domingo, 28 de fevereiro de 2016

The Godsbane, Capítulo 9

Capítulo 9


Ansiosa por uma luta, hein? Zephyr sorriu, revelando o sorriso amarelo por entre a barba loira. Ele, então, ergueu as mãos na direção de Elise. Que assim seja...
Não queremos fazer nada imprudente... Disse uma das Arcanas calmamente. Suas palavras não eram dirigidas para os forasteiros, mas sim, para o aliado. Não é mesmo, senhor Descoteaux?
Zephyr abaixou suas mãos. Elise fez o mesmo. Os raios, então, cessaram.
A sacerdotisa olhou para a mulher. Sua voz era familiar, bem como o jeito gentil com que falava. Não era necessário ver o rosto dela. O cabelo ruivo que escorria por cima do peito delatou sua identidade.
Lumia Redmane... Elise sorriu.
A mulher de cabelos alaranjados levou suas mãos alvas até seu capuz e, gentilmente, o abaixou, revelando seus olhos azuis como o céu e o sorriso sincero por ver a velha amiga. Lumia achou que nunca mais a viria. Porém, ali estava ela.
Presumo que você vai querer conversar com a traidora antes de a executarmos... Disse Zephyr levemente irritado.
Nós não vamos a executar. Lumia respondeu solenemente.
Como? O Arcano ergueu uma sobrancelha. Pretende se aliar à traidora? Pois saiba que será tratada do mesmo jeito.
Execuções não fazem parte do que fazemos. Ela fuzilou Zephyr com seus olhos azuis. Nós levaremos a senhorita Seraph para o Ancião... Seu olhar, agora mais gentil, voltou-se para sua amiga. Não é?
Elise, sem hesitar, assentiu.
Pouco importa. Zephyr riu com escárnio. Você está apenas postergando a sua morte. Desse jeito, você vai apenas cair nas garras de um executor mais cruel, traidora. Tenho certeza que seu corpo e espírito serão massacrados pela Lady Lockhart.
E quem é essa? Indagou Viktor, cruzando os braços.
Ora... O Arcano bufou. Não imaginava que teria que explicar sobre a mais poderosa Arcana das últimas décadas, segunda em comando do nosso templo, atrás apenas do Ancião... Mas, bem... Ele esboçou um sorriso para o Sandrealmer e Dreadraven. Se vocês insistirem em acompanhar essa escória... Seu olhar, enjoado, dirigiu-se rapidamente para Elise e voltou em um instante para a dupla. Vocês acabaram conhecendo-a, tenham certeza. Fiquem do lado desta daí e sofram com o mesmo fim.
Você parece confiar demais nela. Afirmou Dreadraven desinteressado. Algo me diz que ela não é tão poderosa quanto você alega...
Zephyr grunhiu como um animal, reprimindo um xingamento. Viktor não conteve um riso baixo, porém, satisfeito.
Não se deixe levar pela raiva, Descoteaux. Pediu Lumia.
Esses porcos arrogantes... Ele murmurou e, enfim, suspirou. Vocês vão ver...
Claro, claro... O Sandrealmer revirou os olhos. Lady Lockhart. Massacrar nossos corpos e espíritos. Vai ser incrível. Ele bufou. Já entendemos. Podemos ir?
Mas é claro. Respondeu Lumia que, rapidamente, repreendeu Zephyr com seu olhar. Não faça nada estúpido... Ela murmurou para ele. Se você realmente quer que Elise morra como uma traidora, a melhor coisa que você pode fazer e ficar fora do caminho...
O Arcano nada disse. Apenas mais uma troca de olhares não muito amigáveis ocorreu entre ele e Lumia. Seus companheiros murmuravam entre si, esperando que o trio de adversários não os entendessem.
Bem...  Viktor sorriu. Algo me diz que isso vai ser divertido...
***
O vento soprava gentilmente por entre as folhas das árvores. A brisa fresca parecia amenizar o calor daquele começo de tarde. Os animais pareciam quietos. Felizmente, isso incluía os insetos também. O silêncio naquele ambiente seria tranquilizador, calmante após tanto tempo na estrada.
Porém, a companhia não possibilitava tal descanso. A qualquer momento, um dos Arcanos poderia resolver atacar. Em nove das dez vezes seria provável que o ataque viesse de Zephyr.
Viktor andava tenso. Uma mão estava pronta para puxar sua espada, e a outra, preparada para sacar sua arma. Dreadraven, apesar de não aparentar estar preocupado, certamente já havia bolado quase uma dúzia de planos de como agir dependendo de quantos atacassem. Apenas Elise e Lumia pareciam mais tranquilas. Elas sabiam que a situação não era boa, porém, tentavam aproveitar a calmaria antes da tempestade para conversarem com um pouco de paz.
Aí está algo que eu nunca vi...  Murmurou o Sandrealmer.
Havim se passado um pouco mais de dez minutos. O fim da floresta estava bem visível agora. As árvores, altas e finas, pareciam se dobrar, criando arcos em sequência por centenas de metros que cobriam a estrada como um túnel. As sombras somadas ao vento fresco que vinha pelo grande corredor natural conseguiram, enfim, quebrar o clima de tensão. O aroma das flores que chegava até suas narinas parecia purificar os seus corpos.
Realmente lindo, não acha? Perguntou Lumia após respirar fundo, sentindo a fragrância com um sorriso no rosto.
Certamente não tem nada do tipo em Sandrealm... Viktor admitiu.
Mas há outras belezas, tenho certeza.
Praias sem igual, eventuais oásis no meio do deserto, cavernas com paredes incrustadas com jóias, praticamente qualquer lagoa parece ter água cristalina... Mas cenas como essas agora são diferentes para mim, sabe?
Nossa... Lumia parecia admirada. Parece um lugar que vale apena visitar.
Nada te impede de ir lá um dia... Ele suspirou. Talvez daqui a algum tempo, quando tivermos resolvido esse problema...
Parece ótimo.
Ela sorriu. Ele retribuiu o gesto, apesar de não ter a mesma intensidade.
Se vocês já terminaram com o papo fiado... Zephyr os chamou. Podemos acelerar o passo? Pretendo chegar ao templo ainda hoje...
Viktor e Lumia assentiram. O grupo, então, seguiu pelo corredor. O ar parecia mais fresco a cada passo. O cheiro das flores, mais intenso a cada momento, sem nunca se tornar enjoativo.
Então, o grupo pôde ver a construção colossal à distância.
Num vale que parecia não ter fim, o campo florido enchia a visão de todos os seus admiradores com dezenas de cores, distribuídas perfeitamente como num quadro gigantesco. No centro da pintura, um palácio de marfim refletia a luz do sol, parecendo brilhar como uma pedra preciosa. No topo dele, uma torre parecia subir em direção às nuvens, cortando o céu claro.
O Templo Arcano de Yamlight...  Disse Dreadraven. Realmente... É uma obra-prima.
Espere... Disse Viktor, ainda um pouco embasbacado. Isso é um templo?  Um templo?
Sim. Respondeu Elise, cruzando os braços. Um dos mais antigos do continente... Talvez do mundo...
Parece mais um castelo... Foi tudo o que o Sandrealmer conseguiu comentar.
