The Ultimate
Illusion
A
Ilusão Final
—
O que você achou? —
Buffone perguntou animado.
—
Onde estamos? —
Tristan indagou seriamente.
O ilusionista riu com desdém.
—
Achei que você já teria descoberto. —
Buffone disse cabisbaixo. —
Achei que alguém do seu nível teria entendido tudo facilmente. Achei que
poderíamos focar logo em nossa luta. —
Ele bufou. — Talvez
eu é que estivesse enganado ao seu respeito. —
O ilusionista sentou no chão recém formado e abraçou os joelhos. — Talvez...talvez você
consiga descobrir ainda. Tente. Pense um pouco. Não lhe fará mal. Tente não me
decepcionar, Escolhido do Lorde das Trevas.
“Do que esse lunático está falando...?”.
Tristan olhou para o inimigo sentado serenamente a sua
frente.
“Como ele pode estar tão calmo assim? Ainda por cima, ele
está desarmado...”.
Tristan respirou fundo.
—
Não sei onde estamos. —
O guerreiro das Trevas admitiu. —
Pelo menos, não exatamente. Você criou este lugar. Imagino que você tenha
inúmeras vantagens contra mim aqui. Por isso que você está tão calmo.
Buffone riu e bateu palmas freneticamente.
—
Sabia que você conseguiria. —
O ilusionista se levantou. —
Por isso, sinto que é minha obrigação te contar o que você não conseguiu
descobrir. Quanto a nossa localização, bem...nós nem saímos da cidade. Nós
estamos a alguns milhares de metros de altura em relação a onde estávamos.
Veja.
O ilusionista estralou os dedos. O céu completamente em
branco tomou cor. O sol se punha no horizonte. A noite estava chegando. Buffone
riu.
—
Ótimo... — Tristan
murmurou. — Mais um
ilusionista que mantém a sua magia mesmo quando descoberto.
—
Apenas um grupo seleto de nós pode fazer isso. —
Buffone invocou mais um punhal de prata em cada mão. — Apenas os melhores dos melhores são capazes
disso.
—
Certo... — Tristan
invocou sua espada.
—
Antes de começarmos a nos digladiar, devo esclarecer apenas mais um mísero
detalhe.
—
Fale.
—
As minhas vantagens nesse lugar...são...como direi...?
Antes de Buffone terminar sua fala, ele desapareceu em um
instante bem diante de Tristan.
“O quê...?”.
Instintivamente, Tristan se voltou para trás. O
ilusionista surgiu atrás dele, pulando na direção do guerreiro das Trevas.
Rapidamente, Tristan desferiu uma estocada. Como Buffone não usava armadura, a
lâmina atravessou o peito dele sem dificuldades.
“Patético”.
Tristan olhou para o corpo morto cravado em sua espada. O
guerreiro das Trevas respirou fundo.
“Fácil demais...”.
Rapidamente, Tristan arrancou sua espada do corpo de
Buffone e se virou para seu lado direito.
—
Como!? — O guerreiro
sombrio não conseguiu conter a surpresa.
Outro Buffone surgiu manejando as mesmas armas. Mesmo
surpreendido, Tristan conseguiu desferir um chute diretamente contra a barriga do
oponente. O ilusionista caiu um metro para trás ainda de joelhos. Porém, antes
que Buffone pudesse se levantar, Tristan arremessou sua espada contra o pescoço
do adversário. Sem chances de reagir, o ilusionista foi decapitado.
“Era algum capanga dele? Ou será que ambos eram capangas?
Nesse caso, Buffone ainda está vivo. Ou será que...”.
Tristan cerrou os punhos.
“Esse mundo é dele...ele pode fazer o que bem quiser”.
Tristan invocou duas adagas. Uma fração de segundos
depois, mais dois Buffones surgiram atrás dele. O guerreiro sombrio se
transformou em sombras e surgiu atrás dos inimigos que haviam acabado de
desferir apunhaladas no ar. Sem nem pensar, Tristan cravou as duas adagas nos
crânios dos dois Buffones e, rapidamente, voltou-se para trás e desferiu um
saco contra a máscara de um recém surgido ilusionista. O adversário foi mandado
pouco mais de um metro para trás. Ele gritou de dor.
