Unending Ruins
Ruínas
Intermináveis
No dia seguinte...
“Fantástico...”.
Tristan, Astaroth e Shadowing estavam na beira de um
precipício. Um grande campo verde esmeralda se estendia atrás deles. Dezenas de
metros abaixo estavam as ruínas de uma cidade antiga. O céu estava completamente
coberto por nuvens negras. O vento soprava forte. Dezenas de ruídos
desconhecidos vinham dos resquícios da cidade.
—
Ah...não tenho certeza se isso foi uma boa idéia... — Astaroth disse.
—
Você quer falar de uma idéia que não foi boa? —
Shadowing riu. —
Aparentemente, eu vou ter que te contar tudo o que aconteceu tudo o que
aconteceu ontem à noite.
—
Já que você não se lembra... —
Tristan acrescentou.
—
Ah...melhor não. —
Astaroth bufou. —
Eu...vou ficar quieto.
—
Pra compensar ontem... —
O guerreiro acrescentou.
Tristan e Shadowing riram.
—
Vocês também fiquem quietos! —
Astaroth bradou.
—
Não desconte os seus problemas com bebida em nós. — Shadowing disse.
—
Você que não soube a hora de parar de beber. —
Tristan acrescentou. —
E você também foi quem escolheu essa missão.
—
Eu sei, mas....esse lugar... —
Astaroth respirou fundo. —
Eu tenho um mau pressentimento. É só isso.
—
Bem...isso eu até posso entender. —
Admitiu Tristan. —
Mas já aceitamos a missão agora. Não vamos desistir.
Shadowing assentiu, bem como Astaroth, apesar de certa
relutância.
—
Vamos. — Disse o
guerreiro sombrio.
Em um instante, Tristan se transformou em trevas,
Shadowing abriu as asas e Astaroth desapareceu nas sombras. Um segundo depois,
todos estavam na entrada da cidade.
“Bem...o lugar parece ainda pior de perto...”.
A cidade parecia ser um labirinto parcialmente destruído.
Centenas de paredes e colunas de pedra cinzentas estavam caídas, bloqueando
muitas passagens. Boa parte do que não havia sido destruído, incluindo o piso,
estavam cobertos por rachaduras e teias de aranhas. O cheiro de óleo e graxa
impregnava o ar. Mais ruídos soavam pelas ruas da cidade, agora, um pouco mais
nítidos. O som de peças metálicas se arrastando pelo local parecia ser
ininterrupto.
“O que está acontecendo aqui...?”.
—
Então...Nighthand deve realmente estar aqui...em algum lugar. — Concluiu Shadowing.
—
Como você pode ter tanta certeza? —
Astaroth indagou.
—
Essa era a suspeita de Nidhogg. —
Tristan respondeu. —
E, pelo o que se sabe sobre o Nighthand...faz sentido que ele esteja.
—
Somada a esses cheiro no ar e a esses sons metálicos...é. — Shadowing disse. — Eu acredito que ele
realmente esteja aqui.
—
Certo... — Astaroth
coçou a nuca. — Mas...quem
é esse Nighthand mesmo?
—
Você realmente não presta atenção em nada... —
Tristan bufou. —
Praticamente todos os seres das Trevas já ouviram sobre a lenda de Nighthand.
—
Ah...ta. — Astaroth
forçou uma risada. —
Pelo visto, eu sou um dos poucos que não ouviu.
—
Ou que não prestou atenção. —
Shadowing suspirou. —
É muito mais provável, no seu caso.
—
É...acho que sim. —
Astaroth concordou. —
Bem...algum de vocês poderia me contar qual a lenda dessa tal de Nighthand?
—
Bem resumidamente... —
Shadowing respirou fundo. —
Ele foi um dos melhores e mais inteligentes assassinos de todos os tempos.
Porém, ele era apenas um mortal. A velhice chegou até para ele. Seu corpo não
era mais tão ágil ou forte como outrora. Então, antes que ele fracassasse em
uma missão, ele decidiu mudar o seu ofício. Ele se tornou um mago. Ele passou a
estudar com afinco as magias das Trevas. Porém, ele tinha um objetivo secreto:
a imortalidade.
