quinta-feira, 2 de abril de 2015

Conto de Terror 7

Aquilo dentro do Armário


Esse feriado foi o suficiente para arruinar a minha vida. Droga... Eu não sei nem se eu sair vivo dele. Por quê? Bem, eu estou escrevendo essa carta exatamente para responder isso. Por ora, eu apenas direi que eu estou prestes a fazer algo que possa tirar a minha vida, mas...eu preciso fazer isso. Eu tenho certeza disso. Só me falta coragem para eu agir. Eu espero que até o fim dessa carta eu tenha conseguido isso...
Meus pais sempre quiseram uma casa de campo. Eles trabalharam duro para isso. Depois de anos...eles finalmente conseguiram o dinheiro. Quando eles me avisaram, descobri que meus já haviam comprado a casa. Aparentemente, os dois já estavam de olho no lugar há muito tempo. Eu não pude deixar de ficar feliz por eles. O sonho de meus pais havia se tornado realidade. Agora, eles teriam um lugar para fugir do estresse do trabalho e da cidade grande.
No primeiro dia possível, após algumas pequenas reformas, todos nós fomos até a casa para passar o feriado. Meus pais mereciam o descanso. Meu irmão mais novo, Matthew, que era dez anos mais novo do que eu, estava ansioso para ir brincar na floresta que começava no quintal da casa. Quanto a mim...bem, eu só precisava me acalmar um pouco. Fim de uma semana de provas somado a um término de relacionamento... Sua mente não fica num estado muito bom depois disso tudo de uma vez. Eu só esperava ter tranqüilidade para ler um livro e respirar o ar fresco do campo. Quem sabe? Talvez eu pudesse me divertir muito até. Eu estaria junto do meu irmãozinho. Eu adorava ensinar as coisas pra ele, principalmente jogos. Talvez eu nem precisasse de um livro. Talvez jogar bola ou alguma outra coisa com Matthew podia ser tudo o que eu precisava.
Quando chegamos lá, cada um foi para o seu quarto arrumar suas coisas. Sem protestar, eu fui ajudar o meu irmão.
A casa era bem grande, com um aspecto meio velho. Pelo preço que meus pais pagaram, entretanto, não podíamos reclamar. Resolvemos nos concentrar no espaço interno do lugar.
O primeiro dia passou bem rápido até. Eu passei metade do dia brincando com Matthew. Um pouco de futebol, escalada de árvores e simplesmente apostar corrida. Aquilo era realmente o tipo de coisa que eu precisava. Durante o restante do dia, eu li. A leitura em si nem me deixou tão feliz quanto o resultado dela. Por quê? Ora, porque, naquele dia, Matthew começou a se interessar por livros. Isso apenas por que eu estava lendo e ele tentou me copiar. Eu me ofereci para ler para ele, mas ele recusou. “Eu quero ser que nem você!”. Foi o que ele disse. Eu não pude conter o meu sorriso. E, assim, eu li um livro enquanto ele lia outro. Claro que ele não lia rápido, mas Matthew já deveria estar muito mais a frente do que seus coleguinhas de escola. Afinal, ele era muito mais inteligente. Afinal, ele era meu irmão.
Porém, o primeiro problema aconteceu durante a noite. Enquanto eu estava dormindo, meu irmão havia acordado. Estávamos em quartos separados, então eu não sabia o que havia acontecido. Só na manhã do dia seguinte que eu descobri que ele havia deixado o seu quarto, corrido para o quarto dos meus pais e passado a noite lá. Ao perguntar qual era o problema, ele me respondeu: “tinha alguma coisa no meu armário”.
Nada mais comum do que isso, não? Uma criança pequena achando que tinha um monstro no seu armário. Eu sorri e abracei o meu irmão, prometendo passar a noite com ele para provar que não havia nenhum monstro no quarto dele.
Mais um dia tranqüilo se passou em um piscar de olhos e, quando eu percebi, a noite já havia chego.
No quarto de Matthew, ele estava deitado em sua cama. Apenas com o meu colchão, eu estava deitado logo ao lado dele. Eu já estava prestes a dormir, diferentemente do meu irmão. Ele estava rolando de um lado para o outro da cama. Porém, eu sabia que, eventualmente, o cansaço o venceria e ele dormiria. O que veio a seguir, entretanto, conseguiu me surpreender.
O som de...algo bem afiado arranhando uma superfície de madeira. Meu irmão começou a tremer. Droga. Eu também ouvia aquilo. Aquele som...vinha do armário.
Eu não podia deixar de ser racional. Aquele armário...era bem antigo. Ele já estava na casa quando meus pais a compraram. Ele podia estar caindo aos pedaços por dentro. As peças dele deviam estar fazendo aquele barulho. Ou, ainda, algum animal podia ter dado um jeito de entrar no armário. Eu não sei como, mas era uma possibilidade, apesar de não ser muito agradável. A floresta era muito perto da casa. Essa teoria me parecia ser a mais provável.
Enfim, resolvi me levantar. Eu tinha que olhar o que havia dentro do armário. Calmamente, eu caminhei até ele e abri suas portas. Lá...eu não encontrei nada. No mesmo instante, os sons pararam. Eu respirei aliviado e me voltei para Matthew. Ele estava tremendo até olhar para o meu rosto. Eu deveria ser a tranqüilidade em pessoa naquele momento. Eu me lembro claramente de dizer a ele que não havia nada no armário. Matthew, cautelosamente, andou até mim e me abraçou, escondendo-se atrás de mim. Em um instante, ele arriscou olhar para dentro do armário. Ao ver que realmente não havia nada lá, ele sorriu. Agora, ambos estávamos calmos...até aquela noite.
