caminhava na direção de Silver. Claramente, o efeito da paralisia havia chego ao fim. Porém, o animal parecia entorpecido. Claramente, os raios haviam causado algum dano à fera. Com um movimento lento, o lobo tentou atacar Silver com suas presas. Rapidamente, ele desferiu um golpe horizontal com sua adaga. Em um instante, a arma do mercenário havia cortado a garganta do animal que, em poucos instantes, estaria morto.
Judge tentava se concentrar. A sua frente havia dois lobos. Atrás, havia mais um. Os rosnados das criaturas não a incomodavam. Sua tranqüilidade naquele momento era quase desumana. Judge apostava que sal melhor chance de vencer aquelas ágeis criaturas era contra-atacando. Assim sendo, ela não se movia. Seus braços estavam abaixados. Entretanto, ela carregava seu escudo na mão esquerda e, na direita, ela segurava o cabo de sua espada que estava embainhada. Após alguns segundos, as feras pararam de rosnar e, então, avançaram. Quase como se tivesse levado um choque, Judge resolveu agir. Após dar um passo largo para frente, a guerreira, em um único movimento, estendeu seu escudo para frente enquanto desembainhava sua espada. A lâmina atingiu a criatura à direita, decepando sua perna dianteira direita. Enquanto isso, o escudo acertou a face do lobo que estava à esquerda, arremessando-o para trás e o aturdindo. Com um passo rápido para a esquerda, Judge desviou da investida da criatura que estava atrás dela. Então, em seguida, a guerreira golpeou a cabeça da fera ao seu lado com o escudo, aturdindo mais um de seus oponentes. Rapidamente, ela atacou a criatura a sua frente, cravando a espada nas costas do lobo. Enquanto Judge calmamente retirava sua arma do corpo da fera morta, as outras duas voltaram a rosnar. A guerreira fitou os dois adversários. Claramente, o lobo que estava à esquerda avançaria mais rápido. Assim, ela ignorou momentaneamente a outra fera. Vorazmente, a criatura da esquerda atacou. Mais uma vez, Jugde golpeou a fera com seu escudo, aturdindo o oponente ainda mais do que antes. Assim, tranquilamente, ela pôde atacar o lobo com uma estocada, perfurando o crânio do animal. Ao virar a cabeça para trás, a guerreira viu que, sorrateiramente, a outra fera se aproximava dela. Apesar do sangue que escorria do ferimento, o lobo parecia determinado a atacar. Entretanto, aquilo não era um oponente digno para Judge. Com o pomo de sua espada, a guerreira golpeou a cabeça da fera, arremessando-a ligeiramente para trás e, por fim, fazendo-a virar seu focinho para o lado esquerdo, como reflexo após receber um golpe. Com essa posição, Judge não podia hesitar em atacar. Com um golpe vertical, vindo de cima para baixo, ela decapitou o último lobo.
Huntress precisava de espaço. Enfrentar dois lobos seria muito fácil para ela. Mas, para isso, ela precisava estar a uma distância segura para poder atacar com seu arco e suas flechas. Com as duas feras tão próximas dela, talvez ela não tivesse tempo de preparar o seu ataque. Por isso, ela teria que ser ágil. Sendo assim, com o arco nas costas, a mercenária começou a correr para longe. Rosnando, as feras a seguiam vorazmente. Em meio ao caos das outras lutas que aconteciam, a arqueira planejava e executava rapidamente todos os seus movimentos. Sem aparente dificuldade, ela atravessou o campo de batalha sem sofrer qualquer tipo de dano. Entretanto, a sua dupla de oponentes também estava intacta. Pelo menos, para a felicidade de Huntress, ela havia conseguido abrir alguma distância em relação às feras. Pelo julgamento dela, aquilo não seria o suficiente para resolver lutar, principalmente em uma situação como aquelas: um campo aberto sem ter onde se proteger. Porém, um sorriso surgiu no rosto dela ao ver, não muito longe dali, uma daquelas estruturas de metal esmagadas contra o solo. Com um pouco de sorte e muita habilidade, aquilo mudaria aquela situação para a melhor. Determinada, Huntress correu até a estrutura de metal contorcida. Ela não era mais rápida que os lobos, mas, por causa da distância inicial, talvez ela conseguisse chegar ao lugar antes que as criaturas. E, assim, por uma questão de centésimos de segundos, a mercenária chegou até a estrutura de metal e pulou por cima dela. Rapidamente, ela se agachou atrás da proteção improvisada e puxou seu arco das costas. Como esperado, um dos lobos pulou por cima da estrutura de metal e correu por mais um segundo. Quando a fera percebeu o que havia acontecido, ela se virou para trás. No mesmo instante, uma flecha partiu do arco de Huntress. O projétil acertou o animal exatamente entre os olhos, matando-o instantaneamente. Entretanto, a arqueira não tinha tempo para comemorar. Ela sabia que a outra criatura não havia aparecido. Então, ao olhar para a direita, Huntress a viu. A fera estava se encolhendo, preparando-se para uma investida. Rapidamente, dando um chute contra a estrutura metálica, a arqueira saltou por cima do lobo, desviando do ataque do animal e, ainda por cima, agarrando a criatura, puxando-a com o arco para perto de si. Entretanto, a fera não estava completamente imobilizada. Ferozmente, o lobo se debatia, tentando se libertar. Então, rapidamente, Huntress puxou uma flecha de sua aljava e, sem hesitar, a cravou na cabeça da criatura, bem acima do olho esquerdo, tirando a sua vida.
