Androide
—
O que diabos é você? —
Perguntou, rispidamente, Silver.
—
E o que seria isso em suas mãos? —
Indagou Judge.
O androide de dois metros de altura olhou de relance para
os dois. Seu rifle ainda estava apontado para a cabeça do Mago. Não era difícil
distinguir quem era pertencente da infame tribo. Aqueles olhos cor de ametista
o delatavam.
Entretanto, apesar de estar correndo risco de vida, o
Mago parecia calmo. O homem nem olhava para aquele que o ameaçava. Porém, seus
companheiros não compartilhavam aquele sentimento. Os mercenários estavam
inquietos diante da criatura de aço.
Como o androide não respondia o que os seus aliados
indagavam, o Mago resolveu perguntar:
—
O que você quer?
—
A extinção de sua raça imunda. —
O robô humanoide respondeu, aparentemente, irritado. Então, após uma breve
pausa, ele continuou a falar. —
Mas eu sou apenas um. Tenho noção de que não posso fazer nada sozinho. Talvez
eu possa te matar, mas aí tenho os seus servos para me preocupar.
—
Servos dele? — Psycho
questionou e, então, em seguida, riu em tom de deboche. — Certo...
—
Apenas digamos que todos nós estamos em relação de igualdade uns com os outros
neste momento. —
Disse Pierce que, logo em seguida, olhou para Overseer.
Naquele instante, o líder dos mercenários olhou nos olhos
do esgrimista. Os rostos dos dois se tornaram sérios. Em uma fração de
segundos, Pierce e Overseer pareciam ter se envolvido em uma discussão
silenciosa. O ar parecia mais pesado. Todos pareciam estar em um estado de
torpor.
Então, a voz do Mago quebrou o silêncio:
—
Imagino que você deva saber melhor do que ninguém o que aconteceu neste
local...
O androide segurou com força o rifle em suas mãos frias.
Seu indicador esquerdo estava quase puxando o gatilho. Então, de repente, a
criatura de aço pareceu tentar se acalmar. Após alguns segundos, ele disse:
—
Por tanto tempo eu aguardei que algum humano voltasse a esse local. Ver um de
vocês, Rocs, aqui realmente me pegou de surpresa.
Um calafrio percorreu a espinha do Mago. Roc. Ao ouvir o
nome de sua tribo, desconhecido por qualquer um que não pertencesse a ela, era
surreal. Naquele instante, o Mago passou a temer o androide.
—
Roc... — Silver
repetiu a palavra lentamente, como se a escrevesse delicadamente em um pedaço
de papel. — Então
esse é o nome...
—
Eu esperava algo mais imponente... —
Comentou Juggernaut.
—
Digo o mesmo. —
Concordou Huntress.
—
Tenho certeza que o nome tem algum significado importante... — Disse Overseer que
apontou sua espada para o androide. —
Mas isso não é importante agora, certo?
Apesar de não ter olhado na direção dele, o Mago sabia
que o líder mercenário falava com ele.
Overseer estava certo. O Mago tentou colocar os
pensamentos em ordem. Aquela criatura apontava uma arma desconhecida contra
ele. Sua vida estava sendo ameaçada. A jornada dele estava longe do fim. Ele
não poderia morrer, principalmente tão cedo. Assim, o Mago disse:
—
Estamos aqui para consertar o que o meu povo fez, criatura.
O androide inclinou a cabeça levemente para a esquerda.
Ele se mostrou intrigado e, então, perguntou:
—
E como vocês pretendem fazer isso?
—
Não sabemos ao certo. —
O Mago respondeu honestamente. —Mas
eu sei que o meu povo tem segredos que são omitidos a até alguns de nós. E é
por isso que eu quis vir aqui. Eu tenho que saber o que aconteceu aqui tanto
tempo atrás. Eu tenho que descobrir a verdade.
O androide parecia ter ouvido cada palavra dita pelo Mago
como se não só julgasse a veracidade delas, mas também apreciasse o som da voz
dele. Após alguns instantes, a criatura o ser de aço disse:
—
Você não parece estar mentindo...
—
Confiança é algo difícil de se pedir, eu sei. —
Disse o Mago. — Mas,
na situação em que estamos...
—
Precisaremos cooperar. —
O androide completou a frase.
O Mago assentiu. O robô sorriu o melhor que pôde com o
rosto rígido de metal.
Então, Overseer perguntou:
—
O que você pode nos contar?
O androide se voltou ao líder mercenário e, então,
respondeu:
—
Não tanto quanto eu gostaria, devo admitir. Não faço ideia de como o mundo está
fora daqui, mas...a julgar por vocês...vejo que retrocedemos.
—
Como assim? — Indagou
Judge claramente ofendida.
—
Seraphs. — Começou, o
androide, a responder. —
Eles criaram a maior e mais avançada civilização de todos os tempos. Eles
criaram esta cidade. Eles me criaram. Eles...foram extintos. Graças a algo que
ninguém soube dizer muito bem o que era. —
Ele parecia grunhir. —
Um demônio. Foi assim que alguns o descreveram. Uma criatura colossal com
poderes inimagináveis. Ela fora a responsável pelo declínio de nossa
civilização e, por fim, a nossa queda. —
O androide olhou friamente para o Mago. —
Você sabe algo sobre essa criatura?
