The City of
Barbarians
A
Cidade dos Bárbaros
Na manhã do dia seguinte...
—
Preparados? — Gabriel
perguntou.
Tristan, Shadowing e Migrasi assentiram. Os quatro
aliados estavam lado a lado, cerca de um metro a frente do exército misto.
—
Ótimo. — Tristan
sorriu.
Os dois Escolhidos se entreolharam e, em seguida, olharam
em direção ao exército. Ambos os guerreiros invocaram suas espadas e
apontaram-nas em direção ao céu ainda negro.
—
Vamos, homens! —
Tristan e Gabriel bradaram em uníssono.
O exército urrou cheio de energia e, rapidamente,
começaram a marchar. Em um instante, Migrasi, Shadowing, Gabriel e Tristan já
haviam desaparecido. Enquanto o exército seguia por uma trilha tortuosa, os
quatro aliados seguiam pelos céus. Abaixo deles, uma antiga estrada já podia
ser avistada. O caminho amplo coberto de neve entre as rochas seguia até a
capital do reino de Isbjerg.
“Estamos tão perto...”.
Um grupo de cinco guerreiros patrulhava um ponto da
estrada. Tristan parou subitamente no ar e abriu suas asas feitas de Trevas.
Rapidamente, seus três aliados pararam também.
—
Qual o problema? —
Shadowing perguntou.
—
Nenhum. — Tristan
sorriu.
Em uma fração de segundos, o guerreiro sombrio arremessou
cinco adagas em direção ao grupo de bárbaros. Percorrendo uma distância de
vinte quase vinte metros, as lâminas foram cravadas nos crânios dos guerreiros.
—
Nossa... — Shadowing
riu. — Não precisava
se exibir tanto.
—
Eu não pude evitar. —
Tristan sorriu.
Migrasi bateu palmas.
—
Ora, obrigado pelos aplausos, Anjo. —
Tristan soava realmente sincero e lisonjeado. —
E você, Gabriel? Algum comentário? —
O guerreiro das Trevas olhou em direção ao aliado. — Ah...
O guerreiro da Luz não estava mais no mesmo lugar.
—
Algum de vocês viu...? —
Tristan perguntou.
Sem dizer nada, Migrasi apenas apontou em direção a um
ponto da estrada mais a frente. Essa parte da estrada circulava um rochedo
gigantesco que bloqueava a visão de parte do caminho.
—
Ah...bem...eu consigo sentir alguma coisa vinda daquela direção. — Disse Shadowing . — Creio que seja a aura de
Gabriel. — Ele coçou
a nuca. —
Migrasi...você viu ele ir até lá?
O Anjo balançou a cabeça em negativa.
—
Ótimo... — Tristan
suspirou. — Você
simplesmente conseguiu sentir a energia do Gabriel a essa distância sem
problema algum?
Migrasi assentiu.
—
Certo. — O Demônio
encapuzado respirou fundo. —
Vamos até ele.
Em poucos instantes, os três aliados chegaram até o ponto
onde Gabriel estava. No chão, um trio de bárbaros estava no chão sem vida.
—
Ele não está mais aqui... —
Afirmou Shadowing. —
Lá! — O Demônio
apontou para um ponto mais a frente. —
A energia dele...
—
Desgraçado... —
Tristan disse irritado e, em seguida, riu.
—
Tristan...? —
Shadowing o chamou, um tanto preocupado com a reação do amigo.
—
Não se preocupe. Não é nada. Só que... —
O guerreiro riu novamente. —
Aquele desgraçado aproveitou a nossa brecha para seguir sozinho matando
bárbaros por conta própria...
—
Ah...entendo. Agora faz sentido.
—
Sim... — Tristan
sorriu. — E você acha
que eu sou o exibido.
—
E você é, sem sombra de dúvidas. Gabriel é apenas egoísta...de um certo modo. Ele
não fica se exibindo.
—
Bem...que seja. Vamos logo até ele.
Os três aliados seguiram em direção a energia de Gabriel.
Alguns bárbaros estavam jogados mortos pelo caminho. No total, quatro
guerreiros e três arqueiros foram vítimas do Escolhido de Leviathan. Após
alguns instantes, os três haviam chego até Gabriel. O guerreiro da Luz pairava
no ar com suas asas de Luz.
—
Como vocês são lentos. —
Gabriel zombou.
—
Você que é apressado. — Tristan
retrucou. — E
egoísta. Você podia ter deixado um pouco dos bárbaros para o Shadowing ou para
o Migrasi.