Pierce parecia estar impaciente. A especialidade dele eram duelos contra outros guerreiros. Feras selvagens não tinham a mesma graça ou habilidade lutando. Ele sentia que todo o seu treinamento em esgrima seria desperdiçado em uma luta bruta como aquela. Além disso, Pierce não gostava ter que enfrentar mais de um inimigo ao mesmo tempo. Um único oponente digno era muito mais satisfatório de derrotar do que vários insignificantes. Mas, sem outra opção, ele apontava o seu florete exatamente para o meio dos dois lobos e esperou eles atacarem. Após rosnarem pelo o que parecia ser uma eternidade para Pierce, as duas criaturas avançaram simultaneamente. Com claro desgosto no rosto, o esgrimista puxou algo de um bolso. Era um cristal elétrico. Sem hesitar, ele esmagou a jóia com a mão esquerda e apontou para o lobo que estava à direita. Instantaneamente, a criatura, agora com os pelos arrepiados, fora paralisada. Enquanto isso, o outro lobo investiu contra Pierce. Enquanto o animal estava no meio no ar, o esgrimista atacou. O florete acertou o pescoço da fera, perfurando-o e tirando a vida do lobo. Em seguida, Pierce olhou para a outra criatura. Claramente, o efeito da paralisia ainda não havia passado. Por mais que matar um inimigo indefeso não o agradasse, o esgrimista detestava ter que continuar lutando contra aquelas feras selvagens. Após respirar fundo, Pierce se aproximou do animal e, com seu florete, atravessou, da direita para a esquerda, a cabeça do lobo.
Psycho parecia agitado. Ele girava os machados nas mãos enquanto observava os três animais a sua frente. O trio de feras apenas rosnava. Aquilo, a princípio, havia deixado o mercenário animado para lutar. Passados alguns segundos, ao ver que os animais pareciam estar tendo algum tipo de conversa, Pyscho ficou entediado. Assim sendo, ele guardou um dos machados nas costas e tirou um cristal do bolso. A jóia, vermelha, tinha o poder do fogo. Com a mão esquerda, ele apertou a pedra até a esmigalhar e, então, lançou uma gigantesca bola de fogo. Apesar de grande, o projétil era lento. Ao se evadirem para trás, o trio de criaturas se safou do ataque tranquilamente. Entretanto, acertá-los não era a intenção de Psycho desde o começo. Ao se chocar contra o solo, a esfera de fogo se transformou em uma parede de chamas. A ação surpreendeu os animais. Aquilo fez com que eles não reagissem. E era exatamente isso o que Pyscho queria. Através das chamas, um machado foi arremessado, cortando o topo da cabeça de uma da fera que estava à esquerda ao meio. Um segundo depois, o próprio mercenário pulou através do fogo, caindo exatamente com a lâmina de seu outro machado na cabeça do lobo da direita, cortando toda a cabeça do animal ao meio. Ao olhar para o lado, porém, Psycho viu que a criatura remanescente pulava para atacá-lo. Deixando seu machado no chão, o mercenário agarrou o animal no meio do ar e, então, o arremessou metros para trás. Calmamente, Pyscho pegou um de seus machados de volta e encarou a última das feras. Ela parecia não ter recebido dano algum e, então, já tomava mais distância para investir contra o mercenário. Agitado, Psycho resolveu correr contra a fera. Em poucos instantes, os dois já estavam cara a cara. No momento em que o lobo saltou para atacar, Pyscho se jogou no chão, deslizando por baixo da criatura e, rapidamente, golpeando a barriga exposta do lobo, abrindo um corte vertical perfeito no animal. O mercenário, então, levantou-se para pegar seu outro machado enquanto a fera sangrava até a morte.
Ghost e Specter estavam um ao lado do outro. Aparentemente, nem aquelas criaturas conseguiriam separar os irmãos assassinos. Entretanto, haviam, no momento, cinco feras ao redor da dupla. Os dois preferiam não ter que enfrentar animais. Afinal, eles foram treinados para serem assassinos, e não caçadores. Entretanto, em situações de vida ou morte, eles sabiam muito bem que não podiam se dar ao luxo de escolherem os alvos. Então, os irmãos resolveram dar tudo de si, como era de costume, nessa luta. Em uma fração de segundos, Ghost já havia arremessado duas facas. As lâminas acertaram, com perfeição a testa de dois dos lobos. Enquanto isso, Specter pegou um cristal amarelo e, então, o quebrou. A carga elétrica percorreu o seu corpo sem lhe causar danos. Então, ele avançou contra uma duas feras que vinham contra ele. Calmamente, Ghost desviava dos ataques de outra criatura. Certamente, ela era mais ágil que o animal. Entretanto, ela ainda não havia conseguido espaço o suficiente para arremessar outra faca. Specter, agora, por sua vez, atacava duas feras ao mesmo tempo desferindo, apenas, socos e chutes. A cada acerto dele, parte da carga elétrica do cristal causava dano contra os animais. Bem como a irmã, ele também parecia ser impossível de ser atingido. Após alguns instantes, Ghost conseguiu uma brecha para arremessar uma faca. Entretanto, o alvo não era a criatura a sua frente. Em uma fração de segundos, a lâmina atravessou o ar e chegou até a mão direita de Specter. Agora armado, o assassino atacou as feras com a faca. Dois ataques foram tudo o que ele precisou para desferir os golpes de misericórdia contra a dupla de lobos, afinal, os dois já haviam sido enfraquecidos pelos golpes elétricos do assassino. Logo em seguida, Specter olhou para trás. Tranquilamente, Ghost desviava dos ataques da criatura. O assassino não gostava que sua irmã se expusesse em lutas corpo a corpo, então, ele pedia que ela usasse apenas as facas para arremesso que, afinal, eram a especialidade dela. Assim sendo, Specter concentrou o que restava de eletricidade nele na faca que estava em sua mão e, então, a arremessou contra o lobo. A lâmina atingiu as costas do animal que, rapidamente, foi paralisado. Calmamente, Ghost andou até o lobo e, com um movimento rápido, dilacerou a garganta da criatura com outra das simples facas de arremesso.
