quinta-feira, 16 de abril de 2015

Conto de Terror 9

Alice


Eu nunca vou me esquecer dela. Afinal, como eu poderia? Minha querida Alice...
Nós estudamos juntos durante a faculdade, mas nunca nos falamos muito. Ela era bem quieta, introvertida. Lembro-me de ter conversado com ela apenas umas poucas vezes. Ela me parecia...ótima. Bonita, mas não chamava muito a atenção. Inteligente, mas não se achava por conta disso. Carismática, mas apenas com as pessoas que ela conversava.
Entretanto, eu estava naquela fase da vida em que não se quer nada sério. Eu não me conseguia ver saindo com Alice como eu saia com outras garotas. Se fosse para eu me envolver com ela, teria que ser daqui a alguns anos, quando eu estivesse mais maduro.
Entretanto, com o fim da faculdade, eu perdi o contato com praticamente todos os meus colegas. Com a exceção de dois amigos, eu não vi mais ninguém de lá desde a festa de formatura.
Então, vocês podem imaginar a minha felicidade ao reencontrar Alice.
Fazia um ano que eu não havia.Agora, lá estava ela, na mesma livraria que eu estava.  Eu...tenho que admitir que eu não lembrava que ela era tão linda. Eu não pude conter o sorriso ao vê-la. E eu fiquei feliz ao ver que ela sorriu de volta.
Nossa... Aquele dia foi muito bom. Nós fomos apenas para um café após sairmos da livraria, mas aquelas horas foram inesquecíveis. Parecia que fazia tanto tempo que eu não conversava com alguém como ela. Nós passamos as quatro horas seguintes conversando. Sem falar mal de ninguém pelas costas. Sem contar nenhuma piada infantil. Sem dizer nada ofensivo para qualquer tipo de pessoa. Apenas...conversando. Sobre a vida. Sobre alguns arrependimentos. Sobre algumas expectativas e sonhos. Sobre tudo o que quiséssemos.
Infelizmente, aquilo teve te acabar. Aparentemente, eu já havia conseguido fazer com ela ficasse atrasada para ir para o aniversário de alguma prima, tia... Não me lembro. Só me lembro que eu tive que me despedir dela.
Eu estava prestes a ficar triste...mas foi aí que ela me beijou. Eu...não esperava que fosse ela a tomar a iniciativa. Mas eu não reclamaria. Aquele tempo em que nós ficamos conversando somado àquele beijo... É, eu não tinha como reclamar.
Rapidamente, ele me pediu o meu número. Sem protestar, eu contei a ela. Alice, aparentemente, conseguiu memorizar o número. Ela disse que me ligaria quando pudesse. Eu...fiquei realmente feliz. O mera de ideia poder ver ela de novo, de poder ter mais momentos como aquele...era ótima.
Após nos despedirmos e eu voltar para casa...eu tive certeza. Eu não queria parecer um bobo apaixonado, mas...aquele meu pensamento de quando eu estava na faculdade podia se tornar realidade. Em me envolvendo com Alice. Um relacionamento sério. Nossa... Bem, talvez eu tivesse, enfim, amadurecido.
O problema foi o que veio em seguida: nada. Ela...não me ligava de volta. Por uma semana, eu esperei ela ligar para mim. Todo dia passado devagar. Todo dia parecia cinzento. Nada tinha a mesma graça. Droga...
Eu não tinha meios de contatar Alice. Ela tinha o meu número, mas eu não tinha o dela. Ela não usava nenhum tipo de rede social. Eu não mantinha contato com nenhum conhecido dela.
Ao fim dessa semana, eu saí junto com um amigo meu. Eu o conhecia desde que eu tinha uns seis anos de idade. Eu podia confiar nele totalmente. Os conselhos dele já haviam me ajudado várias vezes.
Nós fomos para um bar naquela noite. Entre um copo e outro de cerveja, nós conversávamos. Aos poucos, eu fui contando sobre Alice. Quando eu terminei de contar tudo, ele simplesmente me aconselhou a me esquecer dela. De acordo com ele, não valia a pena sofrer assim. Talvez eu não significasse tanto assim para ela...apesar de ela significar muito para mim.
Aquele pensamento...conseguiu me deprimir ainda mais. Ao ver aquilo, o meu amigo tentou me animar. Ele disse que, talvez, Alice tivesse alguns problemas para resolver. Talvez, até, ela já estivesse saindo com outra pessoa quando nós saímos. Nesse caso, ela precisaria de tempo para arrumar a vida dela do melhor jeito possível. E pensar naquilo...realmente me animou.
Três dias depois daquela conversa, eu já tinha um encontro com outra garota. Ela me passou uma boa impressão quando nos vimos pela primeira vez.
Havia um parque municipal perto da minha casa. De vez em quando, eu me animo para correr lá. Um dia desses, eu a encontrei. Corremos um pouco juntos. Conversamos um pouco. Marcamos de sair já no dia seguinte.
Infelizmente...o encontro não foi muito bom. Eu tenho certeza que, em circunstancias diferentes, aquele teria sido um ótimo dia, mas...eu a vi. Foi apenas de relance, mas...eu vi Alice. No meio de uma multidão andando pelas ruas. Ou...eu pelo menos acho que aquela era ela.
Droga... Depois daquilo, eu perdi a concentração. Eu ficava olhando para todos os lados. Eu tinha certeza que eu poderia achar Alice de novo. Eu sabia disso.
