sábado, 20 de fevereiro de 2016

The Godsbane, Capítulo 8

Capítulo 8


O vento soprava mais forte do que antes. O sol, entretanto, parecia um pouco menos intenso. O cheiro da floresta e o canto dos pássaros mantinham o ambiente agradável de antes. Nem parecia que o trio estava em uma batalha alguns instantes atrás.
Vocês poderiam começar a falar um pouco de vocês... Sugeriu o mago enquanto andava acompanhado pelo trio. Nomes seriam bons... O que fazem... Principalmente o que fazem por essas bandas...
O trio de companheiros se entreolhou. Algo na fala do mago não parecia normal. Era quase como se as palavras proferidas por aquele homem fossem mágicas de alguma maneira.  Reconfortante e de certo modo sedutora, a voz daquele homem parecia tentar enfeitiçá-los, puxando-os para algum tipo de armadilha.
Chamo-me Elise. Disse a sacerdotisa após muito hesitar. Elise Seraph. Sou uma Arcana... Ou melhor, costumava ser...
Foi expulsa da Igreja? Perguntou interessado.
Ela assentiu.
E vocês estão indo até o templo arcano agora ou...? O mago perguntou, ainda mais interessado do que antes.
Sim. Elise bufou. Tenho que resgatar alguém importante para mim...
Algum amigo...? Não, não... O homem balançou a cabeça para os lados. Mais importante. Não chega a ser família. Não tem laços de sangue... Então... Um amante? Ou melhor... Uma amante, certo?
Elise se sentiu um pouco constrangida, desviando seu olhar do mago. Seus passos se tornaram momentaneamente lentos enquanto o homem parecia a ler como um livro aberto.
Desculpe-me deixá-la desconfortável, minha cara. Ele disse num tom amigável. Tudo o que eu disse foi baseado em minha intuição. Não posso ler seus pensamentos nem nada do gênero.
Claro... Elise sorriu sem saber o porquê. Sem problemas.
Ótimo... Agora, de volta à estrada de terra, ele lançou um olhar inquisidor para os outros dois do grupo. E vocês? Qual a história de vocês, cavalheiros?
Viktor Carmesi é o meu nome. Disse o Sandrealmer um pouco ríspido. E estou ajudando Elise. Tenho os meus motivos.
E algo me diz que são a mesma pessoa... Seu olhar foi de Viktor para Elise. Não é?
É... Ela suspirou após concordar.
Sua irmã é a amada dela? O mago perguntou, erguendo uma sobrancelha para Viktor. Estou certo?
Está... O Sandrealmer cerrou os punhos. Mas... Eu não posso realmente culpar Elise.
Não pode? A sacerdotisa perguntou surpresa.
  Não... Ele bufou. Lily fugiu de casa... Fugiu dos nossos pais.
Elise parou de andar e olhou para o Sandrealmer. Ele parou também, e o mago e Dreadraven os acompanharam.
Ela não era muito feliz, sabe? Viktor admitiu. Nossos pais queriam que ela fosse apenas um instrumento, uma esposa para algum homem de outro clã, uma maneira de se formar uma aliança. Nada mais que isso. Ele cruzou os braços. Enquanto isso, eu aprendia a liderar o clã, aprendia a lutar, a barganhar, a correr pelas ruas da cidade sem ser pego pelas tropas de Nazir, o Justo... Eu vivia uma aventura. E ela só queria estar ao meu lado, fazendo o que eu fazia... Mas nunca teve a chance.
Eu... A sacerdotisa suspirou. Eu não sabia dessa história. Não completamente, pelo menos. Lily evitava falar da família enquanto estávamos juntas. Ela falava que o país dela era maravilhoso... Mas também falou que não conseguia aproveitar muito bem essas maravilhas... Eu só não havia me tocado sobre o motivo...
É... O mago coçou a barba. Famílias podem ser problemáticas. Tenho uma relação boa com meu irmão, mas, pra ser sincero, é só isso mesmo... Ele olhou para Dreadraven. E você? Fale-me sobre você.
Hm... Dreadraven parecia resistir ao encantamento do mago. Por que você não fala o seu primeiro? Tenho certeza que meus amigos estão curiosos para saber também.
Ah... Ele olhou para Elise e Viktor e, então, voltou a olhar para o doutor. Claro... O homem fez uma reverência, curvando-se diante de Dreadraven. Gustav Cross é como me chamo.
Cross... Ele repetiu, inclinando a cabeça para a esquerda, fazendo com que sua máscara se tornasse ainda mais inquietante. Nome bastante comum na Capital, não?
Sim, minha família mora em Arc Lazarus há algumas gerações. É um bom mercado lá, sabe? Muitas pessoas com muito dinheiro para gastar. É só aparecer com algo diferente, ou exótico como eles gostam de chamar, e pronto. Dinheiro fácil. Ele sorriu. Vamos voltar a andar, ok? Vocês têm um resgate para fazer afinal...
Claro...
O mago, na frente, parecia guiar o trio que o vinha atrás dele. Dreadraven parecia impaciente. O jeito quase sem vida de Elise e Viktor estava o deixando irritado. Até onde a influência daquele homem estranho afetaria o comportamento deles?