—
Não faz diferença agora. —
O Demônio encapuzado disse. —
Olhem para frente.
A menos de um quilômetro de distância, estava a capital
do reino de Isbjerg. Grandes muralhas de rochas acinzentadas e enegrecidas protegiam
o local. A neve era visível no topo de algumas construções, mesmo apesar da
distância.
—
Bem...vamos? —
Gabriel perguntou.
Migrasi, Shadowing e Tristan assentiram. Os quatro
seguiram rapidamente em direção a cidade. Quanto mais se aproximavam, mais
fortes os ventos se tornavam.
“Droga...”.
Os ventos que seguiam contra eles traziam neve. Em pouco tempo,
os quatro aliados se depararam com uma pequena nevasca. Já dentro dos limites
da cidade, a poucos metros do castelo inimigo, Gabriel parou no ar.
—
O que foi agora? — Tristan
indagou irritado.
—
Não temos nenhum plano bem arquitetado para a invasão do castelo. — Gabriel disse calmamente.
— Devíamos, ao menos,
definir como vamos entrar no local.
—
Sem problemas. — O
guerreiro das Trevas disse rispidamente. —
Nos dividimos em duplas. Um cobre a retaguarda do outro. Não causaremos alerta
até acharmos o líder inimigo. Quando o acharmos, causem um alerta proposital.
Assim, caso apenas uma dupla encontre a, digamos, sala do trono, a outra dupla
pode rapidamente se juntar ao assassinato. Após matarmos o grande bárbaro
desgraçado, sairemos todos juntos e escapamos enquanto provocamos às forças
inimigas. Uma pequena tropa nos seguirá e se deparará com o nosso exército. Os
bárbaros serão facilmente mortos e, então, marcharemos até a cidade e mataremos
o resto deles. —
Tristan respirou fundo. —
Alguma dúvida?
—
Ah...bem...não. —
Gabirel disse estupefato. —
Belo plano.
—
Obrigado. — Tristan
sorriu e se voltou para Migarsi e Shadowing. —
E vocês? Alguma dúvida?
O Anjo balançou a cabeça em negativa.
—
Bem...quais serão as duplas? —
O Demônio encapuzado perguntou.
—
Luz e Luz, Trevas e Trevas. —
Tristan disse com simplicidade. —
Mais fácil assim, não?
Os três aliados assentiram com a cabeça, apesar da
expressão no rosto de Gabriel fosse de certo receio.
“Ah...é. Ele não confia no Migrasi”.
Tristan bufou.
—
Eu acredito que não haja nenhum jeito melhor também, para ser sincero. — Disse o guerreiro das
Trevas.
—
Sim. — Gabriel
concordou, tentando esconder sua relutância. —
Sendo assim...vamos. Entraremos pela mesma janela e, então, cada dupla segue um
caminho distinto. Certo?
Migrasi e Shadowing assentiram. Tristan estava com o
olhar perdido.
“Essa cidade...meso nesse lugar quase inóspito de tão
frio...tão distante do resto mundo...essa cidade...parece ser...linda, até.
Mesmo coberta pela neve, as construções parecem ter sido esculpidas nas rochas.
Não imaginava que esses bárbaros pudessem ser capazes disso...”.
—
Tristan! — Gabriel
gritou. — Está de
acordo?
—
Sim...cada um segue por um caminho distinto. —
O guerreiro das Trevas disse.
—
Certo... — O
Escolhido de Leviathan parecia um pouco surpreso. — Então venha. Migrasi e Shadowing já
entraram.
—
Ah...certo.
Gabriel riu. Os dois entraram por uma janela do castelo.
O Anjo e o Demônio esperavam em pé no corredor. As paredes, teto e chão eram
constituídas pelas mesmas rochas do exterior do local. O ambiente era decorado
por espadas, machados e escudos expostos nas paredes ao invés de quadros e
estandartes. Havia uma armadura completa feita de aço em uma das curvas do
corredor. Algumas tochas estavam espalhadas em suportes de metal negro,
iluminando e aquecendo ligeiramente o local.
—
Vamos por onde? —
Shadowing perguntou.
—
Direita. — Respondeu
Tristan. — Se não
houver nenhuma objeção, é claro.
Gabriel deu de ombros.
—
Não faz diferença. —
O guerreiro da Luz bufou. —
Não qual é o certo. Nem tenho como saber qual o certo. Sinceramente, eles
parecem o mesmo até. —
Ele se voltou para Migrasi. —
Vamos.
