sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Capítulo 40

The City of Barbarians
A Cidade dos Bárbaros

Na manhã do dia seguinte...
Preparados? Gabriel perguntou.
Tristan, Shadowing e Migrasi assentiram. Os quatro aliados estavam lado a lado, cerca de um metro a frente do exército misto.
Ótimo. Tristan sorriu.
Os dois Escolhidos se entreolharam e, em seguida, olharam em direção ao exército. Ambos os guerreiros invocaram suas espadas e apontaram-nas em direção ao céu ainda negro.
Vamos, homens! Tristan e Gabriel bradaram em uníssono.
O exército urrou cheio de energia e, rapidamente, começaram a marchar. Em um instante, Migrasi, Shadowing, Gabriel e Tristan já haviam desaparecido. Enquanto o exército seguia por uma trilha tortuosa, os quatro aliados seguiam pelos céus. Abaixo deles, uma antiga estrada já podia ser avistada. O caminho amplo coberto de neve entre as rochas seguia até a capital do reino de Isbjerg.
“Estamos tão perto...”.
Um grupo de cinco guerreiros patrulhava um ponto da estrada. Tristan parou subitamente no ar e abriu suas asas feitas de Trevas. Rapidamente, seus três aliados pararam também.
Qual o problema? Shadowing perguntou.
Nenhum. Tristan sorriu.
Em uma fração de segundos, o guerreiro sombrio arremessou cinco adagas em direção ao grupo de bárbaros. Percorrendo uma distância de vinte quase vinte metros, as lâminas foram cravadas nos crânios dos guerreiros.
Nossa... Shadowing riu. Não precisava se exibir tanto.
Eu não pude evitar. Tristan sorriu.
Migrasi bateu palmas.
Ora, obrigado pelos aplausos, Anjo. Tristan soava realmente sincero e lisonjeado. E você, Gabriel? Algum comentário? O guerreiro das Trevas olhou em direção ao aliado. Ah...
O guerreiro da Luz não estava mais no mesmo lugar.
Algum de vocês viu...? Tristan perguntou.
Sem dizer nada, Migrasi apenas apontou em direção a um ponto da estrada mais a frente. Essa parte da estrada circulava um rochedo gigantesco que bloqueava a visão de parte do caminho.
Ah...bem...eu consigo sentir alguma coisa vinda daquela direção. Disse Shadowing . Creio que seja a aura de Gabriel. Ele coçou a nuca. Migrasi...você viu ele ir até lá?
O Anjo balançou a cabeça em negativa.
Ótimo... Tristan suspirou. Você simplesmente conseguiu sentir a energia do Gabriel a essa distância sem problema algum?
Migrasi assentiu.
Certo. O Demônio encapuzado respirou fundo. Vamos até ele.
Em poucos instantes, os três aliados chegaram até o ponto onde Gabriel estava. No chão, um trio de bárbaros estava no chão sem vida.
Ele não está mais aqui... Afirmou Shadowing. Lá! O Demônio apontou para um ponto mais a frente. A energia dele...
Desgraçado... Tristan disse irritado e, em seguida, riu.
Tristan...? Shadowing o chamou, um tanto preocupado com a reação do amigo.
Não se preocupe. Não é nada. Só que... O guerreiro riu novamente. Aquele desgraçado aproveitou a nossa brecha para seguir sozinho matando bárbaros por conta própria...
Ah...entendo. Agora faz sentido.
Sim... Tristan sorriu. E você acha que eu sou o exibido.
E você é, sem sombra de dúvidas. Gabriel é apenas egoísta...de um certo modo. Ele não fica se exibindo.
Bem...que seja. Vamos logo até ele.
Os três aliados seguiram em direção a energia de Gabriel. Alguns bárbaros estavam jogados mortos pelo caminho. No total, quatro guerreiros e três arqueiros foram vítimas do Escolhido de Leviathan. Após alguns instantes, os três haviam chego até Gabriel. O guerreiro da Luz pairava no ar com suas asas de Luz.
Como vocês são lentos. Gabriel zombou.
Você que é apressado. Tristan retrucou. E egoísta. Você podia ter deixado um pouco dos bárbaros para o Shadowing ou para o Migrasi.
Não faz diferença agora. O Demônio encapuzado disse. Olhem para frente.
A menos de um quilômetro de distância, estava a capital do reino de Isbjerg. Grandes muralhas de rochas acinzentadas e enegrecidas protegiam o local. A neve era visível no topo de algumas construções, mesmo apesar da distância.
Bem...vamos? Gabriel perguntou.
Migrasi, Shadowing e Tristan assentiram. Os quatro seguiram rapidamente em direção a cidade. Quanto mais se aproximavam, mais fortes os ventos se tornavam.
“Droga...”.
Os ventos que seguiam contra eles traziam neve. Em pouco tempo, os quatro aliados se depararam com uma pequena nevasca. Já dentro dos limites da cidade, a poucos metros do castelo inimigo, Gabriel parou no ar.
O que foi agora? Tristan indagou irritado.
Não temos nenhum plano bem arquitetado para a invasão do castelo. Gabriel disse calmamente. Devíamos, ao menos, definir como vamos entrar no local.
Sem problemas. O guerreiro das Trevas disse rispidamente. Nos dividimos em duplas. Um cobre a retaguarda do outro. Não causaremos alerta até acharmos o líder inimigo. Quando o acharmos, causem um alerta proposital. Assim, caso apenas uma dupla encontre a, digamos, sala do trono, a outra dupla pode rapidamente se juntar ao assassinato. Após matarmos o grande bárbaro desgraçado, sairemos todos juntos e escapamos enquanto provocamos às forças inimigas. Uma pequena tropa nos seguirá e se deparará com o nosso exército. Os bárbaros serão facilmente mortos e, então, marcharemos até a cidade e mataremos o resto deles. Tristan respirou fundo. Alguma dúvida?
Ah...bem...não. Gabirel disse estupefato. Belo plano.
Obrigado. Tristan sorriu e se voltou para Migarsi e Shadowing. E vocês? Alguma dúvida?
O Anjo balançou a cabeça em negativa.
Bem...quais serão as duplas? O Demônio encapuzado perguntou.
Luz e Luz, Trevas e Trevas. Tristan disse com simplicidade. Mais fácil assim, não?
Os três aliados assentiram com a cabeça, apesar da expressão no rosto de Gabriel fosse de certo receio.
“Ah...é. Ele não confia no Migrasi”.
Tristan bufou.
Eu acredito que não haja nenhum jeito melhor também, para ser sincero. Disse o guerreiro das Trevas.
Sim. Gabriel concordou, tentando esconder sua relutância. Sendo assim...vamos. Entraremos pela mesma janela e, então, cada dupla segue um caminho distinto.  Certo?
Migrasi e Shadowing assentiram. Tristan estava com o olhar perdido.
“Essa cidade...meso nesse lugar quase inóspito de tão frio...tão distante do resto mundo...essa cidade...parece ser...linda, até. Mesmo coberta pela neve, as construções parecem ter sido esculpidas nas rochas. Não imaginava que esses bárbaros pudessem ser capazes disso...”.
Tristan! Gabriel gritou. Está de acordo?
Sim...cada um segue por um caminho distinto. O guerreiro das Trevas disse.
Certo... O Escolhido de Leviathan parecia um pouco surpreso. Então venha. Migrasi e Shadowing já entraram.
Ah...certo.
Gabriel riu. Os dois entraram por uma janela do castelo. O Anjo e o Demônio esperavam em pé no corredor. As paredes, teto e chão eram constituídas pelas mesmas rochas do exterior do local. O ambiente era decorado por espadas, machados e escudos expostos nas paredes ao invés de quadros e estandartes. Havia uma armadura completa feita de aço em uma das curvas do corredor. Algumas tochas estavam espalhadas em suportes de metal negro, iluminando e aquecendo ligeiramente o local.
Vamos por onde? Shadowing perguntou.
Direita. Respondeu Tristan. Se não houver nenhuma objeção, é claro.
Gabriel deu de ombros.
Não faz diferença. O guerreiro da Luz bufou. Não qual é o certo. Nem tenho como saber qual o certo. Sinceramente, eles parecem o mesmo até. Ele se voltou para Migrasi. Vamos.