Algo completamente normal para quem sabe das origens do templo. Disse Lumia. Nós, Arcanos, éramos seguidos quase cegamente por muitos nobres. Acreditavam que nós éramos, sem dúvida, enviados do próprio Yamlight. Tudo isso graças a nossa magia.
Além disso, muitos filhos de nobres vinham para cá, de tempos em tempos. Acrescentou Elise. Aliás, alguns ainda vêm. A quantidade deles, entretanto, decaiu bastante. Ela fez uma breve pausa, um pouco perdida nos próprios pensamentos. Eles eram mandados para cá para aprenderem sobre Yamlight e, também, sobre como usar magia. É claro que não eram todos que se saiam bem nesse segundo departamento, afinal, nem todos nascem com o dom... Porém... Outros acabam se tornando verdadeiros Arcanos. A linhagem dos Lockhart sempre se mostrou forte nisso...
Lockhart? Viktor ergueu uma sobrancelha, olhando rapidamente para Zephyr e, então voltando seus olhos para suas aliadas sacerdotisas. A tal Lady Lockhart faz parte desses daí?
Sim. Respondeu Lumia. Os Lockhart são guerreiros fenomenais, treinados para isso desde cedo. Valentina Lockhart, porém, mostrou-se determinada a aprender a lutar com espadas e lançar feitiços com a mesma vontade e... Conseguiu. Ela se tornou uma exímia maga e guerreira, como todos os Arcanos podem te dizer.
Então... O Sandrealmer exibiu um sorriso nervoso. Lady Lockhart... Uma mageknight. Então, ele olhou para Elise. Você realmente pretende enfrentá-la? Como...?
Eu tenho um plano.  Foi apenas o que Elise disse. Vamos. Você vai ver...
A conversa do grupo foi reduzida a murmúrios. Sob o sol forte, eles seguiram até o templo. Olhares de dezenas, talvez até centenas de Arcanos pareciam os acompanhar pelos campos floridos. Todos sabiam sobre Elise. Não havia como enfrentar todos, então, o plano da sacerdotisa tinha que dar certo se ela quisesse sair de lá viva e, principalmente, com Lily junto de si.
O sol parecia mais fraco a cada passo. Nuvens começavam a tapar, pouco a pouco, a luz da bola de fogo. Os ventos ficavam mais fortes a cada segundo, levando o perfume dos campos e o pólen das flores de um canto para o outro. Um cenário como aquele quase fazia as pessoas esquecerem o que estava por vir.
As portas do templo, obras de arte de carvalho ornada com padrões e símbolos feitos de prata, foram abertas por dois guardas. Eram Arcanos também, porém, usando um armamento pesado que incluía lanças e escudos feitos para se parecem com os trajes dos magos.
Por dentro, o lugar era ainda mais majestoso. Os corredores brancos eram impecáveis. Haviam inúmeras praças pelo local. Algumas eram usadas para discussões e palestras, tendo bancos, mesas e fabulosas fontes feitas de mármore que refrescavam o ambiente. Outras tinham assentos mais confortáveis, com as paredes recheadas de livros organizados em estantes de prata. Outras, ainda, eram arenas sólidas de rocha branca no meio de um campo de grama baixa, usadas para treinamento de feitiços e duelos. Além disso, jardins eram espalhados por todos os cantos, abrigando flores variadas, algumas extremamente raras. Estas eram belas e com um perfume ainda mais agradável do que qualquer uma do campo de fora do templo.
Viktor andava admirado, quase tropeçando a cada cinco ou seis passos por não olhar para frente. O lugar era realmente admirável, sem dúvidas. Elise, por sua vez, parecia relembrar-se de algo, de uma memória boa a uma ruim, a cada lado que olhava. A sacerdotisa, também, parecia sondar o local com seus olhos, ignorando os Arcanos que passavam a sua volta, focando-se nos escravos. Dos que traziam comida e bebida para seus senhores até os que limpavam o templo, nenhum escapava de sua vista. Bem vestidos e alimentados era difícil de acreditar que eles não eram simples funcionários. Aquilo dava um pouco de alívio a ela, afinal, Lily poderia estar logo ali.
Guiados pelos Arcanos, o grupo caminhou pelo palácio que não parecia ter fim, subindo lances e mais lances de escada, passando constantemente por Arcanos que os encaravam e murmuravam quase com medo de serem ouvidos. No começo, aquilo estava magoando Elise. Agora, só a irritava mais e mais, fazendo-a bufar e estralar os dedos a cada passo.
Após quatro andares, o grupo chegou ao quinto andar. Agora, eles estavam em um grande corredor com salas fechadas, escondendo o que quer que  estivesse acontecendo por lá, abafando os sons inclusive. O clima era, então, diferente do resto do templo. Não mais havia um ambiente tranquilo, arejado e convidativo.
Aqui ficam as salas de pesquisa. Disse Lumia não muito animada. Vamos logo... O salão do Ancião fica logo no fim do corredor.
O tópico parecia interessante... Murmurou Dreadraven.
Sim. Concordou Elise. O povo daqui, entretanto, não é. São metidos, para dizer o mínimo... Ela bufou. Vamos.
Quanta hostilidade... Zephyr riu baixo. Nem eu gosto muito dos auto-intitulados gênios que aqui trabalham, mas...
Ignorando o Arcano, as duas sacerdotisas seguiram em frente, seguidas por Viktor e Dreadraven. Os magos restantes, então, os seguiram, acompanhando seus passos por trás, quase como se estivessem evitando que eles escapassem.
Aquilo, entretanto, não aconteceria. Fugir nunca fez parte dos planos de Elise.
Quando as portas se abriram, a sacerdotisa olhou para o outro lado da sala, ignorando as dezenas de Arcanos que estavam lá presentes, fitando aquele que era seguido pelos demais. Sentado em seu trono, um velho homem magro sorriu soberano. Sua túnica branca era majestosa, ornamentada com fios de ouro, estendendo-se com longas mangas frouxas. No topo de sua cabeça, a coroa dourada incrustada de jóias de diversas cores parecia cintilar, digna de um rei. No rosto coberto de rugas e de olhos leitosos, sua barba longa e grisalha parecia ser seu traço mais marcante.
Aquele era o Arcano mais poderoso da atualidade, Ishmael Solace, o Ancião.
Então... Sua voz grave ecoou pela grandiosa sala. Você veio... Veio aceitar a sua morte... Pois bem... Ele olhou para o lado. Valentina, minha cara...
A mulher, então, andou do lado do trono para frente do Ancião. Sua armadura, branca e dourada como as roupas dos demais Arcanos, era leve, apesar de ser feita de aço, a fim de evitar o sacrifício de sua mobilidade. Encantamentos também a protegiam contra feitiços, enfraquecendo-os ao entrar em contato com a superfície de metal. Ela não usava um elmo. Seus cabelos dourados arrumados em uma única longa trança era bem visível, bem como os seus olhos azuis como safiras que, no momento, fuzilavam Elise.
Aquela era Valentina Lockhart, a segunda Arcana mais poderosa da atualidade.
Acabe com a traidora, Valentina... Pediu o Ancião.

