sexta-feira, 10 de abril de 2015

A Queda, Capítulo 1

As Ruínas


A floresta verdejante era extremamente densa. A copa de algumas árvores quase que bloqueavam por completo a luz do sol. As raízes gigantescas delas atravessavam até mesmo as rochas cinzentas da região, fixando-as fortemente. Orvalho escorria de algumas das folhas das plantas da área. Havia chovido durante a noite. Agora, no começo da tarde, o sol brilhava forte, mesmo que entre nuvens. Entretanto, fazia frio da região. Ventos gélidos anunciavam o começo do outono, o que era evidenciado por algumas folhas alaranjadas e marrons caídas no solo levemente avermelhado. Tais ventos também traziam os mais variados aromas para o local, desde o perfume das plantas silvestres, até o das maças e uvas, típicas da região.
Bem no centro desta floresta, havia um grupo de dez pessoas. Duas estavam mais a frente do restante. Eram dois homens.
O que estava à esquerda parecia ter mais de cinqüenta anos. O homem devia ter pelo menos um metro e oitenta de altura. Seu rosto cor de bronze era marcado por algumas rugas e uma cicatriz, na horizontal, bem abaixo de seu olho esquerdo. Sua barba espessa e seus cabelos desarrumados eram grisalhos. A expressão séria em seu rosto era intimidadora. Seus lábios finos eram secos. Seus olhos castanhos não emitiam brilho. Seus dentes, amarelados. Ele vestia uma armadura de couro negro reforçada com aço, da mesma cor, em certos pontos, como nos ombros, canelas, antebraços e peitoral. Nesta última parte da armadura, em específico, havia a marca de uma lua na cor vermelha.  Atrás da cintura haviam alguns bolsos presos ao cinto.No lado esquerdo da cintura, havia uma longa espada, ligeiramente curvada, guardada em uma bainha lustrosa.
O que estava à direita não se podia supor a idade. Seu rosto estava coberto por um capuz. Toda a sua vestimenta, de coloração azul escura, era feita de linho. Entretanto, suas botas e manoplas eram feitas de algum tipo de metal de coloração dourada que, naquele momento, já estavam levemente enferrujadas. O peitoral, que seguia o mesmo esquema de armadura, tinha inscrições rúnicas nela. Os ombros, por sua vez, tinham pequenas águias, como estatuetas, em sua superfície, em uma posição que sugeria que a criatura iria atacar sua presa. Nas costas, o homem carregava um cajado. A arma, azul celeste, era feita, aparentemente, com algum tipo de cristal perfeito, como se ela tivesse sido esculpida de um bloco maior da pedra. Uma das pontas da arma era regular, como um círculo. A outra, porém, tinha três extremidades, como garras ligeiramente contorcidas, como se agarrassem algo. A extensão do cajado era a mesma da altura do homem, que seria, aproximadamente, quatro centímetros a mais do que aquele que estava ao seu lado.
Então...esse é o lugar, Mago? O homem à esquerda perguntou.
Sim. O outro, conhecido apenas como “Mago”, respondeu. Em seguida, ele apontou para frente. Veja.
A frente dos dois havia uma parede rochosa de, pelo menos, dez metros de altura. Ela era coberta por uma grande variedade de plantas e algumas flores, fazendo com que a coloração verde encobrisse boa parte da figura cinzenta. Entretanto, ainda era possível ver algumas partes da parede rochosa que ainda não haviam sido cobertas. Nelas haviam o que pareciam ser inscrições similares às que haviam na armadura do Mago. O homem de barba grisalha riu baixo e, então disse:
É...o seu povo realmente selou esse lugar. Vocês são mais cruéis do que eu imaginava...
Nós apenas fizemos o que era preciso. Retrucou o Mago. Apesar disso, ele ainda mantinha a calma. Nós apenas fizemos o que era o certo, mercenário.
Se você diz... O homem com a cicatriz no rosto murmurou e, em seguida, alcançou um de seus bolos. De lá, tirou um pequeno cantil prateado. Ele abriu o frasco e tomou um gole da bebida. Parecendo satisfeito, ele fechou a tampa do cantil e o guardou. Então...vá. Faça o seu truque, Mago.
Não precisa me mandar fazer nada.
O Mago puxou o cajado nas costas e o apoiou, em pé, bem a sua frente. Ele segurava a arma com ambas as mãos. Ao aproximar seu rosto da haste do cajado, o Mago começou a murmurar algo. O mercenário ao seu lado não conseguia compreender nada. Os outros oito estavam longe demais para ouvir, porém, não era provável que eles entendessem alguma palavra que saia da boca do Mago.
Após alguns segundos, o cajado começou a brilhar intensamente, emanando uma luz azul celeste ofuscante. Aos poucos, pequenos orbes luminescentes começaram a surgir da arma. Delicadamente, as esferas começaram a flutuar em torno do Mago. Em questão de segundos, os orbes pareciam ter havido congelado em pleno ar. Calmamente, o Mago distanciou sua face do cajado e, vagarosamente, levantou a arma apenas com sua mão direita em sua base regular. Ele respirou fundo. Com um movimento brusco, o Mago estendeu o cajado para trás, levando o seu braço esquerdo para frente. Os orbes se agitaram. Com um movimento rápido e preciso, como uma estocada, o Mago apontou o cajado para frente, posicionando seu braço esquerdo, desta vez, para trás de si. No mesmo instante, as esferas foram lançadas contra a parede rochosa, fazendo-a brilhar levemente com uma luz azulada. Após girar o cajado no ar rapidamente, o Mago bateu a base regular da arma contra o chão. Agora, somente as inscrições brilhavam na parede. A luz se tornou ofuscante em uma fração de segundos e, em seguida, extinguiu-se.