Overseer e o Mago conseguiram, também, formar uma dupla. Contra eles, porém, estava um desafio: três lobos e, um pouco mais distante, o Lobo Alfa. Após respirar fundo, o Mago perguntou:
Você pode cuidar dos três menores sozinho, Overseer?
É claro que sim. O líder mercenário respondeu sorrindo. Divirta-se com o grandalhão!
Obrigado.
Calmamente, o Mago andou na direção do Lobo Alfa. Entretanto, as outras criaturas avançaram contra ele. Antes que Overseer pudesse dizer alguma coisa, o Mago atacou com sua arma. Com um golpe horizontal, da direita para a esquerda, ele acertou a primeira fera que se aproximou, aturdindo-a. O próximo lobo investiu contra ele. Calmamente, com a ponta regular do cajado, ele atacou o pescoço do animal, derrubando-o. Por fim, a terceira fera avançou. Em uma fração de segundos o cajado do Mago mudou de cor. Agora, ele tinha uma cor azulada, quase branca. Com um movimento rápido, o Mago congelou as patas do lobo no chão. Tranquilamente, ele continuou andando até o Lobo Alfa. O animal rosnou. O cajado, então, mudou de cor. A arma, agora, brilhava intensamente como labaredas.

O Mago respirou fundo. A criatura uivou e, então, avançou contra ele.

domingo, 19 de abril de 2015

A Queda, Capítulo 3

Criaturas


Enquanto andavam pelas ruínas da cidade, a equipe estava atenta a tudo a sua volta. Assim, eles não só estavam preparados para algum ataque surpresa, como também observavam o próprio lugar. Agora mais próximos, o mago e os mercenários, enxergavam, detalhadamente, as ruas e as edificações da cidade abandonada.
Apesar dos sons emitidos por o que se supunha ser animais, a área parecia estar bem conservada, quase como se as formas de vida do local não rondassem o local. Entretanto, havia alguns objetos não identificados. Nenhuma das dez pessoas sabia dizer o que eram aquelas coisas. Estruturas de metal, aparentemente mais complexas que todo o resto a sua volta, estavam espalhadas pela cidade. Todas estavam inertes, sendo que algumas estavam intactas enquanto outras pareciam ter sido esmagadas contra o solo.
Os prédios pareciam fortificações. A maioria tinha a mesma altura, cerca de cinqüenta metros, como se fossem padronizados. Entretanto, havia algumas edificações mais imponentes, como torres, que passavam dos cem, duzentos ou quinhentos metros. As paredes lisas e polidas de metal azulado eram impressionantes. Todos os prédios seguiam esse padrão, tendo também janelas de vidro cristalinas e portões sólidos que pareciam ser feitos para guardar tesouros.
Os dez companheiros sem dúvida estavam impressionados por tudo aquilo. Porém, eles estavam inquietos. Um mau pressentimento parecia percorrer a espinha de todos a cada ruído que eles ouviam. Eles não tinham como saber que tipo de criaturas habitava aquele lugar, além de não saberem se haveria alguma armadilha próxima. O ar frio da cidade somada a atmosfera morta do lugar, com as luzes brancas e as cores azuis metálicas, contribuíam para esse sentimento.
A equipe já andava pelo local há, pelo menos, quinze, minutos. Alguns deles apenas murmuravam comentários para aqueles que estavam próximos. Outros, entretanto, permaneciam calados, como Ghost e Specter, que andavam, cerca de cinco metros, atrás do resto do grupo.
Eles deixavam o Mago preocupado e Overseer havia percebido. Então, o líder do Blood Moon disse calmamente para o aliado:
Não se preocupe com aqueles dois. Eles estão do nosso lado.
Você confia completamente nos dois? Perguntou o Mago.
Confiar completamente? Overseer riu baixo. Eu nem confio completamente no meu bom senso, Mago. Eu não acho que eu possa confiar cegamente em ninguém.
Isso é sábio de sua parte.
Obrigado, mas... Com uma pausa rápida, ele olhou para trás, na direção dos dois encapuzados. Sinceramente...eu confio mais naqueles dois do que em qualquer outro aqui.
Acredito que você tenha os seus motivos para isso. O Mago ponderou por alguns instantes. Eles salvaram a sua vida em alguma ocasião, certo?
Certo. E eu salvei as deles antes. O líder mercenário respirou fundo. A vida desses jovens não deve ter sido nem um pouco fácil...
Jovens, você diz? O Mago soou um pouco surpreso. Quantos anos eles têm?
Eu não tenho certeza, mas...talvez...vinte anos, o Specter, e dezoito, a Ghost.  
Entendo... Então, qual é a história deles?
Eles são irmãos. Membros de um clã de assassinos desde que eles se entendem por gente. Mas, aparentemente, eles foram...ah, “adotados”. Talvez os assassinos tenham matado os pais deles e, então, criaram eles desde pequenos para serem matadores.
Um método deveras cruel.
Concordo.
Entretanto...quanto à formação deles como assassinos...
Deu muito certo.
Entendo...
Mas, mesmo assim, eu peço que não os tema. Enquanto eles estiverem do nosso lado, você pode confiar a sua vida a eles.
