Capítulo 6
—
O quê...? — Damian estava
completamente confuso. O guerreiro nem sabia para onde voltar o seu olhar: para
o corpo sem vida de Sebastian ou para o Demônio que sorria para ele.
—
Era um teste. — A
criatura vil começou a explicar. —
E você passou.
Damian não disse mais nada. Ele retirou o próprio elmo e, então,
olhou para o homem que ele considerava um pai, não podendo acreditar que sua
espada estava cravada no peito de Sebastian.
—
Eu fiz isso...? — O
jovem indagou. Lágrimas começavam a brotar dos cantos dos olhos. — Foi minha culpa...?
—
Bem, é a sua espada no peito dele, não é...? —
O Demônio se aproximava com passos lentos do rapaz. — Interessante... Eu não tinha previsto
isso...
Damian
dirigiu o olhar para seu interlocutor. Com lágrimas escorrendo por sua face,
ele não disse nada.
— A morte dele
te deixou mais abalado que a minha presença... — O Demônio continuou. — Mais abalado
do que qualquer outra coisa que você já presenciou... Mesmo os horrores que
você enfrentou sob meu feitiço não puderam quebrar o seu espírito... Mas isso...
— Espere... — Damian o interrompeu. — Feitiço?
Você quer dizer que tudo o que aconteceu aqui... Foi culpa sua?
— Achei que era
óbvio... — Ele sorriu.
— Você me fez
matar Sebastian!?
— E o resto dos
seus amigos também.
— Ah... Como
assim...!?
— Os monstros
que você matou antes... Eram só ilusões sobre os outros guerreiros. A mesma
coisa aconteceu com Sebastian. — O Demônio riu.
— Mas não se
sinta mal. Na visão deles, você era o monstro que eles tinham que matar. Mas...
Depois de ver como você lutou... Até eu mesmo diria que você é um monstro...
— Desgraçado! — O rapaz esbravejou.
Damian
olhou para Sebastian. Ele não arrancaria a espada de seu peito, simplesmente
não parecia certo. Porém, a espada de seu mestre não estava muito longe dali.
Bastava correr um pouco. E assim foi feito.
O
jovem deu as costas para o Demônio. Com um sorriso no rosto, a vil criatura
olhou Damian correndo para a espada de Sebastian.
— Tolo... — O Demônio murmurou.
Damian
saltou, aterrissando com uma cambalhota ao lado da espada, pegando-a e
levantando rapidamente, apontando a arma na direção de seu inimigo.
Porém,
como a expressão de surpresa no rosto do guerreiro dizia, o Demônio não estava
mais lá.
— Você gostou de
matar eles, não é? — A voz maligna
soou na cabeça do jovem.
— Apareça! — Damian bradou. Suas mãos estavam firmas no
cabo da arma. Inquieto, ele se voltava a cada segundo para uma direção
diferente, brandindo sua espada, esperando seu oponente ressurgir. — Lute!
— Não adianta
negar... — Ele riu. — Sei que você gostou. E não venha me dizer
que você só fez aquilo porque estava matando monstros... Eu senti sua intenção
assassina, humano... Chegou até a me surpreender, admito...
— Pare de falar...
Pare de fugir... Venha! Venha me enfrentar!
— Com um brilho
nos olhos... Com um sorriso no rosto... Você matou cada um deles... Imagina o
que passou pela cabeça deles? Sendo mortos brutalmente por um monstro...
— Cale a boca...
— No último
instante de vida, eles viram a ilusão se desfazer, sabia? Todos eles viram o
seu rosto, sorrindo enquanto eles morriam... E Sebastian não foi uma exceção...
As
últimas palavras não vieram da mente de Damian, mas sim de trás dele.
O
rapaz trincou os dentes e, rapidamente, voltou-se para trás. Com um golpe
horizontal, Damian deferiria um golpe que deveria abrir uma fenda no abdômen da
gigantesca criatura.
Porém,
não foi o que ocorreu.
Sem
dificuldade, o Demônio antecipou o ataque e segurou a espada pela lâmina.
— Essa sua raiva
é linda, você sabia? — Ele sorriu
para Damian.
Com
um movimento brusco de suas garras, o Demônio apertou a lâmina da espada,
quebrando-a sem dificuldade e a reduzindo em centenas de cacos de aço.
Damian
nada pôde fazer. Ele apenas observava boquiaberto os resquícios da espada
caindo lentamente no chão. O som de cada fragmento se chocando contra o solo
parecia ecoar dentro de sua cabeça. Por fim, o cabo da arma caiu de suas mãos, emitindo
um baque surdo que ecoou pelo local.
— Ela mostra o
seu lado verdadeiro... — O Demônio continuou.
— Ela mostra a
sua verdadeira força... Ela te permitiu sobreviver... E ela só surgiu graças a sua
vontade de viver... — De repente,
sua garra foi de encontro ao pescoço de Damian. No instante seguinte, o
guerreiro sendo erguido no ar, sendo estrangulado, debatendo-se inutilmente. — Vontade de viver... Ou medo de morrer? Eis a
pergunta...
Arfando,
Damian tentava inutilmente se soltar das garras do Demônio com suas mãos. Ele
esperneava enquanto sua visão se tornava mais e mais embaçada. Após alguns
instantes, o guerreiro parecia nem mais haver forças para tentar respirar. Era
como ver um peixe se debater em terra, tentando voltar para a água, sem saber
por qual caminho seguir.
