The Winged Death
Bringer
O
Portador Alado da Morte
A fera rugiu e exalou fogo pela boca. Muitos dos
sobreviventes da invasão resolveram usar suas últimas forças para fugir do
local. Outros, porém, não tinham nem mais energias para se salvarem e, então,
escolheram entre apontar suas armas para a criatura ou se jogarem ao chão,
convictos de que seus fins haviam chego. Tristan encarou a criatura. Ele
segurava sua espada com força. A determinação para enfrentar o dragão estava
estampada em seu rosto. Porém, ele não tinha forças para tanto.
“Ótimo...então é assim que eu vou morrer...”.
A fera rondava os céus lançando chamas em todos que
sobrevoava. Gritos de desespero eram ouvidos, tanto por aqueles que corriam da
fera, tanto pelos que agonizavam enquanto queimavam até a morte.
—
Não ouse desistir de viver agora, garoto. —
Nidhogg disse. A aura do Lorde das Trevas brilhava intensamente. A luz púrpura
fazia com que o rosto agora sério do deus ficasse ainda mais tenebroso.
“Como ele sabe...? Não, é só um palpite dele”.
—
Como? — Tristan
perguntou.
—
Quer que eu repita? —
Nidhogg arqueou uma sobrancelha.
Tristan riu.
—
É tão óbvio assim? —
Tristan perguntou.
—
Está estampado no seu rosto. —
O Lorde das Trevas respondeu. — Na verdade, nos seus
olhos. Seu rosto...você consegue consegui fingir que está forte por ele. Mas,
no caso de seus olhos...
—
O quê? Qual o problema com eles?
—
Eles estão vazios. Sem força. Sem determinação. Sem esperança. O brilho
escarlate deles está fraco, quase sem vida. Eles te delatam. Eles dizem que
você desistiu de viver.
O guerreiro das Trevas ficou em silêncio.
—
Pense bem, Tristan. —
Nidhogg falou calmamente. —
Você tem motivos para viver, não? Por que você luta? Por que você acorda todos
os dias? — A voz do
Lorde das Trevas era tão tranqüilizante nesse momento que chegava a ser quase
hipnótica. — Uma
pessoa. — Nidhogg
sorriu para seu Escolhido. —É
uma pessoa. É o sorriso dessa pessoa. A fala dessa pessoa. A mera presença
dessa pessoa melhora o seu dia.
Tristan olhou surpreso para Nidhogg.
—
Não precisa dizer nada. —
O Lorde das Trevas sorriu. —
Eu sei quem é. É óbvio...pelo menos para mim, que sou um deus. — Ele riu.
O dragão avançou na direção dos dois que estavam parados
no meio da praça. Com um estralar de dedos, Nidhogg ateou fogo na criatura, que
começou a se desfazer no ar. Sem deixar vestígios, a fera desaparecia
lentamente. De repente, da onde o dragão estava, um vulto surgiu, caindo pelos
céus. O Lorde das Trevas se posicionou perto de onde o vulto iria cair e,
então, estendeu sua espada na diagonal para cima. Nidhogg riu. Ao atingir a
lâmina, o vulto fora cortado ao meio na vertical. O corpo dividido em dois na
frente do Lorde das Trevas trajava uma armadura de cristal e uma capa azul.
Nidhogg fez com que sua espada desaparecesse nas trevas.
—
Belo truque, ilusionista. —
O Lorde das Trevas disse sem ânimo.
“O quê...?”.
Tristan se transformou em trevas e apareceu do lado do
deus.
—
Isso foi obre de um único homem? —
O guerreiro das Trevas olhou para o corpo cortado ao meio que estava jogado a
frente de Nidhogg. —Como...?
—
Ele treinou muito...tanto em qualidade, tanto em quantidade. — Nidhogg disse. — Os seguidores do Deus da
Ilusão conseguem ser muito poderosos caso se dediquem muito. Nem queira saber o
quão poderoso o próprio deus era... —
O Lorde das Trevas riu. —
Bem...eu conto essa história algum dia. O que você precisa saber é que até
acreditei por um instante que aquele dragão era real. Nunca subestime os
seguidores da Ilusão. Os poucos que você já enfrentou até hoje...nenhum deles
se compara a, por exemplo, esse nosso amigo aqui. — Nidhogg apontou para o corpo cortado ao
meio.
