domingo, 10 de maio de 2015

A Queda, Capítulo 8

Divisão


Aquele ambiente deixava todos apreensivos. O lugar estava abandonado há muito tempo. Cacos de vidros estavam espalhados pelo piso branco e frio. Peças metálicas cinzentas e azuladas estavam amontoadas próximas a algumas paredes. Algumas marcas de sangue e óleo seco podiam ser vistas espalhadas pelo local. Pelo menos, esta era a parte visível. Boa parte do lugar estava imerso nas trevas. Entretanto, ninguém acreditava que o cenário mudaria radicalmente. Pensando assim, os mercenários e o Mago estariam certos. O androide sabia o que os aguardava.
O cenário de destruição e abandono não mudaria. Aquele androide sabia melhor que qualquer um. Afinal, ele havia passado metade de um milênio lá. Praticamente em um estado de transe, o robô havia sobrevivido. Suas energias praticamente não foram consumidas pela falta de atividade. Sua mente estava praticamente em estado de suspensão.
Como ele mesmo havia planejado, ele não sairia daquele estado até ser despertado pela presença de um humano. O som das vozes do Mago e de seus aliados cumpriu o requisito. Assim, com alguns minutos a sua disposição, o androide pôde despertar calmamente e, então, dirigir-se para fora do prédio para falar com os agora aliados.
Seguindo por dentro daquele lugar, o robô poderia, talvez, levar os mercenários e o Mago até os níveis mais profundos da cidade.
Judge, então, limpou a garganta e perguntou:
Você tem certeza de que não há algo que tentará nos surpreender neste local?
É seguro. Respondeu o androide. Tenha certeza disso. Faz muito tempo desde que uma forma de vida entrou neste local.
Se você diz... Silver murmurou enquanto olhava para todas as direções. O mercenário não confiava nem um pouco no que o androide dizia.
Após pensar um pouco, o robô humanoide disse:
A escuridão. Eu consigo ver através dela sem problemas, mas vocês não. Temo que vocês terão que arrumar alguma fonte de luz para entrar lá. Ele olhou rapidamente para cada um dos humanos enquanto pensava. Fogo... Vocês conseguiriam arrumar tochas?
Algumas risadas baixas soaram pela sala. O androide parecia confuso. Então, Psycho se aproximou dele e disse confiante:
Ora... Ele estendeu sua mão direita para o androide. Nela estava um cristal do fogo. Eu posso lhe garantir que podemos arrumar... O mercenário esmigalhou a pedra em sua mão. Uma bola de fogo surgiu e permaneceu quase inerte próxima de seu pulso. Tochas.
O androide olhou surpreso para Psycho. Aquilo que acontecera bem diante de seus olhos era bem real. Mesmo assim, ele não conseguia acreditar. Após alguns segundos, porém, o robô conseguiu indagar:
Como...você consegue fazer isso?
Eu não faço muita coisa. Admitiu Psycho. Eu apenas manipulo as chamas. Mas são esses cristais vermelhos que as produzem.
Um mineral... Balbuciou o androide. Um mineral capaz de criar fogo...
Não só fogo. Acrescentou Pierce.
O quê? O robô parecia ainda mais confuso.
Os poderes variam de acordo com o cristal. Esclareceu Silver.
Fogo, gelo, eletricidade, água, veneno... Enumerou Huntress. São apenas alguns dos elementos dos cristais.
Ah...entendo... Disse o androide sem muita firmeza. Então...de onde vieram esses cristais?
É o que pretendemos descobrir. Respondeu Overseer.
Esse é um dos motivos que nos trouxeram aqui. Acrescentou o Mago.
Certo... O robô humanoide murmurou.
Nunca viu do tipo aqui? Indagou Ghost.
Não. Respondeu o androide sem nenhuma emoção. Claramente, tudo aquilo o estava deixando ainda mais confuso.
Talvez... Balbuciou Specter, organizando as ideias. Talvez os cristais só tenham surgido após a queda dos Seraphs. Talvez os cristais sejam criações da tal criatura mitológica.
É uma hipótese plausível. O Mago admitiu.
Mas por quê? Questionou Judge. Por que a criatura criaria os cristais?
Talvez tenha algo a ver com os animais daqui. Arriscou Juggernaut.
Como assim? Indagou Silver.
Faz sentido. Disse Huntress.
Explique. Pediu Overseer.
Lembra de como aquele animal que parecia um coelho veio atrás do cristal? Perguntou a caçadora.
Sim... Concordou, Specter, murmurando. Então...as criaturas daqui têm algumas relação com os cristais. Mas...que tipo de relação?
Não sabemos. Respondeu Overseer. Pelo menos, não sabemos por enquanto.
Creio que descobriremos isso com o tempo. Afirmou Pierce. Bem como qualquer outro mistério envolvendo os cristais e esse lugar.
Certo. Concordou, um tanto quanto entediado, Psycho. E, para isso, temos que continuar avançando, não?
Todos começaram a trocar olhares. Alguns murmúrios foram ouvidos. Porém, não havia como questionar o que Psycho havia dito. Eles deveriam continuar em frente agora.
Logo, Overseer disse em alto e bom som:
Ótimo! Queridos, vamos...
Um ruído incomum soou, interrompendo a fala do líder mercenário. O som parecia um grito agudo sendo abafado por rangidos metálicos. Em uma fração de segundos, todos já sabiam a fonte do ruído. Era o androide.
Agora, o robô estava ajoelhado no chão, tremendo. A cena, obviamente surpreendeu a todos. Overseer, então, aproximou-se do aliado e perguntou:
O que aconteceu?
Minhas energias... Ele respondeu com a voz fraca. Elas...estão acabando...
Coma algo então. Propôs Juggernaut simplesmente.
Eu...não como. Esclareceu o androide.