Hm... Ela sorriu. Seus olhos brilhavam como se chamas saíssem deles. Então, ela puxou sua espada de trás da cintura. A arma era feita inteiramente a partir de um tipo de cristal raro, Azzurra, conhecido por fortalecer magias e encantamentos. Agora, sua lâmina apontava para Elise, do outro lado da sala. Com prazer. 

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Anúncio 18

A fim de manter a qualidade nos capítulos do The Godsbane, é bem provável que eles demorem mais para serem finalizados. Além disso, eu vou começar a ter menos tempo para escrever por motivos de rotina. Mas já que não quero ficar dando desculpinhas, vou tentar escrever todo dia, nem que seja por alguns poucos minutos livres, para tentar manter o ritmo e, talvez, escrever um capítulo a cada dois ou três dias. Hoje mesmo comecei a escrever o Capítulo 9. Como é final de semana, é muito provável que amanhã esteja finalizado. Entretanto, isso é uma exceção, não uma regra.
Enfim... Quem já acompanha o blog já sabe que não tem nenhuma agenda definida aqui, então continuem acessando o site como antes que prometo continuar escrevendo o The Godsbane, bem como outros contos, com o mesmo jeito de antes ou, até, melhor.
Obrigado.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

The Godsbane, Parte 2 (Capítulos 4, 5 e 6)

Capítulo 4


Montanha de Gellafen, sudoeste de Snowrealm, continente de Windland, Tertia de Librum de 1042.
Para muitos, era um dia feliz. A neve parecia ter sido deixada para trás no último dia do mês passado. O sol vinha finalmente, apesar de tímido, para as terras gélidas. As águas de rios e lagoas estavam agradáveis. As estradas, bem como várias cidades comerciais, percebiam nitidamente o aumento da circulação de pessoas de todos os cantos do país.
Entretanto, num canto remoto do país, a movimentação tinha outro motivo.
Na base de uma montanha, uma tropa de não mais do que vinte soldados aguardava suas ordens. Todos usavam o mesmo tipo de armadura de couro bege, resistentes ao frio, reforçada com placas de aço como brasão dos Icebrands: uma espada azul como o céu, normalmente marcada no ombro direito.
À frente de todos estava Sebastian, seu capitão. Sua armadura de couro era completamente reforçada por uma obra prima de aço, uma defesa praticamente perfeita contra qualquer arma que os Drakes pudessem manejar. Na peitoral de metal polido, o brasão dos Icebrands era ainda mais intimidador.
Com o capacete em mãos e a grande espada nas costas, Sebastian olhava para a escuridão da caverna a sua frente. Seus olhos azuis brilhavam determinados. Seu sorriso branco era confiante. Com essa expressão inspiradora, ele olhou para os homens e mulheres sob seu comando.
Tudo pronto, capitão? Perguntou uma guerreira que segurava um machado com uma mão e, com a outra, um escudo. Algum pressentimento?
Sebastian era famoso por isso. Nada como premonições, mas o capitão sentia algo no ar, como se enxergasse algo que ninguém mais pudesse. De acordo com ele, a magia podia ser sentida ao seu redor e que ela poderia ser uma guia sem igual. Não era muito diferente de saber canalizar o poder para conjurar uma bola de fogo ou soltar raios das mãos. Entretanto, tais talentos eram incomuns dentre os Snowrealmers.
Hm... Sebastian respirou fundo. Não sei exatamente o que esperar dessa vez... Talvez não haja nada, afinal...
Mas se fosse algo realmente ruim... Um guerreiro armado com uma maça e um escudo começou a dizer. Você poderia dizer, certo? Nenhum tipo de fantasma nos espera lá em baixo, não é?
Se algo do tipo fosse aparecer, eu saberia. O Capitão disse com firmeza. Talvez algumas armadilhas nos esperem, como é de se imaginar, mas duvido que qualquer coisa volte do Mundo dos Mortos para nos atacar... Ele sorriu. E se vieram... Nos atacamos antes, como Snowrealmers, não é mesmo!?
Os soldados urraram num coro, brandindo suas armas e as agitando no ar no mesmo ritmo.
É isso que eu gosto de ouvir! Sebastian bradou. Em seguida, ele sacou sua espada e a apontou para uma das guerreiras no meio da tropa. Senhorita Silverblade! Gostaria de ter honra de nos liderar nessa expedição?
Sim, senhor! Ela respondeu firmemente.
Ótimo... Ele sorriu. Silverblade era, sem dúvidas a mais experiente dentre aqueles soldados. Sebastian sabia que poderia contar com ela. Então, senhorita... Lidere-nos!
A guerreira caminhou até a entrada da caverna, alguns passos além de seu capitão. Então, ela ergueu sua mão direita, erguendo sua espada e exibindo o brasão dos Icebrands para todos verem.
Em frente! Silverblade bradou. A Demonsbane será dos Icebrands!
Com urros, os soldados correram até ela, adentrando na caverna com passos pesados e uma determinação quase inabalável.
Sebastian sorriu ao ver seus soldados marcharem em direção ao desconhecido. A coragem daqueles homens e mulheres bem treinados era digna de verdadeiros guerreiros. Um capitão não poderia pedir por subordinados melhores.
Entretanto, eles tinham que agir rápido. A tropa deveria conseguir a espada lendária, se ela realmente estava lá, símbolo de poder nas mãos do maior rei da última era em Windlands.
A Demonsbane seria não só um instrumento de destruição nas mãos de Alexander, The Icebrand, seria também uma vantagem moral sobre os Drakes. Se eles temessem o poder da lenda da arma, a guerra estaria mais próxima do seu fim.
Se não fosse pelos seus discursos motivadores, tenho certeza que eles não precisariam de você. Disse uma voz tão familiar para Sebastian.
O capitão se voltou para trás, na direção do único soldado que não correu para dentro da caverna. Nas costas do jovem estava uma espada idêntica a dele. Feita de aço brilhante como prata, com tiras de couro no cabo e uma lâmina quase tão afiada quanto a de uma navalha, a arma era uma obra de arte, principalmente em contraste com sua armadura cheia de arranhões a amassados.
Não duvido disso. Sebastian respondeu com um sorriso amigável no rosto e, então, cravou sua espada no chão e apoiou suas mãos sobre o cabo. Assim como eu também não duvido que essa velharia que você usa não serve nem pra te proteger de uma flecha.
A Claudia disse que a armadura parecia boa.
Ela te mima demais.
Ela só tenta compensar o marido militar estressado. Ou talvez ela só esteja compensando pela filha que só arruma confusão...
Sério? Ele ergueu uma sobrancelha. A Ivy anda se metendo em mais confusão do que antes?
É... O jovem riu baixo. Uns beberrões começaram a dar em cima dela lá no bar do Redale.
Ah é? Sebastian suspirou. Eram quantos ao todo?
Cinco. Três no começo, dois no final, sendo que os primeiros ela derrotou só usando as mãos... E um dos banquinhos de madeira.
E o problema foi ela ter causado um tumulto no bar? Só isso?
Bem... Todos os cinco eram Icebrands...