—
Ele queria se tornar imortal!? —
Astaroth riu. — Como
se isso fosse possível para um ser humano sem a ajuda de um deus...
—
Mas ele conseguiu. —
Disse Tristan.
—
O quê!? — Astaroth
arregalou os olhos. —
Vocês estão falando sério!?
—
Sim. — Shadowing
respondeu. —
Mas...não foi bem como ele havia imaginado...
—
Por quê? — O Demônio
de olhos verdes indagou.
—
Por que ele envelheceu. —
Tristan respondeu. —
Nighthand tinha pouco mais de quarenta anos de idade quanto ele fez o feitiço
da imortalidade. No mesmo instante, ele foi fadado a viver no corpo de um
ancião.
—
O que fez com que ele se dedicasse a ser um mago para sempre. — Acrescentou Shadowing. — Por mais de quinhentos
anos, ele se dedicou a construir autômatos...e, de acordo com rumores, algumas
criaturas de carne e osso também.
—
Certo, mas...por que ele ainda estaria aqui? —
Perguntou Astaroth.
—
Ele morava aqui antes de um ataque das forças da Luz. — Tristan respondeu. — Isso foi há mais de duzentos anos.
Entretanto, ninguém nunca mais viu Nighthand desde aquele dia.
—
Mas, de acordo com relatos, alguns dos autômatos que ele criou ainda vagam pela
cidade. — Shadowing
acrescentou. — Então,
não temos certeza se ele ainda está vivo e produzindo mais servos, uma vez que
a imortalidade de Nighthand era apenas contra o tempo. Uma flechada na cabeça
ou uma lança atravessando seu peito o matariam sem problemas. — Ele respirou fundo. — Esse cheiro que impregna
o ar...é uma mistura de óleo com graxa. É bem provável que esses materiais
tenham sido usados na construção de novos autômatos, ou, até, na manutenção
deles.
—
Então...vocês acham que ele ainda mora aqui? —
Astaroth franziu a testa. —
Nada contra, mas...esse lugar está...digamos...um pouco destruído, não é?
—
Sim, mas não se esqueça que ele constrói autômatos. — O Demônio encapuzado disse. — Não seria nenhum desafio
para ele construir um esconderijo nas proximidades da cidade ou, até, embaixo
daqui.
Astaroth olhou para baixo.
—
Esse pensamento é um pouco desconcertante... —
Ele murmurou.
—
Você não me parece tão confiante quanto o de costume. — Tristan sorriu. — Eu ouso dizer que você está com medo.
—
Se vocês não têm medo do desconhecido, vocês não são corajosos, são burros. — Astaroth disse. — Não saber o que eu vou
enfrentar...é aterrorizante, principalmente por que nós podemos ser atacados de
surpresa. —Ele riu
nervoso. — Como vocês
estão tão calmos...eu realmente não sei.
Tristan e Shadowing se entreolharam.
—
Bem...o que você disse...faz sentido. —
O guerreiro das Trevas admitiu. —
Mas sinceramente, eu não acho que esse é o tipo de situação que me assusta.
—
Sim. — Shadowing
concordou. — Eu
acredito que Tristan e eu já temos alguns fatos do nosso passado que nos
assombra o suficiente. —
Disse em um tom sombrio.
—
Ah...certo. —
Astaroth franziu a testa. —
Então...ah...vamos investigar o
local...?
Tristan e Shadowing assentiram.
“Shadowing...seu passado continua sendo desconhecido para
mim...”.
Os três companheiros começaram a andar pelas ruas da
cidade. Os ruídos metálicos dos possíveis autômatos soavam cada vez mais nítidos
e numerosos. Entretanto, nada, a não ser pelos três amigos, movia-se no local.
—
Quanto tempo nós levaremos para andar por toda a cidade? — Tristan perguntou.
—
Não sei ao certo. —
Shadowing respondeu. —
A cidade me parecia ser relativamente grande. Talvez pudéssemos nos separar
para reduzir o tempo, mas...