Obviamente...eu acabei não prestando muita atenção no que a garota que eu saia falava...ou fazia... É...eu nem a vi deixando o restaurante onde estávamos.
Bem...eu mereci aquilo. Ela com certeza não ia querer me ver de novo depois daquela noite. E eu não a culpava. Afinal, a culpa era minha e somente minha... Ou era o que eu achava.
Nós próximos cinco encontros que eu tive...eu a vi. Alice. Eu tenho certeza. Sempre de relance, como se ela apenas me observasse de longe. Droga! Eu perdi a concentração. O encontro foi um fiasco. A garota não quis mais me ver. Isso tudo aconteceu mais cinco vezes.
Eu...tinha certeza que aquela era Alice. Só podia ser ela. Eu não entendia o que se passava na cabeça dela. E eu nem queria. Eu só conseguia sentir raiva dela. Afinal, ela teve a chance dela comigo. Nós poderíamos estar juntos e felizes agora se ela não tivesse me deixado de lado.
Tudo o que estava acontecendo de errado ultimamente na minha vida...era culpa dela... Culpa da minha querida Alice.
No meu próximo encontro, lá estava ela. Alice. Sempre de longe. Apenas observando. Aquela maldita... Dessa vez, ela não me desconcentraria. Esse encontro daria certo... E foi exatamente isso o que aconteceu.
Eu fico feliz em dizer que outros encontros vieram em seguida. E eu realmente estava gostando dessa garota que, com o tempo, tornou-se, oficialmente a minha namorada.
Alice parecia uma memória distante agora. Isso se devia ao fato que, nem mesmo de relance, eu a via mais. Sim. Toda a minha atenção estava focada naquela que poderia ser muito bem o maior da minha vida.
Droga... Tudo estava bom até aquele dia.
Chegava ao fim mais um encontro maravilhoso...quando eu percebi que eu estava sem o meu celular. Antes que eu começasse a vasculhar todo o restaurante, minha namorada sugeriu ligar para o meu celular. Bem, fazia sentido. O celular tocaria e nós iríamos até ele. Talvez mais alguém o achasse. Eu não acho que alguém tentaria roubar aquele meu celular antigo, então, caso aquilo começasse a tocar, não teria lado negativo, certo? Bem... O que aconteceu em seguida...foi realmente inesperado.
Minha namorada ligou para o número. Não ouvíamos o celular tocar. Foi aí...que alguém atendeu a ligação. Eu não sabia o que estava sendo dito para a minha namorada, mas...eu tinha certeza que não poderia ser bom. O rosto dela havia empalidecido em uma fração de segundos. Além disso...ela parecia paralisada, quase como em transe.
Eu estava morrendo de preocupação naquele instante. Quando ela tirou o celular dela do lado de seu rosto, a ligação já havia acabado. Ela...parecia exausta de repente. Quando eu perguntei o que havia acontecido, ela nem soube me explicar. Quando eu sugeri ligar, ela me aconselhou a não fazer aquilo. Mesmo sem entender o porquê, eu resolvi não começar uma discussão por causa daquilo... Pelo menos, não com ela naquele estado.
Eu a levei para casa dela. Claramente, ela precisava de uma boa noite de descanso... E eu precisava ligar para o meu celular. Você me julgaria? A curiosidade estava me matando.
Ao chegar a minha casa, fui direto para o telefone fixo que ficava em minha cozinha. Uma vez lá, liguei para o meu celular.
Um. Dois. Três toques. E foi aí que a ligação foi atendida...por aquilo.
Eu não faço a mínima ideia de quanto tempo se passou. Eu só sei que, durante todo aquele tempo, eu permaneci imóvel...ouvindo aquele som.
Parecia uma espécie de gemido. Parecia ser de uma mulher. Mas o som estava distorcido, abafado e, estranhamente...próximo. Aquilo...parecia vir de trás de mim.
Quando a ligação foi encerrada, eu me virei rapidamente para trás.
Nada. Não havia nada de anormal atrás de mim.
Aquilo me deu certo alívio...mas eu estava exausto. Assim como a minha namorada, aquele som me deixou cansado...além de perturbado.
Uma boa noite de sono resolveria tudo, certo? Bem, talvez não, mas valia a pena tentar. Eu não conseguia pensar em mais nada além da minha cama. Então, eu fui até o meu quarto.
Ao entrar lá, percebi algo estranho. O meu computador estava ligado. Droga... Será que eu o teria esquecido ligado esse tempo todo? Droga... Eu nem queria pensar na conta de luz no fim do mês...
Porém, quando fui até ele, percebi que apenas uma página estava aberta. Era a de um jornal. Falava sobre um acidente. Uma mulher havia morrido. Aparentemente, ela estava indo visitar alguns parentes em outra cidade. O trecho da estrada que ligava a cidade aonde ela ia até a minha cidade era perigoso. Apesar de asfaltados, aquele trecho era cheio de curvas, na encosta de uma montanha. O horário do acidente estava estimado para depois das três da manhã. A mulher havia adormecido enquanto dormia. E o nome dela... O nome dela era Alice.
Nesse instante, eu ouvi algo vibrando. Eu olhei para o meu lado direito e...lá estava ele. O meu celular...
Ao mesmo tempo em que eu tremia...uma dose de adrenalina percorreu o meu corpo.
Eu peguei o meu celular e li a mensagem...

“Viu? Eu não esqueci do seu número...”.

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