O Anjo assentiu e ambos foram pelo caminho da esquerda.
Você vai conseguir ser furtivo? Shadowing perguntou com um leve tom de preocupação.
Não se preocupe. Tristan respondeu. Eu darei o meu melhor. Ele disse determinado.
Espero que seja o suficiente.
Será. Você vai ver.
Ótimo.
Tristan e Shadowing se agacharam e andaram cuidadosamente na ponta dos pés pelo corredor. Após a primeira curva, eles se depararam com um corredor também vazio. Havia uma porta na parede da esquerda e uma na da direita.
Mantemos a escolha da direita? Shadowing perguntou.
Tristan assentiu. Shadowing abriu a porta lentamente. O rangido da porta soou.
“Droga...”.
A porta levou-os a uma escadaria em espiral. Nenhum bárbaro estava no caminho. Tristan suspirou aliviado.
Para cima ou para baixo? O Demônio encapuzado perguntou.
Para cima. Tristan respondeu com determinação. Caso o nosso alvo esteja em uma sala do trono, é mais provável que ele esteja em um dos andares mais altos, não é?
Sim...pela nossa lógica. Não sei como esses bárbaros pensam. Shadowing respirou fundo. Mas...talvez seja melhor seguirmos a nossa lógica. Melhor do que não seguir nenhuma lógica.
Sim...
Cuidadosamente, os dois subiram as escadas até chegarem ao andar superior. Eles se depararam com uma porta a sua frente e outro lance de escadas para cima.
Vamos continuar subindo e seguindo a nossa lógica. Disse Tristan.
Shadowing assentiu. Os dois subiram mais um lance de escadas. À sua frente, uma porta. Era o único caminho.
Sem dúvidas agora... Shadowing disse meio desanimado. Sem escolhas também...
Antes que eles pudessem alcançar a porta, ela se abriu. Três guerreiros bárbaros usando armaduras de aço entraram no local. Um andava atrás dos outros dois. Todos carregavam seus elmos debaixo do braço. Apesar do encontro inesperado, Tristan sorriu. Em uma fração de segundos, o guerreiro das Trevas se arremessou para frente e invocou duas adagas, cravando-as nos pescoços dos inimigos que estavam à frente. Enquanto Tristan se agachava ao derrubar os dois adversários, Shadowing invocou sua alabarda , rapidamente, pulou sobre o amigo e fincou a ponta afiada de sua arma na testa do último oponente.
Nada mal. Tristan sorriu enquanto levantava.
Digo o mesmo. Shadowing disse enquanto tirava a ponta de sua arma do inimigo e colocava o corpo morto deitado no chão.
Sem fazer barulho, hein?
A regra ainda prevalece. Portanto, tente não falar muito.
Certo...
Os dois voltaram a se agachar. Tristan abriu a porta e eles andaram para um novo corredor vazio.
Direita. Shadowing disse sem ânimo.
Sempre. Tristan sorriu.
Eles seguiram pelo corredor. A decoração seguia o aparente padrão de armas e armaduras expostas em meio a tochas. Ao passarem pela nova curva do corredor, Tristan e Shadowing avistaram quatro bárbaros com o mesmo tipo de armadura completa de aço do que os anteriores.
“Droga...”.
Os quatro novos inimigos trajavam seus capacetes. Não havia nenhum ponto fraco aparente. Apesar de eles estarem conversando, a vigilância era constante.
Não vai ser tão fácil dessa vez... Shadowing disse.
Antes que Tristan pudesse dizer qualquer coisa, um forte estrondo veio de algum lugar do andar em que eles estavam. Os dois amigos se voltaram para trás. Nada havia mudado.
“Deve ter sido em alguma sala ainda neste andar. Será que foram o Gabriel e o Migrasi?”.
Tristan... Shadowing murmurou.
Ao olhar para frente, o guerreiro das Trevas viu o grupo de bárbaros correndo na sua direção.
Bem...não há mais razão para nos escondermos, não é? Tristan sorriu.
Rapidamente, o guerreiro sombrio se levantou e invocou uma esfera de Trevas. Antes que os bárbaros pudessem reagir, Tristan arremessou a esfera. Ao tocar no chão a frente dos guerreiros, uma nuvem de sombras se espalhou por parte do corredor. Tristan e Shadowing se lançaram em meio à escuridão. O ruído de metal se chocando preencheu o ar por alguns segundos. Quando as sombras se dissiparam, Tristan e Shadowing estavam em pé. Um dos bárbaros estava com três adagas nas costas. Outro fora decapitado. Outro, ainda, tinha a espada de Tristan cravada no peito. O último estava com a lâmina da alabarda fincada em seu pescoço.
Prefiro que as coisas sejam assim. Disse Tristan enquanto recuperava sua espada. Magias, espadas, adagas...sem ser furtivo.
É...até que é bom também. Shadowing andou até o bárbaro que estava com sua alabarda e a pegou de volta. Mas envolver os inimigos em sombras ajuda bastante.
Sim, mas eu só fiz isso porque... Tristan arregalou os olhos. Droga! Temos que correr!
Ah...verdade! O estrondo!
Os dois correram pela direita. Outro estrondo ressoou. Eles abriram uma porta à direita. Tristan e Shadowing correram por outro corredor até que eles se depararam com uma grande passagem a esquerda. Não havia porta, apenas uma inscrição em uma placa dourada próxima ao teto.
“Aqui é onde o futuro é traçado pelos homens que são guiados pelos grandes deuses. Vivemos pelo sangue que nós derramamoss. Se sobrevivemos uma batalha, é para servirmos em outra. Se morrermos em batalha, será apenas depois de matarmos um inimigo”.
Tristan? Shadowing chamou o amigo.
Ah...desculpe. O guerreiro das Trevas coçou a nuca. Eu estava lendo...
Desculpe-me, mas...temos outra prioridade, não?
Sim...certo, vamos.
Shadowing e Tristan chegaram até a sala do trono. Gabriel e Migrasi estavam no chão ofegantes. Diante deles, um guerreiro de pouco mais de dois metros de altura. Ele trajava uma armadura completa cor de ébano com inscrições rúnicas em azul. Ao longo da superfície metálica, diversas marcas de cortes podiam ser vistos. Os ombros da armadura eram em forma de patas de urso com garras longas. Ele carregava uma espada uma espada de mais de um metro e meio de comprimento. A coloração da arma era a mesma das inscrições da armadura. O capacete fora feito com o formato da cabeça de um urso rugindo. Seus olhos azuis celestes podiam ser vistos em meio às presas do elmo.  Longo cabelo grisalho podia ser visto saindo por uma brecha atrás do capacete.
Mais desafiantes, eu suponho? O guerreiro perguntou com sua voz grave e cansada no idioma das Terras do Norte.
A sala onde eles estavam tinha quase cinco metros de distância entre o chão e o teto. Armas e armaduras impressionantes estavam espalhadas pelos cantos e paredes do lugar. A bandeira do lugar estava exposta atrás de um trono feito completamente de prata. O desenho de um urso negro rugindo em um fundo branco estava estampado nessa bandeira.
Belo castelo. Disse Tristan.
Obrigado. O guerreiro agradeceu. Mas suponho que você não tenha vindo até aqui só para fazer elogios, certo?
Sim. Tristan invocou sua espada. Nós viemos derrubar seu reino.
Entendo...
Objeções?
Bem...você terá que me matar para isso.
Esse é o plano.
Ah... O bárbaro gargalhou. O som da risada ecoava pela sala, fazendo as paredes tremerem. Muito bem. Gostei da determinação, meu jovem...e de também poder falar com você na minha própria língua. Será uma boa luta, eu espero. Um duelo digno.
Duelo?
Sim. Um de cada vez. Esses dois já foram derrotados e poupados...por enquanto. Você pode me enfrentar...individualmente. Seu amigo deverá esperar, caso você seja derrotado. Não se preocupe. Nem os meus homens estão interferindo. Não precisa agradecer.
Bem...ótimo. Tristan apontou sua espada em direção ao oponente. Chega de conversa.