“Enquanto eles estiverem do nosso lado”. O Mago repetiu. Isso deveria gerar confiança?
Ah... Overseer deu de ombros. Eu esperava que sim. Mas eu só estou sendo realista. Eles já foram leais a um clã de assassinos. Agora eles são leais a nós. Enquanto não nos desentendermos, estaremos bem.
Certo...
Mas alguém o preocupa?
Na verdade, não. Não duvido na habilidade de luta dos outros, mas...não creio que ocorrerá nenhum conflito. Pelo menos, não comigo.
Ora... Overseer riu baixo. É tão óbvio assim?
Um pouco. Mas eu espero certo profissionalismo deles. Não creio que eles vão se deixar levar pelas próprias emoções. Ao menos, não durante uma situação como essa.
É... Eu também espero que você esteja certo.
O Mago olhou, de relance, todos os membros da equipe e, então, disse:
Você reuniu essa equipe apenas pensando nas habilidades individuais de cada um. Você realmente não pensou no lado emocional ou psicológico deles, não é?
Ah... Overseer hesitou, mas, após alguns instantes, concordou, assentindo com a cabeça. Você está certo... Mas, sinceramente, esses conflitos não são recentes. Eles nunca nos atrapalharam em nenhuma missão antes...
Mas essa é diferente. O Mago interrompeu o líder mercenário. Não temos um objetivo muito claro. Não sabemos o que iremos encontrar durante o caminho. Não sabemos nem quanto tempo passaremos aqui.
Você tem razão. Overseer bufou. Mas, para ser sincero, nós nunca planejamos muito as coisas na Blood Moon. Parece que cada um consegue se posicionar no campo de batalha e fazer exatamente o que precisa ser feito.
Vocês são verdadeiros guerreiros então. Espero não me decepcionar com vocês.
  Com isso, eu garanto que você não vai ter que se preocupar. Disse Overseer com um sorriso triunfante no rosto.
Ei! Chamou Huntress. Vocês dois!
O Mago e Overseer se voltaram para trás. A mulher com o arco nas costas acenava com o braço esquerdo. O resto do grupo havia seguido por outra direção. Rapidamente, os dois se juntaram a Huntress e, então, ao resto da equipe.
Eles estavam em uma rua, próximos de um beco e uma estrutura metálica destroçada. A frente do resto do grupo estava Silver. Ele tinha um sorriso satisfeito estampado em seu rosto. Em sua mão direita, ele tinha um punhado de cristais. Então, ele disse:
Eu não esperava encontrar essas belezinhas aqui. Ele olhou diretamente para o Mago. Eu achei que esse lugar havia sido selado há muito tempo.
Talvez os cristais sejam apenas realmente antigos. Disse Pierce. Assim, eles já existiriam na época que esse lugar a civilização do passado ainda existisse. Isso não me surpreenderia.
Talvez esse lugar esteja relacionado com a origem dos cristais. Sugeriu Psycho. Me parece bem provável, sendo que não conhecemos nada sobre esse lugar ou essas pedrinhas brilhantes.
Talvez outras passagens deste lugar tenham tido os seus selos quebrados. Disse Judge. Imagino que, com um tamanho desses, este lugar tenha várias passagens.
Naquele momento, todos começaram a trocar olhares até que, enfim, todos encaravam o Mago. Ele, calmamente questionou:
Apenas por eu ser um Mago eu tenho que ter todas as respostas do mundo?
Ué, é assim que todos os magos agem. Silver comentou.
E, sinceramente, ninguém sabe o que o seu povo esconde. Complementou Juggernaut com sua voz abafada pelo elmo.
Sinceramente, nem eu sei exatamente o que o meu povo sabe. Disse o Mago. Muito do conhecimento antigo é reservado para um seleto grupo de anciões que nos lideram. E é exatamente por isso que nós estamos aqui. Eu quero saber o que é que os anciões de meu povo escondem do resto de nós.
E você acha que isso pode estar relacionado aos cristais? Perguntou Huntress.
Antes, era apenas uma hipótese. Mas, agora, ao ver que eles existem aqui também...
Agora é uma certeza. Concluiu Overseer.
O Mago concordou, assentindo com a cabeça.
O líder mercenário respirou fundo e, então, perguntou:
E sobre a tal criatura mitológica? Você não tem nenhum tipo de informação?
Não muitas. Admitiu o Mago. Eu não sei nenhuma característica física dela ou o que ela fez exatamente. Eu apenas sei que o meu povo se refere a ela como uma entidade que traz justiça, uma vez que ela trouxe o fim da civilização desta cidade.
E o seu povo tinha algum problema com essa civilização. Supôs Psycho.
Sim. O Mago concordou.
Esperem. Judge parecia tonta. Mago...você quer dizer que o seu povo causou tudo isso...?
Não teríamos como. Ele respondeu. Dominar uma criatura tão poderosa... Tal feito não estaria ao nosso alcance.
Até onde você sabe. Argumentou Pierce. O seu povo poderia omitir uma informação dessas tranquilamente, não?
O Mago ponderou um pouco e, após bufar, respondeu:
Temo que você esteja certo. Mas...mesmo assim...isso não me parece muito provável. Eu não sei exatamente como explicar. Eu apenas sinto isso.
Certo... Silver murmurou. Bem, eu não sei nada sobre essa criatura também. Mas, eu sei, agora, que existem cristais aqui.
Pode pegar quantos você conseguir carregar. O Mago disse calmamente. Considere isso como parte do pagamento. Em seguida, ele olhou rapidamente para os outros mercenários. Isso vale para todos vocês. Mesmo que vocês não forem usar os cristais, vocês podem muito bem os vender, não?
