O Discurso
De repente, houve silêncio na cidade. Milhões de pessoas
pararam de falar. Todas sabiam o que aconteceria. Muitos estavam ansiosos por
aquele momento. Outros, entretanto, apenas queriam que aquilo acabasse o mais
rápido possível. Então ele apareceu.
Andando sobre um palco suspenso a mais de vinte metros de
altura, lá estava Adrian Bennett. Câmeras transmitiam a imagem dele por
incontáveis telões espalhados pela cidade. O homem de pouco mais de um metro e
oitenta de altura exibia um sorriso branco perfeito. Seu cabelo escuro era penteado
para trás. Seus olhos verdes brilhavam. A pele era cor de alabastro. O lustroso
terno que ele trajava era prata com uma gravata azul índigo. Aquele homem, que
havia chegado aos quarenta anos de idade recentemente, era o líder de toda
aquela nação que o observava.
Enquanto os milhões de cidadãos da grande nação de
Camelot olhavam em sua direção, Adrian sorria calmamente. Ele não só estava acostumado
com aquilo: ele adorava toda aquela atenção.
Confiante e elegante como sempre, ele começou a proferir
o seu discurso:
—
Como todos sabem, trinta anos atrás, nossa grande nação, Camelot, viu-se
obrigada a entrar em confronto com a outra potência deste continente: Asgard.
Depois de dez anos de guerra, nós, bem como eles, colocamos em prática os
nossos mais ambiciosos projetos de guerra.
Alguns dos telões começaram a apresentar novas imagens.
Adrian continuou a falar, desta vez, mais sério:
—
A Iniciativa Mjolnir usou todos os avanços tecnológicos desenvolvidos pela
Asgard em pró da construção de um exército robótico. Altamente resistentes a
danos físicos, de tiros de rifles a explosão de granadas, os androides inimigos
não temem nada. Usando armas de altíssima qualidade, o exército de Asgard luta
usando sempre cem por cento de seu potencial. Além disso, por serem máquinas,
eles podem ser construídos e consertados com rapidez estonteante. Assim, a
população de Asgard se sente confiante que seus servos robóticos, ao serem
instruídos corretamente, poderão levá-los à vitória.
Os telões apresentavam os robôs de Asgard. Um exército
monumental de aço, com soldados de várias formas e tamanhos, podia ser visto
por todos. Murmúrios preocupados começaram entre a população. Adrian não sabia
podia ouvir exatamente o que diziam, mas ele não se abalou. Tudo seguia
conforme ele havia planejado.
Com o sorriso caloroso e confiante de volta em seu rosto,
ele continuou o seu discurso:
—
Entretanto, nós, de Camelot, escolhemos outro caminho. Através da Iniciativa
Excalibur, nós apostamos no fator humano. Inúmeras batalhas já foram vencidas
no passado por causa do esforço de um pequeno grupo de soldados que, apesar de
se encontrarem em situações desfavoráveis, escolheu não desistir. E esse é o
poder único da humanidade. A nossa determinação pode mover montanhas se
realmente nos empenharmos. E foi exatamente por isso que colocamos o nosso
futuro nas mãos de nosso povo e, em especial, nas mãos de nossas novas
gerações.
As imagens do exército inimigo já haviam desaparecido dos
telões. Agora, o foco era Adrian.
Mais murmúrios vieram. Desta vez, porém, o teor de
preocupação parecia haver diminuído. Bennet continuou:
—
E por isso que hoje é um dia especial. Neste dia, vinte anos atrás, a
Iniciativa Excalibur começou e, agora, além de milhões de soldados que
escolheram servir o exército de Camelot, temos também dezenas de milhares de
guerreiros únicos. Criados desde o nascimento para esta guerra, estes jovens
surpreendem a nós e, principalmente, a Asgard. —
Ele fez uma breve pausa. —
Entretanto, diferente de como os povos antigos fariam, nós não o submetemos a
um treinamento militar brutal, quase desumano. Isso iria contra os nossos
princípios. Afinal, o nosso objetivo era criar um exército humano. — Os olhos de Adrian
brilhavam ainda mais agora. —
Acreditando que cada indivíduo tem um talento especial para algo, nossos jovens
guerreiros foram criados com este objetivo em mente: achar tal talento.