Impressionante...
Só que nem todos eram soldados, sabe?
Houve um momento de silêncio. Sebastian respirou fundo e exalou com calma.
Não me diga que ela bateu num nobre... Ele murmurou.
Timothy Icebrand, sobrinho do grande Alexander, The Icebrand... O jovem riu.
Pelo amor de Ghikast...
O que ela devia fazer, hein? O tal nobre apareceu no bar enquanto ela quebrava o banquinho na cabeça do último bêbado que deu em cima dela. Ai ele chamou a Ivy de selvagem e mandou o guarda costas dele, um grandão com um martelo de guerra, tirar dali. Ai ela sacou o machado e derrotou o cara em não muito tempo. Mas é claro que eles destruíram um pouco do bar no meio da confusão.
Só isso? O capitão perguntou após um momento de hesitação.
Bem... Aí ela resolveu dar um tabefe na cara no nobre e o chamou de frangote. Mas ela não matou ninguém, o que é bom, não é?
É... Sebastian bufou. Mas ela não foi parar na cadeia?
Sim, mas ela saiu rápido.
Como?
Pagaram a fiança dela.
E quem tinha dinheiro pra isso...?
Veronica Icebrand, irmã do nobre magricela, que também estava na cidade. Aparentemente, ela realmente gostou de alguém dar uma lição no irmão mimado dela e, também, de alguém bater em três soldados sem noção ao mesmo tempo.
Inacreditável...
E ela ainda pagou pelo prejuízo no bar. Só que não acho que a Ivy seja mais bem vinda no lugar... E o mesmo vale pro resto da família dela, sabe?
Sei... O Capitão respirou ainda mais fundo e, após expirar, sorriu. Você é realmente o menor dos meus problemas, não é, Damian?
O rapaz, então, levantou a viseira de seu elmo e sorriu. Sua face tinha uma expressão alegre, praticamente pueril quando comparada com a de alguns anos mais tarde. Seus olhos dourados pareciam brilhar para aquele que o considerava como um filho.
Eu já tinha te dito isso umas cem vezes... Damian deu um tapinha no ombro de Sebastian. Agora vamos... O resto da tropa está nos esperando.
***
Damian havia perdido tudo quando pequeno.
A cidade de Brassgrounds havia sido devastada em Quinta de Geminium do ano de 1001. O pai de Damian morreu defendendo sua terra natal do ataque dos Drakes e, sua mãe, morreu, assassinada brutalmente, após esconder o filho no porão da casa.
O reforço dos Icebrands veio tarde demais. Muralhas já haviam vindo abaixo. Casas já haviam sido saqueadas e queimadas. Guerreiros haviam caído em batalha. Camponeses foram mortos sem piedade. Das mulheres, haviam as que foram capturadas como animais selvagens e as que foram mortas friamente. Apenas alguns poucos moradores de Brassgrounds haviam sobrevivido.
Damian havia saído de seu esconderijo, assustado e com fome após horas protegido, longe do massacre que ocorria poucos metros acima de sua cabeça.
No meio das ruínas queimadas de sua casa, o garoto caiu de joelhos, confuso, sem entender o que havia acontecido, olhando para o céu coberto de fumaça negra, respirando o ar preenchido pelo aroma fétido das vítimas da invasão.
Porém, uma mão veio para ajudar Damian a se levantar.
Desde aquele dia, anos atrás, Sebastian estava ao lado do rapaz. Ele o criou como um filho e como um guerreiro. Para vingar seus pais e sua terra natal, Damian atingiria as expectativas de seu capitão e daria seu sangue para levar os Drakes ao seu fim.
***
O caminho era praticamente uma reta. A caverna de paredes avermelhadas não se parecia com um labirinto e, muito menos, pareciam ter armadilhas preparadas pelos cantos. O lugar, com exceção das pegadas dos soldados que haviam passado há pouco, parecia completamente intocado seres humanos desde a último era. O ar úmido cheirava a mofo. Os únicos seres vivos do lugar pareciam ser alguns musgos, cogumelos e pequenos insetos. Os únicos sons pareciam ser os de algumas goteiras vindas de pontos aleatórios pelo teto.
Você está sentindo alguma coisa? Indagou Damian, ainda avançando pela caverna.
Sim... Sebastian respondeu, andando no mesmo ritmo do jovem. Mas não sei dizer exatamente o que é... Porém...
Porém o quê?
Porém... Eu não consigo sentir a presença dos outros.
Como assim? Eles não estão mais aqui?
É como se fosse isso...
Então tem alguma coisa aqui, não é? Alguma coisa te confundindo...?
Talvez...
Continue em frente. Uma voz sussurrou. Eles estão aqui... Ache-os...
Damian parou. Sebastian também. Um olhou pro outro, inquietos.
Ouviu isso também, garoto? O capitão perguntou.
O rapaz assentiu.
Ótimo. Sebastian esboçou um sorriso. Não estou ficando louco... Ou, pelo menos, não estou ficando louco sozinho.
É. Damian riu contidamente, ficando sério rapidamente. Mas, então... O que exatamente foi isso? Essa voz...
Não pare. Outra voz sussurrou. Siga o seu destino.
Não fuja. Disse outra, no mesmo tom. Não tema.
Não há o que temer. Não há o que temer se você for forte.
Siga. Lute. Viva. Conquiste.
Todas as vozes começaram a falar, sobrepondo-se no lugar das outras. A cada segundo, uma nova parecia surgir. O caos apenas piorava.
Damian levou as mãos à cabeça que parecia que estava prestes a explodir. Sua respiração estava acelerada, pesada. Seu corpo tremia, fraco, suando frio, parecendo capaz de ceder a qualquer momento.
O rapaz trombou para o lado, apoiando-se contra uma parede enquanto usava toda a sua disposição para recuperar o ar e o equilíbrio.
Droga... Damian murmurou irritado, ainda respirando pesadamente. Sebastian que droga...
O rapaz olhou para frente. Seu capitão não estava mais lá.
Olhando a sua volta, Damian percebeu algo além da ausência de Sebastian: ele não estava mais no mesmo lugar.
As paredes de rocha vermelha foram substituídas por tijolos cinzentos. A atmosfera úmida se transformou em uma névoa dourada que brilhava com luzes vermelhas, verdes e azuis como pó de pedras preciosas.
As vozes, ao menos, haviam cessado. Por alguns instantes, o silêncio foi absoluto.
Então, do corredor a frente de Damian, vieram passos e, então, um grunhido agudo.
O rapaz sacou a espada quase instintivamente. O tempo pareceu desacelerar enquanto os passos soavam cada vez mais próximos. Com a espada apontada para frente, suas mãos tremiam um pouco. Porém, ele não ia correr o risco de ser uma presa naquele lugar bizarro.
Então, a criatura apareceu.
Seu corpo era humanóide, um pouco mais baixo que Damian. Seu corpo era coberto por chamas vermelhas. Seus chifres pontudos eram tão ameaçadores quanto suas presas afiadas. Em sua mão direita, havia uma espada, e na esquerda, um escudo. Ambos os equipamentos ardiam com as mesmas chamas demoníacas.
Com um grunhido, o monstro apontou sua espada.
Não se esqueça... Uma voz disse para Damian, clara como se ela viesse de dentro de sua própria cabeça. Não há nada a temer. A voz parecia mais alta e grave a cada palavra proferida pausadamente. Lute para viver, guerreiro. Lute e conquiste a Demonsbane.