Com uma cidade deste tamanho, tenho certeza que encontraremos muitos cristais aqui. Comentou Huntress.
Conseguiremos uma boa quantia de dinheiro. Complementou Judge. Disso, eu tenho certeza.
Sendo assim, eu não tenho nada do que reclamar. Disse Silver. Ele olhou rapidamente para frente e, então, voltou-se para os seus companheiros. Então, vamos? Nosso pagamento...
Antes que ele pudesse terminar de falar, uma criatura, vinda do beco próximo a eles, pulou por cima dos restos da estrutura metálica diretamente contra a mão direita de Silver. Em uma fração de segundos, um objeto atingiu o animal, matando-o instantaneamente. O corpo da criatura caiu no chão junto com um cristal vermelho que estava com Silver.
Mas o quê...? Isso foi tudo o que Silver conseguiu balbuciar.
Todos olharam para o chão, na direção da criatura. O animal de meio metro de altura se assemelhava com um coelho. Sua pelagem, entretanto, era no mínimo estranha. A coloração verde parecia brilhar nas patas com garras longas, orelhas longas e caídas, além de na cauda que parecia ser feita de algodão. Seus olhos eram completamente vermelhos. O resto da pelagem era cor de grafite. Os dentes brancos pareciam extremamente afiados.
Cravado em seu pescoço estava o objeto que havia o matado. Era uma faca prateada, simples, com cerca de dez centímetros de comprimento. Naquele instante, alguns dos mercenários se voltaram para uma pessoa: Ghost. Os outros, incluindo o Mago, acompanharam o gesto.
Ao que tudo indicava, Ghost havia sacado e arremessado uma faca naquele pequeno e ágil animal, matando-o com apenas um golpe, antes que qualquer um tivesse tempo de reagir. Por mais admirável que aquilo fosse, infelizmente, o acontecimento apenas deixou o Mago mais inquieto.
Calmamente, Ghost andou até o animal morto e retirou a faca de seu pescoço, limpando-a em sua roupa e a guardando por dentro da manga esquerda de sua roupa. Então, ela disse com sua voz delicada:
Que bicho mais estranho. Nunca vi um coelho pular tão alto.
Sim. Concordou Specter. Sua voz era, estranhamente, gentil e calma. Ainda mais nessas cores.
É bem provável que encontremos mais criaturas estranhas assim, não? Ela perguntou diretamente para o Mago.
Bem...eu creio que sim. Ele respondeu, um pouco relutante, uma vez que ele não conseguia ver o rosto nem de Specter nem de Ghost. Talvez...seja algum tipo de adaptação a esse ambiente. Se eles forem realmente criações da...
O Mago parou de falar. Naquele instante, todos pareciam haver sido paralisados devido ao cheiro que a criatura morta começou a exalar. Era uma mistura equilibrada entre um doce perfume floral com o de uma carne sendo feita na brasa. O aroma conseguiu abrir o apetite de todos. Os dez já imaginavam o gosto da carne macia do animal assada com uma calda levemente doce combinando perfeitamente com ela. Com água na boca, Juggernaut perguntou:
Será que conseguiríamos um tempo pra comer antes de prosseguirmos com a missão?
Será que conseguiríamos achar mais desses bichos? Indagou Psycho.
De repente, eles parecem mais interessantes que os cristais... Admitiu Pierce.
Não exagere. Pediu Silver. Mas... É... Comer não faria mal agora...
Aos poucos, todos andavam na direção do animal, quase como se estivessem hipnotizados. Entretanto, Huntress parecia ter percebido algo e, então, gritou:
Parem!
Todos se voltaram na direção dela. Então, Huntress continuou:
Do mesmo jeito que esse cheiro nos atrai, eles também pode atrair outras coisas.
Todos captaram a mensagem. Logo em seguida, veio um uivo. Do beco, apareceu uma criatura que se assemelhava a um lobo. A pelagem dele era cor de grafite como os do “coelho”. Os olhos brilhantes eram completamente amarelos. As garras cinzentas de suas patas brilhavam como pontas de adagas. As longas e afiadas presas da mandíbula e do maxilar pareciam se entrelaçar, estendendo-se para fora da boca, inclusive nas laterais de sua face. Apesar de estar sobre quatro patas, o animal tinha um pouco mais de dois metros de altura. Com mais um uivo, o “lobo” chamou os seus aliados. Em alguns instantes, versões dele, com cerca de oitenta centímetros a menos de altura, surgiram das ruas à frente e atrás deles, encurralando-os. Havia, pelo menos, duas dezenas daqueles animais agora.
Overseer, então, sorriu e disse:

Muito bem, queridos. Nossa primeira luta nesse lugar... Vamos mostrar ao Mago que nós valemos cada cristal que receberemos!

sábado, 18 de abril de 2015

Capítulo 19

The Four Fists
Os Quatro Punhos

As flechas atingiram a armadura negra de Tristan sem causar nenhum tipo de dano. Os projéteis caíram no chão. Os arqueiros não entendiam o que havia acontecido pela expressão no rosto deles. A aura sombria de Tristan pulsava intensamente.
Eu posso criar um escudo com a minha própria aura. O guerreiro das Trevas disse em um tom  esnobe. É verdade que consumo muito energia assim, mas é bem útil em situações que não tenho muito tempo para reagir, como agora. Ele riu e invocou duas adagas. E vocês? Conseguem?
Tristan arremessou as duas adagas contra o rosto dos oponentes. As lâminas afundaram na testa de cada um dos inimigos. O guerreiro das Trevas normalizou sua aura.