Então,
o sofrimento de Damian chegou ao fim. Pelo menos, era o que ele achava.
O
Demônio arremessou o guerreiro para trás. A armadura pareceu inútil naquele
instante, pois o rosto de Damian se contorceu de dor antes de voltar a arfar,
tentando recuperar o ar perdido.
— Trate de ficar
mais forte. — O Demônio
advertiu. — Tenho planos
para você. Você vai fazer parte de algo grande, humano... Se não morrer no
caminho, é claro...
— Miserável... — O rapaz disse com esforço tremendo. — Eu vou... Vou te matar...
— Talvez. Você
irá me encontrar novamente, tenho certeza disso.
— Você vai...
Fugir...?
— Não é o
momento da nossa luta, humano. Além disso, é como eu já falei... Você tem que ficar
mais forte. — Ele disse as
últimas palavras pausadamente, fazendo com que cada uma ecoasse pelo
salão. — Entendeu?
O
Demônio, então, voltou-se na direção de Sebastian.
— Deixe-me
ajudá-lo... — Murmurou a
criatura vil.
Com
um movimento de sua garra, o Demônio escreveu no ar um símbolo que Damian nunca
havia visto. Então, o corpo de Sebastian brilhou com uma cor vermelha
escarlate.
— O que você...?
— O guerreiro
grunhiu de dor enquanto se levantava. — O que você
está fazendo...?
No
instante seguinte, Sebastian queimou, transformando-se em chamas.
— Não! — Damian gritou com todas as forças. — Não!
Rapidamente,
o jovem correu até o corpo de seu mestre. Impotente, nada pôde ele fazer além
de cair de joelhos e observar as chamas.
— Sebastian... — Damian murmurou, quase sem voz.
O rapaz
demorou a perceber o vulto entre as chamas.
Sua
própria espada flutuava envolta por um círculo de chamas intensas. A cada
instante que se passava, a arma era erguida, afastando-se mais e mais do chão, alongando-se,
alargando-se e mudando lentamente de cor, tornando-se negra como o céu da
noite.
— O que é
isso...? — Foi tudo o que
Damian conseguiu dizer, com um misto de pavor e curiosidade em sua voz.
— Isso é o que vocês vieram buscar... — Respondeu o Demônio.
As
chamas, então, foram em direção à espada, moldando a forma final da arma e se
fundindo com ela.
Com
um brilho escarlate, ela surgiu.
A
espada era negra como ébano. Suas marcas escarlates pulsavam como as batidas de
um coração. Sua lâmina afiada brilhava como diamantes.
— Essa é a
Demonsbane. — Anunciou a criatura
vil.
Lentamente,
Damian se levantou, observando a lendária espada flutuando, etérea, bem em
frente aos seus olhos.
— Ela precisava de
um sacrifício digno para vir à vida... — O Demônio
explicou. — Ela sempre
precisou...
— O que você quer
dizer? — Indagou
Damian.
— Todos os que
já usaram essa espada passaram por uma situação semelhante à sua nesse momento.
Afinal, tal poder tem que ter um preço.
— Poder... — O guerreiro murmurou.
Lentamente,
Damian levou sua mão até a Demonsbane. Nervoso, ele viu o cabo da espada se
curvar até o alcance de seus dedos trêmulos. De repente, uma onda de coragem
atingiu o rapaz que, então, agarrou a arma.
Com
uma mão, Damian brandiu a Demonsbane, surpreso pela leveza da espada.
— Poder... — Ele repetiu. — Poder o suficiente para te matar?
— Talvez. — O Demônio respondeu, andando entorno do
rapaz. — Porém, para
isso, você deve alimentá-la bem.
— Alimentá-la?
— Sim. Caso
contrário, ela morrerá, tornando-se um pedaço inútil e pesado de metal.
Então... — A criatura
sorriu, centímetros atrás de Damian. — Alimente-a
bem. Banhe-a em sangue, não importa de quem, não importa do que... Apenas a
alimente. Fortaleça-a. Torne-a sua. Transforme-a no instrumento de destruição
perfeito... Honre a memória de seu sacrifício... E venha me enfrentar quando
estiver pronto, humano...
As
últimas palavras do Demônio soaram distantes, como se sumissem com o vento.
Quando
Damian se voltou para trás, a criatura havia sumido. Uma porta estava aberta. A
saída do guerreiro estava o esperando.
Com
a Demonsbane em mãos, Damian lamentou em silêncio a morte de Sebastian mais uma
vez. Com as lágrimas secas, ele deixou o templo, jurando vingança contra o
Demônio.
***
Damian
abandonou o lugar, deixando o corpo de seus companheiros caídos para trás. Ele,
juntamente como Sebastian Eisenfaust, foram considerados desertores, uma vez
que o corpo de nenhum dos dois foi encontrado no local e seus superiores de
nada foram informados. Assim, a culpa das mortes dos guerreiros das tropas
recaiu sobre a dupla.
Damian
foi encontrado e confrontado várias vezes, porém, nunca puderam o capturar. Uma
recompensa foi prometida pela sua cabeça, fazendo com que o jovem guerreiro se
tornasse um dos criminosos mais procurados de Snowrealm em pouco tempo.
Sebastian,
pelo desaparecimento de anos, foi considerado morto por muitos, pelas mãos do
próprio aliado, muitos palpitavam.
Damian
nunca mais viu o Demônio desde aquele dia. Sua caçada continua enquanto ele
mesmo é caçado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário