Epilogo
Um mês havia se passado no mundo dos humanos. Nos outros
mundos, porém, era difícil de se dizer.
Em Gehenna, o labirinto de ruas sombrias e sem fim
continuava. Mais pessoas imersas na tristeza se deparavam com a sua morte lá.
Monstros sedentos de sangue espreitavam a cada esquina.
—
Corra, moleque! — O
riso maníaco veio. —
Corra por sua vida!
Um rapaz que não devia ter mais de vinte anos corria
desesperadamente, tentando não tropeçar a cada passo dado. Poucos metros atrás
dele estava a montanha de músculos cinzentos que era Behemoth.
—
Vamos! — O assassino
continuou. — Vamos!
Continue correndo! Só mais um pouco! Não me decepcione!
O suor escorria pelo rosto moreno do jovem. Sua
respiração estava ofegante. Seus pés doíam. Porém, ele se recusava a parar. Ele
ainda havia esperança de que conseguiria fugir de seu perseguidor e escapar
daquele pesadelo.
Entretanto, toda a esperança se foi em um instante.
Ao virar em uma esquina, o rapaz estava crente que
conseguiria abrir distância do maníaco que o perseguia. Porém, ele não esperava
ser alvo de outro monstro. Mais especificamente, de um monstro ainda pior.
O garoto olhou impotente para a criatura a sua frente.
Paralisado de medo, ele nem conseguia respirar.
A criatura era um pouco mais baixa que ele. Entretanto,
sua aparência era intimidadora o suficiente. Todo seu aspecto era como uma ilusão,
flutuando centímetros acima do chão, parecendo que poderia desaparecer a
qualquer instante ou, então, tornar-se mais forte. O corpo humanóide e pálido
era envolto por uma túnica feita de sombras. As longas e frouxas mangas se
estendiam quase até o chão, quase como asas presas aos braços dele. Seus longos
cabelos bruxuleantes pareciam se misturar às trevas de sua roupa. O rosto
cadavérico não tinha olhos: apenas duas cavidades ocas e negras.
O rapaz tentou gritar, porém, nenhum som saiu. A criatura
apontou com um dedo ossudo em sua direção. O rosto do jovem se contorceu de
pavor enquanto as trevas saiam do monstro e o agarravam, como tentáculos que
pareciam esmagar os seus ossos, arrastando-o para o seu fim.
Nos seus últimos instantes de vida, o rapaz conseguiu
enfim gritar. Sua agonia era palpável. Enquanto seus membros eram destroçados,
seu sangue jorrava, salpicando o ar, o chão e as paredes. Seus pedaços, então,
eram devorados, absorvidos pelas trevas que compunham o corpo de seu assassino.
—
Parece que você foi o mais rápido dessa vez, Belial. — Bufou Behemoth enquanto observava o massacre
a sua frente. —
Mas... Sem ressentimentos! Foi até divertido de assistir! — Ele riu. — É ainda mais divertido
quando estamos do mesmo lado, não acha?
—
Sim... — Belial
murmurou. Sua voz era distorcida e grave. —
Parece que foi ontem, não?
—
O dia que você se tornou um monstro?
Belial assentiu
—
Ora, o tempo passa rápido quando você se diverte! — Behemoth gargalhou. — Bem... Continue assim. Talvez, um dia, você
me supere.
—
São anos que você tem de vantagem... —
Ele abriu um largo sorriso, exibindo seus dentes pontiagudos. — Em um mês eu já devo ter
te passado.
—
É assim que se fala! —
Ele gargalhou. —
Mesmo você nunca sendo capaz de tal proeza... É bom ver que você tem o espírito
da coisa.
—
Veremos...
—
Ai, ai... — Behemoth
aproximou de Belial e apoiou sua mão no ombro do amigo. — Você realmente deixa esse lugar muito mais
divertido, sabia, Coelhinho?
—
Quantas memórias esse apelido me traz... —
Belial, o outrora Joshua, sorriu.
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