“Aparentemente, não, não conseguem”.
De repente, um virote passou a menos de um centímetro do rosto de Tristan, acertando a garganta de um guerreiro que subia as escadas para atacá-lo. O guerreiro das Trevas olhou de onde o projétil havia vindo. Ele viu Lilith andando em sua direção. Apesar de a máscara cobrir a metade inferior de seu rosto, seus olhos expressavam claramente a sua raiva.
Você tinha mesmo que alertar a todos tão rápido? Lilith indagou.
Eu perdi a paciência. Tristan admitiu. Não gosto de ficar brincando de ser furtivo por muito tempo.
Sei...
Matou quantos?
Dez.
Quem diria...temos um empate. Tristan sorriu.
Uma flecha passou a poucos centímetros entre os dois. Arqueiros haviam se posicionado no pátio central da fortaleza e também nos arredores. Guerreiros marchavam escadas a cima na direção de Tristan e Lilith. Mais oponentes trajando armaduras de cristal saiam de dentro da fortificação.
Talvez seja melhor nos focarmos nesses novos inimigos. Lilith afirmou.
É...e ver quem mata mais deles em um confronto direto. Tristan acrescentou.
Ela assentiu com a cabeça e sorriu.
Vamos! Lilith exclamou.
Cada um seguiu para uma direção. O primeiro guerreiro com armadura de cristal avançou contra ele com um escudo em uma mão e um machado revestido por uma camada de chamas na outra. O inimigo atacou com um golpe um giro, desferindo um ataque horizontal. Rapidamente, Tristan atacou com sua espada a arma do oponente. A arma que emanava energia sombria derrubou a que estava coberta por fogo. Com o impacto do golpe, o guerreiro da Tiamat perdeu o equilíbrio, ajoelhando-se no chão. Antes que ele pudesse se levantar ou pegar seu machado, Tristan desferiu uma estocada contra o pescoço do inimigo, atravessando-o e tirando a vida do adversário.
 “Fácil”.
Mais três inimigos vinham agora. O que vinha na frente carregava uma maça em uma mão e nada na outra. Antes que Tristan pudesse questionar a mão vazia, o membro da Tiamat a estendeu, lançando pequenas lâminas de gelo na direção do guerreiro sombrio. Rapidamente, Tristan se transformou em trevas para atravessar os ataques do inimigo em segurança e, por fim, ficar frente a frente com o adversário. O seguidor do Deus do Gelo atacou horizontalmente da esquerda para a direita com sua maça, apenas para ter o ataque bloqueado pela espada de Tristan, posicionada na vertical, com sua ponta virada para baixo. Antes que o oponente pudesse tentar realizar outro ataque, o guerreiro das Trevas invocou uma adaga. Com um movimento rápido, ele cravou a lâmina no lado direito do pescoço do adversário. Enquanto o corpo do inimigo caia no chão e sangrava até a morte, Tristan encarou os outros dois guerreiros.
Vocês têm certeza de que querem me enfrentar? Tristan perguntou.
Não é uma questão de querer te enfrentar, ser das Trevas. Um dos guerreiros disse. Ele empunhava uma lança com ambas as mãos.
O nosso objetivo é derrotar a Luz e as Trevas com completo. O outro guerreiro disse. Este tinha uma espada em uma das mãos e um machado na outra.
Poupem-me de seus delírios! Tristan disse de maneira solene apesar de ter elevado seu tom de voz. Vocês são apenas parte da parcela irritante da população insatisfeita com tudo. Vocês afirmam que os dois lados, Luz e Trevas, não são bons o suficiente. Vocês levam mais pessoas a pensar como vocês. Vocês planejam mudar o mundo, erguer uma utopia onde antes só havia caos. Vocês são imbecis! Vocês nem sabem como vão fazer isso. Vocês afirmam saber como criar um mundo ideal para todos apenas para, quando conseguirem, criarem um mundo perfeito...apenas para vocês. O guerreiro das Trevas riu. Aliás...nem sei se vocês, soldados, fazem parte desse grande plano. Não finjam que não sabem. Vocês são prescindíveis, é óbvio. É por isso que vocês estão aqui nessa linha de frente. Vocês dizem lutar por um ideal...mas que, tragicamente, apenas o levaram a morte. Vocês não estão vivendo, estão apenas sobrevivendo. Suas vidas miseráveis não têm sentido. Vocês nasceram para morrer, sem nenhuma grande expectativa. Destino funesto, não?
Os guerreiros pareciam paralisados pelas palavras que acabaram de ouvir. Tristan ouviu uma flecha sendo disparada a alguns metros abaixo dele. Rapidamente, ele se virou e pegou o projétil com a mão esquerda. Quando a flecha começou a brilhar um tom escarlate, Tristan a arremessou contra o abdômen do inimigo. A explosão resultante abriu um buraco na armadura no arqueiro e também em sua barriga. O inimigo caiu no chão enquanto seu sangue escorria e suas tripas começavam a escapar pela nova abertura. Tristan olhou para os dois guerreiros a sua frente. Eles ainda estavam estáticos.
“Nossa...eu nunca havia ganho uma luta assim...”.
Tristan se transformou em trevas e seguiu para fora da fortaleza, lugar onde muitos arqueiros haviam se reunido. Rapidamente, ele foi de um em um, atacando as gargantas deles com sua espada, decapitando o primeiro, dilacerando a garganta do segundo e atravessando o pescoço do terceiro com uma estocada. Quando foi em direção ao quarto, o oponente jogou o arco no chão e sacou duas adagas da parte de trás de sua cintura. O guerreiro que trajava a armadura de cristal desferiu uma seqüência de ataques vorazes com as lâminas, girando o próprio corpo no sentido horário e avançando contra Tristan. O guerreiro das Trevas apenas se deslocava a passos largos para trás, esperando uma brecha do inimigo. Após alguns segundos, o guerreiro que manejava as adagas cambaleou para o lado direito.
