Debaixo do céu cinzento, Marcos seguia para seu destino. A
estrada, situada no que era praticamente um deserto sem cor, estava
praticamente inabitada. O mercenário sabia que podia dirigir o quão rápido
quisesse, sem obstáculos. Entretanto, ele também sabia que não chegaria tão
cedo até Dimas. A viagem demoraria mais de um dia. Caso ele passasse a noite em
algum lugar, era provável que ele só chegasse até o seu alvo na noite do dia
seguinte.
Suor escorria pelo rosto do mercenário enquanto ele
percorria a estrada em sua moto. O céu nublado ameaçava chuva, porém, nada
fazia a não ser se comportar como uma estufa. Um gole gelado de cerveja o faria
bem agora. Um cantil de água cheio viria a calhar mais tarde.
O calor diminuiu com a chegada da noite. A lua brilhava
absoluta no céu. O ronco do motor da moto de Marcos era praticamente o único
som a ser ouvido na estrada.
O mercenário insistiu em dirigir por mais alguns
quilômetros. Entretanto, o inevitável cansaço começou a atingi-lo. Sua vista,
em pouco tempo, tornou-se pesada. Seu corpo estava dolorido por ter passado
tantas horas seguidas em cima da moto, na mesma posição.
Exausto, ele seguiu até o bar mais próximo. O lugar era
acabado, feito de madeira no melhor estilo Velho Oeste. Não seria surpresa se o
lugar fosse tão velho assim também. Entretanto, funcionava. Marcos podia ouvir
vozes vindas do lugar, além das luzes acessas pela janela e de algumas motos
estacionadas do lado de fora.
Em uma placa gasta, sobre a porta de entrada do lugar,
lia-se Pousada do Sol Nascente. Se o
nome fosse confiável, Marcos teria uma cama para passar a noite.
Ao estacionar sua moto, o mercenário ouviu um tiro. Em
seguida, veio o grito estridente de uma mulher.
Rapidamente, Marcos desceu de sua moto, armado com uma
escopeta em mãos e um revólver no bolso.
A porta da pousada foi aberta com um chute do mercenário.
Lá, Marcos viu aquela cena. Um morto velho caído num
canto, em cima de uma poça de sangue que se formava lentamente, com um buraco
na testa. Uma mulher, que devia ter um pouco mais de quarenta anos, estava
sendo segurada contra um balcão enquanto quatro homens, vestidos como típicos
marginais, rasgavam seu vestido com as mãos, quase como animais selvagens com
suas garras e presas.
O estômago do mercenário se revirou ao ver as lágrimas
escorrendo do rosto da bela mulher e os sorrisos largos nos rostos dos homens.
Claramente, todos agora olhavam para Marcos. Os sorrisos
desapareceram em um instante.
—
Ei! — Um dos homens
gritou. — Qual é...?
Antes que ele pudesse terminar de falar, o mercenário
sacou seu revólver e acertou um tiro em seu pescoço.
Rapidamente, aquilo se tornou uma batalha.
Marcos tombou uma mesa do seu lado e a usou de barricada.
Os marginais soltaram a mulher e se revezavam entre atirar e se esconder.
Quando as balas do revólver de Marcos chegaram ao fim,
mais dois homens já haviam caído no chão sem vida. Ele havia errado três tiros,
mas fez as outras duas balas valerem.
O remanescente pensou em usar a mulher como refém.
Entretanto, ele havia se afastado dela. Quando conseguiu voltar até ela, o
mercenário conseguiu surpreendê-lo com um tiro de escopeta no peito.
Ao se dirigir à mulher, ela abraçou Marcos, enterrando
seu rosto no peito dele.
—
Obrigada... — Ela
conseguiu dizer. —
Obrigada...
Em seguida, tudo aconteceu muito rapidamente.
—
Me chamo Josephine. —
A mulher disse. —
Você?
—
Marcos. — O
mercenário respondeu. Então, ele rapidamente olhou para o balcão do bar. — Posso beber algo?
—
Ah, claro! — Ela
respondeu quase alegremente e, então, pegou uma garrafa de cerveja, que parecia
ser chique demais para o lugar, da geladeira e a entregou para Marcos. — Beba o quanto quiser. Essa
é por conta da casa. —
Ela piscou para ele. —
Já volto. Vou colocar uma roupa que não esteja... Rasgada, ok?
—
Ok.
Josephine subiu as escadas rapidamente. Marcos não
demorou para abrir a garrafa e tomar um gole refrescante da bebida. Ele não
conteve um sorriso. O mercenário sabia um pouco sobre cervejas e, com certeza,
aquela era ótima.
Entretanto, não demorou muito para que a bebida acabasse.
Marcos se viu jogado, apoiado no balcão, olhando para a garrafa vazia, tentando
não dormir.
—
Marcos. — Josephine o
chamou. Ela estava agora do seu lado. —
Não vai dormir agora, vai?
—
Hm... — O mercenário
esfregou os olhos. Ele nem havia percebido que ela havia chego. — Hm... Acho que sim...
Mas... — Ele olhou
para os corpos mortos no chão, em específico, para o do velho. — Você podia me contar
sobre eles...
—
Ah... — Sua expressão
se tornou triste em um instante. —
Aquele era Jorge... Trabalhávamos juntos aqui. Ele que era o proprietário do
bar. Ele me contratou quanto eu estava sem rumo, depois da morte do meu marido
e do desaparecimento de meu filho...
—
Entendo... — Marcos
não pôde deixar de sentir compaixão por alguém que sofrerá tanto quanto ele. — E você vai ficar bem
agora?
—
Eu não sei... Mas não vou ter cabeça pra pensar nisso agora. Eu preciso de uma
boa noite de sono... E de um drinque... E talvez... — Ela olhou para os olhos do mercenário. — Companhia para a noite?
Marcos sorriu e assentiu. Josephine pegou uma garrafa de
uísque debaixo do balcão. Então, os dois subiram as escadas e se dirigiram para
o quarto onde passariam a noite.
Na manhã seguinte, Josephine acordou, tranquila, ao ver
Marcos no quarto com ela.
—
Dormiu bem? — Ela
perguntou sorridente.
—
Claro que sim. — Ele
devolveu o sorriso enquanto se vestia. —
Você?
—
Também... — Josephine
soou um pouco desanimada ao perceber que Marcos estava de saída. — Então... Você já vai?
—
Sim.
—
Ah... ok. — Ela olhou
ao redor e viu um objeto brilhante entre os lençóis. — Hm... —
Ela pegou o medalhão de prata de Marcos. —
O que temos aqui?
—
O motivo da minha vinda.
—
Por quê? — Ela abriu
o medalhão. — Ah...
—
Essa é família que foi tirada de mim. Vou matar o maldito que me fez sofrer. Vou
vingar o meu pai. Vou vingar a minha mãe. Vou me vingar. E nada vai me impedir.
—
Hm... Entendo...
Marcos olhou para Josephine. Talvez a ideia de vingança e
mais derrame de sangue não a fizesse se sentir muito bem. O que fazia sentido.
Para alguém da região, ela era muito delicada e até um pouco ingênua.
—
Espero que você fique bem. —
O mercenário disse quase zelosamente. —
Depois de tudo o que aconteceu ontem...
—
Claro... — Ela
murmurou.
Marcos foi até o lado da mulher e, com um beijo rápido
nos lábios, despediu-se de Josephine.
Após descer as escadas e subir em sua moto, um mau
pressentimento o atingiu.
O mercenário ignorou aquilo e, rapidamente, já estava de
volta à estrada deserta.
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