Capítulo 5


A criatura avançou, desferindo um ataque rápido.
Com um passo largo para trás, Damian conseguiu se esquivar do primeiro golpe. Porém, mais vieram em seguida.
Na esquerda para direita, de cima para baixo, traçando diagonais. A espada do monstro parecia dançar pelo ar através da névoa dourada.
Com medo estampado no rosto suado, Damian não conseguia fazer nada a não ser desviar dos golpes. Não demorou muito para que suas costas atingissem a parede atrás dele.
O caminho havia mudado. Agora, não havia mais saída. Era como uma armadilha. Sua única alternativa era lutar, coisa que ele, em pânico, parecia incapaz de fazer.
Não consegue mais se lembrar do que eu disse? A voz perguntou calmamente dentro da mente do rapaz.
O tempo parecia correr vagarosamente. O monstro em sua frente mal parecia uma estátua perfeita, tendo até mesmo as suas chamas paralisadas.
Ou você estava simplesmente não prestando atenção? A voz continuou.
Damian não conseguia responder. Seus lábios não se mexiam. Nada nele se mexia. Nem respirando ele estava.
Não tema, eu disse... A voz parecia irritada agora. Não tema absolutamente nada. Se você teme que alguma coisa possa te ferir, fira-a antes que ela tenha a chance de te fazer mal... As palavras se tornaram mais altas e graves, cravando-se na mente do rapaz. Mate-a antes que ela te mate. Mate não apenas para sobreviver... Mate para viver. Seja o mais forte. Faça esse mundo se curvar perante a você. Mostre que é capaz disso... Mostre para mim que você é capaz disso.
Então, o tempo voltou a correr normalmente.
O monstro, que avançava para atacar, foi obrigado a levantar o escudo.
Damian atacou rapidamente. A força de seu golpe desequilibrou o monstro, derrubando-o sobre os próprios joelhos.
A criatura rugiu. O guerreiro trincou os dentes. O medo que havia em sua face havia sumido. No seu lugar veio uma determinação descomunal, uma vontade quase selvagem de matar seu inimigo.
Mais três golpes de Damian. Seu oponente nada pôde fazer a não ser defender os ataques rápidos como raios.
Para a próxima espada, o guerreiro usou mais força. Com as mãos apertando o cabo da arma o mais forte que podia, Damian atacou soltava um urro.
A força do golpe arremessou a criatura para trás. Com as costas no chão, o ser vil gritou de dor enquanto o guerreiro cravava a espada de aço em seu peito.
Impotente, a criatura soltou sua espada e tentou levar suas garras até a arma de Damian. Em vão.
Antes que o monstro pudesse agarrar a espada, o guerreiro a arrancou de seu peito. Com um último grito, a criatura morreu.
Sangue não verteu do corpo recém morto. Suas chamas, porém, soltaram-se da carcaça, flutuando lentamente para o alto, dispersando-se névoa dourada que parecia, agora, um pouco mais escura.
Muito bom. A voz disse. Mas não pense em parar agora. Afinal, existem mais desses por aí...
Damian sorriu, não exatamente como se estivesse feliz, apenas contente com o desafio. Seus olhos, antes repletos por medo, agora pareciam brilhar com sua vontade de lutar. Suas mãos, antes trêmulas, agora seguravam sua espada com uma determinação inabalável.
Correndo pelos corredores cinzentos, Damian não mais pensava. Ele ia à procura dos monstros. Pouco após o primeiro confronto, o rapaz já havia decidido que ele não seria a presa naquele labirinto. Nos que viriam, ele faria qualquer um ter certeza de quem era o predador naquele inferno.
Um. Dois. Até três de uma vez. Não importava quantos eram. Como lobos famintos, as criaturas iam até o rapaz. Brandindo sua espada, ele os saudava.
Machados, espadas, martelos de guerra. Não importava as armas que manejassem. Não importava se fosse maiores que o guerreiro. Não importava nem mesmo que conseguissem o surpreender. Damian não soltava sua espada mesmo as garras de um dos monstros envolta de seu pescoço. O jovem reagia sem sentir medo, derrotando força com velocidade e velocidade com força.
Imbatível, o guerreiro andava triunfante pelo labirinto cinzento, brandindo inquietamente sua espada, esperando um novo adversário. Após algum tempo, os monstros não mais vinham. Damian não sabia dizer se haviam fugido ou se, talvez, estavam todos mortos.
Entretanto, o rapaz não questionava isso. Nem mesmo questionava a voz que não falava com ele há algum tempo. Ele apenas vagava pelos corredores preenchidos pela névoa escarlate à espera de uma nova presa.
De repente, então, veio um novo som. Era o de algo, como um baú, sendo destrancado.
Damian se voltou para trás, na direção do ruído, deparando-se com uma nova parede. Nessa, entretanto, havia um portão. Seus ornamentos, bem como as inscrições nela, eram feitas de ouro.
Mas nada daquilo importava para o rapaz. Ele havia ouvido o som de antes. Se o portão estivesse destrancado, Damian apenas precisava abri-lo.
O guerreiro colocou a espada nas costas e, então, empurrou as duas pesadas portas.
Enquanto elas se abriam lentamente, causando estrondos enquanto se movia, a névoa se infiltrava na sala escura, iluminando o ambiente com sua luz vermelha.
Damian adentrou, então, em um salão tão vasto quanto uma sala do trono. Cada superfície do lugar era constituída pelos tijolos e ladrilhos cinzentos de antes. O teto era pelo menos duas vezes mais alto do que no resto do labirinto. Haviam tochas nas paredes, porém, estavam apagadas.
O lugar estaria vazio. Isso é, se não fosse uma presença no centro da sala.
Por entre a névoa, uma estátua parecia se mover. Ilusória, ela ia de um canto ao outro da sala, desaparecendo quando encoberta pela névoa densa, surgindo em um ponto mais visível da sala.
Ali está o último. A voz disse, quebrando o silêncio.
Damian sacou sua espada, segurando seu cabo com firmeza.