“Ficou tanto de tanto girar, hein?”.
Aproveitando a oportunidade, Tristan atacou verticalmente para baixo com sua espada, decapitando o inimigo.
“Com esse...são dezessete mortes ao todo. Será que eu mato os dois confusos lá em cima?”.
De repente, um guerreiro da Tiamat pulou do andar superior da barreira para cima de Tristan.
Morra! O guerreiro com a armadura de cristal bradou. Ele segurava uma espada com as duas mãos. A arma era um pouco menor que o próprio guerreiro que tinha pouco mais de dois metros de altura.
Tristan golpeou o abdômen do inimigo com sua espada. O ataque não foi forte o suficiente para causar danos à armadura, mas o impacto foi o bastante para fazer com que o guerreiro largasse a própria espada e fosse lançado um metro para trás, em direção a parede da fortificação. Antes que o membro da Tiamat pudesse se levantar, Tristan arremessou uma adaga. Entretanto, o guerreiro posicionou seu braço na frente de sua garganta, bloqueando o ataque letal. 
“Até que ele não é tão burro assim...”.
O guerreiro da Tiamat se levantou e correu na direção de Tristan mesmo estando desarmado.
“Acho que me enganei...”.
O guerreiro rugiu ao desferir o soco, acertando o ar, já que Tristan havia surgido atrás dele após uma transformação rápida em trevas. O guerreiro sombrio tocou nas costas do adversário, deixando a marca vermelha das Trevas no inimigo. Rapidamente, Tristan ativou a detonação do seu ataque, abrindo um buraco nas costas de seu inimigo. Porém, a pele das costas dele só estava levemente chamuscada.
Você é bem resistente. Tristan admitiu. O que é bom. Já estava ficando entediado de enfrentar gente fraca.
Você se acha forte!? O guerreiro da Tiamat indagou com um rugido.
Eu diria que sim.
Patético! Você não sabe o que é força! Eu vou te mostrar o que é força!
De repente, as águas que corriam nos rios começaram a se agitar. Ao levantar as mãos, o guerreiro elevou um volume de água enorme no ar.
Eu sou Wasserfaust! O guerreiro bradou. Tema esse nome! Esse é o nome daquele que vai te matar!
Wasserfaust arremessou o volume de água contra Tristan, que rapidamente se transformou em trevas e se deslocou para trás. Antes que Tristan pudesse tentar realizar qualquer tipo de ataque, o seguidor da Deusa da Água fez com que todo o líquido que ele havia arremessado se aglomerasse em volta dele, formando uma barreira azul celeste em forma de meia esfera.
O seu plano é se esconder agora? Tristan indagou.
Morra, verme! Uma voz bradou atrás do guerreiro das Trevas.
Tristan se transformou em trevas e se deslocou para a direita. O novo oponente tinha a mesma altura de Wasserfaust. Tal qual o aliado, ele manejava uma arma quase tão grande quanto ele próprio. Entretanto, sua arma era um martelo de guerra.
Feuerfaust! Wasserfaust bradou através da barreira, fazendo com que sua voz ficasse um pouco sufocada. Não subestime esse aí! Ele é bem forte até!
Sério? Feuerfaust olhou para Tristan. Não parece. Acho que você é quem está ficando mole, meu irmão!
Rapidamente, Tristan desapareceu em forma de trevas.
Fugindo? Feuerfaust riu. Que patético!
Tristan surgiu acima de Feuerfaust, tocando no topo do elmo do inimigo com ambas as mãos, deixando duas marcas das Trevas no local. Porém, o guerreiro das Trevas teve sua perna pega por uma das mãos do oponente.
Não é tão rápido assim, pelo visto. Feuerfaust riu maquiavelicamente e arremessou Tristan contra o chão, acertando a face de Tristan em uma pedra. Morra!
O seguidor do Deus do Fogo golpeou o guerreiro das Trevas nas costas com seu martelo, mantendo a arma sobre o oponente, segurando Tristan no chão.
Pronto irmão? Feuerfaust perguntou.
Pronto! Wasserfaust bradou.
Feuerfaust arremessou Tristan em direção ao irmão. Em uma fração de segundos, toda a barreira de água se desfez e se chocou contra Tristan, jogando-o dez metros para o ar.
“Eu não esperava por essa...”.
Em seguida, Feuerfaust lançou uma bola de fogo com mais de dois metros de diâmetro contra Tristan. A luz da explosão quase cegou os irmãos. Os dois riam maniacamente com o resultado do ataque combinado.
Será que ele foi desintegrado? Wasserfaust perguntou enquanto ainda ria.
É bem provável! Feuerfaust respondeu gritando.
Os dois riam quando, de repente, o elmo de Feuerfaust explodiu, deixando a cabeça do seguidor do Fogo ensangüentada.
O que foi isso!? Wasserfaust indagou.
A resposta veio com Tristan surgindo acima de seu irmão, cravando sua espada na cabeça dele. Antes que Wasserfaust pudesse fazer qualquer coisa, o guerreiro das Trevas apareceu atrás dele, desferindo uma estocada através do buraco em suas costas. Wasserfaust caiu de joelhos.
Eu sou praticamente a prova de fogo. Tristan disse. Isso porque eu controlo muito bem as chamas. Veja.