—
Desgraçado! — Buffone
bradou. — Se não
gostou da brincadeira, avisa! Não precisava me bater com tanta força!
Tristan andou até o oponente. Sem dizer nada, o guerreiro
das Trevas ficou parado observando o ilusionista.
— O
que foi!? — Buffone
berrou. — Só vai
ficar olhando!? Você...
Em um instante, a espada de Tristan havia voltado a sua
mão e, no instante seguinte, ela estava cravada no peito do ilusionista,
fincada ao chão.
—
Chega de truques. —
Tristan disse friamente. —
Apareça!
Buffone surgiu com as mãos ao alto. Ele estava a cinco
metros de distância do guerreiro das Trevas.
—
Quer que eu chegue mais perto? —
O ilusionista perguntou tentando conter o riso.
Em uma fração de segundos, Tristan havia se deslocado
para frente do oponente. A distância foi diminuída para meio metro.
—
Não precisa. —
Tristan disse secamente.
—
Certo... —
Buffone parecia levemente surpreso. —
Então...do que eu estava falando mesmo?
—
Suas vantagens.
—
Sim...sim! — O homem
magricela esticou os braços para os lados. Dois punhais sugiram e começaram a
se alongar. Em um segundo, Buffone tinha uma lança de dois metros de
comprimento em cada mão. —
Minhas vantagens, neste local, são infinitas! —
As laterais da lança começaram a se alongar e também a ficar mais afiadas. Mais
um segundo passado e, agora, as lanças haviam se transformado em espadas
gigantescas. — Esse é
o seu fim!
Tristan riu.
—
Qual é a graça? —
Buffone perguntou.
—
Suas vantagens podem ser infinitas, mas a sua energia tem fim. — Tristan disse com um
sorriso estampado no rosto. —
Em breve, você estará esgotado caso você insista em lutar dando tudo de si.
Buffone gargalhou.
—
Se você fosse menos inteligente, talvez estivesse um pouco desesperado. — O ilusionista bufou. — Que seja. Posso me
divertir muito com você antes que morra, meu caro brinquedinho do Lorde das
Trevas.
— Antes disso, eu tenho uma
pergunta. — Tristan
disse friamente.
—
Bem...eu...certo. Pergunte.
—
Você não traja uma armadura de cristal. Suponho, então, que você não seja
membro da Tiamat. Correto?
—
Sim.
—
Então, você pertence a algum grupo?
—
Sim.
—
Pode me dizer qual?
—
Sim.
—
Então diga qual. —
Tristan ordenou. Seus olhos vermelhos brilhavam intensamente de raiva.
—
Chiamaera.
—
Nunca ouvi falar.
—
Não esperava que você tivesse ouvido. Somos uma organização recente.
—
O que vocês querem?
—
Liberdade. De tudo. De todos. Nós acreditamos que grandes líderes oprimem os mais
fracos. Nós, portanto, somos contra as Trevas, a Luz, a Tiamat, aos bárbaros
e...bem, contra qualquer um que queira subjugar os mais fracos. Nós não achamos
justo que cidadãos comuns sejam pisoteados por deuses os seguidores desses
deuses.
—
Isso é ridículo.
—
Eu esperava que você não fosse entender o que nós, da Chimaera, almejamos.
—
Não é só ridículo. É, também, insano. Deixar as pessoas soltas no mundo, sem
qualquer liderança...é...é...
—
É um sonho que pode se tornar realidade.
—
Vocês estariam afundando o mundo no caos sem fim. A maioria das pessoas é
estúpida. Elas só se importam com elas mesmas. Elas não iram se unir. Uma era
de paz e de harmonia não virá. De fato, uma era de paz e harmonia nunca virá. É
da natureza humana lutar, mesmo que seja com a própria espécie. — Tristan riu. — Essa é, sem dúvidas, a
idéia mais idiota que eu já ouvi. Nunca eu havia parado para pensar nisso. É um
conceito tão imbecil! Você diz que quer acabar com a opressão e que tal
opressão é gerada pelo poder. Então, Buffone, diga-me o que você acha que irá
acontecer quando as pessoas perceberem que não há ninguém para impedi-las ou
puni-las caso elas resolvam praticar algum crime. Assaltos, assassinatos,
estupros...tudo isso será banalizado. Os mais fortes fisicamente poderão fazer
o que bem entenderem. Caso seu plano dê certo, os fracos serão ainda mais
oprimidos.
