O Fotógrafo
O que eu vou escrever agora é envolve, principalmente, um
amigo. Eu, infelizmente, também fui tragado pelos acontecimentos...
Joe. Um bom amigo, sem dúvidas. Ele era o tipo de pessoa
otimista que sempre conseguia melhorar o seu dia, seja contando uma piada boba,
seja te dando um conselho de ouro. Além disso, eu podia confiar nele. Os anos
me deram certeza disso.
Porém, nós nunca
fomos muito próximos. Não éramos aquele tipo de amigos que eram praticamente
irmãos, passando tanto tempo da casa do outro quanto qualquer outro membro da
família. Não...nós nem saíamos muito. Não que eu tentasse ficar afastado dele.
Era mais o contrário.
Joe era...reservado. Um tanto quanto misterioso, claro.
Mas...eu não tinha problemas quanto aquilo. Nossa amizade era bem sólida. Ou
era o que eu acreditava.
Um dia, enquanto eu voltava da faculdade, eu o vi. Ou
melhor, eu trombei com ele. Joe podia ser magro, mas, correndo, ele pode me
derrubar com facilidade. Eu me lembro de ele ter se levantado logo em seguida.
Eu...pude ver o rosto dele por uma fração de segundos...e eu mal podia
acreditar que aquele era o Joe. Seu rosto, sempre tranqüilo, estava
completamente alterado. Pavor. Era aquilo o que estava estampado em seu rosto.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, porém, ele
voltou a correr. Em poucos segundos, eu já o havia perdido de vista. Droga...
Eu não sabia que o Joe pudesse correr tanto assim...
Quando eu cheguei a minha casa, entretanto, o meu celular
começou a tocar. Era o Joe. “Desculpa...por ter derrubado...você agora há
pouco...”. Ele começou a dizer. Claramente, ele estava ofegante. Não me
surpreendia. Eu o vi correndo desesperadamente poucos minutos atrás. “Eu...não
estou...seguro...”. Joe continuou a dizer. “Eu...acho que vou morrer...”.
Minha espinha gelou ao o ouvirele dizer aquelas palavras.
Eu não sabia o motivo daquilo, porém...não podia ser nada bom. Eu já conhecia
Joe há alguns anos. Não muito bem, claro, mas mesmo assim... Ver o rosto dele
tomado pelo pavor. Ouvir a voz dele ofegante e amedrontada. Com certeza Joe não
estava bem.
“Tente se acalmar...”. Eu disse suavemente. “Não...eu não
posso...eu não tenho como...”. Joe me respondeu. Em seguida, ele desligou.
Eu estava legitimamente preocupado com Joe. Ele, que
sempre foi calmo e extremamente racional, estava apavorado. Droga... Aquilo
estava me deixando apavorado. Foi aí que o meu celular vibrou.
Era uma mensagem. De Joe. Nela...havia uma foto.
Só de me lembrar daquela imagem, minhas pernas voltam a tremer.
Era a foto de uma mulher, eu suponho. Não tenho como afirmar...pois eu não
conseguiria dizer nada sobre o seu rosto, uma vez que ele estava completamente
desfigurado, como se algo tivesse afundado sua face. Sangue cobria
completamente o rosto, os longos cabelos loiros e as roupas esfarrapadas.
Eu estava praticamente paralisado, sentindo uma mistura
de medo e nojo. Foi aí que outra mensagem veio em seguida.
A foto era de uma jovem mulher, talvez um ou dois anos
mais nova do que eu. Ela era muito bonita, isso eu tinha que admitir. Mas
aí...um pensamento tomou conta de minha mente.
Será que as fotos eram da mesma pessoa...?
Foi aí que o telefone voltou a tocar.
Como eu já imaginava, era o Joe. “Essa é Becky...”. Ele
disse com seu tom de voz ainda alterado pelo pavor. “Nós namoramos durante um
tempo... Eu...realmente gostava dela. Eu achava que seria ela, sabe? Talvez
fosse ela com quem eu passaria o resto de minha vida junto...”. Joe riu por um
instante, claramente nervoso. “Claro que esse é o tipo de besteira que um
idiota apaixonado pensa...”.
Apaixonado. O pensamento de Joe namorando com alguém me
fazia feliz...e, ao mesmo tempo, era tão estranho...quase impossível. Ele não
era o tipo de pessoa que passa muito tempo ininterrupto ao lado de alguém.
