quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Um Outro Mundo, Capítulo 10

10.


Não... Disse Joshua com dificuldade, sem acreditar no que havia acontecido. Não, não, não...
Desesperado, o rapaz correu contra a parede que estava atrás dele. Tateando rapidamente, ele parecia procurar pela porta, como se ela estivesse escondida sob os tijolos.
Não! O jovem gritou, começando a se desesperar. Não!
Você é mais barulhento do que eu me lembrava... Disse uma voz.
Joshua pareceu congelar naquele momento. Os pelos de sua nuca arrepiaram ao ouvir aquelas palavras, afinal, ele reconheceu a voz.
Lentamente, com suor escorrendo pelo rosto, o jovem se voltou na direção da mulher.
Lá estava ela. Parada, com o gato nos braços como antes. Em seu rosto pálido e cheio de cicatrizes, o sinistro sorriso era o suficiente para manter Joshua o mais longe possível. Os buracos negros, sem vida, no lugar dos olhos pareciam gelar mais que o corpo físico do rapaz.
Antes que você recupere o controle do seu corpo e saia correndo... A mulher começou a dizer, enunciando lentamente cada sílaba enquanto acariciava gentilmente a barriga do gato em seus braços. Eu gostaria de falar com você... Ainda mais por que não tenho a intenção de matá-lo...
Joshua parecia incapaz de dizer alguma coisa. Entretanto, também era provável que ele não quisesse falar nada, por mais curioso que estivesse em saber mais sobre aquela mulher ou sobre Gehenna.
Ele tinha uma única certeza. Quando seu corpo, que parecia estar em um estado de torpor, voltasse ao normal, o jovem correria mais uma vez por aquelas ruas escuras e sem fim.
Já como você não parece ter objeções... Ela continuou a falar. Vou falar o que tenho para falar.
Joshua permaneceu em silêncio. A mulher pareceu incomodada, até um pouco triste, por um instante. Entretanto, um sorriso ainda mais largo se formou em seu rosto logo em seguida.
Ah! Onde estão minhas maneiras? Ela limpou a garganta. Meu nome é Margareth. Agora, pelo menos. Não me lembro do meu nome quando humana...
O jovem continuou quieto, esperando que seu corpo voltasse ao normal o mais rápido possível.
E... Esse daqui... Ela afagou o topo da cabeça do gato que estava quase adormecido em seus braços. É o meu querido Edgar. Meu bichinho de estimação. Acredita que o abandonaram? Margareth sabia que Joshua não responderia, então, nem o esperou dizer alguma coisa. Então, eu achei esse bichano maltratado e resolvi cuidar dele. Acho que eu tinha um gato quando humana... Mas isso não importa mais. Sou feliz agora. Com Edgar e meus outros amigos... Ela riu baixo. Eles são incríveis. Pena que eu não os veja com tanta freqüência quanto gostaria. Porém... Tem um que raramente fica longe de mim por muito tempo. E você o conhece bem...
Passos soaram vindos de longe. O chão parecia tremer, assim como as pernas de Joshua.
Behemoth... Margareth pronunciou o nome com delicadeza. Ele está vindo por você...
Ela estralou os dedos de uma mão. No mesmo instante, Joshua sentiu a respiração voltar ao normal, bem como o seu corpo.
Ele vai querer que você tente fugir... Margareth disse calmamente. Como da última vez, sabe? Ela riu. Fazia tempo que ele não se divertia tanto... Então... Não o decepcione...
Enquanto os passos pesados se aproximavam, Joshua começou a correr.
A maldita risada vinha algumas dezenas de metros atrás do jovem. Ele não precisava ver o assassino para saber que ele estava cada vez mais próximo dele, aproximando-se cada vez mais a cada passada gigantesca dada.
