quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

The Godsbane, Capítulo 7


Capítulo 7


Estrada ao norte da Capital, Arc Lazarus, continente de Windland, Septima de Arium de 1058.
O sol brilhava forte. Não havia uma nuvem no céu. As sombras das grandiosas árvores protegiam os viajantes do calor. Uma brisa fresca trazia consigo aromas de frutas silvestres e diversas flores. Pássaros cantavam de diversos cantos, permanecendo a uma distância segura dos humanos que ali rondavam. O mesmo podia ser ditos das lebres e raposas que por ali cruzavam.
Elise, Viktor e Dreadraven caminhavam com calma agora. A chuva havia sido deixada para trás, junto o céu cinzento e um mau pressentimento que parecia os assolar desde a partida de Damian. Claro que, pelas vilas que eles passaram, houveram pessoas sofrendo com a praga. A estrada também contava com bandidos em vários cantos, o que não era necessariamente ruim, já que o trio havia conseguido comida e dinheiro de seus oponentes derrotados.
Entretanto, com a silhueta dos grandes prédios de Arc Lazarus desaparecendo no horizonte, o grupo parecia bem e mais disposto. Naquele ritmo, não demorariam muito para chegar até o antigo templo Arcano que Elise fazia parte.
Pouco mais de uma hora, não? Perguntou Dreadraven, enquanto caminhava, para confirmar a distância.
Sim. Elise respondeu. Só temos que manter esse ritmo. Ela olhou para o doutor com um ar melancólico. Você sabe que não precisa ajudar, não é?
Eu sei. Ele respondeu.
E, mesmo assim, você insiste em ajudar... Por quê?
Você não podia ajudar contra a praga... Dreadraven disse num tom calmo. Estava além de qualquer coisa que você pudesse fazer. Não era a sua obrigação. Porém... Lá estava você em Silverhill. E em Honeyfield. E em Alespring. Você estava se arriscando... Você estava pedindo para as pessoas que confiassem em mim. Você realmente achou que eu não retribuiria o favor?
Obrigada. A sacerdotisa sorriu, sem jeito. Elise, então, levou uma mão em direção ao coração e olhou para baixo. Seu sorriso parecia ter se apagado de repente. Espero que Lily esteja bem...
Eu também... Disse Viktor com uma voz arrastada.
Então, houve silêncio por um instante. Fora os passos sobre as folhas caídas na estrada e o canto de alguns pássaros, o lugar parecia de repente congelado.
Era nítido que o Sandrealmer não estava como o de costume. Nos últimos dias, ele estava quieto, lacônico, irritando-se facilmente por pouco. Elise podia ver isso claramente, afinal, sabia o motivo do comportamento do companheiro.
Viktor simplesmente não queria criar expectativas sobre sua irmã. Lily podia não estar nada bem, poderia não estar viva. Os três, unidos, poderiam chegar lá e ser mortos. O Sandrealmer sabia que não poderia esperar que tudo fosse dar certo só por que essa era a sua vontade.
Porém, Viktor sabia que, se não resgatasse Lily, ele não seria mais bem vindo em casa.
Viktor... Elise o chamou docemente. Você...?
Eu estou bem. Ele disse rispidamente.
Elise parou de andar. O Sandrealmer, então, olhou na direção dela. A sacerdotisa olhava para o chão, triste, à beira das lágrimas.
Desculpa... Viktor suspirou. Não foi a minha intenção... Mas, sério... Eu estou bem... Mentiu. Vamos achar logo minha irmã, ok...? Vamos continuar andando e...
Ladrão! Alguém gritou por entre as árvores. Isso é o que você é, maldito!
Desgraçado! Disse outro. Pare com essas desculpinhas e devolva o que roubou!
O trio olhava por entre as árvores. Eles conseguiam ouvir mais gritos e murmúrios, porém, não conseguiam ver nenhum dos envolvidos na discussão.
Devemos olhar...? Elise perguntou hesitante.
Por que não? Viktor não soava alegre. Vamos bater em um ladrão e ver se conseguimos algo bom pra comer. Ele deve ter algo melhor do que aqueles pães com geleia que nos serviram no último vilarejo... Sem contar que estou ficando com fome...
Elise levou uma mão à barriga. A última refeição do trio havia sido horas atrás e, como o Sandrealmer havia dito, não havia sido um banquete. Conseguir algo para comer agora, no meio da estrada, não seria algo para se deixar passar. Enfrentar alguns bandidos valeria a pena.
Com passos rápidos, Viktor, Dreadraven e Elise saíram da estrada de terra e foram em direção ao centro da floresta, caminhando por entre as árvores, ouvindo as vozes cada vez com mais clareza.
Onde você escondeu tudo aquilo!? Uma das vozes perguntou. Não tem como você estar carregando todas aquelas coisas!
E eu teria tempo de esconder tudo aquilo? Uma nova voz apareceu, defendendo-se embora num tom amigável. Era o provável ladrão. Se não está comigo, então eu não roubei nada.
Mentira! Esbravejou uma outra voz. Foi algum tipo de truque!
É! Outro concordou. Você deve ser um tipo de bruxo, seu miserável!
Absurdo... O possível ladrão parecia ultrajado. É assim que funciona com vocês? Vocês inventam que uma pessoa usa magia pra poder botar a culpa nela? Um pouco infantil, não acham?
Desgraçado! Um dos homens grunhiu. Age como se você fosse melhor do que nós!? Pois bem...!
Então, o grupo parou de falar. Eles, bem como o homem que estava sendo acusado, voltaram-se para onde os passos vinham.
Podem continuar... Insistiu Viktor. Ele andava calmamente com Elise e Dreadraven ao seu lado. A conversa parecia interessante.
Puderam ouvir de longe, presumo. Disse o acusado.
Quem são vocês? Um dos homens perguntou. Amigos desse rato ladrão?
Você tem certeza de que ele é o ladrão? O Sandrealmer retrucou.
O acusado esboçou um sorriso. Seu visual era um pouco desleixado. Ele usava roupas simples, feitas de lã tingidas de verde, com poucos adornos. As peças mais caras pareciam ser as luvas e botas de couro marrom. Com uma mala velha e surrada nas costas, era quase certo que o sujeito não passasse de um comerciante. Sob os cabelos castanhos claros desgrenhados, seus olhos azuis brilhavam com certa jovialidade. Coçando a barba por fazer, o homem parecia despreocupado com as ameaças.
Por outro lado, o grupo à frente do comerciante, composto por seis homens e duas mulheres, não parecia muito amistoso. Com armaduras simples feitas de couro e ferro, cicatrizes e tatuagens pelo corpo e dentes à mostra nos rostos pintados, eles pareciam bárbaros, possíveis mercenários ou assaltantes que atacavam por estradas pouco movimentadas
Algum problema com a gente, Sandrealmer? Um deles, muito provavelmente o líder do bando, perguntou.
Não vamos tirar conclusões precipitadas. Disse Elise rapidamente.  Conte-nos o que aconteceu.
Esse ladrãozinho aí... Ele apontou para o comerciante. Esse desgraçado apareceu na casa do chefe, falando que tinha mercadorias para serem vendidas. Aquisições dignas de um rei, disse ele.
E então...? Viktor parecia impaciente.
Nós fomos perguntar pro chefe se era pro rato entrar ou não em casa. Continuou. Quando percebemos, o verme havia sumido e, junto com ele, várias coisas do chefe. Foram jóias, quadros, espadas, livros...
E ninguém viu ele pegar nada? Indagou o Sandrealmer.
Não, mas...
E como ele poderia estar carregando tudo aquilo?
Foi o que eu disse... Murmurou o comerciante.
É por isso que a gente falou que ele é um bruxo! Uma das mulheres disse. Só assim pra ele entrar na casa do chefe sem a gente ver, pegar um monte de coisas e sumir com elas!
Uma dúvida... Disse Elise delicadamente. Quem é esse chefe?
Um nobre da região. Um dos mercenários respondeu. Estamos protegendo ele.
Não seria o Barão de Jager, seria?
É ele mesmo. Por quê?
Ele é uma víbora! É bem provável que tudo o que ele tenha seja roubado dos outros, ou que ele tenha conseguido com alguma chantagem...
Não importa. O líder deles falou rispidamente. Ele é um gordo nojento, mas paga bem... E sem atrasos. Ele voltou o olhar para o comerciante. E é por isso que vamos pegar o que esse ladrãozinho roubou... E depois matar ele!
O bando começou a urrar, animados com as palavras do chefe, prontos para partir para a luta. Entretanto, um deles não se manifestava.
Um homem, o mais alto e mais musculoso de todos, começou a andar na direção do trio. O bando fez silêncio, apenas observando o gigante andar na direção dos recém chegados. Com um machado em cada mão e um rosto praticamente quadrado, ele exibiu os dentes como se fossem presas para Dreadraven.
Por que se esconde com essa máscara? Ele perguntou.
Longa história. O doutor respondeu ríspido. Muitos detalhes que não podem ser pulados.
Tira a máscara!
Não posso. E também não quero. Talvez se você pedisse com um pouco mais de jeito...
Você esconde muita coisa... Ele cuspiu no chão. Ou é um covarde. Ou os dois... De qualquer jeito... Não gosto de você...
E o que você pretende fazer sobre isso?
O gigante grunhiu. Então, flexionou o peitoral descoberto e levantou os dois machados para o alto.