Em uma fração de segundos, o guerreiro das Trevas se lançou contra o bárbaro.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Um Outro Mundo, Capítulo 11

11.


Joshua corria contra o vento gélido. As árvores a sua volta, negras e retorcidas, o açoitavam com seus galhos que mais pareciam garras. Cortes apareceram em seu casaco, suas calças e até em seu rosto. Entretanto, o rapaz apenas trincou os dentes e continuou em frente, mantendo o mesmo ritmo.
Joshua! Uma voz familiar gritou.
O jovem olhou de onde a voz vinha e parou em seguida. De um outro caminho em meio as árvores Cristina e Richard, ambos com malas nas costas, vinham até ele.
Garoto! Ele chamou Joshua enquanto se aproximava junto de sua esposa. O que aconteceu? Foi puxado pra cá de repente?
Hm... O rapaz limou a garganta. Sim... Quando percebi, já estava aqui...
Achamos que não conseguiríamos chegar a tempo... Cristina disse claramente preocupada.
E também não sabíamos se demoraríamos para te encontrar. Acrescentou Richard. Por sorte, não levou nem um minuto... Ou mais. Não sei. Tempo é um conceito abstrato aqui...
Por sorte, não demorou muito para acharmos o livro. Cristina explicou. Quando percebemos que você tinha desaparecido, tentamos fazer tudo o mais rápido possível... E deu tudo certo felizmente.
Joshua olhava para o rosto dos dois. Richard estava confiante e, aparentemente, contente por ver o rapaz. Cristina, mais emocional, parecia estar quase chorando de felicidade por ele estar vivo.
Entretanto, era difícil confiar em qualquer coisa em Gehenna.
Joshua sabia que poderia estar sendo caçado por monstros que ele ainda não havia visto. Será que eles poderiam se transformar em pessoas que ele conhecia? Ou será que eles apenas teriam matado o casal e assumido suas formas?
Joshua abaixou a cabeça e deu um passo para trás.
Ah... Garoto? Richard o chamou. Algo errado?
Hm... Ele sentiu um nó se formando na garganta. Eu... O garoto olhou para o casal, tentando disfarçar seu medo. Eu não posso confiar em vocês?
O quê!? Richard parecia ofendido.
Mas por quê...!? Cristina indagou alarmada.
Mais um grito estridente veio da mansão. O casal olhou na direção da construção colossal. Enquanto isso, mais um calafrio percorreu a espinha de Joshua que, agora, já suava frio.
Desculpem-me... O rapaz murmurou.
Rapidamente, ele deu as costas para os dois e voltou a correr.
Entretanto, Joshua não deu mais do que dez passos para frente antes de parar. O som do tiro veio rapidamente. No chão a sua frente, agora, havia um buraco causado por uma bala.
O rapaz olhou para trás. Cristina parecia um pouco surpresa. Richard, pó outro lado, parecia ainda mais calmo com o revólver prateado na mão direita. Um leve fio de fumaça cinza saia do fim do cano da arma.
Se eu realmente te quisesse te matar, já teria o feito. Richard disse secamente. Por isso, tenha certeza de que eu sou o mesmo homem que queria te ajudar antes de vir para cá, certo? Não sou nenhum monstro covarde que não mostra a verdadeira face.
Principalmente por que um monstro teria queimado só de tocar nessa arma. Acrescentou Cristina com um sorriso. Armas de prata abençoada fazem parte dos exorcismos, sabe? Dos casos mais extremos, pelo menos...
Olha, sabemos que você está nervoso com... Bem, com tudo. Ele disse ao garoto soando, agora, um pouco mais empático. Mas confie em nós, ok? Você não conseguirá sair vivo daqui sozinho. E, até onde sabemos, você planeja salvar a sua Adriana, não é?
Hm... Joshua suspirou. É...
Então você vai ter que confiar em nós. Cristina disse docemente. Nós estamos nos arriscando por você, não é? O casal andou calmamente até o jovem. Ela, então, segurou as mãos de Joshua com delicadeza. Então... Confie em nós, por favor.
Joshua não conseguia olhar nos olhos dos dois. Ele pensou por alguns instantes de silêncio que, repentinamente, foram quebrados por mais um grito vindo da mansão.
O ar parecia mais gelado. O rapaz tremeu mais uma vez. Ele não conseguia parar de pensar em Adriana.
Certo... Joshua levantou a cabeça, olhou para os dois e, por fim, esboçou um sorriso. Vamos. Eu tenho um resgate a fazer.
Sorrindo, o casal assentiu.
Rapidamente, os três correram até a mansão, atravessando o portão de barras de metal negro e seguindo, agora uma pequena trilha de terra por entre um jardim repleto de flores púrpuras e pretas. O perfume do local era extremamente doce, quase nauseante. Entretanto, estava longe do cheiro pútrido que o rapaz imaginara.
Vários pensamentos rondavam a mente de Joshua. Entretanto, ele tentava não pensar. Perder o foco não era uma opção.
Agora, em frente à gigantesca porta de carvalho da mansão, um mau pressentimento atingiu Joshua. Entretanto, aquilo não o impediu de tocar a maçaneta prateada que, instantaneamente, girou.
Fantástico... Murmurou Richard enquanto a porta se abria.
A frente do trio, a escuridão os aguardava.
Vamos. Joshua disse determinado.
Os três entraram na mansão. Cristina sacou uma lanterna de sua mala. Mesmo assim, pouco era visível. Pelo eco que seus passos produziam, entretanto, era possível determinar que a sala onde estavam era de um tamanho considerável. Fora isso, apenas a umidade e o cheiro de mofo poderiam ser notados.
Entretanto, mais um grito de Adriana veio ecoando pela sala e, e um instante, todo o local havia sido iluminado, quase como se o próprio estivesse emitindo cor.
Agora, o trio olhava boquiaberto para o lugar que mais parecia ser o interior de um templo antigo. As paredes, chão, teto e colunas de sustentação pareciam ser feitos de mármore.
Entretanto, o lugar estava em ruínas. Detritos bloqueavam todas as passagens laterais e, também, acumulavam-se no piso, aleatoriamente, criando praticamente um labirinto de entulho. Partes das paredes e teto haviam caído há muito tempo. Algumas das próprias colunas não estavam mais inteiras. Com rachaduras marcando toda a paisagem, a sala parecia que iria se desfazer a qualquer instante.
No final do salão, o caminho se estreitava. Havia apenas uma passagem lá: uma porta aberta que seguia até uma escadaria. De lá, mais um grito de Adriana veio.
Bem... Richard respirou fundo, segurando o revólver em sua mão com força. Creio que todos já sabemos por onde devemos ir...
Tentando manter a calma, o trio caminhou pelo labirinto de detritos. Richard seguia na frente, seguido por Cristina e, por fim, Joshua.
O rapaz ficou ainda mais nervoso de repente. Ele não mais ouvia os gritos de Adriana. Era estranho, mas, no final, os berros agoniados dela era o que dava certeza a Joshua que ela ainda estava viva.
Será que Adriana não havia resistido? Será que ela havia, enfim, morrido?
Joshua não queria pensar naquilo. Ele não queria que sua amada sofresse, mas ele também não queria que todo seu esforço fosse em vão.
Eu ainda estou com um mau pressentimento... Cristina murmurou.
Joshua percebeu que, agora, eles já haviam atravessado o labirinto. O trio estava em frente à passagem que levava à escadaria.
Pessoalmente, eu estou com um mau pressentimento desde que viemos aqui... Richard trincou os dentes. Mas...
Ele parou de falar. A atenção de todos se voltou para os passos que vinham de cima deles, como se alguém, ou algo, extremamente pesado caminhasse no andar superior. Estranhamente, não havia um andar superior, ao menos, não antes do teto que parecia ter mais de cinco metros de altura.
De onde isso está vindo...? Joshua indagou.
De repente, os três perceberam ao mesmo tempo. Havia um buraco acima deles, praticamente rente ao teto. De lá, uma forma cinzenta pulou.
Rapidamente, o gigante aterrissou entre o trio e a porta aberta, causando um pequeno tremor.
Antes que eles pudessem reagir, Behemoth sacou a arma que estava pendurada com algumas cordas em suas costas.
Com um golpe certeiro, o maníaco atacou com o que mais parecia ser um martelo de guerra medieval, esmagando a cabeça de Richard e parte da parede atrás dele.
Cristina olhava praticamente paralisada na direção de seu, agora, falecido marido.
Joshua, entretanto, não conseguia tirar os olhos do monstro e a arma que ele carregava, tão cinzenta e brutal quanto o próprio dono.