Antes que alguém pudesse dizer algo sobre o que havia acabado de acontecer, a área começou a tremer. Lentamente, a grande parede rochosa começou a afundar na terra. Aos poucos, uma passagem foi se tornando visível. O Mago já sabia o que aconteceria, é claro. Os mercenários, entretanto, não faziam ideia. Tudo aquilo parecia loucura para os oito que, agora, se aproximavam da passagem. Porém, o líder deles, o homem que estava ao lado do Mago, podia praticamente pressentir o que aconteceria, bem como ele sabia que poderia no sujeito ao seu lado.  Aquilo era um dom digno de alguém como Overseer, líder do bando de mercenários Blood Moon.
Após o portão se pôr completamente, a passagem estava liberada. Um corredor completamente escuro, seguindo, como uma grande rampa, para o subsolo, estava à frente deles agora. O desconhecido os aguardava. Aquilo fez Overseer abrir um largo sorriso e dizer com sua voz rouca:
Bem...eu não sei o que vocês estão esperando. Vamos logo, queridos!
Gargalhando, Overseer se juntou aos seus homens. Eles entraram logo após o Mago. Era o mais sensato a se fazer em uma situação como aquelas. Aquele que conhecia os segredos daquele lugar, pelo menos em parte, deveria liderar os demais.
Em questão de segundos, as trevas os engoliriam. Logo, os mercenários tiraram, cada um, um cristal vermelho de seus bolsos. Eles seguraram as pedras dentro de seus punhos fechados e, as apertaram. Com facilidade, os mercenários quebraram os cristais e, em seguida, abriram as mãos, virando a palma de suas mãos para cima. Em uma fração de segundos, chamas surgiram entre os seus dedos, como uma tocha. Esse fogo era quase que completamente controlado por eles. Portanto, as chamas não os feriam, mas os aqueciam e iluminava os arredores deles, apesar dessa última parte não ser controlada por eles. Overseer riu baixo e disse:
Espero não ter que entrar em nenhum tipo de discussão com você, Mago.
Ele deu de ombros e, então, afirmou:
Eu não sou tão conservador quanto o resto do meu povo, mercenário. Eu sei que essa é a única alternativa de vocês. O Mago puxou o seu cajado e, rapidamente, a arma mudou de cor. Agora, toda a haste de cristal havia assumido uma coloração avermelhada. Na extremidade irregular do cajado, chamas surgiram em um piscar de olhos. Afinal, vocês não conseguem dominar nenhum tipo de magia sem os seus pequenos cristais.
Overseer revirou os olhos e murmurou:
Exibido...
A equipe continuou a prosseguir pelo corredor. Graças às chamas, eles podiam ver, além de estarem aquecidos. Entretanto, o silêncio do lugar era perturbador. O chão dos passos sobre a superfície metálica parecia ecoar infinitamente. Rapidamente, além de felizmente, os mercenários começaram a conversar. Eram apenas murmúrios, mas aquilo parecia dar vida àquele lugar. Conversas bobas, irrelevantes, mas que tinham o efeito de fazer os sons de seus passos menos inquietantes.
Entretanto, tanto o Mago quanto Overseer permaneciam quietos. O líder dos mercenários estava atento a qualquer problema que viesse a acontecer. O Mago parecia estar em uma espécie de transe. Ele não desejava interagir com aquelas pessoas. Ele apenas queria cumprir o seu objetivo. Claro, seria impossível fazer aquilo sozinho. Seu povo não o apoiou. Grande parte do mundo parecia já estar concentrada em seus próprios problemas. A promessa de encontrar fortunas inestimáveis, entretanto, foi o suficiente para se aliar a um bando de mercenários. Mas o Mago não podia reclamar. Ele havia conseguido seu reforço. Seu próprio povo havia lhe virado as costas. Mas ele não carregava rancor deles. Na verdade, ele sentia pena. O seu grandioso povo havia se tornado ganancioso e cego, não vendo o mal que eles poderiam trazer ao mundo.
Após mais alguns minutos de caminhada, o bando pôde, enfim, avistar luz. Isso levantou o moral de todos que, em um instante, começaram a andar mais rapidamente. Passo a passo, eles foram se aproximando do destino deles. Alguns estavam animados, outros, preocupados com o que estaria a frente deles. O ruído de seus passos no chão metálico não mais o incomodava.
Após terminarem de descer a grande rampa, eles chegaram, enfim naquele local. Ninguém, nem mesmo o Mago, pôde prever a aparência do local.
Edificações, ruas e até mesmo o teto. Tudo era feito a partir de um metal azulado. Espalhados pelo local, objetos em formatos cúbicos, inseridos no chão, paredes e, principalmente, no teto, emitiam uma luz branca. Entretanto, o tenebroso labirinto a frente do grupo era tão frio e silencioso quanto o corredor de antes.
Um misto de insegurança e curiosidade pelo lugar foi sentido pelos dez. Todos tinham uma expressão de surpresa estampadas em seus rostos. Ninguém dizia nada. Claramente incomodado pelo silêncio, e após de, enfim, se der conta de tudo a sua volta, Overseer disse:
Então...esse é o lugar, Mago. Ele levou a mão ao rosto para enxugar o suor com sua luva. Esse é o lugar que teve toda a sua civilização exterminada sem deixar rastros...

Nenhum comentário:

Postar um comentário