segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

The Godsbane, Capítulo 4

Capítulo 4


Montanha de Gellafen, sudoeste de Snowrealm, continente de Windland, Tertia de Librum de 1042.
Para muitos, era um dia feliz. A neve parecia ter sido deixada para trás no último dia do mês passado. O sol vinha finalmente, apesar de tímido, para as terras gélidas. As águas de rios e lagoas estavam agradáveis. As estradas, bem como várias cidades comerciais, percebiam nitidamente o aumento da circulação de pessoas de todos os cantos do país.
Entretanto, num canto remoto do país, a movimentação tinha outro motivo.
Na base de uma montanha, uma tropa de não mais do que vinte soldados aguardava suas ordens. Todos usavam o mesmo tipo de armadura de couro bege, resistentes ao frio, reforçada com placas de aço como brasão dos Icebrands: uma espada azul como o céu, normalmente marcada no ombro direito.
À frente de todos estava Sebastian, seu capitão. Sua armadura de couro era completamente reforçada por uma obra prima de aço, uma defesa praticamente perfeita contra qualquer arma que os Drakes pudessem manejar. Na peitoral de metal polido, o brasão dos Icebrands era ainda mais intimidador.
Com o capacete em mãos e a grande espada nas costas, Sebastian olhava para a escuridão da caverna a sua frente. Seus olhos azuis brilhavam determinados. Seu sorriso branco era confiante. Com essa expressão inspiradora, ele olhou para os homens e mulheres sob seu comando.
Tudo pronto, capitão? Perguntou uma guerreira que segurava um machado com uma mão e, com a outra, um escudo. Algum pressentimento?
Sebastian era famoso por isso. Nada como premonições, mas o capitão sentia algo no ar, como se enxergasse algo que ninguém mais pudesse. De acordo com ele, a magia podia ser sentida ao seu redor e que ela poderia ser uma guia sem igual. Não era muito diferente de saber canalizar o poder para conjurar uma bola de fogo ou soltar raios das mãos. Entretanto, tais talentos eram incomuns dentre os Snowrealmers.
Hm... Sebastian respirou fundo. Não sei exatamente o que esperar dessa vez... Talvez não haja nada, afinal...
Mas se fosse algo realmente ruim... Um guerreiro armado com uma maça e um escudo começou a dizer. Você poderia dizer, certo? Nenhum tipo de fantasma nos espera lá em baixo, não é?
Se algo do tipo fosse aparecer, eu saberia. O Capitão disse com firmeza. Talvez algumas armadilhas nos esperem, como é de se imaginar, mas duvido que qualquer coisa volte do Mundo dos Mortos para nos atacar... Ele sorriu. E se vieram... Nos atacamos antes, como Snowrealmers, não é mesmo!?
Os soldados urraram num coro, brandindo suas armas e as agitando no ar no mesmo ritmo.
É isso que eu gosto de ouvir! Sebastian bradou. Em seguida, ele sacou sua espada e a apontou para uma das guerreiras no meio da tropa. Senhorita Silverblade! Gostaria de ter honra de nos liderar nessa expedição?
Sim, senhor! Ela respondeu firmemente.
Ótimo... Ele sorriu. Silverblade era, sem dúvidas a mais experiente dentre aqueles soldados. Sebastian sabia que poderia contar com ela. Então, senhorita... Lidere-nos!
A guerreira caminhou até a entrada da caverna, alguns passos além de seu capitão. Então, ela ergueu sua mão direita, erguendo sua espada e exibindo o brasão dos Icebrands para todos verem.
Em frente! Silverblade bradou. A Demonsbane será dos Icebrands!
Com urros, os soldados correram até ela, adentrando na caverna com passos pesados e uma determinação quase inabalável.
Sebastian sorriu ao ver seus soldados marcharem em direção ao desconhecido. A coragem daqueles homens e mulheres bem treinados era digna de verdadeiros guerreiros. Um capitão não poderia pedir por subordinados melhores.
Entretanto, eles tinham que agir rápido. A tropa deveria conseguir a espada lendária, se ela realmente estava lá, símbolo de poder nas mãos do maior rei da última era em Windlands.
A Demonsbane seria não só um instrumento de destruição nas mãos de Alexander, The Icebrand, seria também uma vantagem moral sobre os Drakes. Se eles temessem o poder da lenda da arma, a guerra estaria mais próxima do seu fim.
