Eu comecei a suar frio. Minhas mãos tremiam. Minha
respiração ficava mais rápida e pesada a cada segundo.
Por que eu ainda estava ali? Por que eu ainda estava parado
naquele corredor? Por que eu não havia acordado.
Não fazia sentido... A não ser que aquele fosse o mundo
real, a não ser que eu já estivesse acordado.
—
Não... — Murmurei. — Não, não, não...
Levei minhas mãos até o meu cabelo. Eu tentava respirar
fundo. Mas não conseguia. Eu sentia algo em minha garganta, apertando-a,
sufocando-me.
—
Isso não pode estar acontecendo... —
Falei, quase sem voz. —
Esse não pode estar certo... Isso é só um sonho ruim... Um pesadelo...
—
Um pesadelo do qual você nunca vai acordar...
A voz desconhecida era grave, gélida e parecia sussurrar
diretamente na minha orelha. Senti um calafrio percorrendo a minha espinha e,
em seguida, veio o desespero.
***
Minha visão ficou embaçada e, então, tudo ao meu redor
parecia imaterial, um caos tingido de vermelho e preto. Eu me senti preso ao
chão, acorrentado e amordaçado, incapaz de fazer qualquer coisa a não ser me
debater.
Eu ouvia ruídos a minha volta, gritos inclusive. Eu mal
podia distinguir formas, então não tinha como eu saber o que exatamente estava
acontecendo.
As correntes pareciam estar esmagando minhas costelas e
pulmões. Respirar era praticamente impossível. Porém, algo pareceu explodir
dentro de mim.
Eu nunca fui uma pessoa que falava alto, muito menos cantava
ou gritava. Mas, droga, naquele momento, eu senti o grito mais violento que eu
já tinha presenciado saindo da minha garganta, queimando minhas cordas vocais e
fazendo meu próprio corpo tremer.
***
Quando percebi, eu estava de volta ao corredor. Quadros estavam
destruídos, jogados em pedaços pelo chão.
Vasos haviam sido quebrados, sujando o piso com terra e flores
despedaçadas. O próprio papel de parede parecia ter sido rasgado por garras,
quase como se um animal selvagem tivesse passado por ali.
Algo dentro de mim tinha certeza que aquilo havia sido minha
culpa, resultado de um surto.
—
Aquilo foi uma alucinação? —
Enterrei meu rosto em minhas mãos por um segundo e, então, voltei olhar para o
corredor. — E eu
ainda fiz tudo isso num ataque de pânico...?
Eu não consegui fazer nada a não ser rir. Não foi uma risada
alegre é claro. Foi algo saído da boca de um maníaco ou de alguém simplesmente
desesperado. Eu não sabia dizer em qual dos dois casos eu me enquadrava.
—
Matt? — Uma nova voz
me chamou.
Um homem que eu nunca tinha visto olhava para mim,
preocupado. Ele parecia arrumado demais para estar no meio daquela zona, mas,
fora isso, nada de anormal com o sujeito.
—
O que aconteceu aqui? —
Ele perguntou.
—
Difícil dizer... —
Respondi. Minha própria voz soava estranha aos meus ouvidos, arrastada e grave
demais. — Mas,
diga-me, você... Quem seria?
—
Rick... Não se lembra de nada ontem à noite?
—
Não muito bem... — Eu
sentia minha sanidade se esvaindo do meu corpo. Não havia nada para ser feito. — Muita coisa parece... Só
um sonho, sabe?
—
Sei... — Ele
suspirou. — Bem...
Não sei exatamente o que você bebeu ontem à noite... Se é que você só bebeu...
Mas não se preocupe... Quando você acordar, você estará melhor.
Eu fiquei ali parado, sem saber o que dizer.
Rick sorriu ao ver a minha expressão, provavelmente a de um
idiota espantado e boquiaberto, e seguiu o seu caminho, sumindo de minha vista.
—
Espere! — Eu gritei
enquanto corria na direção dele.
Eu segui o corredor até Rick, mas ele não mais estava lá.
Eu queria muito saber mais sobre o sujeito. Como ele poderia
dizer algo como aquilo? Certamente não era uma brincadeira, não é? E então ele
simplesmente sumiu, sem deixar um rastro.
No final, não importava. As palavras dele me acalmaram. Rick
foi quase como um anjo, tranquilizando-me e, principalmente, devolvendo-me
minha sanidade.
O resto do sonho foi como deveria ter sido. Agora são apenas
memórias fragmentadas, embaçadas na minha mente.
***
Eu tive que dormir pouco depois que acordei. Afinal, eram cinco
da manhã e, depois daquele inferno, eu estava exausto mentalmente.
Dormi pesadamente em seguida, acordando somente quando o
meio dia estava se aproximando. Não houveram pesadelos dessa vez.
Descansado, eu pensei naquela experiência surreal,
ponderando se eu teria mais um sonho como aquele, se eu sofreria enquanto
vulnerável mais uma vez. Por sorte, aquilo nunca mais aconteceu.
Entretanto, nunca se sabe. Pouco menos de uma semana se
passou desde o ocorrido. Poderia acontecer de novo.
Eu não poderia ficar vivendo com medo. Eu não poderia
simplesmente não mais dormir. Eu não poderia simplesmente ficar questionando a
realidade. Eu não poderia ficar questionando a minha sanidade.
Porém... Ainda não sei se estou na realidade correta, sabe? Eu
estava simplesmente confiando na palavra do tal de Rick... E quem era ele...?
***
Sinceramente, vou parar com essa paranoia, ou tentar pelo
menos. É mais fácil continuar vivendo, ou sonhando...
Se eu continuasse vivendo como estou, sinto que estaria
jogando minha vida fora, não? Se essa for a verdadeira, não quero
desperdiçá-la. Se não for, ainda é melhor do que viver com medo.
Enfim, espero nunca mais ter que falar sobre isso.
Adeus.
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