Não era difícil de se acreditar que o objeto fosse algum tipo de disfarce da criatura. Porém, enfrentar algo que se movia daquele jeito poderia ser um problema. O monstro poderia atacar vindo de qualquer lado.
Não tema... Damian murmurou. Não tema absolutamente nada...
O guerreiro repetiu as palavras que a voz havia proferido. Como um mantra, ele repetiu a frase em sua cabeça, andando alerta na direção da estátua, pronto para atacar a qualquer instante.
A cada passo dado, Damian podia perceber que a estátua se movia cada vez menos, limitando a distância para onde se movia a cada instante.
Não demorou muito para que o rapaz percebesse o truque e, rapidamente, andar calmamente até a estátua.
A névoa parecia refletir a imagem no centro da sala. Ora maior, ora menor, ora mais perto, ora mais longe. A ilusão se movia incessantemente enquanto o objeto permanecia no lugar.
Era só isso? Damian conteve o riso.
A estátua, que trajava uma armadura negra que a fazia parecer um Demônio feito de metal, continuava imóvel. A aparência intimidadora com garras, presas e espinhos espalhados pela carapaça de aço não surtia efeito sobre Damian. Se aquilo era um teste de coragem, o rapaz o venceria sem problemas.
Acabe com ele! A voz ordenou.
Se assim deseja... O jovem murmurou.
Com a espada em mãos, Damian atacou. O som de metal se chocando contra metal ecoou pelo salão.
O golpe desferido pelo guerreiro deveria ter quebrado a estátua, fazendo com que seus pedaços desmoronassem juntos com as peças da armadura. Porém, não foi isso o que ocorreu.
Damian foi surpreendido. A estátua havia bloqueado o seu ataque. Em suas mãos revestidas de aço negro, uma espada brutal havia surgido, defendendo-o do golpe do guerreiro.
Uma rajada de vento gélido varreu a sala. As tochas se acenderam em seguida, dissipando a névoa escarlate e iluminando o lugar com chamas verdes. O ar, entretanto, continuou tão pesado quanto estava, denso como uma neblina.
O monstro grunhiu. De dentro de seu elmo, chamas cor esmeralda brilhavam pela sua boca e olhos antes vazios.
Cada um deu um passo para trás, ambos brandindo suas espadas. A criatura rosnou, o que fez com que o fogo verde saísse de sua boca como se fosse sua saliva. Damian, diante do desafio, sorriu. Seus olhos brilhavam com o desejo de lutar.
Palavras não eram trocadas naquela luta. Fora alguns urros e gritos antes de atacar, os dois nem abriam a boca.
O som de metal contra metal ecoava a cada instante no salão. Para cada ataque desferido por Damian, o monstro sabia o movimento certo para se esquivar ou se defender. Entretanto, o inverso também ocorria. Nenhum dos dois deixava a guarda aberta por tempo o suficiente para um finalizar o outro.
Algo foi se mostrando muito claro durante a luta que parecia se estender por minutos: eles eram equivalentes. Damian era tão forte quanto o monstro. O mesmo podia ser dito sobre sua agilidade e raciocínio durante o combate. Até mesmo suas técnicas eram as mesmas.
O duelo seria vencido pela resistência, pela força de vontade do vencedor. E assim foi.
Golpe após golpe, esquiva após esquiva, bloqueio após bloqueio. Damian estava claramente cansado. Sua respiração estava ofegante. Seu rosto, suado. Seu corpo se movimentava cada vez mais devagar sob o peso da armadura. Seus braços doíam. Carregar a espada já estava se mostrando ser um grande esforço. Atacar, então, fazia com que seus músculos ardessem.
O monstro, porém, entretanto, não estava diferente.
Damian não conseguia dizer se oponente estava cansado por expressões faciais, é claro. Porém, seus movimentos também estavam mais lentos, fracos e desleixados. Até mesmo suas chamas verdes pareciam menos intensas do que antes.
O combate não tinha mais a mesma intensidade para quem assistia. Porém, para quem estava se desgastando com a luta, o sentimento era outro: o tempo investido naquele duelo era algo que faria a vitória ter um gosto ainda melhor.
Então, finalmente, o inevitável aconteceu: com um golpe mais forte do que o monstro poderia prever, Damian atacou. Uma espada foi contra a outra. A da criatura foi lançada para longe de suas garras.
Um surto de energia atingiu o guerreiro. Com um sorriso e um brilho nos olhos, Damian desferiu seu último ataque.
A espada atravessou a carapaça do monstro, transpassando o centro de seu torso, como se não fosse nada. Com seu último suspiro, a criatura tentou dizer alguma coisa que acabou não saindo de sua garganta.
Então, o cenário mudou.
As chamas das tochas se tornaram vermelhas, comuns. O ar parecia mais leve, de volta ao normal. E o monstro em frente a Damian também havia mudado, de volta a sua forma original.
Não... Murmurou o guerreiro, incrédulo.
Ele soltou a espada. O corpo caiu imóvel no chão.
O elmo estava sobre sua cabeça e o visor estava abaixado, porém, Damian reconheceria aquela armadura e espada bem polidas, brilhantes como prata, em qualquer lugar.
Sebastian... Ele mal conseguia dizer seu nome. Como...?
Muito bem... Disse uma voz grave que Damian já estava tão bem acostumado. Dessa vez, porém, ela não vinha de dentro de sua cabeça.
O guerreiro se voltou para a direita, na direção da voz. Lá, uma nova criatura havia surgido.
O monstro tinha, pelo menos, o dobro da altura de Damian. Seu corpo era um esqueleto humanoide monocolor, negro como carvão. Entretanto, haviam várias diferenças em relação  ao de um humano. Chifres como o de um bode saiam do topo de seu crânio espesso. Placas, que mais pareciam ser de aço, cobriam o peitoral, braços e pernas como uma armadura. Asas gigantescas, constituídas apenas de ossos pretos, cobriam as costas da criatura como uma capa.
Envolto por chamas verdes, o Demônio sorriu.
Eu sabia que você conseguiria... Ele gargalhou.