Na tarde no dia seguinte, eu fui até o quarto do meu irmão. Matthew deveria estar procurando a bola de futebol que usaríamos, mas ele estava demorando. Muito. Chegando lá, eu o encontrei tremendo debaixo das cobertas de sua cama. Antes que eu pudesse perguntar o que havia acontecido...eu ouvi. Aquele mesmo som da noite anterior. Agora, ainda mais alto e perturbador. O som...ainda vinha do armário. Como anteriormente, eu respirei fundo e abri as portas a minha frente. Apesar de eu não ver nada de mais, algo conseguiu gelar a minha espinha. Por quê? Bem...porque, dessa vez, o som continuava. Ainda mais nítido do que antes, além de estar acompanhado do que pareciam ser sussurros. Eu não tinha muita certeza, já que estes sons estavam mais abafados do que os primeiros.
Meu irmão havia dito alguma coisa, mas eu não consegui entender o que era. Eu apenas o mandei ficar quieto da maneira mais gentil que eu pude naquela situação. Foi aí que eu percebi algo. O fundo do armário. Ele...estava tremendo. Havia algo atrás daquilo.
Como eu já havia dito, o armário era velho. Eu só precisei empurrar a superfície de madeira para trás para que ela caísse...e mostrasse o que estava atrás dela.
Um pequeno quarto sem janelas estava diante de mim. Nas paredes cinzentas, centenas de marcas de arranhões eram bem visíveis. No chão, dezenas de folhas de papel com rabiscos ininteligíveis. Eu...realmente não fazia ideia do que era aquilo. Ao olhar para trás, eu fiquei legitimamente assustado.
A sala havia se estendido em um corredor atrás de mim. Eu...não conseguia mais ver o quarto de meu irmão...e muito menos ele próprio.
Algo podia acontecer com Matthew. Esse pensamento me gelou a espinha. Sem hesitar, eu comecei a correr em direção à escuridão.
Não sei se quanto tempo se passou. Poderiam ter sido apenas alguns minutos, mas parecia uma eternidade. Após muito correr, eu ouvi o som de passos. Alguém, ou algo, corria em minha direção. Mas eu me deixaria intimidar por aquilo. Eu tinha que chegar até o meu irmão. Eu tinha que garantir a segurança dele. E então...eu o encontrei.
Matthew apareceu bem diante dos meus olhos. Ele era a pessoa que corria na minha direção. Eu o questionei sobre o porquê de ele ter vindo atrás de mim. Matthew me respondeu, parecendo confuso: “você que me chamou...”.
Aquilo fez as minhas pernas tremerem. Eu comecei até a duvidar da minha sanidade. Será que eu não o havia chamado? Foi aí que uma voz sussurrou em meu ouvido: “eu não preciso de você, somente dele...”.
Eu me virei instantaneamente. Na minha frente, agora, havia um garoto. Ele olhava para baixo. Seu cabelo cobria seus olhos. Suas roupas estavam completamente esfarrapadas. Então, eu senti algo me atingindo com força na minha nuca. Eu perdi a consciência no mesmo instante.
Quando eu acordei, eu estava deitado em uma cama que, depois, descobri ser de um hospital. Aparentemente, meus pais haviam me encontrado desmaiado na frente do armário do quarto do meu irmão. Prontamente, meu pai me levou ao hospital mais próximo enquanto a minha mãe procurava pelo meu irmão.
Mais tarde, recebi as notícias de minha mãe...dizendo que não havia encontrado Matthew.
O período seguinte foi bem caótico para a minha família. Meus pais mal dormiam. Eles esperavam notícias de alguma equipe de resgate sobre o meu irmão. É...eles acreditavam que ele havia se perdido na floresta atrás da casa. Eu não os culpo por pensarem nisso. Também não os culpo por não acreditarem em mim. Aquilo foi...sobrenatural. É claro que alguém que não tivesse vivenciado aquilo achasse que eu estava delirando. Mas...eu tinha certeza que aquilo havia sido real. Eu havia sentido o medo. Eu havia sentido a dor. E agora eu sentia a raiva. Afinal, algo havia tirado meu irmão de mim e dos meus pais. Algo havia me transformado em um lunático. Algo trouxe uma dor sem igual aos meus pais. Algo devia pagar pelo que fez.
Então...eu tive que pesquisar sobre aquilo. E o que eu descubro com alguns moradores da região? Algo sobre os antigos moradores do local.
Aparentemente, um casal vivia lá com seus três filhos. O homem era rico e respeitado. A mulher começou apenas como uma interesseira, mas, com o tempo, ela se apaixonou por ele. Porém, o sentimento não era recíproco. O homem teve vários casos, sendo que um deles resultou no nascimento do filho mais novo, que foi acolhido pelo casal após a morte da amante. A esposa não pretendia se separar do homem. Então, ela concordou em manter o filho na casa...mas ela não o tratava bem. Poucos anos depois, o homem faleceu devido a alguma doença. A mulher, então, resolveu abandonar a casa. Ela levou os seus dois filhos e deixou aquele que era ilegítimo trancado em algum lugar da casa. Sozinho. Sem água ou comida, apenas esperando a morte.
Foi aí que eu percebi que os rumores sobre aquilo eram verdadeiros. Aquilo que havia transformado a minha vida e de meus pais em um inferno...era aquele garoto.
Em seguida, entrei em contato com padre da minha cidade. Ele era um antigo conhecido de minha família. Fora ele o responsável pelo meu batismo, bem como o de Matthew. Após eu contar tudo o que havia acontecido...ele concordou em me ajudar.
Estou indo, agora, de volta aquela casa maldita. O padre tentará exorcizar aquela praga...e eu o ajudarei como eu puder.
Eu retornarei em breve para dizer como tudo terminou. Por ora, termino aqui a carta.

02/04/2005

Nenhum comentário:

Postar um comentário