Estranho... Murmurou Psycho.
O que é estranho? Indagou Huntress.
Ele. O mercenário apontou para o androide. Sua mão ainda estava em volta por chamas ao apontar. Como ele consegue sobreviver sem comer nada?
Não é assim...que androides...como eu...recuperam energia...idiota. Disse o robô humanoide.  
Certo... Psycho murmurou entediado.
Então como você recupera energia? Perguntou Ghost.
Com alguma...fonte... O robô começou a responder. Algum tipo...de combustível. Algo...como...
O androide não conseguia terminar de responder. Todos se entreolhavam e murmuravam. Ninguém parecia ter uma solução em mente. Até que, após refletir por quase um minuto, o Mago se aproximou do robô.
O cajado começou a mudar de cor. Agora amarela, a arma estava envolvida por eletricidade. O androide, novamente confuso, apenas observou a magia sendo feita bem diante de seus olhos.
Antes que qualquer um dos mercenários pudesse dizer algo, o Mago tocou a extremidade regular de seu cajado no peitoral do androide. Em uma fração de segundos, uma descarga elétrica se espalhou por todo o corpo do robô.
De imediato, o androide emitiu um som que parecia um suspiro de alívio. Ele, então, olhou para o Mago. O homem a sua frente tinha o braço direito estendido em sua frente. O androide, então, estendeu o mesmo braço, permitindo que o Mago o ajudasse a se erguer.
Agora de pé, o robô perguntou para aquele que o ajudou:
Esse poder...também veio dos cristais?
Não. Respondeu o Mago. Veio de mim.
Como!? O androide parecia ainda mais surpreso.
Nada mais normal, não? Indagou Silver. Afinal, ele é um Roc.
E o que isso tem a ver? Perguntou o robô.
Ah...Rocs são magos. Respondeu, simplesmente, Huntress. Todos os membros dessa tribo conseguem usar magia sem ter que recorrer a cristais.
Entretanto, não existem outros humanos capazes de tais feitos. Afirmou Judge.
Usar magia é algo tão natural para eles quanto andar ou falar. Acrescentou Specter.
Tem algo relacionado à própria natureza por trás desses poderes. Ghost tentou esclarecer.  
O androide ainda parecia confuso. Após alguns segundos, entretanto, ele fez mais uma pergunta:
Desde...quando?
Como assim? Indagou o Mago.
Desde quando o seu povo tem todo esse poder?
O Mago pareceu um pouco aturdido após ouvir a pergunta. Porém, após alguns segundos, ele conseguiu dizer, apesar de baixo como um sussurro:
Desde...sempre... Ele hesitou por alguns segundos. Mais uma vez, o Mago deveria questionar aquilo que lhe foi ensinado pelos Rocs. Quase certo da resposta que estava por vir, ele resolveu perguntar. Não é?
Abanando a cabeça horizontalmente, o androide respondeu:
Não. O seu povo sempre teve uma forte ligação com a natureza, isso é verdade. Apesar de algumas ameaças e rituais que usavam plantas e algumas partes de animais, eles nunca puderam fazer nada contra os Seraphs. Magia...estava longe não só do alcance dos Rocs, mas como também do resto da humanidade. Ele bufou. Muita coisa mudou nesse tempo, hein...?
Muitas perguntas estavam na cabeça de todos. Obviamente, o Mago era o que mais estava aturdido. Porém, agora que o androide havia recuperado suas energias, eles poderiam seguir e frente. E assim.
Iluminados com a luz de chamas, o grupo caminhou pelo local devastado. De acordo com o robô, não deveriam haver criaturas no local. Até o momento, pelo menos, o que ele disse podia ser confirmado facilmente.  Por isso, murmúrios podiam ser trocados pelos mercenários com certa tranqüilidade. Entretanto, eles se recusavam a baixar a guarda por completo. Nada mais prudente.
Após quase uma hora de caminhada por corredores devastados e três vezes que eles usaram elevadores, energizados por magia elétrica, os membros do grupo chegaram a uma sala que destoava da paisagem a qual eles haviam se acostumado.
Iluminada pelos velhos cubos de luz branca, o salão se assemelhava muito ao exterior dos prédios da cidade. As estruturas serem feitas de metal azulado também reforçava essa ideia. Entretanto, o teto de pouco mais de três metros de altura lembrava a todos que o espaço não era aberto.
Ao todo, haviam três portas idênticas na sala. Considerando a porta pela qual o grupo entrou no salão como sul, havia uma porta a oeste e outra a norte. Então, o androide disse:
Aqui é uma intersecção entre a fábrica onde estávamos e dois centros de pesquisa distintos. Agora, nós podemos seguir por qualquer um destes caminhos. Entretanto, se formos em frente, pegaremos um atalho em relação ao caminho à esquerda.
Creio que não haverá discussão sobre isso. Sorriu, confiante, Overseer. Seguiremos pelo caminho mais rápido.
Houveram alguns murmúrios após a decisão do líder mercenário. Entretanto, ninguém se opôs ao que foi dito. Assim sendo, o androide disse:
Ótimo. Vamos em frente.
Calmamente, o grupo seguiu em direção ao portão escolhido. Passo a passo, aqueles que estavam à frente do resto atravessaram-no. Porém, um ruído começou a soar. Vindo do portão, barulhos metálicos pareciam ecoar.
Mas o quê...? O robô humanoide murmurou.

Porém, antes que alguém pudesse fazer algo, as grandes placas de metal deslizaram na horizontal e se uniram. Assim, o portão de aço reforçado se fechou, separando o grupo em dois.

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