Os telões começaram, agora, a mostrar imagens do exército
de Camelot. Usando armaduras cinzentas, feitas com tecnologia de ponta, estavam
tropas de homens e mulheres, sem capacetes, no plano de fundo. Em destaque,
estavam os jovens criados pela Iniciativa Excalibur. Armados com armas de fogo
de ponta, todos exibiam um olhar confiante, porém, caloroso. Como Adrian havia
dito há pouco, o exército ainda era humano.
Ao ouvir murmúrios suficientes, Adrian resolveu dar
continuidade ao discurso, desta vez, com uma voz mais terna, como um professor
ou um pai ensinando algo para uma criança pequena:
—
Obviamente, certos treinamentos foram obrigatórios para todos. Não se pode ir
para uma guerra sem ter certo condicionamento físico ou, por exemplo, sem saber
atirar com um rifle. Entretanto, a partir do momento em que um dos jovens
encontrasse algo em que fosse excepcionalmente bom, nós o incentivávamos a
seguir por tal caminho.
De repente, todos os telões se apagaram. Este um segundo
foi o suficiente para surpreender a todos que ouviam o discurso. Entretanto,
Bennett continuava sorrindo confiante. Assim, ele disse, em alto e bom som, com
sua voz ecoando por todo o lugar:
—
De todos os guerreiros criados pela Iniciativa Excalibur, pode-se destacar
três. Esses são aqueles que frustram constantemente os planos de Asgard. Esses
são aqueles que são praticamente invencíveis no campo de batalha. Esses são
praticamente deuses que caminham entre nós.
A habilidade de Adrian Bennett transformar um discurso em
um show era invejável por muitos. Sua voz profunda e imponente refletia o seu
dom natural para a oratória.
Os telões voltaram a transmitir imagens. Um jovem, de não
mais de seis anos e com cabelos castanhos, podia ser visto por todos. Bennett
começou a dizer:
—
Era uma vez um simples garoto aficionado por tocar piano e jogar videogames. Um
jovem não muito fora do normal, com talvez a exceção da escolha do instrumento
musical. Entretanto, descobrimos algo: ele tinha um desempenho muito acima da média
em tais atividades. Isso se deve a agilidade que ele tinha com as mãos, em
especial com os dedos, e, também, com os olhos. Em não muito tempo, com o
apelido de Gunslinger, o jovem de, agora, dezessete anos de idade, tornou-se
uma lenda usando dois revólveres. Uma escolha de armas estranha para muitos.
Entretanto, poucos são aqueles que conseguem, de fato, dominar o uso de tais
pistolas. Gunslinger consegue sacar os revólveres, mirar, puxar o gatilho e até
recarregar as armas em uma velocidade muito maior do que muitos androides
feitos para tal propósito.
As imagens finais exibiam Rick Greyman, o Gunslinger,
demonstrando suas habilidades impecáveis com suas armas favoritas. Ele tinha,
agora, quase um metro e oitenta de altura, com porte físico esguio. O rosto
trazia traços finos e uma expressão compenetrada. Os cabelos desgrenhados, bem
como os olhos, eram castanhos.
De repente, os telões exibiam imagens de outra criança.
Desta vez, era uma garota de longos cabelos castanhos claros, com a idade por
volta de cinco anos. Adrian prosseguiu:
—
Outro caso extraordinário é de uma jovem que, atualmente, tem dezesseis anos.
Apesar de ser a mais nova dentre os nossos três grandes guerreiros, ela é capaz
de fazer algo que ninguém, a não ser ela, consegue fazer com tamanha maestria.
Sempre meticulosa e com mania de perfeição, a garota que ficou conhecida como
Deadeye é, sem dúvida, a melhor atiradora de elite que a Iniciativa Excalibur
já criou. Chega a ser engraçado como a adorável jovem que, quando pequena, era
a única preocupada com colorir um desenho sem ultrapassar suas linhas agora é
uma artista com um rifle de precisão.
Edith Stone, a Deadeye, podia ser vista com performances
espetaculares nas salas de treinamento pelos telões. Com quase um metro e
setenta de altura ela era, talvez, um pouco magra demais. A jovem tinha uma
expressão calma, quase entediada, no rosto de pele clara com algumas sardas.
Seu longo cabelo castanho claro tinha, agora, uma mecha lilás próxima a sua
orelha esquerda. Seus olhos azuis eram estonteantemente claros, quase irreais.
Como esperado, as imagens mudaram. Agora, os telões
mostravam um garotinho de pele cor de café, cabelo raspado rente e um sorriso
branco contagiante. Adrian prosseguiu:
—
Por último, temos o líder nato. Com agora dezoito anos de idade, temos
Commando. Este homem sempre teve um desempenho acima da média em todos os
treinamentos. Entretanto, diferentemente de Gunslinger ou de Deadeye, Commando
nunca se especializou no uso de nenhuma arma. E isso é por que este não era o
talento especial dele. Felizmente, descobrir o que o tornava único foi fácil.