Se não fosse pelos seus discursos motivadores, tenho certeza que eles não precisariam de você. Disse uma voz tão familiar para Sebastian.
O capitão se voltou para trás, na direção do único soldado que não correu para dentro da caverna. Nas costas do jovem estava uma espada idêntica a dele. Feita de aço brilhante como prata, com tiras de couro no cabo e uma lâmina quase tão afiada quanto a de uma navalha, a arma era uma obra de arte, principalmente em contraste com sua armadura cheia de arranhões a amassados.
Não duvido disso. Sebastian respondeu com um sorriso amigável no rosto e, então, cravou sua espada no chão e apoiou suas mãos sobre o cabo. Assim como eu também não duvido que essa velharia que você usa não serve nem pra te proteger de uma flecha.
A Claudia disse que a armadura parecia boa.
Ela te mima demais.
Ela só tenta compensar o marido militar estressado. Ou talvez ela só esteja compensando pela filha que só arruma confusão...
Sério? Ele ergueu uma sobrancelha. A Ivy anda se metendo em mais confusão do que antes?
É... O jovem riu baixo. Uns beberrões começaram a dar em cima dela lá no bar do Redale.
Ah é? Sebastian suspirou. Eram quantos ao todo?
Cinco. Três no começo, dois no final, sendo que os primeiros ela derrotou só usando as mãos... E um dos banquinhos de madeira.
E o problema foi ela ter causado um tumulto no bar? Só isso?
Bem... Todos os cinco eram Icebrands...
Impressionante...
Só que nem todos eram soldados, sabe?
Houve um momento de silêncio. Sebastian respirou fundo e exalou com calma.
Não me diga que ela bateu num nobre... Ele murmurou.
Timothy Icebrand, sobrinho do grande Alexander, The Icebrand... O jovem riu.
Pelo amor de Ghikast...
O que ela devia fazer, hein? O tal nobre apareceu no bar enquanto ela quebrava o banquinho na cabeça do último bêbado que deu em cima dela. Ai ele chamou a Ivy de selvagem e mandou o guarda costas dele, um grandão com um martelo de guerra, tirar dali. Ai ela sacou o machado e derrotou o cara em não muito tempo. Mas é claro que eles destruíram um pouco do bar no meio da confusão.
Só isso? O capitão perguntou após um momento de hesitação.
Bem... Aí ela resolveu dar um tabefe na cara no nobre e o chamou de frangote. Mas ela não matou ninguém, o que é bom, não é?
É... Sebastian bufou. Mas ela não foi parar na cadeia?
Sim, mas ela saiu rápido.
Como?
Pagaram a fiança dela.
E quem tinha dinheiro pra isso...?
Veronica Icebrand, irmã do nobre magricela, que também estava na cidade. Aparentemente, ela realmente gostou de alguém dar uma lição no irmão mimado dela e, também, de alguém bater em três soldados sem noção ao mesmo tempo.
Inacreditável...
E ela ainda pagou pelo prejuízo no bar. Só que não acho que a Ivy seja mais bem vinda no lugar... E o mesmo vale pro resto da família dela, sabe?
Sei... O Capitão respirou ainda mais fundo e, após expirar, sorriu. Você é realmente o menor dos meus problemas, não é, Damian?
O rapaz, então, levantou a viseira de seu elmo e sorriu. Sua face tinha uma expressão alegre, praticamente pueril quando comparada com a de alguns anos mais tarde. Seus olhos dourados pareciam brilhar para aquele que o considerava como um filho.
Eu já tinha te dito isso umas cem vezes... Damian deu um tapinha no ombro de Sebastian. Agora vamos... O resto da tropa está nos esperando.
***
Damian havia perdido tudo quando pequeno.
A cidade de Brassgrounds havia sido devastada em Quinta de Geminium do ano de 1001. O pai de Damian morreu defendendo sua terra natal do ataque dos Drakes e, sua mãe, morreu, assassinada brutalmente, após esconder o filho no porão da casa.
O reforço dos Icebrands veio tarde demais. Muralhas já haviam vindo abaixo. Casas já haviam sido saqueadas e queimadas. Guerreiros haviam caído em batalha. Camponeses foram mortos sem piedade. Das mulheres, haviam as que foram capturadas como animais selvagens e as que foram mortas friamente. Apenas alguns poucos moradores de Brassgrounds haviam sobrevivido.
Damian havia saído de seu esconderijo, assustado e com fome após horas protegido, longe do massacre que ocorria poucos metros acima de sua cabeça.