O Anjo assentiu e ambos foram pelo caminho da esquerda.
—
Você vai conseguir ser furtivo? —
Shadowing perguntou com um leve tom de preocupação.
—
Não se preocupe. —
Tristan respondeu. —
Eu darei o meu melhor. —
Ele disse determinado.
—
Espero que seja o suficiente.
—
Será. Você vai ver.
—
Ótimo.
Tristan e Shadowing se agacharam e andaram cuidadosamente
na ponta dos pés pelo corredor. Após a primeira curva, eles se depararam com um
corredor também vazio. Havia uma porta na parede da esquerda e uma na da
direita.
—
Mantemos a escolha da direita? —
Shadowing perguntou.
Tristan assentiu. Shadowing abriu a porta lentamente. O
rangido da porta soou.
“Droga...”.
A porta levou-os a uma escadaria em espiral. Nenhum
bárbaro estava no caminho. Tristan suspirou aliviado.
—
Para cima ou para baixo? —
O Demônio encapuzado perguntou.
—
Para cima. — Tristan
respondeu com determinação. —Caso
o nosso alvo esteja em uma sala do trono, é mais provável que ele esteja em um
dos andares mais altos, não é?
—
Sim...pela nossa lógica. Não sei como esses bárbaros pensam. — Shadowing respirou fundo.
— Mas...talvez seja
melhor seguirmos a nossa lógica. Melhor do que não seguir nenhuma lógica.
—
Sim...
Cuidadosamente, os dois subiram as escadas até chegarem
ao andar superior. Eles se depararam com uma porta a sua frente e outro lance
de escadas para cima.
—
Vamos continuar subindo e seguindo a nossa lógica. — Disse Tristan.
Shadowing assentiu. Os dois subiram mais um lance de
escadas. À sua frente, uma porta. Era o único caminho.
—
Sem dúvidas agora... —
Shadowing disse meio desanimado. —
Sem escolhas também...
Antes que eles pudessem alcançar a porta, ela se abriu.
Três guerreiros bárbaros usando armaduras de aço entraram no local. Um andava
atrás dos outros dois. Todos carregavam seus elmos debaixo do braço. Apesar do
encontro inesperado, Tristan sorriu. Em uma fração de segundos, o guerreiro das
Trevas se arremessou para frente e invocou duas adagas, cravando-as nos
pescoços dos inimigos que estavam à frente. Enquanto Tristan se agachava ao
derrubar os dois adversários, Shadowing invocou sua alabarda , rapidamente,
pulou sobre o amigo e fincou a ponta afiada de sua arma na testa do último
oponente.
—
Nada mal. — Tristan
sorriu enquanto levantava.
—
Digo o mesmo. —
Shadowing disse enquanto tirava a ponta de sua arma do inimigo e colocava o
corpo morto deitado no chão.
—
Sem fazer barulho, hein?
—
A regra ainda prevalece. Portanto, tente não falar muito.
—
Certo...
Os dois voltaram a se agachar. Tristan abriu a porta e
eles andaram para um novo corredor vazio.
—
Direita. — Shadowing
disse sem ânimo.
—
Sempre. — Tristan
sorriu.
Eles seguiram pelo corredor. A decoração seguia o
aparente padrão de armas e armaduras expostas em meio a tochas. Ao passarem
pela nova curva do corredor, Tristan e Shadowing avistaram quatro bárbaros com
o mesmo tipo de armadura completa de aço do que os anteriores.
“Droga...”.
Os quatro novos inimigos trajavam seus capacetes. Não
havia nenhum ponto fraco aparente. Apesar de eles estarem conversando, a
vigilância era constante.
—
Não vai ser tão fácil dessa vez... —
Shadowing disse.
Antes que Tristan pudesse dizer qualquer coisa, um forte
estrondo veio de algum lugar do andar em que eles estavam. Os dois amigos se
voltaram para trás. Nada havia mudado.
“Deve ter sido em alguma sala ainda neste andar. Será que
foram o Gabriel e o Migrasi?”.
—
Tristan... —
Shadowing murmurou.
Ao olhar para frente, o guerreiro das Trevas viu o grupo
de bárbaros correndo na sua direção.
—
Bem...não há mais razão para nos escondermos, não é? — Tristan sorriu.