Sempre rodeado de pessoas, ele era, como eu disse antes, um líder nato. Ninguém
duvidava das palavras ditas por Commando. Não por medo, mas sim, por confiança
e respeito. Ele era, sem dúvida, o amigo que todos queriam. Incentivando a
todos a lutarem por Camelot e, no geral, mantendo o bom humor de todos,
apartando eventuais brigas internas e, até, ajudando outros guerreiros a
descobrirem os seus talentos especiais: estas são as coisas que Commando faz
com um sorriso no rosto enquanto esta fora do campo de batalha.
Como alguns já imaginavam, os telões praticamente não
mostravam Thomas Moss, o Commando, armado. As imagens o mostravam sempre
rodeado de seus amigos, sempre sorrindo. O jovem homem, de um metro e oitenta cinco
de altura, era musculoso e confiante. Seu sorriso, branco e contagiante, e seu
corte de cabelo, rente, não haviam mudado desde que ele era pequeno. Entretanto,
seu queixo quadrado e seu olhar determinado o faziam parecer muito mais maduro.
Para finalizar seu discurso, Adrian Bennett disse, mais
confiante do que nunca:
—
Camelot, vocês podem ter certeza que estão em boas mãos. Eu darei continuidade
ao trabalho que meu pai começou. No final, os humanos prevalecerão. Eu
liderarei vocês a vitória. O continente de Morning Star será reunificado. E, principalmente,
as novas gerações nos levarão ao futuro: um futuro glorioso, livre de guerras
e, sem dúvidas, próximo.
Com urros e palmas, Adrian Bennett foi ovacionado por
todos que ouviram seu discurso. O sorriso no rosto do líder evidenciava que ele
estava mais do que satisfeito ao ouvir aquilo.
Distante da grande multidão, em um bar, um grupo de quatro
amigos estava sentado a uma mesa. Eles comiam batatas fritas enquanto assistiam
ao discurso em um telão próximo. Quando Bennett começou a ser ovacionado, um
deles disse:
—
Nada mal... Nada mal mesmo.
Havia sido Victor Andersen que havia falado. O jovem tinha
dezessete anos de idade. Com um metro e setenta e cinco de altura, ele não era
o mais alto do grupo, mas era, sem dúvida, o mais forte. O cabelo dele era
escuro e levemente espetado. Os olhos eram cor de mel. No geral, ele era quieto,
quase passando despercebido por onde passava. Entretanto, junto dos melhores
amigos, ele conseguia ser um pouco mais extrovertido.
—
É. Mas ele podia ter falado de mais gente. Nada contra o Thomas e o Rick,
mas...
Agora havia sido Nick
Hunter que havia falado. Ele era o mais velho do grupo, com dezenove anos de
idade. Com quase a mesma altura de Commando, porém, com um porte físico mais
esguio, ele chamava a atenção muito facilmente. Um dos motivos era o cabelo, penteado
para trás, sem um único fio fora do lugar, e colorido de prateado. Seus olhos
verdes eram penetrantes. Para completar, o rosto dele era belo, com traços
delicados e uma expressão confiante. Na maior parte do tempo, ele era tranqüilo,
sem nunca ter tido problemas para conquistar quem ele quisesse.
—
Nossa, mas, mesmo assim, aquilo foi muito legal. Até meio... surreal. O mandante
de toda Camelot...falando daquele jeito...de alguns dos nossos melhores amigos...
Sandy Hunter comentou. Com dezessete anos de idade e um
metro e setenta de altura, ela era a irmã mais nova de Nick. Bem como o irmão,
ela também era extrovertida e, acima de tudo, linda. Os seus cabelos ruivos
eram longos e ondulados. Seus olhos eram da mesma cor dos do irmão, porém, eles
eram mais gentis e calorosos. O belo rosto tinha uma expressão brincalhona,
quase sempre otimista, talvez um pouco infantil.
—
É... Nossa, a gente brincava de pega-pega com eles. Como o tempo passa
rápido...