Ei! Viktor exclamou para o líder do bando. Você não vai mandar o seu bichinho parar?
Não... Ele respondeu, dando de ombros. Quando o Jack não gosta de alguém, não dá pra parar ele. O mascarado ali já era. Que sirva como lição por vocês terem aparecido por aqui...
Então, os machados desceram em direção à cabeça de Dreadraven. O som do metal rasgando pele e osso pareceu ecoar naquela clareira. O sangue respingando veio em seguida, manchando a grama de vermelho. O som de algo pesado se chocando contra o solo veio por fim.
Todos pareciam olhar a cena impressionados. O gigante, então, caiu de joelhos, com ambas as mãos decepadas, olhando para o sangue escorrendo em seus braços e para os machados caídos na grama.
Dreadraven estava com seu sabre negro em mãos, agora, desembainhado e manchado de sangue.
Prefiro não recorrer à violência contra pessoas... Ele começou. Afinal, humanos são racionais, não...? Mas, para gente como você, não há outro jeito. Infelizmente, não posso resolver tudo com palavras.
Jack olhava boquiaberto para Dreadraven. Seus olhos estavam tomados pelo medo.
Ele é um bruxo... Algum dos mercenários murmurou.
Deve ser amigo do ladrão... Uma mulher acrescentou.
Será que foi ele quem realmente roubou o chefe...? Alguém indagou.
E lá se foi o mais forte de vocês... O comerciante bocejou.
O quê? O líder do bando, enraivecido, virou-se na direção do homem. O que você disse?
Disse que deveriam desistir agora. Sorriu brincalhão.
Eu sou o líder desse bando! Ele sacou sua espada e apontou para o alto. Enquanto eu estiver aqui, todos irão lutar!
Com essas palavras, os demais mercenários sacaram suas armas, balançando arcos, espadas e facas para o alto.
Só tenho que me livrar de você então...? Disse o Sandrealmer.
O líder dos mercenários se virou na direção de Viktor.
Ele não teve tempo de reagir enquanto a bala do Sandrealmer atravessava sua cabeça.
Vendo o corpo de seu líder cair sem vida no chão, os mercenários voltaram a baixar as armas.
Vocês podem fugir agora... Aconselhou Viktor enquanto recarregava sua arma. Pra bem longe daqui, de preferência.
Ou então...? Desafiou um dos mercenários.
Após essas palavras, uma parede de chamas brancas surgiu, separando os mercenários do trio e do comerciante. Elise evitaria atacar a todo custo, principalmente em uma luta já ganha.
Entre grunhidos e xingamentos, os mercenários guardaram as suas armas e, então, fugiram por entre as árvores, deixando o comerciante intacto e Jack para trás.
Ora, ora... O Sandrealmer inclinou a cabeça para a esquerda. Jack retribuiu o gesto com a mesma expressão assustada de antes. Você ainda não morreu... Mas vai. Ele apontou a arma para a cabeça do gigante que tremeu instantaneamente. O sangramento vai acabar com você. Não pretendo acelerar mais a sua morte.
Então, com uma coronhada, Viktor nocauteou Jack, deixando-o caído para a sua morte.
Em seguida, o Sandrealmer olhou para Elise.
Você vai parar com o sangramento dele, não é? Ele perguntou desanimado, já sabendo a resposta.
Ele não é mais uma ameaça. Respondeu a sacerdotisa. Principalmente sem as mãos.
Elise se agachou ao lado do gigante caído. Uma luz verde clara, quase branca, saiu de suas mãos, parando o sangramento em poucos instantes.
Deixá-lo viver assim... Viktor murmurou. Sem as mãos... Talvez fosse melhor deixá-lo morrer de uma vez, não acha? Ainda mais sendo quem ele é...
Ainda há chance para uma redenção. A sacerdotisa afirmou. Sempre há.
O Sandrealmer deu de ombros, não se interessando mais pelo assunto
O comerciante, então, bateu palmas, animado.
Bravo! Ele disse. Bravo! Bravíssimo!
Você não precisava de nossa ajuda. Afirmou Elise. Não é, mago?
Não mesmo.  Ele respondeu. Mas queria ver do que vocês eram capazes.
Algum interesse em nós? Indagou Dreadraven.
Talvez... O mago coçou o queixo. Bem... Veremos... Ele olhou para o céu, ainda claro, e sorriu. Vocês estão indo em direção ao norte também?
Sim. Respondeu Viktor. O que pretende fazer?
Hm... Bem... Vamos conversando sobre isso no caminho, ok?
O comerciante sorriu para o trio. O caminho que seguiriam era o mesmo. Então, enquanto não houvessem problemas, os quatro seguiriam juntos.
Certo... Concordou o Sandrealmer após trocar olhares com seus companheiros. Vamos em frente.

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