Então... O mago retomou a falar. Pretende me falar o seu nome?
Dreadraven. Ele respondeu simplesmente.
Nome... Curioso. Não acho que eu já tenha ouvido esse nome antes. Ah! Exclamou e, então, sorriu para seu interlocutor. Talvez por que esse não seja o seu nome verdadeiro?
Nesse momento, Elise e Viktor olharam diretamente para Dreadraven. Entretanto, como antes, nada falaram.
É só um apelido antigo. O doutor respondeu um pouco irritado. Um apelido que eu me acostumei.
Hm... Gustav parecia pensativo. Mas, mesmo sendo um apelido, não parecia sombrio demais para você? Digo, combina com sua aparência, mas não com sua personalidade. Será que esse apelido reflete sua antiga personalidade, seu passado sombrio... Seus arrependimentos?
Gustav, mais uma vez certo, sorria para a pessoa com quem conversava. Porém, Dreadraven não estava sob o encantamento do mago. Sua paciência havia se esgotado.
Já chega. O doutor disse firmemente.
Caso contrário...? Gustav riu baixo. Vai me atacar...?
Com essas últimas palavras, Viktor e Elise pareceram entrar em um estado de alerta. Era como se, a qualquer instante, os dois fossem atacar Dreadraven. Com uma simples palavra vinda da boca do mago, aquilo poderia se tornar realidade.
Entretanto, a palavra que comandou a dupla não veio de Gustav.
Basta! Dreadraven disse firmemente como se sua voz tivesse que ser ouvida por todo um vilarejo. Alguns pássaros pareciam ter se assustado e voado para longe. Os olhos de sua máscara brilhavam intensamente.
Gustav e Dreadraven trocaram olhares. O mago, agora, tinha certeza de que não poderia manipular aquele ser diante dele. Diante de um oponente digno, ele apenas sorriu para o mascarado.
Saídos de um transe, Elise e Viktor tinham expressões em seus rostos que somavam confusão e um pouco de dor. O encantamento de Gustav havia afetado suas mentes de um jeito extremamente intrusivo. Algum tipo de sequela eles acabariam tendo, com certeza.
O que aconteceu...? Resmungou o Sandrealmer.
Foi algo no ar... Afirmou Elise. Eu... Eu acho, pelo menos...
Definitivamente. Gustav sorriu.
Em seguida, o mago levou uma das mãos até a mala em suas costas. Após um instante remexendo sua mão em seu interior, ele retirou uma bolsa de couro.
O que é isso? Indagou Dreadraven.
Descubram! Gustav arremessou a bolsa.
O Sandrealmer a pegou. Rapidamente, abriu a bolsa e pareceu surpreso.
Comida... Ele murmurou. Seu estômago roncou em seguida. E parece boa.
De dentro da bolsa de couro, ele começou a retirar pedaços de carne de boi, coxas de frango, pedaços de torta de maçã, uvas, morangos e cerejas. Um atrás do outro, eles puxava as comidas e as apoiava no chão, parecendo não haver fim. O Sandrealmer salivava.
Era como se sua fome houvesse passado sem motivo e, agora, retornado ainda mais intensa.
Isso faz parte da sua magia também? Perguntou Viktor animado.
Sim. Sorriu Gustav. Posso guardar praticamente qualquer objeto dentro de um recipiente pequeno, não importando o tamanho ou a quantidade. É bem útil e se aplica a várias situações, não acham?
E está simplesmente dando isso para nós? Perguntou Dreadraven claramente desconfiado.
Sim. O mago respondeu. Infelizmente, o feitiço não vai durar por muito tempo, então, vocês não vão poder reutilizar essa bolsa. A comida também acabará eventualmente. Por ora, aproveitem esse modesto presente.
Parece um pouco bom demais para ser verdade... Disse Elise um pouco cética.
E se eu disser que tem mais? Gustav ergueu uma sobrancelha e, então, olhou para Viktor. Essa é em especial para você, forasteiro.
Mais uma vez, o mago levou sua mão à mala em suas costas. Após vasculhar um pouco, apanhou uma outra bolsa de couro, um pouco menor que a ultima, e a arremessou para o Sandrealmer que, prontamente, pegou-a.
Algo me diz que não é mais comida. Disse Viktor.
E não é. Gustav concordou. Veja.
O Sandrealmer, então, abriu a bolsa e ficou boquiaberto. Ele parecia ainda mais surpreso do que da primeira vez.
O que tem aí dentro, Viktor? Elise perguntou curiosa.
Sem dizer uma palavra, o Sandrealmer levou uma mão para dentro da bolsa e, de lá, retirou um punhado de cristais. Vermelhos, azuis, verdes. Tinham pedras de todas as cores ali dentro. Porém, diferentemente da última bolsa, aquela parecia ter um fundo.
Cristais do Poder... Murmurou Viktor. Mais do que eu já vi a minha vida inteira...