Olá, Coelhinho... Behemoth abriu um largo sorriso. Eu disse que ia trazer um martelo pra próxima vez que nos encontrássemos, não foi?

domingo, 25 de outubro de 2015

Conto 14 - Parte 1

Monstro


Eu nunca fui como os outros. E ela também. Foi por isso que nos demos tão bem.
Ainda me lembro daquela noite, há quase trinta anos atrás. O dia em que nos conhecemos.
Ela estava em seu quarto, deitada em sua cama, com o quarto fracamente iluminado pela luz que vinha de fora da janela de vidro.
A garota não conseguir dormir. Crianças da idade dela sempre têm tanta energia.
Sua mente viajava sem rumo. Sua imaginação poderia a entreter por horas a fio.
De repente, a garota ouviu a janela sendo aberta. Ela arregalou os olhos na minha direção enquanto eu adentrava o quarto.
Entretanto, meus olhos vermelhos não a intimidaram. De fato, eles despertaram a sua curiosidade.
Nada parecia capaz de causar medo aquela garota. Minhas garras afiadas. Minhas presas retorcidas. Meu corpo alto, esguio, coberto por pelos escuros. Minha cauda que se arrastava no chão, serpenteando constantemente. Nada parecia surtir efeito.
Se a garota não gritasse, o trabalho seria muito mais fácil para mim. Se ela não tentasse fugir do quarto clamando pelos pais, eu acabaria com aquilo em questão de segundos.
Mas, é como eu disse antes. Eu não era como os outros monstros. Eu não sentia nenhum prazer em fazer aquilo. Eu apenas tinha que me alimentar. Era só.
Lentamente, eu me aproximei da garota. Seus grandes olhos verdes me encaravam quase maravilhados, como se eu fosse um animal que ela estava vendo pela primeira vez num zoológico.
Enquanto eu aproximava minhas garras de seu rosto alvo e macio, percebi que não poderia fazer aquilo. Eu não sabia exatamente o porquê, mas eu simplesmente não podia.
Abruptamente, eu deixei o quarto, saindo pela janela. Mas não antes de olhar novamente para a garota que, como eu esperava, apenas olhava em minha direção, sem se mexer, ainda parecendo maravilhada.
Aquilo me incomodou durante o dia seguinte. Fiquei pensando naquela garotinha, tentando entender o que ela tinha de especial.
Infelizmente, não cheguei a nenhuma conclusão. Porém, aquilo não importava. Eu terminaria o trabalho naquela noite. Eu nunca mais pensaria nela.
Ou foi isso o que eu pensei. Afinal, o inesperado tende a acontecer.
Antes que eu pudesse entrar no quarto da garota, eu ouvi um grito. Curioso e um pouco confuso, eu subi rapidamente a parede até janela do quarto.
Lá, eu vi que eu não era o primeiro monstro a invadir o quarto.
A criatura era muito menos intimidadora do que eu. Isso eu garanto. Aquilo mais parecia uma pessoa magra em uma fantasia de lagarto do que um monstro. Entretanto, a garota se escondia debaixo das cobertas, tremendo de medo, pedindo chorosamente para ser deixada em paz.
Eu não sei o que deu em mim. Quando percebi, eu havia puxado a criatura pelo ombro e, com um grito, fiz aquela desculpa de monstro tremer e fugir de medo.
Eu olhei para de volta para a garota. Ela, agora, olhava para mim, mais uma vez maravilhada. E eu, mais uma vez, deixei o quarto dela. Desta vez, porém, eu estava ainda mais confuso.
Eu havia acabado de salvar uma garota. Monstros não faziam. Mesmo eu sendo diferente dos outros, aquilo era bizarro.
Porém, por mais estranho que eu me sentisse, por mais confusa que minha mente estivesse, eu não sentia que havia feito algo errado.
Mais uma noite havia chego. Mais uma vez eu havia voltado até o quarto daquela garota. Desta vez, porém, ela já me aguardava.
Quando eu entrei no quarto, eu a vi deitada na cama, com as costas na parede atrás dela. No momento em que ela me viu, a garota sorriu e se levantou da cama.
Eu permaneci parado, confuso, observando a criança se aproximar de mim.
A garota, com aqueles grandes olhos verdes, olhava para mim enquanto sua mão vinha lentamente em minha direção. Eu não me mexi. Ela afagou gentilmente meu pelo, como se eu fosse seu animal de estimação. Então, rapidamente, ela me abraçou.
Foi uma sensação estranha. Parte de mim queria afastar a garota. A outra estava confortável como nunca.
Obrigada. Ela disse baixo.
Claro que ela estava se referindo à noite anterior, quando eu a salvei.
Eu olhei de volta para a garota. Ela sorriu calorosamente. E eu fiz o mesmo sem pensar.
Não tem medo de mim? Indaguei. Afinal, minha curiosidade era desconcertante.
Não. Ela respondeu simplesmente.
Mas você sentiu medo do monstro de ontem, não é?
Ela assentiu rapidamente.
Mas por que você teve medo dele e de mim não?
Porque você é diferente. Você não ia me fazer mal Ela sorriu.
Ah... Fiquei surpreso. E como você sabe disso?
Não sei. Só sei.
Claro que uma criança não me daria uma resposta muito esclarecedora. Entretanto, eu admito que fiquei satisfeito com a sinceridade. Afinal, agora eu não era o único que me considerava diferente.
O futuro seria complicado para mim agora. Eu não tinha muita certeza do que faria. Por isso, precisava de tempo para pensar.
Tenho que ir. Disse à garota.
Tudo bem. Ela respondeu. Mas você volta amanhã, não é?
Hm... Mas uma vez, eu estava surpreso. Ah... Claro...
Então me promete! Ela estendeu o mindinho na minha direção.
Eu olhei confuso para ela. Ela me pareceu um pouco irritada.
O que é isso...? Perguntei.
Faz a mesma coisa! Ela mandou.
Por quê...?
Por que sim! É assim que se faz uma promessa!
Ah... Eu hesitei por um instante, mas, no fim, estendi o meu mindinho na direção dela. Assim?
Rapidamente, ela entrelaçou o dedo dela com a minha garra, sem medo de se machucar.
Eu olhei para a garota. Ela sorriu largamente.
Ok! Ela disse. Tudo certo!
Certo... Então posso ir agora?
Sim!
Eu me virei para trás, em direção à janela.
Ah é! Ela exclamou antes que eu pudesse ir embora. Eu virei em sua direção. Qual o seu nome?
Hm... Crocell. Resolvi responder sinceramente.
Uau. Que nome diferente... Gostei! Ela sorriu.
E o seu nome? Perguntei.
Amy! Você não vai se esquecer, ou vai?
Tentarei não esquecer... Sorri. E agora... Eu tenho que ir... E você tem que dormir, não é?
É... Ela pareceu desanimada por um segundo. Porém, rapidamente ela sorriu de novo. Mas tudo bem, por que amanhã eu te vejo de novo!
Claro...
Tchau, Crocell! Ela se despediu com um aceno.
Adeus, Amy. Acenei de volta.

Enquanto ela voltava para cama e se cobria, eu saí pela janela, mais confuso e feliz do que nunca. 

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Conto 13 - Completo

Gosto Amargo



Gestas. Uma cidade sem leis onde a escória da humanidade habita. Ladrões, assassinos, traficantes, estupradores. Escolha um. A cidade tem de sobra.
Lá era o lugar onde muitos nascem e mais ainda morriam. Entretanto, isso não era trágico. Como poderia? Ninguém se importava com eles. Nem mesmo amigos e familiares.
Parecia que havia algo no ar fétido da cidade. Melhores amigos, pais e filhos, casais apaixonados. Uma pessoa se voltaria contra a outra e a trairia, sem hesitar, sem sentir remorso.
Entretanto, Gestas também era o lar de um punhado de boas almas. Infelizmente, essas não duravam. Se não morriam mais precocemente que as maçãs estragadas, acabavam sendo tragadas para a podridão com elas.
Eu gostaria de dizer que Marcos, nosso protagonista, era uma alma boa. Porém, ele parecia haver se corrompido há tanto tempo que eu não tenho mais certeza de sua natureza.
O então garoto cresceu, ou melhor dizendo, sobreviveu na cidade por vinte e três árduos anos. Criado nas ruas, roubando para sobreviver, matando quando necessário, vendo aqueles que ele chamava de amigos sendo mortos diante de seus olhos ou, então, deixando-o de lado, Marcos poderia justificar seu comportamento anti-social e fala lacônica.
As poucas vezes em que o jovem entrou para alguma gangue fora por falta de opção. Houveram múltiplas situações em que Marcos precisou de dinheiro o mais rápido possível. Comida, aluguel, armas, munição, remédios. Tudo isso tinha o seu preço. Tudo isso o obrigava a aceitar qualquer trabalho.
 Entretanto, Marcos parecia carregar algum tipo de maldição. Seus aliados nunca permaneciam muito tempo ao seu lado. Todos os que não o abandonavam acabavam mortos. E era assim que o jovem saía das gangues que entrava: sendo o único sobrevivente de algum massacre.
Aliás, essa era a sua benção: sobreviver. Não importava o quão improvável fosse, o desgraçado conseguia se manter vivo. Apesar dos ferimentos de tiros, facas e algumas eventuais queimaduras, ele continuava respirando. E não só isso: Marcos sempre matava quem tentava tirar sua vida. Era quase como se ele não fosse humano. E, droga, ele adorava pensar assim.
O apelido Anjo da Morte veio com o tempo. Aquilo apenas servia para inflar o ego do mercenário que começava a ganhar fama naquele inferno.
Apenas ele mesmo seria capaz de matá-lo! Foi o que Marcos ouviu uma vez num bar nas redondezas. A admiração que vinha por parte de alguns era ótima. Ele quase podia sorrir. Entretanto, o pensamento de ele mesmo tirar a própria vida lhe dava medo. Afinal, foram tantas as vezes que o mercenário, outrora um garoto assustado, pensou em escapar de Gestas com um simples puxar de gatilho.
Uma batida soou na porta do apartamento de Marcos. Várias outras, inquietas, vieram em seguida. Aquilo acordou o mercenário.
Trincando os dentes, Marcos se levantou do colchão amarelado que era sua cama. Esfregando os olhos, bocejando e coçando o cabelo negro e desgrenhado, o jovem praticamente se arrastava até sua porta.
Alguém aí? Um homem perguntou do outro lado da porta.
A maçaneta girou. Rapidamente, a porta se abriu.
O homem que o esperava foi recepcionado com um revólver apontado para sua testa.
Não atire! Ele suplicou, tremendo. Por favor, me ouça!
Hm... Marcos grunhiu e olhou para sua provável próxima vítima. O terno surrado que parecia ter sido jogado fora. Os sapatos gastos e opacos. A expressão medrosa no rosto que o fazia parecer com um rato. Por fim, o jovem abaixou a arma. Fale.
Bem... O homem limpou a garganta. Eu tenho um trabalho pra você.
Então você deveria ter ido à agência.
Mas, veja bem, somente você seria capaz de fazer o serviço que tenho em mente.
Por quê?
Porque só você tem a motivação necessária. Ele abriu um largo sorriso. Vingança, meu caro.
Hm... Marcos olhou diretamente nos olhos do homem a sua frente. E você sabe quem são os meus inimigos?
Fora esse, não.
O mercenário saiu de dentro do apartamento e, rapidamente, jogou o estranho contra uma parede, levando uma mão ao pescoço dele e, a outra, a sua cabeça.
Eu não sou de ter inimigos, sabe? Marcos disse calmamente. Eu não os deixo vivos.
Mas... Esse é... Diferente. O sujeito falou com dificuldade enquanto era sufocado.
Diferente como?
Você... Não se lembra dele... Não tem... Como você se lembrar...
Explique.
Você... Era muito novo... Não vai... Conseguir se lembrar... Mas... Mas...
Marcos poderia ter matado o sujeito ali, sem gastar uma bala, sem manchar-se de sangue. Porém, o homem com cara de rato disse mais duas palavras, dois nomes. Aquilo fez com que o mercenário o poupasse.
Rita... Heitor...
Após essas palavras, Marcos soltou o pescoço do sujeito. Rapidamente, o homem caiu no chão, com as costas na parede, respirando freneticamente, tentando recuperar o ar.
Então... O mercenário começou a falar. O cara que você quer que eu mate... Foi ele o responsável pela morte deles?
O sujeito assentiu.
E como você sabe disso? Marcos apontou o revólver para o homem no chão. Diga!
Eu trabalhava para ele... Para o desgraçado do Capo agora...
Capo? Marcos ergueu uma sobrancelha. O mafioso de Dimas?
Sim! Esse mesmo... O sujeito tossiu. Trabalhei para ele durante anos, mas agora... Ele me vê como algo a ser substituído... Por uma versão mais... Nova... Outra tosse, agora mais forte, veio. O cretino que vai tomar o meu lugar... Já pegou tudo de mim... Só me restaram esses trapos que visto...
Hm... Entendo. E você sabe demais para sair andando por aí. É isso?
É... Negócios... Sabe como é, não é?
Claro, claro... Então você quer que eu mate o Capo antes que ele te mate. Simples assim?
Bem... O homem levou a mão esquerda ao bolso de sua calça e, rapidamente, tirou um pedaço de papel. Aqui está o endereço. E a senha para você entrar na base.