—
Não vamos correr o risco de enfrentar autômatos sem reforços. — Astaroth disse meio
nervoso. — Eu...eu
espero...
—
Não se preocupe. —
Tristan sorriu. — Não
vejo motivos para nos separarmos. Concluiremos essa missão, não importa quanto
tempo leve.
—Só
há um problema grave que não podemos esquecer. —
Disse Shadowing.
—
Ah...sim. — Concordou
Tristan. — As forças
da Luz podem aparecer em breve aqui a procura de Nighthand.
—
Como!? — Astaroth
arregalou os olhos.
—
Eles também acreditam que o Nighthand possa estar vivo. — Shadowing lembrou. — Eles vão tentar matá-lo. Nossos batedores
interceptaram uma mensagem deles. Ela continha o relatório de alguns viajantes
que passavam pela região. Os sons estranhos, provindos dos autômatos, eram mencionados
várias vezes.
—
Isso nos deu mais convicção de que Nighthand realmente está vivo. — Acrescentou Tristan. — Entretanto, supomos que,
mesmo interceptando a mensagem de um único agente da Luz, mais algum dos
seguidores da Luz deve ter entregado a mensagem para Nidhogg. — Ele olhou para o alto. — Então...caso algum
seguidor da Luz apareça aqui, bem...já esteja avisado.
—
Eu quero mais é que eles apareçam! —
Astaroth abriu um sorriso largo. —
Assim, eu poderei matar algo que eu conheça.
De repente, um amontoado de escombros próximos dos três
amigos começou a tremer. Ruídos, tanto metálicos tanto completamente
desconhecidos, soaram quase ensurdecedoramente.
—
Não... — Astaroth
resmungou. — Não me
diga que...
Um ruído agudo soou por toda a cidade. Tristan, Astaroth
e Shadowing foram forçados a tapar os ouvidos com as mãos. Do meio do amontoado
de detritos, uma criatura apareceu.
“Então...isso é um autômato...”.
A frente dos três aliados, um caranguejo feito de bronze
com quase um metro de altura os encarava. A pinça esquerda era relativamente
pequena comparada ao tamanho da criatura. Entretanto, a direita era quase do
tamanho do próprio autômato. Ele emanava uma aura sombria comparável a de um
Demônio. Os olhos vermelhos pareciam fixos nos alvos.
—
Ah...então isso é um autômato... —Astaroth
respirou aliviado. —
Sinceramente, eu esperava algo muito pior, como....
Vários uivos soaram pelo local, seguidos por uma
seqüência de passos rápidos. Em um instante, mais autômatos haviam se juntado
ao caranguejo de bronze. Uma matilha de mais de dez lobos, agora, cercavam
Tristan, Shadowing e Astaroth. As criaturas, apesar de estarem sobre as quatro
patas, tinham pouco menos de dois metros de altura. Todos eram feitos com
bronze e irradiavam uma aura sombria. Seus olhos brilhavam como chamas verdes.
“Ótimo...a situação se tornou um pouco mais
desafiadora...”.
Um estrondo soou atrás deles. Outro autômato havia
surgido. Esse era um humanóide, assemelhando-se a uma estátua comum, exceto
pela altura, de mais de cinco metros, e pelas articulações móveis. Ele
carregava um machado com ambas as mãos. A arma era, de fato, um pouco maior do
que o próprio autômato. Os olhos deles brilhavam com uma luz púrpura. Ele
estava envolto por uma aura negra comparável a de Tristan.
—
Fugir me parece uma escolha puramente estratégica no momento. — Shadowing murmurou.
—
Esperem. — Tristan
pediu. Em seguida, ele apontou para o gigante de bronze que se aproximava. — Olhem...em cima da cabeça
dele...
A silhueta de uma pessoa estava em pé exatamente em cima
da cabeça do autômato.
“Será que...”.
O homem gargalhou. O gigante continuava avançando na
direção deles. As bestas mecânicas ao entorno deles estavam inquietas.
“Droga...espero que ele não faça nada que nos force a
lutar de volta...”.
—
Autômatos! — A voz do
homem era cansada e áspera. —
Vocês sabem o que fazer!
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