No meio das ruínas queimadas de sua casa, o garoto caiu de joelhos, confuso, sem entender o que havia acontecido, olhando para o céu coberto de fumaça negra, respirando o ar preenchido pelo aroma fétido das vítimas da invasão.
Porém, uma mão veio para ajudar Damian a se levantar.
Desde aquele dia, anos atrás, Sebastian estava ao lado do rapaz. Ele o criou como um filho e como um guerreiro. Para vingar seus pais e sua terra natal, Damian atingiria as expectativas de seu capitão e daria seu sangue para levar os Drakes ao seu fim.
***
O caminho era praticamente uma reta. A caverna de paredes avermelhadas não se parecia com um labirinto e, muito menos, pareciam ter armadilhas preparadas pelos cantos. O lugar, com exceção das pegadas dos soldados que haviam passado há pouco, parecia completamente intocado seres humanos desde a último era. O ar úmido cheirava a mofo. Os únicos seres vivos do lugar pareciam ser alguns musgos, cogumelos e pequenos insetos. Os únicos sons pareciam ser os de algumas goteiras vindas de pontos aleatórios pelo teto.
Você está sentindo alguma coisa? Indagou Damian, ainda avançando pela caverna.
Sim... Sebastian respondeu, andando no mesmo ritmo do jovem. Mas não sei dizer exatamente o que é... Porém...
Porém o quê?
Porém... Eu não consigo sentir a presença dos outros.
Como assim? Eles não estão mais aqui?
É como se fosse isso...
Então tem alguma coisa aqui, não é? Alguma coisa te confundindo...?
Talvez...
Continue em frente. Uma voz sussurrou. Eles estão aqui... Ache-os...
Damian parou. Sebastian também. Um olhou pro outro, inquietos.
Ouviu isso também, garoto? O capitão perguntou.
O rapaz assentiu.
Ótimo. Sebastian esboçou um sorriso. Não estou ficando louco... Ou, pelo menos, não estou ficando louco sozinho.
É. Damian riu contidamente, ficando sério rapidamente. Mas, então... O que exatamente foi isso? Essa voz...
Não pare. Outra voz sussurrou. Siga o seu destino.
Não fuja. Disse outra, no mesmo tom. Não tema.
Não há o que temer. Não há o que temer se você for forte.
Siga. Lute. Viva. Conquiste.
Todas as vozes começaram a falar, sobrepondo-se no lugar das outras. A cada segundo, uma nova parecia surgir. O caos apenas piorava.
Damian levou as mãos à cabeça que parecia que estava prestes a explodir. Sua respiração estava acelerada, pesada. Seu corpo tremia, fraco, suando frio, parecendo capaz de ceder a qualquer momento.
O rapaz trombou para o lado, apoiando-se contra uma parede enquanto usava toda a sua disposição para recuperar o ar e o equilíbrio.
Droga... Damian murmurou irritado, ainda respirando pesadamente. Sebastian que droga...
O rapaz olhou para frente. Seu capitão não estava mais lá.
Olhando a sua volta, Damian percebeu algo além da ausência de Sebastian: ele não estava mais no mesmo lugar.
As paredes de rocha vermelha foram substituídas por tijolos cinzentos. A atmosfera úmida se transformou em uma névoa dourada que brilhava com luzes vermelhas, verdes e azuis como pó de pedras preciosas.
As vozes, ao menos, haviam cessado. Por alguns instantes, o silêncio foi absoluto.
Então, do corredor a frente de Damian, vieram passos e, então, um grunhido agudo.
O rapaz sacou a espada quase instintivamente. O tempo pareceu desacelerar enquanto os passos soavam cada vez mais próximos. Com a espada apontada para frente, suas mãos tremiam um pouco. Porém, ele não ia correr o risco de ser uma presa naquele lugar bizarro.
Então, a criatura apareceu.
Seu corpo era humanoide, um pouco mais baixo que Damian. Seu corpo era coberto por chamas vermelhas. Seus chifres pontudos eram tão ameaçadores quanto suas presas afiadas. Em sua mão direita, havia uma espada, e na esquerda, um escudo. Ambos os equipamentos ardiam com as mesmas chamas demoníacas.
Com um grunhido, o monstro apontou sua espada.

Não se esqueça... Uma voz disse para Damian, clara como se ela viesse de dentro de sua própria cabeça. Não há nada a temer. A voz parecia mais alta e grave a cada palavra proferida pausadamente. Lute para viver, guerreiro. Lute e conquiste a Demonsbane.

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