Entretanto, Joshua sabia o que tinha que fazer. Entrar em becos, virar em ruas à esquerda ou à direita sempre que possível, aproveitando-se da baixa agilidade de Behemoth para se distanciar dele.
Coelhinho! O psicopata chamou pelo jovem escandalosamente. Quanta saudade de você!
A voz de Behemoth se aproximava. Joshua ainda tinha fôlego, mas não conseguiria correr para sempre. Além disso, naquele ritmo, o maníaco o alcançaria antes que o cansaço o pudesse.
Felizmente, o rapaz conseguiu chegar até um beco que, sucessivamente, o levou a outros. Antes que Joshua pudesse perceber, ele estava em um labirinto estreito, sentindo-se sufocado pelas paredes altas de tijolos escuros.
O rapaz, apesar de estar ficando exausto, conseguiu sorrir. Afinal, em pouco tempo, ele ouvia os passos e a voz de Behemoth se tornando cada vez mais distantes.
Após alguns minutos, não mais do que cinco, o rapaz não mais ouvia o seu perseguidor. Seu corpo relaxou. Sua corrida foi se tornando gradativamente mais lenta. Em instantes, ele estava caminhando pelo labirinto.
Joshua não via motivos para voltar. Seguir por aquele caminho não parecia uma ideia ruim. Afinal, ele teria que achar Adriana. Ou uma saída de Gehenna, para tentar reencontrar Richard e Cristina.
Mais calmo agora, o pensamento de antes voltou.
E se Joshua não estivesse mais vivo?
Aquilo parecia menos provável agora. Afinal, não fazia muito sentido ele estar vagando em Gehenna se tivesse morrido e aquilo fizesse parte de sua imaginação. Não havia um grande motivo para tal.
Mesmo assim, Joshua continuava nervoso. Encontrar Adriana já não parecia uma tarefa fácil. Agora, sem os paranormais do seu lado, o rapaz estava perdendo a fé em achá-la naquele pesadelo.
De repente, um estrondo soou não muito longe de onde Joshua estava. Parecia algo pesado havia vindo a baixo, como uma árvore ou um amontoado de rochedos.
A imagem de Behemoth derrubando uma parede com as próprias mãos veio à mente do rapaz. Em seguida, veio um calafrio que percorreu sua espinha e uma dose de adrenalina.
Instintivamente, Joshua acelerou o passo. Ele não tinha certeza se era o gigante que estava se aproximando, já que ele não havia ouvido seu riso infame, porém, o rapaz sabia que tinha que ser desconfiado para sobreviver em Gehenna.
Entretanto, um novo pensamento veio a Joshua. E Behemoth não estivesse mais atrás dele? E se houvesse algum outro monstro o caçando? Afinal, Margareth havia dito que ela tinha outros amigos naquele lugar. E se, então, o novo perseguidor de Joshua usasse uma estratégia diferente? E se essa criatura fosse furtiva, movendo-se silenciosamente, ou se pudesse se tornar, inclusive, invisível? E se armadilhas fossem armadas em seu caminho? E se seu novo predador utilizasse poderes ainda mais sobrenaturais?
Aqueles pensamentos fizeram Joshua ficar ainda mais inquieto. Ele sabia que tinha que parar de pensar naquilo. Sentir medo o levaria à morte rapidamente naquele lugar.
Em poucos instantes, o rapaz chegou ao fim do labirinto.
Agora, ele quase apreciava a vista incomum até para os padrões de Gehenna.
O céu escuro tinha agora nuvens escarlates. Uma grande floresta sombria jazia até a linha do horizonte. Um corredor entre as árvores bem a frente de Joshua o permitia ver claramente uma mansão. Ela estava velha, decrépita. O típico local assombrado em um filme de terror.
Entretanto, nenhum filme deixaria Joshua tão apavorado quanto ouvir os gritos de Adriana.
Ela estava desesperada, sofrendo, sendo torturada. E Joshua sabia disso.

Sem pensar, ele disparou entre as árvores até a mansão.

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