Certo... Marcos pegou o pedaço de papel e o leu rapidamente. Tem mais alguma coisa pra falar?
Só que você vá e mate o desgraçado do Capo o quanto antes... Ele não pode chegar até mim...
Não se preocupe. Ele não vai te matar.
Claro... O sujeito riu. Eu queria poder ter certeza disso...
Então... Marcos se agachou ao lado do homem e o olhou nos olhos. Presumo que você não tenha como me pagar pelo trabalho, não é?
Ora... A vingança na é o suficiente?
Esse que é o problema...
Como assim?
Se eu for começar a matar pessoas de graça... Acho que eu poderia me livrar de algumas que podem se tornar um incômodo... Ele coçou a barba por fazer. Sabe? Pessoas que conseguiram descobrir onde eu moro, por exemplo.
O sujeito tentou protestar. Porém, Marcos foi mais rápido.
Antes que o homem com cara de rato pudesse dizer uma palavra, Marcos torceu seu pescoço, quebrando-o em um movimento repentino.
O mercenário estava quase feliz por não ter tido que gastar munição com o sujeito.
O mais rápido que pôde, Marcos voltou para seu apartamento pela última vez. Afinal, voltar para o lugar não seria uma escolha sábia. Já haviam o encontrado uma vez, poderiam encontrá-lo de novo.
Ele pegou sua jaqueta de couro e colocou por cima da camisa regata amarelada que usava. Em seguida, pegou os coturnos e os calçou. Então, pegou as chaves e carteira e as colocou nos bolsos da calça jeans surrada que já usava. Por fim, antes de sair do apartamento, o mercenário pegou um medalhão.
O pequeno objeto era feito de prata. Entretanto, ele nunca ousou o vender. Afinal, ele era muito precioso. Dentro dele, à direita, havia uma foto. Um homem, uma mulher e uma criança pequena sorriam juntos. À esquerda, três nomes estavam cravados: Marcos, seu nome, além de Heitor e Rita, seus pais.
As memórias eram meio turvas. Marcos não se lembrava muito bem de sua infância fora das ruas. Afinal, aquela época feliz aconteceu quando ele era apenas uma criança de não mais de quatro anos de idade. Entretanto, era aquela imagem dos três reunidos no medalhão que fazia a memória persistir em sua mente, dando-lhe forças todos esses anos.
Matar o responsável pela morte de seus pais, o responsável por todo o seu sofrimento, era uma oportunidade que o mercenário não deixaria passar.
Em questão de instantes, Marcos já estava em sua garagem. Com sua sempre confiável moto, além de todas as armas e balas que ele podia carregar, o mercenário deixou o lugar e partiu para Dimas.
Debaixo do céu cinzento, Marcos seguia para seu destino. A estrada, situada no que era praticamente um deserto sem cor, estava praticamente inabitada. O mercenário sabia que podia dirigir o quão rápido quisesse, sem obstáculos. Entretanto, ele também sabia que não chegaria tão cedo até Dimas. A viagem demoraria mais de um dia. Caso ele passasse a noite em algum lugar, era provável que ele só chegasse até o seu alvo na noite do dia seguinte.
Suor escorria pelo rosto do mercenário enquanto ele percorria a estrada em sua moto. O céu nublado ameaçava chuva, porém, nada fazia a não ser se comportar como uma estufa. Um gole gelado de cerveja o faria bem agora. Um cantil de água cheio viria a calhar mais tarde.
O calor diminuiu com a chegada da noite. A lua brilhava absoluta no céu. O ronco do motor da moto de Marcos era praticamente o único som a ser ouvido na estrada.
O mercenário insistiu em dirigir por mais alguns quilômetros. Entretanto, o inevitável cansaço começou a atingi-lo. Sua vista, em pouco tempo, tornou-se pesada. Seu corpo estava dolorido por ter passado tantas horas seguidas em cima da moto, na mesma posição.
Exausto, ele seguiu até o bar mais próximo. O lugar era acabado, feito de madeira no melhor estilo Velho Oeste. Não seria surpresa se o lugar fosse tão velho assim também. Entretanto, funcionava. Marcos podia ouvir vozes vindas do lugar, além das luzes acessas pela janela e de algumas motos estacionadas do lado de fora.
Em uma placa gasta, sobre a porta de entrada do lugar, lia-se Pousada do Sol Nascente. Se o nome fosse confiável, Marcos teria uma cama para passar a noite.
Ao estacionar sua moto, o mercenário ouviu um tiro. Em seguida, veio o grito estridente de uma mulher.
Rapidamente, Marcos desceu de sua moto, armado com uma escopeta em mãos e um revólver no bolso.
A porta da pousada foi aberta com um chute do mercenário.
Lá, Marcos viu aquela cena. Um morto velho caído num canto, em cima de uma poça de sangue que se formava lentamente, com um buraco na testa. Uma mulher, que devia ter um pouco mais de quarenta anos, estava sendo segurada contra um balcão enquanto quatro homens, vestidos como típicos marginais, rasgavam seu vestido com as mãos, quase como animais selvagens com suas garras e presas.
O estômago do mercenário se revirou ao ver as lágrimas escorrendo do rosto da bela mulher e os sorrisos largos nos rostos dos homens.
Claramente, todos agora olhavam para Marcos. Os sorrisos desapareceram em um instante.
Ei! Um dos homens gritou. Qual é...?
Antes que ele pudesse terminar de falar, o mercenário sacou seu revólver e acertou um tiro em seu pescoço.
Rapidamente, aquilo se tornou uma batalha.
Marcos tombou uma mesa do seu lado e a usou de barricada. Os marginais soltaram a mulher e se revezavam entre atirar e se esconder.
Quando as balas do revólver de Marcos chegaram ao fim, mais dois homens já haviam caído no chão sem vida. Ele havia errado três tiros, mas fez as outras duas balas valerem.
O remanescente pensou em usar a mulher como refém. Entretanto, ele havia se afastado dela. Quando conseguiu voltar até ela, o mercenário conseguiu surpreendê-lo com um tiro de escopeta no peito.
Ao se dirigir à mulher, ela abraçou Marcos, enterrando seu rosto no peito dele.
Obrigada... Ela conseguiu dizer. Obrigada...
Em seguida, tudo aconteceu muito rapidamente.
Me chamo Josephine. A mulher disse. Você?
Marcos. O mercenário respondeu. Então, ele rapidamente olhou para o balcão do bar. Posso beber algo?