Buffone sacudiu a cabeça para os lados.
—
Que pena. — O
ilusionista resmungou. —
Eu achava até que talvez você aderisse a nossa causa. Mas...não. Sua esperança na humanidade não pode mais ser recuperada.
—
Não acho que você seja louco, Buffone. —
Tristan disse. —
Apenas burro. Mas um tipo especial de burro. O tipo que não aprendeu sobre a
vida...pelo menos, não ainda. Você é tão inocente quanto uma criança. Extremamente
sonhador...longe da realidade do mundo em que vivemos. Eu era um pouco como
você...mas a vida, em algum momento, sorrirá para você. E esse sorriso não será
caloroso. Será assustador, insano. Não importa se for aos poucos ou de uma
única vez, a realidade chegará até você de uma maneira nada agradável.
—
Que discurso pessimista.
—
Não é pessimismo. É realismo. Existem coisas boas na vida. Amizades, amores,
momentos que você nunca irá se esquecer. Você pode ter certeza. Eu sou um
realista. Eu sou neutro. Eu estou em equilíbrio perfeito entre o otimismo e o
pessimismo. Não só hoje, nunca por um único momento. Vou ser assim pelo resto
da minha vida.
—
E você acredita estar certo?
—
Esta é a minha única certeza.
—
E a vida? E a morte?
—
Após viver alguns anos na companhia de algumas pessoas...e outras coisas que
não são pessoas...bom...a vida e a morte não são mais certezas.
—
Sei...
—
Quando você começar a viver, você entenderá tudo o que eu acabei de dizer. Isso
é, se você sobreviver a hoje. Caso isso realmente ocorra, caso você sobreviva
até o dia seguinte, saia do castelo de seus pais.
—
Como...?
—
Eu disse. Você é uma criança ainda. Você não aprendeu. Não viveu. Imagino que
você fique preso no castelo de seus pais enquanto seus tutores te ensinam sobre
um mundo que você, na verdade, não conhece. E, obviamente, um desses tutores te
ensinou a usar magia. Logicamente, seus pais querem que você cresça com o
melhor preparo possível. Eles querem que você seja um líder poderoso, tanto em
força, tanto em conhecimento. Mas, suponho que um de seus tutores não pense
muito como eles. Esse tutor te influenciou com esses ideais ridículos. Imagino
que seja o mesmo que te ensinou esses truques. Também imagino que ele seja um
dos líderes da Chimaera, não é?
—
Mas como você...?
—
Admito que você é perspicaz, meu jovem. —
Uma voz grave soou pelo local, ecoando incessantemente.
De repente, um homem surgiu trajando vestes roxas por
debaixo de uma armadura prateada. Apesar da longa barba grisalha e da cabeça
calva, ele não parecia velho. Não havia praticamente nenhuma ruga em seu rosto.
Sua coluna ereta e peitoral estufado, justamente com seus quase dois metros de
altura, eram imponentes. Em sua mão direita, carregava um cajado feito
inteiramente de safira com sua ponta esculpida no formato da cabeça de uma
serpente.
—
Então...você é o Escolhido de Nidhogg. —
O homem analisou meticulosamente Tristan apenas com o olhar. — Será interessante lutar
com você.
—
Mestre Overtrederen! —
Buffone protestou. — Essa
é a minha luta! Não interfira!
Sem dizer nada, Overtrederen estralou os dedos. Buffone
caiu desacordado no chão.
“Mas o que foi isso?”.
Antes que Tristan pudesse atacar, Overtrederen havia
desaparecido. O guerreiro das Trevas olhou ao seu redor. Buffone também havia
desaparecido e o chão havia se transformado. Placas de ferro se estendiam até o
horizonte agora.
—
Prepare-se! —
Overtrederen bradou acima de Tristan.
O velho ilusionista parecia cortar os céus com uma espada
maior que ele mesmo.
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