terça-feira, 27 de outubro de 2015

Um Outro Mundo, Capítulo 11

11.


Joshua corria contra o vento gélido. As árvores a sua volta, negras e retorcidas, o açoitavam com seus galhos que mais pareciam garras. Cortes apareceram em seu casaco, suas calças e até em seu rosto. Entretanto, o rapaz apenas trincou os dentes e continuou em frente, mantendo o mesmo ritmo.
Joshua! Uma voz familiar gritou.
O jovem olhou de onde a voz vinha e parou em seguida. De um outro caminho em meio as árvores Cristina e Richard, ambos com malas nas costas, vinham até ele.
Garoto! Ele chamou Joshua enquanto se aproximava junto de sua esposa. O que aconteceu? Foi puxado pra cá de repente?
Hm... O rapaz limou a garganta. Sim... Quando percebi, já estava aqui...
Achamos que não conseguiríamos chegar a tempo... Cristina disse claramente preocupada.
E também não sabíamos se demoraríamos para te encontrar. Acrescentou Richard. Por sorte, não levou nem um minuto... Ou mais. Não sei. Tempo é um conceito abstrato aqui...
Por sorte, não demorou muito para acharmos o livro. Cristina explicou. Quando percebemos que você tinha desaparecido, tentamos fazer tudo o mais rápido possível... E deu tudo certo felizmente.
Joshua olhava para o rosto dos dois. Richard estava confiante e, aparentemente, contente por ver o rapaz. Cristina, mais emocional, parecia estar quase chorando de felicidade por ele estar vivo.
Entretanto, era difícil confiar em qualquer coisa em Gehenna.
Joshua sabia que poderia estar sendo caçado por monstros que ele ainda não havia visto. Será que eles poderiam se transformar em pessoas que ele conhecia? Ou será que eles apenas teriam matado o casal e assumido suas formas?
Joshua abaixou a cabeça e deu um passo para trás.
Ah... Garoto? Richard o chamou. Algo errado?
Hm... Ele sentiu um nó se formando na garganta. Eu... O garoto olhou para o casal, tentando disfarçar seu medo. Eu não posso confiar em vocês?
O quê!? Richard parecia ofendido.
Mas por quê...!? Cristina indagou alarmada.
Mais um grito estridente veio da mansão. O casal olhou na direção da construção colossal. Enquanto isso, mais um calafrio percorreu a espinha de Joshua que, agora, já suava frio.
Desculpem-me... O rapaz murmurou.
Rapidamente, ele deu as costas para os dois e voltou a correr.
Entretanto, Joshua não deu mais do que dez passos para frente antes de parar. O som do tiro veio rapidamente. No chão a sua frente, agora, havia um buraco causado por uma bala.
O rapaz olhou para trás. Cristina parecia um pouco surpresa. Richard, pó outro lado, parecia ainda mais calmo com o revólver prateado na mão direita. Um leve fio de fumaça cinza saia do fim do cano da arma.
Se eu realmente te quisesse te matar, já teria o feito. Richard disse secamente. Por isso, tenha certeza de que eu sou o mesmo homem que queria te ajudar antes de vir para cá, certo? Não sou nenhum monstro covarde que não mostra a verdadeira face.
Principalmente por que um monstro teria queimado só de tocar nessa arma. Acrescentou Cristina com um sorriso. Armas de prata abençoada fazem parte dos exorcismos, sabe? Dos casos mais extremos, pelo menos...
Olha, sabemos que você está nervoso com... Bem, com tudo. Ele disse ao garoto soando, agora, um pouco mais empático. Mas confie em nós, ok? Você não conseguirá sair vivo daqui sozinho. E, até onde sabemos, você planeja salvar a sua Adriana, não é?
Hm... Joshua suspirou. É...
Então você vai ter que confiar em nós. Cristina disse docemente. Nós estamos nos arriscando por você, não é? O casal andou calmamente até o jovem. Ela, então, segurou as mãos de Joshua com delicadeza. Então... Confie em nós, por favor.
Joshua não conseguia olhar nos olhos dos dois. Ele pensou por alguns instantes de silêncio que, repentinamente, foram quebrados por mais um grito vindo da mansão.
O ar parecia mais gelado. O rapaz tremeu mais uma vez. Ele não conseguia parar de pensar em Adriana.
Certo... Joshua levantou a cabeça, olhou para os dois e, por fim, esboçou um sorriso. Vamos. Eu tenho um resgate a fazer.
Sorrindo, o casal assentiu.