Ah, claro! Ela respondeu quase alegremente e, então, pegou uma garrafa de cerveja, que parecia ser chique demais para o lugar, da geladeira e a entregou para Marcos. Beba o quanto quiser. Essa é por conta da casa. Ela piscou para ele. Já volto. Vou colocar uma roupa que não esteja... Rasgada, ok?
Ok.
Josephine subiu as escadas rapidamente. Marcos não demorou para abrir a garrafa e tomar um gole refrescante da bebida. Ele não conteve um sorriso. O mercenário sabia um pouco sobre cervejas e, com certeza, aquela era ótima.
Entretanto, não demorou muito para que a bebida acabasse. Marcos se viu jogado, apoiado no balcão, olhando para a garrafa vazia, tentando não dormir.
Marcos. Josephine o chamou. Ela estava agora do seu lado. Não vai dormir agora, vai?
Hm... O mercenário esfregou os olhos. Ele nem havia percebido que ela havia chego. Hm... Acho que sim... Mas... Ele olhou para os corpos mortos no chão, em específico, para o do velho. Você podia me contar sobre eles...
Ah... Sua expressão se tornou triste em um instante. Aquele era Jorge... Trabalhávamos juntos aqui. Ele que era o proprietário do bar. Ele me contratou quanto eu estava sem rumo, depois da morte do meu marido e do desaparecimento de meu filho...
Entendo... Marcos não pôde deixar de sentir compaixão por alguém que sofrerá tanto quanto ele. E você vai ficar bem agora?
Eu não sei... Mas não vou ter cabeça pra pensar nisso agora. Eu preciso de uma boa noite de sono... E de um drinque... E talvez... Ela olhou para os olhos do mercenário. Companhia para a noite?
Marcos sorriu e assentiu. Josephine pegou uma garrafa de uísque debaixo do balcão. Então, os dois subiram as escadas e se dirigiram para o quarto onde passariam a noite.
Na manhã seguinte, Josephine acordou, tranquila, ao ver Marcos no quarto com ela.
Dormiu bem? Ela perguntou sorridente.
Claro que sim. Ele devolveu o sorriso enquanto se vestia. Você?
Também... Josephine soou um pouco desanimada ao perceber que Marcos estava de saída. Então... Você já vai?
Sim.
Ah... ok. Ela olhou ao redor e viu um objeto brilhante entre os lençóis. Hm... Ela pegou o medalhão de prata de Marcos. O que temos aqui?
O motivo da minha vinda.
Por quê? Ela abriu o medalhão. Ah...
Essa é família que foi tirada de mim. Vou matar o maldito que me fez sofrer. Vou vingar o meu pai. Vou vingar a minha mãe. Vou me vingar. E nada vai me impedir.
Hm... Entendo...
Marcos olhou para Josephine. Talvez a ideia de vingança e mais derrame de sangue não a fizesse se sentir muito bem. O que fazia sentido. Para alguém da região, ela era muito delicada e até um pouco ingênua.
Espero que você fique bem. O mercenário disse quase zelosamente. Depois de tudo o que aconteceu ontem...
Claro... Ela murmurou.
Marcos foi até o lado da mulher e, com um beijo rápido nos lábios, despediu-se de Josephine.
Após descer as escadas e subir em sua moto, um mau pressentimento o atingiu.
O mercenário ignorou aquilo e, rapidamente, já estava de volta à estrada deserta.
Antes que ele pudesse perceber, Marcos já estava em Dimas.
O sol se punha no horizonte. O calor estava no limite do suportável. A água do cantil de Marcos havia chego ao fim há mais de uma hora. Entretanto, nada disso importava agora. O mercenário tirou o papel que receberá ontem e o leu mais uma vez. O endereço, bem como pontos de referência, estavam escritos nele. Montado em sua moto, não demoraria para ele chegar até a base de Capo.
Minutos se passaram, não mais de vinte. Marcos estacionou sua moto num beco. A luz da lua mal iluminava o lugar imerso nas sombras. Entretanto, a porta de metal cinzenta se destacava dos tijolos escuros.
O mercenário respirou fundo. Ele se armou completamente. O fuzil e a escopeta estavam em suas costas. O revólver e a pistola automática estavam em seus bolsos, juntamente com mais uns punhados de munição.
Antes de se dirigir à porta, porém, Marcos se voltou para a entrada do beco. Ele havia ouvido passos. Um homem vinha até ele.
O sujeito vestia trapos amarelados, tinha a pele coberta por sujeira, fedia a bebida barata e tinha a barba e o cabelo compridos e desgrenhados. Não passava de um morador de rua. Provavelmente, morava naquele beco. Por isso, o mercenário não se importou com ele.
Não faça isso. O mendigo disso para Marcos instantes antes de ele bater na porta. Nada de bom vai sair daí.
Sério? Ele se voltou para o estranho. E como você sabe disso?
Por que um homem mau mora aí.
Eu sei. E eu estou aqui para tirar a vida dele.
Por quê?
Para me trazer paz.
Violência não traz paz...
É o que veremos.
Marcos bateu na porta. Um pequeno visor se abriu.
Qual a senha? Um homem perguntou.
Marcos respondeu prontamente.
Certo. O homem destrancou a porta. Era mais um típico marginal. Talvez um pouco maior e mais forte que os outros, mas era isso. Seja bem vindo. Ele olhou para o mendigo no beco e apontou uma pistola da direção dele. Saia!
O mendigo correu para longe, saindo do beco.
Espero que ele não tenha te irritado. O marginal disse. Ele faz muito isso.
Não se preocupe. Marcos respondeu.
Então... Qual o seu assunto com a gente?
Com vocês? Não... Com o Capo.
Ora... Ele cuspiu no chão. Veio falar sobre o quê?
Marcos não disse mais uma palavra. Ele simplesmente sacou seu revólver a atirou na cabeça do marginal.
Mais capangas viriam até ele agora. Marcos tinha noção disso. Porém, ele preferia eliminar qualquer um que pudesse o atrapalhar o quanto antes. Se tudo desse certo, o mercenário ficaria a sós com Capo no final.
Seguindo até o fim do corredor, o caos começou. Os capangas de Capo vieram investigar o som do tiro. Rapidamente, Marcos sacou a escopeta e derrubou os dois primeiros.
Em seguida, a tempestade de balas teve início. Marcos se protegia atrás de qualquer coisa, de caixotes de madeira a barris de metal, evitando ser atingido e, ao mesmo tempo, atirando incansavelmente.
