10.
—
Não... — Disse Joshua
com dificuldade, sem acreditar no que havia acontecido. — Não, não, não...
Desesperado, o rapaz correu contra a parede que estava
atrás dele. Tateando rapidamente, ele parecia procurar pela porta, como se ela
estivesse escondida sob os tijolos.
—
Não! — O jovem
gritou, começando a se desesperar. —
Não!
—
Você é mais barulhento do que eu me lembrava... —
Disse uma voz.
Joshua pareceu congelar naquele momento. Os pelos de sua
nuca arrepiaram ao ouvir aquelas palavras, afinal, ele reconheceu a voz.
Lentamente, com suor escorrendo pelo rosto, o jovem se
voltou na direção da mulher.
Lá estava ela. Parada, com o gato nos braços como antes.
Em seu rosto pálido e cheio de cicatrizes, o sinistro sorriso era o suficiente
para manter Joshua o mais longe possível. Os buracos negros, sem vida, no lugar
dos olhos pareciam gelar mais que o corpo físico do rapaz.
—
Antes que você recupere o controle do seu corpo e saia correndo... — A mulher começou a dizer,
enunciando lentamente cada sílaba enquanto acariciava gentilmente a barriga do
gato em seus braços. —
Eu gostaria de falar com você... Ainda mais por que não tenho a intenção de
matá-lo...
Joshua parecia incapaz de dizer alguma coisa. Entretanto,
também era provável que ele não quisesse falar nada, por mais curioso que
estivesse em saber mais sobre aquela mulher ou sobre Gehenna.
Ele tinha uma única certeza. Quando seu corpo, que
parecia estar em um estado de torpor, voltasse ao normal, o jovem correria mais
uma vez por aquelas ruas escuras e sem fim.
—
Já como você não parece ter objeções... —
Ela continuou a falar. —
Vou falar o que tenho para falar.
Joshua permaneceu em silêncio. A mulher pareceu incomodada,
até um pouco triste, por um instante. Entretanto, um sorriso ainda mais largo
se formou em seu rosto logo em seguida.
—
Ah! Onde estão minhas maneiras? —
Ela limpou a garganta. —
Meu nome é Margareth. Agora, pelo menos. Não me lembro do meu nome quando
humana...
O jovem continuou quieto, esperando que seu corpo
voltasse ao normal o mais rápido possível.
—
E... Esse daqui... — Ela afagou o
topo da cabeça do gato que estava quase adormecido em seus braços. — É o meu querido Edgar. Meu bichinho de
estimação. Acredita que o abandonaram? — Margareth
sabia que Joshua não responderia, então, nem o esperou dizer alguma coisa. — Então, eu achei esse bichano maltratado e
resolvi cuidar dele. Acho que eu tinha um gato quando humana... Mas isso não
importa mais. Sou feliz agora. Com Edgar e meus outros amigos... — Ela riu baixo. — Eles são incríveis. Pena que eu não os veja
com tanta freqüência quanto gostaria. Porém... Tem um que raramente fica longe
de mim por muito tempo. E você o conhece bem...
Passos
soaram vindos de longe. O chão parecia tremer, assim como as pernas de Joshua.
— Behemoth... — Margareth pronunciou o nome com delicadeza. — Ele está vindo por você...
Ela
estralou os dedos de uma mão. No mesmo instante, Joshua sentiu a respiração
voltar ao normal, bem como o seu corpo.
— Ele vai querer
que você tente fugir... — Margareth disse
calmamente. — Como da última
vez, sabe? — Ela riu. — Fazia tempo que ele não se divertia tanto...
Então... Não o decepcione...
Enquanto
os passos pesados se aproximavam, Joshua começou a correr.
A
maldita risada vinha algumas dezenas de metros atrás do jovem. Ele não
precisava ver o assassino para saber que ele estava cada vez mais próximo dele,
aproximando-se cada vez mais a cada passada gigantesca dada.
Entretanto,
Joshua sabia o que tinha que fazer. Entrar em becos, virar em ruas à esquerda
ou à direita sempre que possível, aproveitando-se da baixa agilidade de
Behemoth para se distanciar dele.