Capítulo 6


O quê...? Damian estava completamente confuso. O guerreiro nem sabia para onde voltar o seu olhar: para o corpo sem vida de Sebastian ou para o Demônio que sorria para ele.
Era um teste. A criatura vil começou a explicar. E você passou.
Damian não disse mais nada. Ele retirou o próprio elmo e, então, olhou para o homem que ele considerava um pai, não podendo acreditar que sua espada estava cravada no peito de Sebastian.
Eu fiz isso...? O jovem indagou. Lágrimas começavam a brotar dos cantos dos olhos. Foi minha culpa...?
Bem, é a sua espada no peito dele, não é...? O Demônio se aproximava com passos lentos do rapaz. Interessante... Eu não tinha previsto isso...
Damian dirigiu o olhar para seu interlocutor. Com lágrimas escorrendo por sua face, ele não disse nada.
A morte dele te deixou mais abalado que a minha presença... O Demônio continuou. Mais abalado do que qualquer outra coisa que você já presenciou... Mesmo os horrores que você enfrentou sob meu feitiço não puderam quebrar o seu espírito... Mas isso...
Espere... Damian o interrompeu. Feitiço? Você quer dizer que tudo o que aconteceu aqui... Foi culpa sua?
Achei que era óbvio... Ele sorriu.
Você me fez matar Sebastian!?
E o resto dos seus amigos também.
Ah... Como assim...!?
Os monstros que você matou antes... Eram só ilusões sobre os outros guerreiros. A mesma coisa aconteceu com Sebastian. O Demônio riu. Mas não se sinta mal. Na visão deles, você era o monstro que eles tinham que matar. Mas... Depois de ver como você lutou... Até eu mesmo diria que você é um monstro...
Desgraçado! O rapaz esbravejou.
Damian olhou para Sebastian. Ele não arrancaria a espada de seu peito, simplesmente não parecia certo. Porém, a espada de seu mestre não estava muito longe dali. Bastava correr um pouco. E assim foi feito.
O jovem deu as costas para o Demônio. Com um sorriso no rosto, a vil criatura olhou Damian correndo para a espada de Sebastian.
Tolo... O Demônio murmurou.
Damian saltou, aterrissando com uma cambalhota ao lado da espada, pegando-a e levantando rapidamente, apontando a arma na direção de seu inimigo.
Porém, como a expressão de surpresa no rosto do guerreiro dizia, o Demônio não estava mais lá.
Você gostou de matar eles, não é? A voz maligna soou na cabeça do jovem.
Apareça! Damian bradou. Suas mãos estavam firmas no cabo da arma. Inquieto, ele se voltava a cada segundo para uma direção diferente, brandindo sua espada, esperando seu oponente ressurgir. Lute!
Não adianta negar... Ele riu. Sei que você gostou. E não venha me dizer que você só fez aquilo porque estava matando monstros... Eu senti sua intenção assassina, humano... Chegou até a me surpreender, admito...
Pare de falar... Pare de fugir... Venha! Venha me enfrentar!
Com um brilho nos olhos... Com um sorriso no rosto... Você matou cada um deles... Imagina o que passou pela cabeça deles? Sendo mortos brutalmente por um monstro...
Cale a boca...
No último instante de vida, eles viram a ilusão se desfazer, sabia? Todos eles viram o seu rosto, sorrindo enquanto eles morriam... E Sebastian não foi uma exceção...
As últimas palavras não vieram da mente de Damian, mas sim de trás dele.
O rapaz trincou os dentes e, rapidamente, voltou-se para trás. Com um golpe horizontal, Damian deferiria um golpe que deveria abrir uma fenda no abdômen da gigantesca criatura.
Porém, não foi o que ocorreu.
Sem dificuldade, o Demônio antecipou o ataque e segurou a espada pela lâmina.
Essa sua raiva é linda, você sabia? Ele sorriu para Damian.
Com um movimento brusco de suas garras, o Demônio apertou a lâmina da espada, quebrando-a sem dificuldade e a reduzindo em centenas de cacos de aço.
Damian nada pôde fazer. Ele apenas observava boquiaberto os resquícios da espada caindo lentamente no chão. O som de cada fragmento se chocando contra o solo parecia ecoar dentro de sua cabeça. Por fim, o cabo da arma caiu de suas mãos, emitindo um baque surdo que ecoou pelo local.
Ela mostra o seu lado verdadeiro... O Demônio continuou. Ela mostra a sua verdadeira força... Ela te permitiu sobreviver... E ela só surgiu graças a sua vontade de viver... De repente, sua garra foi de encontro ao pescoço de Damian. No instante seguinte, o guerreiro sendo erguido no ar, sendo estrangulado, debatendo-se inutilmente. Vontade de viver... Ou medo de morrer? Eis a pergunta...
Arfando, Damian tentava inutilmente se soltar das garras do Demônio com suas mãos. Ele esperneava enquanto sua visão se tornava mais e mais embaçada. Após alguns instantes, o guerreiro parecia nem mais haver forças para tentar respirar. Era como ver um peixe se debater em terra, tentando voltar para a água, sem saber por qual caminho seguir.
Então, o sofrimento de Damian chegou ao fim. Pelo menos, era o que ele achava.
O Demônio arremessou o guerreiro para trás. A armadura pareceu inútil naquele instante, pois o rosto de Damian se contorceu de dor antes de voltar a arfar, tentando recuperar o ar perdido.
Trate de ficar mais forte. O Demônio advertiu. Tenho planos para você. Você vai fazer parte de algo grande, humano... Se não morrer no caminho, é claro...
Miserável... O rapaz disse com esforço tremendo. Eu vou... Vou te matar...
Talvez. Você irá me encontrar novamente, tenho certeza disso.
Você vai... Fugir...?
Não é o momento da nossa luta, humano. Além disso, é como eu já falei... Você tem que ficar mais forte. Ele disse as últimas palavras pausadamente, fazendo com que cada uma ecoasse pelo salão.  Entendeu?
O Demônio, então, voltou-se na direção de Sebastian.
Deixe-me ajudá-lo... Murmurou a criatura vil.
Com um movimento de sua garra, o Demônio escreveu no ar um símbolo que Damian nunca havia visto. Então, o corpo de Sebastian brilhou com uma cor vermelha escarlate.
O que você...? O guerreiro grunhiu de dor enquanto se levantava. O que você está fazendo...?
No instante seguinte, Sebastian queimou, transformando-se em chamas.
Não! Damian gritou com todas as forças. Não!
Rapidamente, o jovem correu até o corpo de seu mestre. Impotente, nada pôde ele fazer além de cair de joelhos e observar as chamas.
Sebastian... Damian murmurou, quase sem voz.
O rapaz demorou a perceber o vulto entre as chamas.
Sua própria espada flutuava envolta por um círculo de chamas intensas. A cada instante que se passava, a arma era erguida, afastando-se mais e mais do chão, alongando-se, alargando-se e mudando lentamente de cor, tornando-se negra como o céu da noite.
O que é isso...? Foi tudo o que Damian conseguiu dizer, com um misto de pavor e curiosidade em sua voz.
Isso é o que vocês vieram buscar... Respondeu o Demônio.
As chamas, então, foram em direção à espada, moldando a forma final da arma e se fundindo com ela.
Com um brilho escarlate, ela surgiu.
A espada era negra como ébano. Suas marcas escarlates pulsavam como as batidas de um coração. Sua lâmina afiada brilhava como diamantes. 
Essa é a Demonsbane. Anunciou a criatura vil.
Lentamente, Damian se levantou, observando a lendária espada flutuando, etérea, bem em frente aos seus olhos.
Ela precisava de um sacrifício digno para vir à vida... O Demônio explicou. Ela sempre precisou...
O que você quer dizer? Indagou Damian.
Todos os que já usaram essa espada passaram por uma situação semelhante à sua nesse momento. Afinal, tal poder tem que ter um preço.
Poder... O guerreiro murmurou.
Lentamente, Damian levou sua mão até a Demonsbane. Nervoso, ele viu o cabo da espada se curvar até o alcance de seus dedos trêmulos. De repente, uma onda de coragem atingiu o rapaz que, então, agarrou a arma.
Com uma mão, Damian brandiu a Demonsbane, surpreso pela leveza da espada.
Poder... Ele repetiu. Poder o suficiente para te matar?
Talvez. O Demônio respondeu, andando entorno do rapaz. Porém, para isso, você deve alimentá-la bem.
Alimentá-la?
Sim. Caso contrário, ela morrerá, tornando-se um pedaço inútil e pesado de metal. Então... A criatura sorriu, centímetros atrás de Damian. Alimente-a bem. Banhe-a em sangue, não importa de quem, não importa do que... Apenas a alimente. Fortaleça-a. Torne-a sua. Transforme-a no instrumento de destruição perfeito... Honre a memória de seu sacrifício... E venha me enfrentar quando estiver pronto, humano...
As últimas palavras do Demônio soaram distantes, como se sumissem com o vento.
Quando Damian se voltou para trás, a criatura havia sumido. Uma porta estava aberta. A saída do guerreiro estava o esperando.
Com a Demonsbane em mãos, Damian lamentou em silêncio a morte de Sebastian mais uma vez. Com as lágrimas secas, ele deixou o templo, jurando vingança contra o Demônio.
***
Damian abandonou o lugar, deixando o corpo de seus companheiros caídos para trás. Ele, juntamente como Sebastian Eisenfaust, foram considerados desertores, uma vez que o corpo de nenhum dos dois foi encontrado no local e seus superiores de nada foram informados. Assim, a culpa das mortes dos guerreiros das tropas recaiu sobre a dupla.
Damian foi encontrado e confrontado várias vezes, porém, nunca puderam o capturar. Uma recompensa foi prometida pela sua cabeça, fazendo com que o jovem guerreiro se tornasse um dos criminosos mais procurados de Snowrealm em pouco tempo.
Sebastian, pelo desaparecimento de anos, foi considerado morto por muitos, pelas mãos do próprio aliado, muitos palpitavam.
Damian nunca mais viu o Demônio desde aquele dia. Sua caçada continua enquanto ele mesmo é caçado.