O último a falar foi Jerry Fey. Com um metro e sessenta e
cinco de altura e dezesseis anos, ele era o mais baixo e, também, o mais novo
do grupo de amigos. Seu cabelo loiro era desgrenhado. Seus olhos eram negros
como a noite. No rosto, sempre havia uma expressão brincalhona. Sem dúvidas,
ele era o mais extrovertido do grupo. Raramente ele tinha problemas para
começar amizades. Além disso, ele tinha o dom natural para a comédia. Fazer os
amigos rirem era uma tarefa fácil para ele.
Enquanto o quarteto de amigos ria e conversava, dois
homens se aproximaram. Ambos deviam ter quase um metro e noventa de altura. O
da esquerda segurava uma garrafa de cerveja com a mão esquerda. O da direita
tinha os braços cruzados na frente do peito. Ambos pareciam irritados.
Os quatro amigos pararam de conversar e olharam para os
dois homens. Jerry, então, perguntou:
—
Algum problema?
—
A gente ouviu o que vocês estavam falando. —
Respondeu o da direita.
—
Vocês disseram que conheciam os caras que apareceram nos telões. — Acrescentou o da
esquerda.
—
Sim... — Concordou
Nick, tentando entender o que eles queriam.
Após um segundo de silêncio, o homem da esquerda disse:
—
A gente não acredita nisso.
—
Por que não? —
Indagou Sandy.
—
Por que vocês não parecem ser soldados. —
Respondeu o da direita. —
Principalmente você, princesa.
—
Princesa... —
Balbuciou Nick. Ele era um tanto quanto super protetor com a irmã. Por isso,
ele cerrou os punhos. Em seguida, porém, ele abriu um sorriso zombeteiro. — Até parece que dois
gorilas bêbados como vocês teriam alguma chance com ela...
O homem da esquerda trincou os dentes. O da direita
esbravejou:
—
Com quem você acha que você ta falando!?
—
Com alguém que não vale a pena. —
Respondeu Victor no lugar de Nick. Ele, então, olhou nos olhos do amigo. Ele
entendia o porquê de ele ficar irritado com aqueles dois. Mesmo assim, Andersen
desaprovava a atitude de Nick. —
Não é mesmo?
—
Você também acha que pode tirar sarro da gente!? —
Esbravejou, agora, o da esquerda.
—
Se você não quiser que tirem sarro de você, não os perturbe. — Disse mais outra pessoa.
Os dois homens mal encarados se voltaram para trás. Mesmo
embriagados, não era difícil de reconhecer quem estava na frente deles. Afinal,
aquele jovem de cabelos castanhos e olhar compenetrado havia aparecido nos
telões há pouco tempo atrás.
Os quatro amigos sorriram ao ver Rick Greyman, o
Gunslinger. O jovem retribuiu o sorriso e, então, disse:
—
Esses dois estão perturbando vocês?
Os dois homens tremeram. Aparentemente, eles não estavam
bêbados ao ponto de ignorarem os revólveres nos coldres do Gunslinger. Após
balbuciarem algo inteligível, os dois se afastaram. Com um sorriso no rosto,
Rick olhou para os amigos e disse:
—
Se eu não apareço, vocês estariam em apuros.
—
Se você acha... —
Murmurou Jerry.
Greyman e Fey não conseguiram conter o riso. Andersen e
os irmãos Hunter abriram um sorriso cada. De fato, os cinco já se conheciam há
muito tempo e sempre foram bons amigos. Rick, Victor e Nick, em especial, eram
bem próximos, já que treinavam muito juntos.
Apesar de estarem aproveitando o clima tranqüilo, eles
sabiam que, com Greyman por perto, em pouco tempo eles estariam em uma missão.
Assim, Jerry perguntou:
—
Temos mais quanto tempo de folga, senhor Gunslinger?
—
Por volta de mais uns dez minutos... —
Rick respondeu, não muito animado.
O quarteto se entreolhou. Eles sabiam que essa tranqüilidade
não duraria para sempre. Então, sem protestarem, todos se levantaram. Nick,
então, perguntou:
—
Quais de nós você vai precisar?
—
De todos. — Respondeu
Gunslinger.
Os quatro se entreolharam novamente. Agora, porém, eles
abriram um sorriso confiante. Assim, Sandy disse:
—
Bem...isso parece que vai ser divertido.
—
Vocês podem apostar nisso. —
Sorriu Rick. — Vamos.
Sigam-me.
Rindo e conversando, o quinteto começou a andar pela
multidão até a sede da Excalibur. Lá, além do centro de treinamento e das
acomodações, também se encontrava o quartel general de Camelot. Em pouco tempo,
eles saberiam qual missão os aguardava.
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