Aqueles cristais eram o tesouro de Woodrealm, afinal, era o país era o único de Windland que continha as pedras em seu subsolo. Sua origem era, porém, um mistério. Descobertas eras atrás, aquelas joias armazenavam um poder mágico gigantesco, contendo o poder de diversos elementos. Fogo, água, gelo, eletricidade eram alguns dos mais famosos. Entretanto, não era só pelos seus poderes que eram comercializadas. Sua beleza também era estonteante, tornando-se itens essenciais para nobres Snowrealmers e, principalmente, Sandrealmers.
O presente é por vocês terem me salvo antes, é claro.  Gustav sorriu. E é um presente para todos vocês, obviamente. Porém, sei que Viktor tirará o maior proveito delas, não é mesmo?
Viktor olhava embasbacado para as joias. Ele parecia tentar calcular quanto dinheiro poderia ganhar vendendo-as.
Vamos. Disse o doutor. Já perdemos tempo demais parados aqui.
Hm... Viktor parecia sair lentamente do novo transe. Claro... Vamos nos despedir de Gustav, não é...?
Ele já se foi. Elise disse secamente.
O Sandrealmer se levantou do chão rapidamente, olhando confuso para os lados, com uma bolsa de couro em cada mão.
Para onde ele foi...? Murmurou.
Não sei. A sacerdotisa bufou. Só sei que sumiu... Depois de fazer alguma coisa com a gente, isso é.
Por que você diz isso?
Ele não me parecia confiável. Ainda mais com esses presentes... Parecia falso demais... Escondendo alguma coisa...
Você precisa confiar mais nas pessoas, Elise... Aceitá-las de braços abertos...
Olhe seus bolsos. Aconselhou Dreadraven.
Sério...? Viktor parecia querer rir. A expressão séria nos rostos do doutor e da sacerdotisa o fez seguir o conselho dado. Ok...
Então, em um instante, o rosto de Viktor se transformou, indo da calma para a fúria ao perceber que não havia nem uma moeda consigo.
Desgraçado... O Sandrealmer trincou os dentes. Ladrão filho da...
Talvez você precise aprender a não ser tão ingênuo. O doutor disse calmamente. Agora... Vamos. Vou contar o que aconteceu exatamente.
***
Já era quase meio dia. O sol parecia ainda mais forte do que antes. As sombras das árvores não eram mais o suficiente para refrescar o trio que suava agora, transpirando a cada passo, a cada inspiração. Até mesmo os animais da região pareciam mais calmos, ou cansados, com aquele tempo. A única exceção era, obviamente, os insetos, mais inquietos do nunca, voando, zumbindo e circulando todos os outros seres vivos.
Se não fosse pela pausa de horas atrás com seus cantis da água e a comida dada por Gustav, todos estariam com um humor ainda pior.
Se eu não gastar muitos cristais, talvez eu consiga vendê-los em Sandrealm e, quem sabe, recuperar o meu dinheiro. Disse Viktor, falando sozinho em voz alta para os outros ouvirem.
Só agradeça por estar vivo... E de barriga cheia... Advertiu Elise. Podíamos ter morrido... Ou podíamos ter virado marionetes daquele mago... Se não estivéssemos com Dreadraven, não poderíamos estar indo resgatar Lily agora...
Verdade... O Sandrealmer bufou. Então, ele olhou para Dreadraven. Doutor... Você não ouviu nada estranho, não é? Nem de mim, nem de Elise...?
Nada vergonhoso. Ele respondeu solenemente.
Ótimo... Viktor esboçou um sorriso. Aquele rato não deve ter entrado tão fundo assim nas nossas mentes... Ou você não os deixou. De qualquer maneira...
Então, ele parou de falar.
O trio voltou sua atenção para os passos. Eles pareciam cada vez mais perto, vindos por entre os arbustos à esquerda de onde os companheiros estavam.
Quatro... Viktor balançou a cabeça para os lados. Não... Cinco pessoas. Andando com calma. Passos leves... Ninguém deve estar usando armadura.
Vão ser um problema mesmo assim... Murmurou Dreadraven.
Pressentimento?
Consigo sentir o poder mágico deles... O doutor se voltou para Elise. Quais as chances de você ter algum aliado entre eles...?
Pequenas... Ela respondeu desanimada.
Então, eles apareceram.
Suas roupas eram túnicas brancas. Os bordados dourados eram os mesmos da de Elise. Todos os seus acessórios, como braceletes e brincos, eram da cor do ouro.
De mãos vazias, os sacerdotes e sacerdotisas pareciam cumprimentar os desconhecidos, isso é, até perceberam a presença da mulher no grupo.
Elise... Um homem com uma longa loira murmurou surpreso e, então, sorriu. Que surpresa vê-la aqui
Eu disse que voltaria. Ela retrucou.
É verdade... Ele alisou a barba. E o Ancião disse que você morreria se fizesse isso...

Ah... A sacerdotisa sorriu. E você acha que eu vou ficar parada, esperando ser executada? Das suas mãos, correntes elétricas de luz branca começaram a surgir, causando estalos pelo ar. Pense de novo. 

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