—
Muito pouco. — Ele
respondeu. — É como
eu havia dito. Grande parte do conhecimento é mantido em sigilo por uma minoria
de meu povo.
O androide deu de ombros. Após organizar seus
pensamentos, ele continuou a falar:
—
O importante é saber que os Seraphs não escolheram viver no subterrâneo. Eles
foram obrigados.
—
Por quem? — Indagou
Specter.
Ele olhou para o lado, em direção a sua irmã. Eles
pareciam poder conversar apenas por suas expressões faciais.
Após uma fração de segundos, Ghost indagou:
—
Você está dizendo que os Rocs expulsaram vocês para o subsolo?
—
Talvez. — O androide
respondeu. — Faz
sentido quando você pensa a respeito. Afinal, eles foram amaldiçoados.
—
Defina “amaldiçoados”. —
Pediu Silver.
—
Certo... — O androide
bufou. — A carne dos
animais. Os frutos das árvores. As águas dos rios. O próprio. Tudo parecia ter
se tornado tóxico. Os Seraphs eram enfraquecidos a cada segundo. A situação se
tornou crítica quando algumas pessoas começaram a morrer. O ar e o solo estavam
tão tóxicos que até as edificações de metal pareciam estar sendo danificadas. Não
importava o quão surpreendente fossem os avanços científicos realizados por
eles. Uma cura não pôde ser achada. Alguns começaram a se desesperar. Entretanto,
a maioria conseguiu se manter calma. Isso foi a salvação dos Seraphs. Eles
conseguiram vir até o subsolo. Aqui era seguro. E, uma vez aqui, os Seraphs voltaram
a sua grandeza. Um século de trabalho árduo foi posto neste lugar até que ele
chegasse ao nível das cidades antigas. Porém, eles decidiram expandir o local.
Escavando pelas centenas de galerias de cavernas das redondezas...eles encontraram
a criatura...
—
E o que ela fez exatamente? —
Perguntou Overseer.
—
O inimaginável. — O
robô respondeu melancólico. —
Os Seraphs não a atacaram a princípio. Porém, ela ainda estava...adormecida.
Entretanto, quando ela despertou, a criatura começou a matar todos os que se
aproximavam. Por isso, os Seraphs começaram a se distanciar. Eles ergueram
barreiras para manterem o monstro longe deles. Mas aquilo não adiantou. A
criatura...não saia do lugar. Porém, ela não precisava. Suas...crias fizeram
esse trabalho por ela.
—
Então esse monstro criou versões menores dele? —
Psycho perguntou. O mercenário parecia desinteressado, como se tudo aquilo o
deixasse entediado.
—
Não. — Respondeu o
Mago. — Todos os
animais que habitam esse lugar agora...
—
Sim. — Concordou o
androide. — Todas são
criações de uma única criatura. Ela deve continuar criando formas de vida até
hoje. Aves, mamíferos, répteis, plantas... É quase um outro mundo aqui em
baixo.
—
E nós vamos ter que atravessar esse Novo Mundo pra chegarmos até as respostas
que o Mago procura... —
Murmurou Silver.
—
E torcermos para não dar de cara com essa criatura que é quase um deus. — Acrescentou Judge.
—
Ou qualquer outra criatura que ela criou que está além da nossa imaginação. — Disse Huntress.
Psycho, então, riu e disse:
—
Parece divertido. —
Ele olhou em volta. —
Todos topam?
Os mercenários começaram a trocar olhares. Então, um a
um, eles começaram a falar:
—
Parece interessante. —
Sorriu, confiante, Judge.
—
Um desafio a altura... —
Murmurou Juggernaut. —
Vamos ver.
—
Se o pagamento compensar...não vejo problemas. —
Disse Silver.
—
Enquanto eu tiver flechas, nós viveremos. —
Declarou Huntress.
—
Digo o mesmo sobre eu e minhas facas. —
Sorriu Ghost.
—
É...talvez seja divertido mesmo. —
Admitiu Specter sorrindo. —
Eu estou ansioso agora.
—
Isso vai ser um teste para todas as nossas habilidades. — Anunciou Pierce. Então, ele sorriu. — Apenas os melhores
sobreviverão.
—
Enquanto estivermos de pé, nós lutaremos. —
Disse Overseer. —
Disso eu tenho certeza.
O
Mago, então respirou fundo. Ele olhou para todos a sua volta. Todos estavam
dispostos a correr riscos inimagináveis. Aquilo o fez sorrir. Agora, ele também
estava confiante. Assim, o Mago conseguiu encarar o androide e, então,
perguntou:
— E você? Pode
nos ajudar?
Com
um leve sorriso no rosto, ele respondeu:
— Depois de
tanto esperar por um momento como esse...eu não conseguiria dizer “não”. — Ele se virou de costas, em direção ao grande
prédio do qual ele havia saído. — Sigam-me.
Sem
questionarem, o Mago e os mercenários entraram no local.
Nenhum comentário:
Postar um comentário