— Coelhinho! — O psicopata chamou pelo jovem
escandalosamente. — Quanta saudade
de você!
A
voz de Behemoth se aproximava. Joshua ainda tinha fôlego, mas não conseguiria
correr para sempre. Além disso, naquele ritmo, o maníaco o alcançaria antes que
o cansaço o pudesse.
Felizmente,
o rapaz conseguiu chegar até um beco que, sucessivamente, o levou a outros. Antes
que Joshua pudesse perceber, ele estava em um labirinto estreito, sentindo-se
sufocado pelas paredes altas de tijolos escuros.
O
rapaz, apesar de estar ficando exausto, conseguiu sorrir. Afinal, em pouco
tempo, ele ouvia os passos e a voz de Behemoth se tornando cada vez mais
distantes.
Após
alguns minutos, não mais do que cinco, o rapaz não mais ouvia o seu
perseguidor. Seu corpo relaxou. Sua corrida foi se tornando gradativamente mais
lenta. Em instantes, ele estava caminhando pelo labirinto.
Joshua
não via motivos para voltar. Seguir por aquele caminho não parecia uma ideia
ruim. Afinal, ele teria que achar Adriana. Ou uma saída de Gehenna, para tentar
reencontrar Richard e Cristina.
Mais
calmo agora, o pensamento de antes voltou.
E
se Joshua não estivesse mais vivo?
Aquilo
parecia menos provável agora. Afinal, não fazia muito sentido ele estar vagando
em Gehenna se tivesse morrido e aquilo fizesse parte de sua imaginação. Não
havia um grande motivo para tal.
Mesmo
assim, Joshua continuava nervoso. Encontrar Adriana já não parecia uma tarefa
fácil. Agora, sem os paranormais do seu lado, o rapaz estava perdendo a fé em achá-la
naquele pesadelo.
De
repente, um estrondo soou não muito longe de onde Joshua estava. Parecia algo
pesado havia vindo a baixo, como uma árvore ou um amontoado de rochedos.
A
imagem de Behemoth derrubando uma parede com as próprias mãos veio à mente do
rapaz. Em seguida, veio um calafrio que percorreu sua espinha e uma dose de
adrenalina.
Instintivamente,
Joshua acelerou o passo. Ele não tinha certeza se era o gigante que estava se
aproximando, já que ele não havia ouvido seu riso infame, porém, o rapaz sabia
que tinha que ser desconfiado para sobreviver em Gehenna.
Entretanto,
um novo pensamento veio a Joshua. E Behemoth não estivesse mais atrás dele? E
se houvesse algum outro monstro o caçando? Afinal, Margareth havia dito que ela
tinha outros amigos naquele lugar. E se, então, o novo perseguidor de Joshua
usasse uma estratégia diferente? E se essa criatura fosse furtiva, movendo-se
silenciosamente, ou se pudesse se tornar, inclusive, invisível? E se armadilhas
fossem armadas em seu caminho? E se seu novo predador utilizasse poderes ainda
mais sobrenaturais?
Aqueles
pensamentos fizeram Joshua ficar ainda mais inquieto. Ele sabia que tinha que
parar de pensar naquilo. Sentir medo o levaria à morte rapidamente naquele
lugar.
Em
poucos instantes, o rapaz chegou ao fim do labirinto.
Agora,
ele quase apreciava a vista incomum até para os padrões de Gehenna.
O
céu escuro tinha agora nuvens escarlates. Uma grande floresta sombria jazia até
a linha do horizonte. Um corredor entre as árvores bem a frente de Joshua o
permitia ver claramente uma mansão. Ela estava velha, decrépita. O típico local
assombrado em um filme de terror.
Entretanto,
nenhum filme deixaria Joshua tão apavorado quanto ouvir os gritos de Adriana.
Ela
estava desesperada, sofrendo, sendo torturada. E Joshua sabia disso.
Sem
pensar, ele disparou entre as árvores até a mansão.
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