Rajadas do fuzil derrubavam inimigos rapidamente. Balas de revólver acertavam quem tentava se esconder. Tiros de escopeta abriam um buraco no peito daqueles que chegavam muito perto.
Não se passaram mais de cinco minutos. Mais de trinta corpos estavam estirados no chão, jogados sobre uma poça do próprio sangue. Marcos respirava pesadamente enquanto andava por entre os cadáveres. Agora, ele segurava apenas o seu revólver. Aquela era a única arma que ainda tinha munição. Duas balas. Uma para a cabeça e outra para o peito de Capo. Uma bala pra cada pessoa que o desgraçado havia tirado dele.
O mercenário estava praticamente intacto, pelo menos, para um conflito como aquele. A maioria dos tiros pegou de raspão nele, causando mais danos a suas roupas do que ao seu corpo. A orelha esquerda fora quase completamente dilacerada por um tiro. A panturrilha direita havia sido perfurada por um tiro, porém, não mais sangrava. O mesmo podia ser dito sobre seu ombro esquerdo. Esses foram os únicos ferimentos.
Com a adrenalina tomando conta de seu corpo, Marcos continuou andando com passos rápidos e pesados, ignorando a dor que estava sentido.
No fim do lance de escadarias havia uma sala. Havia apenas uma porta. Marcos tinha certeza que era lá onde Capo estava.
Antes que ele pudesse chegar à porta, entretanto, uma mão agarrou o ombro do mercenário. Ele se virou para encontrar o morador de rua de antes.
Isso não vai te trazer paz. Ele disse a Marcos. Isso só vai lhe trazer dor...
O mercenário não disse nada. Ele simplesmente trincou os dentes e agarrou a garganta do mendigo. Marcos viu o medo nos olhos do homem. Também viu a vida deixar o corpo dele enquanto ele puxava o gatilho.
Com um tiro na cabeça, Marcos havia adicionado mais uma morte a sua conta daquele dia, apesar de não ser a intenção dele. Entretanto, a raiva havia o tomado. Ele não pensaria na morte de um inocente que nem valia uma recompensa. Não pensaria por conta própria, pelo menos.
Havia, ainda, uma bala no revólver do mercenário. Mesmo assim, aquilo já era mais do que o suficiente.
Marcos chutou a porta. Surpreendentemente, ela estava aberta.
Dentro da sala, um homem loiro, de olhos verdes, trajando um terno caro estava sentado em frente a uma mesa. Ele sorria largamente para o visitante.
Então você finalmente chegou. Capo parecia alegre. Eu esperava por esse dia.
Marcos apontou o revólver para a cabeça do mafioso.
Nem pense em puxar esse gatilho. Ele riu baixo sem tirar os olhos do rosto do mercenário. Não agora, pelo menos...
Você acha que tem o direito de falar algo!? A mão de Marcos tremia enquanto segurava o revólver. Hein!?
Ora... Tenho muita coisa pra explicar. Caso contrário, essa vingança seria muito vazia, não acha?
Eu só tenho que te matar. Aí eu serei vingado. Você não precisa falar nada.
E quem disse que eu estou me referindo a sua vingança?
Ah... Marcos parecia confuso. Como assim?
Estou me referindo a minha vingança.
Como!?
Você ouviu bem... Minha vingança. Afinal, eu que fui traído por um amigo e a mulher que eu amava. E você foi o fruto dessa traição. Ele sorriu amargamente. Aposto que você não sabia dessa parte, não é?
Ah... Marcos não conseguiu falar nada por alguns instantes. Mas, no fim, você os matou! Você teve a sua vingança! E ainda arruinou a minha vida! Agora, é a minha vez! Eu vou ter a minha vingança! Eu...!
E quem disse que eu matei os seus pais? Capo disse rispidamente.
Hm...
Você não os viu sendo mortos. Ele riu. Aliás, você viu um deles sendo morto. O outro você apenas o ajudou a tirar a própria vida.
Do que você está falando!?
Ora, ora... Eu não matei os seus pais. E nem você. Eu apenas os separei. Mas você acharam que vocês estavam sozinhos no mundo. Então, cada um seguiu um rumo. Mas vocês se viram posteriormente. Pelo menos, você viu os seus pais. Você apenas não os reconheceu... Capo abriu uma gaveta da mesa e tirou três papéis de lá. Ele escolheu uma das folhas e a entregou para Marcos. Veja. Eis o seu pai. Essa é a foto mais recente que consegui.
O mercenário se aproximou de Capo para pegar a folha. Ele não abaixou seu revólver nem por um instante. Pelo menos, até olhar a imagem.
Marcos ficou boquiaberto por um instante. Em seguida, ele trincou os dentes. A foto era de um homem com barba e cabelos grandes e desgrenhados. Era o morador de rua que ele havia acabado de tirar a vida.
Você realmente quer que eu acredite nisso!? O mercenário bradou. Como...!?
Bem, já esperava essa reação. Capo o interrompeu. É difícil de acreditar que ele ficou louco e acabou nas ruas. E é por isso mesmo que eu tenho que te mostrar essas outras duas folhas. Ele separou uma das folhas. Pegue. Veja sua mãe. A mulher que eu amei...
Marcos não conseguiu dizer nada. Aquilo não era mais uma brincadeira de mau gosto. Praticamente tremendo, ele tirou os olhos da foto de Josephine.
A propósito... Fui eu que gravei os nomes falsos no seu medalhão de prata. Capo sorriu. Afinal, você não poderia saber o nome verdadeiro dela para isso dar certo, não é? Ele jogou a última folha no chão, bem aos pés de Marcos. Essa foto é dela... Foi tirada a poucas horas.
O mercenário soltou o revólver. Em seguida, foi ele que caiu de joelhos. Josephine estava morta, em algum canto, com os pulsos cortados.
Imagino que você tenha mostrado a foto para ela. Disse Capo. Assim, você só ajudou me ajudou. Afinal, não demorou muito para que ela tirasse a própria vida após perceber que foi pra cama com o próprio filho. Ele riu escandalosamente. Você não acha, jovem Édipo?
Marcos gritou, tentando negar tudo. Ele colocou a cabeça junto aos joelhos e desejou que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo. Mas a risada de Capo não desaparecia.
Sentindo um gosto amargo impregnado em sua boca, Marcos levantou o rosto e pegou seu revólver de volta.  Capo sorriu enquanto viu o mercenário atirando na própria cabeça.

Agora, o mafioso havia completado a sua vingança.