O Lorde das Trevas olhou para o seu Escolhido. Os
sobreviventes ao ataque do ilusionista urravam e glorificavam ainda mais o
deus. O clima era de celebração para todos, menos para Tristan.
—
Nidhogg... — O
guerreiro das Trevas chamou bem baixo.
—
Sim? — O deus colocou
sua mão direita sobre o ombro esquerdo de Tristan. — Se é sobre o que eu acho que é...melhor
deixar para mais tarde.
—
Mas...a Isolde...
—
O que tem ela?
—
Eu não vou desistir dela...eu...
—
Espere. — Nidhogg
interrompeu. O Lorde das Trevas riu. —
Você tem uma escolha para fazer, você não acha?
Tristan ficou em silêncio.
—
Pense bem. — O Lorde
das Trevas advertiu. —
Você só pode escolher uma das alternativas...e não há nenhum jeito de voltar
atrás na escolha. Lilith ou Isolde? —
Nidhogg sorriu. — Eu
vou te apoiar em qualquer uma das escolhas, meu amigo. Mas...pense bem. Penso o
quanto você tiver que pensar.
Os seres das Trevas sobreviventes aos ataques haviam se
reunido em volta de Nidhogg e Tristan a uma distância suficiente para não se
intrometerem no que discutiam em particular.
“Espero sinceramente que ninguém tenha ouvido o que
acabou de ser falado aqui...”.
O exército urrava vitorioso. Nidhogg estendeu a mão.
Todos ficaram quietos, esperando pelo o que o deus iria falar.
—
Seres das Trevas! — A
voz de Nidhogg soava imponente a alta o suficiente para que qualquer um que
estava na praça pudesse ouvir-lo. —
Meus fiéis seguidores! Meus soldados! Meus companheiros nessa guerra! Nós
resistimos ao ataque do invasor! Nós mostramos para eles que nosso Império não
pode ser derrotado nem pela união de dois povos! Nós não podemos ser
subjugados, mas nós podemos subjugar! Nós somos o mais poderoso Império dessas
terras! Tivemos muitas perdas nessa batalha, é claro. E é exatamente por isso
que haverá retaliação. Nós vamos vingar a morte dos que aqui morreram lutando
pelo Império, lutando por todos nós! Vamos honrar a memória daqueles que deram
o próprio sangue pelo Império! Vamos fazer com que suas mortes não tenham sido
em vão! Vamos aniquilar o inimigo! Vamos ceifar a vida de todos os bárbaros e
membros da Tiamat que aparecerem em nosso caminho! Vamos marchar até suas casas,
fortalezas e reinos! Vamos fazer com que eles sintam não só a dor dos nossos
aliados, amigos e familiares que morreram, mas também a nossa dor! A dor
daqueles que tiveram peças fundamentais de suas vidas retiradas à força, sem
aviso prévio! Vamos fazer com que eles se ajoelhem perante nós! Vamos fazer com
que eles implorem por suas vidas patéticas até o último momento! Vamos fazer
com que o inimigo agonize até que nossas espadas, flechas e magias acabem com a
existência deplorável deles! Vamos, juntos, dar um fim aos que se opõe ao nosso
poder!
Uma explosão de palmas e urros surgiu por todos os lados.
Todos os que estavam presentes estavam eufóricos e, apesar da exaustão e dos
ferimentos, pareciam preparados para mais uma batalha. Nidhogg sorriu ao ver
seus homens tão entusiasmados.
—
Belo discurso. —
Tristan elogiou.
—
Obrigado. — Nidhogg
sorriu. — Mas ainda
não acabei.
O Lorde das Trevas levantou a mão de novo. Pouco tempo
depois, a multidão se acalmou. Apesar de fazem silêncio, todos estavam muito agitados.