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Capítulo 47

The Return
O Retorno

Uma semana depois...
Vocês realmente não tiveram pressa para voltar para cá, não é? Nidhogg perguntou com um sorriso no rosto.
O Lorde das Trevas estava sentado em seu trono com uma taça de hidromel em sua mão esquerda. Sua cabeça estava apoiada em sua mão direita que, por sua vez, estava apoiada no braço direito do trono. Em sua frente, Tristan e Shadowing estavam em pé.
As nevascas atrapalharam muito. O guerreiro das Trevas disse rispidamente. Nós chegamos antes do exército. Eu nem sei ao certo quando eles vão chegar.
O importante é que a missão logrou êxito. Shadowing acrescentou solenemente. E, ainda por cima, conseguimos dominar a cidade.
Ah...sério? Nidhogg arqueou uma sobrancelha. Vocês não a destruíram?
Não. O Demônio respondeu. Alguns dos soldados permaneceram lá para proteger o território. Também conseguimos alguns espólios interessantes, como algumas armas e armaduras feitas pelos bárbaros, bem como lingotes e ferramentas que eles utilizavam.
E ouro. Tristan acrescentou. E prata. E algumas jóias. Ele sorriu. Não podemos nos esquecer dessa parte.
Sim... Nidhogg tomou um gole de hidromel. Presumo que o exército chegará com esses espólios.
Exatamente. Shadowing afirmou.
Muito bom... O Lorde das Trevas respirou fundo. Bem...eu tenho apenas duas perguntas. A primeira...bem, é algo que eu já sei a resposta. Eu apenas gostaria que vocês confirmassem.
Pergunte. Pediu Tristan.
A cidade está sendo protegida tanto pelos nossos soldados, tanto pelos de Leviathan, certo? Nidhogg indagou.
Sim... Shadowing respondeu apreensivamente.
Isso será um problema futuramente. O Lorde das Trevas disse. Não sabemos qual a importância que Leviathan dará ao lugar. Ele pode mandar forças para tomar o lugar apenas para ele. Ele bufou. Bem...lidaremos com isso depois.
Podemos enviar nossas forças para lá também, não podemos? Tristan perguntou.
Sim. Nidhogg suspirou. Sinceramente, qualquer coisa pode acontecer. Ele pode não mandar as forças e nós sim. Assim, dominaríamos o território. Por outro lado, nenhum de nós pode mandar nossas forças. A luta seria decidida pelos soldados que já estão lá. Caso Leviathan e eu enviemos mais tropas para lá...bem, seria uma verdadeira e sangrenta guerra. Ele bebeu mais um gole de hidromel. Como eu havia dito, nós lidaremos com isso depois.
Quando? Tristan indagou.
Depois desse relatório, provavelmente. O Lorde das Trevas respondeu sem muito interesse. Bem...eu tenho mais uma pergunta e, depois, um anúncio para vocês.
Ótimo. Shadowing disse. Pergunte então.
Certo... O Deus das Trevas bebeu o último gole da taça e fez com que o objeto desaparecesse se desfizesse em sombras. Como vocês conseguiram tomar a cidade?
Mais da metade dos moradores da cidade foram mortos. Shadowing respondeu. E muitos se renderam ou fugiram.
Como!? Nidhogg arregalou os olhos. Eles se renderam...ou fugiram? Ainda estamos falando sobre os bárbaros?
Sim. Shadowing riu. Tudo graças ao seu Escolhido.
O Lorde das Trevas fitou Tristan. Após um segundo, a expressão no rosto de Nidhogg foi de surpresa para felicidade.
Ora... O Deus das Trevas exibiu um sorriso largo. Então...você conseguiu usar aquele ataque?
Sim. Tristan sorriu.
Nidhogg gargalhou alegremente. Shadowing parecia intrigado.
Muito bem! O Lorde das Trevas sorriu ainda mais largamente. Eu sabia que você conseguiria.
Fiz apenas como você me explicou. Tristan sorriu.
Ah...aquilo fazia parte do seu treinamento, Tristan? Shadowing indagou.
  Mais ou menos. Tristan admitiu. Eu aprendi a controlar os meus poderes ainda mais facilmente graças ao treino. Eu também consegui mais energia e aprendi a gastar menos dela durante as lutas. Há algum tempo atrás, o Nidhogg me explicou sobre aquele ataque.
Eu acreditei que o Tristan já teria capacidade para usar aquele ataque. O Lorde das Trevas acrescentou. Então, eu ensinei os fundamentos para ele. Eu o avisei que o ataque consumiria boa parte dos poderes dele. Ele riu. Eu sabia que ele conseguiria usar o ataque, mas eu não esperava que ele amedrontasse os poderosos guerreiros bárbaros.
Muito menos eu. Tristan riu.
Bem...que  bom que deu certo. O Lorde das Trevas respirou aliviado. Bem...agora tenho algo a lhes informar.
O que é? Shadowing perguntou.
Uma nova missão. Nidhogg respondeu. Não se preocupem. Não será tão cedo. Talvez, seja daqui a uma semana ou dez dias.
Qual será o nosso objetivo? Tristan indagou.
Derrubar a Tiamat. O Lorde das Trevas sorriu malignamente.
Tristan e Shadowing arregalaram os olhos, surpresos. Nidhogg gargalhou.
Adorei essa reação de vocês! O Deus das Trevas disse enquanto ria.
Você...está falando sério? Tristan indagou.
Sim. Nidhogg respondeu. Nós não lutaremos ao lado das forças da Luz, mas continuaremos com a nossa trégua...pelo menos, no sentido de não atacarmos um ao outro. Ele invocou uma nova taça já com hidromel. Nós atacaremos a base principal da Tiamat. As forças de Leviathan atacarão a base principal da Chimaera. Depois dessas missões, voltaremos a ser inimigos.
Certo... Shadowing disse enquanto tentava assimilar todas as novas informações. Bem...como vocês descobriram as localizações das bases deles?
Nós tivemos agentes trabalhando nisso enquanto vocês trabalhavam na missão de vocês. O Lorde das Trevas disse. Creio que vocês conhecem alguns deles.
Logo atrás de Tristan e Shadowing, dois vultos surgiram das sombras.
Que bom que vocês estão vivos! Astaroth riu maniacamente. Não é mesmo, Lilith?
Sim. A caçadora concordou com um sorriso. Já faz muito tempo.
Bem... Nidhogg bocejou. Vocês estão dispensados, por hoje. Descansem, pois vocês merecem. Aprimorem as suas habilidades, pois vocês precisam. A próxima missão será a mais importante de suas vidas, até o momento.
Todos assentiram e saíram da sala do trono andando calmamente. Os quatro andaram até a entrada do palácio.
Eu mal posso acreditar nisso. Shadowing disse.
No quê? Lilith indagou.
Um momento de paz. Shadowing riu. Nós conseguimos um momento de paz.
Não fale isso. Tristan advertiu. Algo vai vir para estragar o momento.
Verdade... Astaroth murmurou. É melhor que aproveitemos esse momento logo.
Sim. Lilith sorriu.
O que você sugere então, Astaroth? Shadowing perguntou.
Vamos beber. O Demônio psicótico propôs com um sorriso largo. Aproveitaremos a noite! Ele se voltou para Tristan e Lilith. Bem...eu creio que vocês não conseguirão acompanhar Shadowing e eu, certo? Ele piscou para os dois.
Sim...infelizmente. A caçadora respondeu.
Mas não se preocupem. Tristan pediu. Arrumaremos outra coisa para fazermos. Talvez possamos treinar um pouco juntos, não é, Lilith?
Claro. A caçadora respondeu com um sorriso.
Ah...vocês têm certeza? Shadowing indagou.
Tristan e Lilith assentiram com a cabeça.
Viu? Astaroth sorriu. Não se preocupe com os dois. Vamos beber logo! Somos, provavelmente, os Demônios mais poderosos da atualidade! Nós merecemos bebidas! E, se a nossa fama ajudar, não serão apenas bebidas que conseguiremos no bar hoje.
Bem... nesse caso...certo. Shadowing apertou o ombro direito do amigo com a mão esquerda. Vamos beber!
Esse é o espírito! Astaroth gritou alegremente. Agora, vamos! Ele se voltou para Tristan e Lilith. Até outro dia!
Até mais! Shadowing se despediu.
  Tristan e Lilith acenaram para os amigos, despedindo-se deles.
Bem... O guerreiro das Trevas envolveu seus braços ao redor da cintura da caçadora. O que faremos agora?
Tenho algumas idéias... Lilith sorriu. Mas...não aqui.
Muita gente vendo, não é?
Sim.
Entendo. Nesse caso...
Em um instante, os dois se transformaram em trevas e surgiram na sacada do quarto de Tristan. O guerreiro continuava com os braços ao redor da cintura da caçadora. A luz da lua iluminava os dois.
Melhor? O guerreiro indagou com um sorriso.
Lilith não disse nada. Ela apenas sorriu e os dois se beijaram.
  Eu já estava sentindo falta disso. Tristan sorriu.
Eu também. Lilith sorriu de volta. Então...vamos tentar não parar, certo?
Certo.
Os dois se beijaram novamente. Após o beijo, a caçadora sorriu.
Então...já está meio tarde. Disse Lilith. Eu poderia passar a noite aqui?
Eu não vejo por que não. Tristan respondeu sorrindo.
Ótimo. Lilith andou até a cama. Vai me acompanhar? Ou você prefere dormir no chão?
Você acha que tem autoridade para me tirar da minha própria cama?
Então você me acompanha?
Não é óbvio?
Os dois sorriram. Lilith se jogou para trás, puxando Tristan junto para cama.
  Espero que você não morra tão cedo. Lilith sorriu. Temos muitas coisas para fazermos juntos ainda nessa vida.
Sim... Tristan sorriu de volta. Você é a melhor coisa que me aconteceu nesses últimos anos. Não quero passar mais nenhum instante longe de você. Você...
Lilith colocou o indicador direito delicadamente na frente dos lábios de Tristan. Com o mesmo cuidado, o guerreiro entrelaçou os dedos de sua mão esquerda entre os dedos da mão da caçadora.
Certo. Tristan disse. Entendi.

A armadura do guerreiro se desfez em sombras. A luz da lua foi se tornando mais branda até que sumisse por completo. Em meio à escuridão serena da noite, o romance dos dois se sacramentou.