Rapidamente, os três correram até a mansão, atravessando o portão de barras de metal negro e seguindo, agora uma pequena trilha de terra por entre um jardim repleto de flores púrpuras e pretas. O perfume do local era extremamente doce, quase nauseante. Entretanto, estava longe do cheiro pútrido que o rapaz imaginara.
Vários pensamentos rondavam a mente de Joshua. Entretanto, ele tentava não pensar. Perder o foco não era uma opção.
Agora, em frente à gigantesca porta de carvalho da mansão, um mau pressentimento atingiu Joshua. Entretanto, aquilo não o impediu de tocar a maçaneta prateada que, instantaneamente, girou.
Fantástico... Murmurou Richard enquanto a porta se abria.
A frente do trio, a escuridão os aguardava.
Vamos. Joshua disse determinado.
Os três entraram na mansão. Cristina sacou uma lanterna de sua mala. Mesmo assim, pouco era visível. Pelo eco que seus passos produziam, entretanto, era possível determinar que a sala onde estavam era de um tamanho considerável. Fora isso, apenas a umidade e o cheiro de mofo poderiam ser notados.
Entretanto, mais um grito de Adriana veio ecoando pela sala e, e um instante, todo o local havia sido iluminado, quase como se o próprio estivesse emitindo cor.
Agora, o trio olhava boquiaberto para o lugar que mais parecia ser o interior de um templo antigo. As paredes, chão, teto e colunas de sustentação pareciam ser feitos de mármore.
Entretanto, o lugar estava em ruínas. Detritos bloqueavam todas as passagens laterais e, também, acumulavam-se no piso, aleatoriamente, criando praticamente um labirinto de entulho. Partes das paredes e teto haviam caído há muito tempo. Algumas das próprias colunas não estavam mais inteiras. Com rachaduras marcando toda a paisagem, a sala parecia que iria se desfazer a qualquer instante.
No final do salão, o caminho se estreitava. Havia apenas uma passagem lá: uma porta aberta que seguia até uma escadaria. De lá, mais um grito de Adriana veio.
Bem... Richard respirou fundo, segurando o revólver em sua mão com força. Creio que todos já sabemos por onde devemos ir...
Tentando manter a calma, o trio caminhou pelo labirinto de detritos. Richard seguia na frente, seguido por Cristina e, por fim, Joshua.
O rapaz ficou ainda mais nervoso de repente. Ele não mais ouvia os gritos de Adriana. Era estranho, mas, no final, os berros agoniados dela era o que dava certeza a Joshua que ela ainda estava viva.
Será que Adriana não havia resistido? Será que ela havia, enfim, morrido?
Joshua não queria pensar naquilo. Ele não queria que sua amada sofresse, mas ele também não queria que todo seu esforço fosse em vão.
Eu ainda estou com um mau pressentimento... Cristina murmurou.
Joshua percebeu que, agora, eles já haviam atravessado o labirinto. O trio estava em frente à passagem que levava à escadaria.
Pessoalmente, eu estou com um mau pressentimento desde que viemos aqui... Richard trincou os dentes. Mas...
Ele parou de falar. A atenção de todos se voltou para os passos que vinham de cima deles, como se alguém, ou algo, extremamente pesado caminhasse no andar superior. Estranhamente, não havia um andar superior, ao menos, não antes do teto que parecia ter mais de cinco metros de altura.
De onde isso está vindo...? Joshua indagou.
De repente, os três perceberam ao mesmo tempo. Havia um buraco acima deles, praticamente rente ao teto. De lá, uma forma cinzenta pulou.
Rapidamente, o gigante aterrissou entre o trio e a porta aberta, causando um pequeno tremor.
Antes que eles pudessem reagir, Behemoth sacou a arma que estava pendurada com algumas cordas em suas costas.
Com um golpe certeiro, o maníaco atacou com o que mais parecia ser um martelo de guerra medieval, esmagando a cabeça de Richard e parte da parede atrás dele.
Cristina olhava praticamente paralisada na direção de seu, agora, falecido marido.
Joshua, entretanto, não conseguia tirar os olhos do monstro e a arma que ele carregava, tão cinzenta e brutal quanto o próprio dono.

Olá, Coelhinho... Behemoth abriu um largo sorriso. Eu disse que ia trazer um martelo pra próxima vez que nos encontrássemos, não foi?

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