—
É louvável que já se mostrem aptos a uma nova batalha, guerreiros, mas agora
não é a hora. —
Nidhogg disse. —
Devemos nos preparar não só espiritualmente para a próxima luta. Devemos
reconstruir o que foi destruído na cidade. Devemos tratar as nossas feridas. Devemos
enterrar nossos companheiros caídos. Devemos estabelecer as melhores
estratégias para os confrontos que estão por vir. Devemos saber agradecer uns
aos outros por estarmos vivos. Devemos descansar hoje para nos prepararmos para
um novo amanhã.
O olhar de todos os Demônios, assassinos, mercenários e
ladrões da cidade havia mudado. Um brilho de esperança estava em todos os
olhos, sem exceção. Todos aplaudiram o deus e, aos poucos, foram seguindo suas
vidas. Alguns foram direto para suas casas, a fim de tratar ferimentos ou
recuperar suas energias. Outros foram recolhendo os corpos que estavam
espalhados pelo chão ou, então, retirando os escombros de prédios caídos das
ruas. Uma minoria que, surpreendentemente, parecia bem já começava a discutir
planos para a retaliação contra os bárbaros e a Tiamat.
—
Bem... melhor eu voltar para o palácio. —
Disse Nidhogg. — Vou
ter muito trabalho a fazer agora. —
O olhar do Lorde das Trevas parecia melancólico. —
Ninguém disse que seria fácil criar e guiar seu povo, principalmente em
situações como essas. —
Ele sorriu. — Mas,
bem...fui eu que escolhi isso. Não me arrependo. Espero que você também não se
arrependa de suas escolhas, Tristan.
Nidhogg se transformou em trevas e foi direto para o
último andar do palácio.
“Minhas escolhas...é...não vai ser fácil...”.
—
Tristan! — A voz de
Lilith surgiu em um grito. —
Droga...perdi o Nidhogg. Só consegui chegar aqui agora. Tinha uma multidão no
meu caminho. Literalmente.
Tristan sorriu. Lilith pareceu perdida em seus
pensamentos por um instante e, rapidamente, jogou-se contra o guerreiro das
Trevas, abraçando-o.
—
Por um instante, achei que você não tinha sobrevivido. — Ele falou com a voz abafada. Seu rosto
estava junto ao peitoral da armadura de Tristan. —
Quando eu vi e ouvi quantos invasores estavam na cidade...e depois apareceu
aquele dragão...eu...eu...
—
Acalme-se. — Tristan
falou de maneira tranqüilizadora. —
Está tudo bem agora.
—
Sim, mas...eu senti tanto medo por você. E não podia sair de onde eu estava. Eu
não podia abandonar o Astaroth...
—
Astaroth... — Tristan
parecia ter levado um choque ao lembrar do amigo psicótico. — Ele está bem?
—
Ainda está vivo...mas em um sono profundo. Não sei quando ele via recuperar
todas as energias.
— Ótimo... — Tristan suspirou
aliviado. Ele olhou para Lilith. —
E você? Você parece tão bem que não parece que estava no meio dessa guerra.
—
Isso porque eu não usei mais nenhuma magia...diferentemente de você. — Ela sorriu. — Mas vejo que você está
inteiro até.
—
Graças ao Nidhogg.
—
Mesmo assim...que bom que você não morreu.
—
Digo o mesmo.
—
Não que você pareça muito preocupado comigo...
Tristan beijou a bochecha de Lilith e a abraçou mais
forte.
—
Não diga tolices. — O
guerreiro das Trevas sorriu. —
Eu posso não demonstrar muito bem, mas acredite, eu estava preocupado.
—
Se você diz...acho que posso acreditar. —
Disse Lilith sorrindo.
Tristan a soltou.
— Bem...eu vou tentar
recuperar um pouco das minhas energias agora. —
Tristan disse. — Acho
que só tenho forças suficientes para chegar até meu quarto.
—
Nesse caso...bons sonhos. —
Lilith o beijou na bochecha. —
Posso não estar esgotada que nem você, mas preciso dormir agora. Até mais!
Tristan se despediu com um aceno de mão. Rapidamente, ele
se transformou em trevas e surgiu em seu quarto, caindo no sono no mesmo
instante que se deitou em sua cama.
Nenhum comentário:
Postar um comentário