Rapidamente, o guerreiro sombrio se levantou e invocou
uma esfera de Trevas. Antes que os bárbaros pudessem reagir, Tristan arremessou
a esfera. Ao tocar no chão a frente dos guerreiros, uma nuvem de sombras se
espalhou por parte do corredor. Tristan e Shadowing se lançaram em meio à
escuridão. O ruído de metal se chocando preencheu o ar por alguns segundos.
Quando as sombras se dissiparam, Tristan e Shadowing estavam em pé. Um dos
bárbaros estava com três adagas nas costas. Outro fora decapitado. Outro, ainda,
tinha a espada de Tristan cravada no peito. O último estava com a lâmina da
alabarda fincada em seu pescoço.
—
Prefiro que as coisas sejam assim. —
Disse Tristan enquanto recuperava sua espada. —
Magias, espadas, adagas...sem ser furtivo.
—
É...até que é bom também. —
Shadowing andou até o bárbaro que estava com sua alabarda e a pegou de volta. — Mas envolver os inimigos
em sombras ajuda bastante.
—Sim,
mas eu só fiz isso porque... —
Tristan arregalou os olhos. —
Droga! Temos que correr!
—
Ah...verdade! O estrondo!
Os dois correram pela direita. Outro estrondo ressoou.
Eles abriram uma porta à direita. Tristan e Shadowing correram por outro
corredor até que eles se depararam com uma grande passagem a esquerda. Não
havia porta, apenas uma inscrição em uma placa dourada próxima ao teto.
“Aqui é onde o futuro é traçado pelos homens que são
guiados pelos grandes deuses. Vivemos pelo sangue que nós derramamoss. Se
sobrevivemos uma batalha, é para servirmos em outra. Se morrermos em batalha,
será apenas depois de matarmos um inimigo”.
—
Tristan? — Shadowing
chamou o amigo.
—Ah...desculpe.
— O guerreiro das
Trevas coçou a nuca. —
Eu estava lendo...
—
Desculpe-me, mas...temos outra prioridade, não?
—
Sim...certo, vamos.
Shadowing e Tristan chegaram até a sala do trono. Gabriel
e Migrasi estavam no chão ofegantes. Diante deles, um guerreiro de pouco mais
de dois metros de altura. Ele trajava uma armadura completa cor de ébano com
inscrições rúnicas em azul. Ao longo da superfície metálica, diversas marcas de
cortes podiam ser vistos. Os ombros da armadura eram em forma de patas de urso
com garras longas. Ele carregava uma espada uma espada de mais de um metro e
meio de comprimento. A coloração da arma era a mesma das inscrições da
armadura. O capacete fora feito com o formato da cabeça de um urso rugindo.
Seus olhos azuis celestes podiam ser vistos em meio às presas do elmo. Longo cabelo grisalho podia ser visto saindo
por uma brecha atrás do capacete.
—
Mais desafiantes, eu suponho? —
O guerreiro perguntou com sua voz grave e cansada no idioma das Terras do
Norte.
A sala onde eles estavam tinha
quase cinco metros de distância entre o chão e o teto. Armas e armaduras
impressionantes estavam espalhadas pelos cantos e paredes do lugar. A bandeira
do lugar estava exposta atrás de um trono feito completamente de prata. O
desenho de um urso negro rugindo em um fundo branco estava estampado nessa
bandeira.
—
Belo castelo. — Disse
Tristan.
—
Obrigado. — O
guerreiro agradeceu. —
Mas suponho que você não tenha vindo até aqui só para fazer elogios, certo?
—
Sim. — Tristan
invocou sua espada. —
Nós viemos derrubar seu reino.
—
Entendo...
—
Objeções?
—
Bem...você terá que me matar para isso.
—
Esse é o plano.
—
Ah... — O bárbaro
gargalhou. O som da risada ecoava pela sala, fazendo as paredes tremerem. — Muito bem. Gostei da
determinação, meu jovem...e de também poder falar com você na minha própria
língua. Será uma boa luta, eu espero. Um duelo digno.
—
Duelo?
—
Sim. Um de cada vez. Esses dois já foram derrotados e poupados...por enquanto.
Você pode me enfrentar...individualmente. Seu amigo deverá esperar, caso você
seja derrotado. Não se preocupe. Nem os meus homens estão interferindo. Não
precisa agradecer.
—
Bem...ótimo. —
Tristan apontou sua espada em direção ao oponente. — Chega de conversa.
Em uma fração de segundos, o
guerreiro das Trevas se lançou contra o bárbaro.