O guerreiro das Trevas surgiu na frente de Wasserfaust e retirou o elmo que protegia seu rosto. A expressão de medo parecia improvável em um rosto com traços fortes e queixo quadrado, mas ela estava acontecendo. Tristan invocou chamas negras em ambas as mãos e, então segurou o rosto do oponente, tapando a boca dele, abafando seus gritos de agonia enquanto seus cabelos negros queimavam e sua pele branca derretia.
“Bem...vamos ver como a Lilith está se saindo”.
Tristan subiu até o topo da barreira do primeiro andar do forte. Os dois guerreiros que estavam paralisados agora estavam mortos, cada um com um virote no pescoço.
“Até que eu fui misericordioso dessa vez. Já a Lilith...”.
Tristan olhou para dentro do forte. A porta estava aberta.
“Lilith...?”.
Tristan avançou para dentro do local. A estrutura esculpida a partir da pedra era ainda mais impressionante e detalhada no lado de dentro da fortaleza. Um guerreiro gigante estava caído com a cabeça encostada na parede. Um machado enorme estava jogado ao seu lado. Mais adiante, Lilith lutava contra outro guerreiro gigantesco. Esse usava uma lança e parecia enfurecido.
Você vai pagar pelo que você fez ao meu irmão Windfaust! Exclamou o guerreiro.
Você nem consegue me alcançar, Bodenfaust. Lilith zombou. Boa sorte em tentar me matar.
A Caçadora de Anjos pulou para trás em um salto mortal e atirou um virote contra o oponente. Bodenfaust bloqueou o projétil com a mão e desferiu mias um ataque reto com a lança. Lilith desviou do ataque e, sem brechas para um ataque com suas katares, foi forçada a continuar desviando.
“Parece que ela precisa de ajuda...”.
Tristan canalizou sua energia e invocou duas adagas escarlates. Quando Lilith desviou de um atauqe de Bodenfaust e se deslocou para a esquerda, o guerreiro que trajava a armadura de cristal pôde olhar diretamente para o guerreiro das Trevas, bem como para as lâminas que seguiam contra o seu peito. A explosão abriu um buraco no peitoral da armadura do membro da Tiamat, além de chamuscar sua pele.
Maldição! Bodenfaust gritou de dor e caiu para trás.
Lilith olhou na direção de Tristan.
Vai logo. Disse Tristan, sorrindo. Acaba com ele!
Bodenfaust colocou as duas mãos no piso. De repente, um abalo sísmico causou um impacto em todo o lugar, balançando o chão onde Tristan e Lilith estavam.
Boa tentativa...mas você é quem vai morrer! Lilith bradou.
A caçadora pulou e pousou em cima do inimigo. Com as duas katares, Lilith golpeou o peitoral exposto do adversário. As armas afundaram na pele de Bodenfaust enquanto ele gritava pela última vez.
Nada mal. Tristan disse com um sorriso.
Lilith riu.
Obrigada pela ajuda. A caçadora disse. Não teria conseguido sem você.
Eu sei. Tristan disso em um tom metido. Mas...aquele outro...? Tristan apontou para o guerreiro jogado no chão junto a uma parede.
Windfaust. Ele está desacordado. Usei uma das magias mais fortes que eu conheço. Quase me esgotei. Tive que tomar minha poção, mas...eu só o deixei desacordado.
Entendo. Bem...já que eu não tomei minha poção ainda...acho que eu fazer algo...diferente.
A espada de Tristan emanava energia sombria. De repente, ela começou a emitir uma luz vermelha.
Acho que está bom já. Disse Tristan.
O que você...? Lilith começou a perguntar quando Tristan se transformou em trevas.
O guerreiro sombrio surgiu na frente de Windfaust. O membro da Tiamat estava voltando a si.
Onde...? Como...? Windfaust balbuciava. Ele parecia entender o poder que estava na frente dele. Quem é você!?
O seu fim. Tristan disse solenemente. Volte a dormir...
O guerreiro sombrio desferiu um ataque vertical para baixo com sua espada. O golpe atingiu o elmo de Windfaust. Com o contato, uma explosão de chamas negras envolveu a área em volta deles. Lilith deu um passo para trás. Com o impacto da explosão, ela quase foi arremessada para trás, mesmo estando distante da esfera de fogo que havia se formado.
“Acho que agora já está bom”.
Tristan surgiu na frente da Lilith.
Gostou? O guerreiro das Trevas perguntou com um sorriso no rosto.
Achei meio exagerado.
Os dois riram.
As chamas vão continuar até quando? A caçadora perguntou.
Elas só param quando eu perder todas as minhas energias. Disse Tristan. Ou quando eu quiser. Ele sorriu.
Entendo...
Quer que eu as apague?
Sim. Quero ver como o Windfaust está depois disso.
Bem...não sei se você vai gostar do resultado.
Por quê?
Veja por si mesma.
Com um estralar de dedos, Tristan apagou as chamas. Lilith andou até o local.
Não tem nada aqui... A caçadora disse.
Eu sei. Tristan sorriu.
Você...o cremou.
Tristan assentiu.
Eu teria medo de você se você não fosse meu aliado. Lilith admitiu.
Tristan riu. Ele invocou sua poção e a tomou.
Então...sobre a nossa disputa...quem ganhou? Perguntou Tristan.
Você derrotou esses dois sozinho. Lilith disse. Acho que isso garante sua vitória.
E derrotei mais dois desses lá fora também.
Exibido.
Tristan riu.
Bom...vamos voltar para Nidhogg agora?

Lilith sorriu e assentiu com a cabeça. Ela se segurou em Tristan e os dois se transformaram em trevas e desapareceram.