“Ela foi morta...brutalmente...”. Joe continuou a falar,
agora, num tom quase depressivo. “Becky foi morta por ele...”. Ele simplesmente
parou de falar. Então, eu perguntei. “Ele? Ele quem?”. Após alguns segundos,
ele respondeu. “Eu não sei ao certo... Eu só o chamo de Fotógrafo...”.
Ele permaneceu em silêncio pelo o que pareceu uma
eternidade. “Ele é um monstro...”. Ele disse, finalmente, em um suspiro. “Eu...nunca
o vi. Eu só sei que ele é a minha maldição...”.
“Como assim maldição...?”. Eu perguntei. Eu não fazia a
mínima ideia do que estava acontecendo. “Ele mata...”. Joe respondeu em um
sussurro. “Ele mata todos os que se aproximam de mim... Mas...eu acho que isso
é por causa do dia... Sempre no meu aniversário...ele vem até mim. Porém, ele
sempre acaba matando alguém que está próximo de mim... Ele as caça e as mata
sem piedade... Depois, tira uma foto da...”obra” dele e me manda... Becky foi
apenas uma de várias...Talvez...talvez se eu estiver sozinho durante esse
aniversário, ele venha até mim...e me mate, dando um fim a tudo isso...”.
Eu queria protestar...mas era muita informação de uma
vez. Eu estava tonto . Só depois de alguns segundos, percebi que Joe já havia
desligado o celular.
Eu não consegui mais entrar em contato com ele naquele
dia, muito menos nos dias seguintes. Mesmo indo até a casa dele...não havia
resposta.
Droga... O “Fotógrafo”. Um monstro que mata todos a volta
dele e que nunca foi visto... Não era do feitio dele contar uma piada assim,
ainda mais usando fotos como aquela.
Seria mesmo aquilo verdade?
Então...eu não poderia fazer nada. Digo...o que eu
poderia fazer? Se eu fosse até Joe...eu seria morto e a tal maldição
continuaria. Se eu não fizesse nada...ele seria morto. Fim. É isso?
Droga... Ele podia não ser o meu melhor amigo, mas com
certeza era um grande amigo. Eu não queria perder o Joe. O que eu deveria fazer...?
No dia do aniversário dele, entretanto, eu não fiz nada.
Durante aquela noite, eu tive o pior pesadelo da minha
vida.
Eu corria por uma série de corredores escuros. De tempos
em tempos, mãos surgiam no chão e seguravam os meus pés, impedindo-me de correr
com alguns segundos agonizantes, até elas desaparecerem. Mas...o mais estranho
era o som: nenhum. Silêncio absoluto. Os meus passos não soavam, muito menos as
mãos atravessando o piso. Eu não conseguia gritar, apesar de estar
completamente desesperado. Eu...suava. Eu sentia aquilo como se estivesse
acontecendo comigo de verdade...
Passadas horas naquele inferno, o som finalmente
veio...juntamente com uma luz. Um flash de uma câmera. O som quase me
ensurdeceu enquanto a luz branca fez os meus olhos arderem. Então, eu me vi em
uma sala completamente branca. Uma máquina fotográfica estava aos meus pés
e...na parede a minha frente, a menos de dois metros de distancia de onde eu
estava, uma mensagem estava escrita em vermelho vivo.
“Agora é a sua vez”.
Era tudo o que dizia. De repente, a sala começou a
tremer. A sala começou a desmoronar aos poucos. Dessa vez, porém, eu consegui
gritar.
Assim, eu acordei gritando, completamente suado e
tremendo. Minha cabeça doía... Aquele pesadelo, realmente havia me feito mal.
Eu peguei o meu celular para ver que horas eram...quando
eu percebi que havia uma mensagem. Ela havia acabado de ser enviada. Era Joe.
Eu sorri. Isso significava que ele estava bem.
Quando eu vi a mensagem, eu congelei de medo.
A foto mostrava Joe...decapitado. O corpo dele estava
sentado, encostado em uma parede. Na mão esquerda, ele segurava a própria
cabeça. Na direita, porém...estava algo ainda pior.
Uma placa amarelada. Nela, estava escrito em vermelho
vivo: “A minha maldição acabou. Agora é a sua vez”.
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