sábado, 31 de dezembro de 2016

Teaser 4A

Teaser 4A


Um flash de luz. A sala se iluminou. Algo começou a andar então, fazendo o piso de madeira ranger a cada passo dado. Os olhos atentos da besta vasculhavam. Seu focinho farejava o ar. Sua língua de serpente lambia os beiços. A sua infeliz presa estava lá, em algum lugar, escondida. Tinha certeza disso.
Dentro de um armário velho, John espiava pela fresta da porta. Ele observava os movimentos de seu caçador com temor. Seu coração acelerava à medida que a criatura se aproximava. Suas pernas tremiam além de seu controle agora. Sua visão ficava turva, querendo não mais ver o que via.
O desejo de desistir assombrava o homem. Abrir a porta, se jogar diante dos pés da besta e esperar por um fim rápido. Ele podia fazer isso. Mas não. O ímpeto tinha que ser controlado se quisesse sobreviver à noite. Vencer aquele jogo doentio uma só vez. Era tudo o que precisava, não? John não tinha certeza. Mas tinha que arriscar. Não podia perder as esperanças ainda.
O assobio veio então. Um som agudo, estridente, que se tornava mais alto a cada instante. Era a melodia que trazia o desespero, a música que trazia a dor. Algo que, não importava quantas vezes ouvisse, John não conseguia se acostumar. Seu corpo inteiro tremia, antecipando seu fim novamente.
John trincou os dentes, tentando não deixar um grito escapar. Suas mãos correram até os ouvidos numa tentativa desesperada de abafar o som. Ele sentiu o suor das palmas contra o rosto. Estavam trêmulas. Estavam sem forças. Estavam desconfortavelmente geladas.
Então, um calafrio percorreu sua espinha.
O ar se tornou gélido. Sua pele começou a perder a cor, perdendo a vida que tinha. Seu sangue começou a gelar, percorrendo suas veias como veneno. Não demorou para que cada membro de seu corpo fosse atingido, congelando lentamente enquanto perdia os sentidos.
Logo, não mais sentia. Não tinha mais a capacidade. O frio havia ido embora e, com ele, foi o controle do próprio corpo.
John olhou para os próprios braços. Eles haviam caídos, inertes, ainda presos aos ombros. E agora, suas mãos não mais protegiam seus ouvidos.
O frio quase fez John se esquecer do assobio.
O maldito som estava de volta. Agora, agulhas pareciam ser empurradas lentamente contra seus tímpanos, afundando para dentro de sua cabeça, causando o máximo de dor possível antes que a presa caísse sem vida.
John não aguentava mais. Ele queria desistir. Ele iria desistir. Ele tinha que desistir.
Sua boca se abriu. Um grito soou. O assobio parou. O tempo parou por um instante. A criatura, então, correu para sua presa.
Mas não foi na direção de John. O grito foi de uma outra pessoa. Algum desgraçado caiu numa armadilha deixada pela besta. Um infeliz devia estar com a perna presa por uma estada de metal naquele instante. John se lembrava daquela dor.
Ele respirou fundo. Tinha que se recompor. Agradeceu pela pobre alma que, sem saber, havia salvo sua vida mesmo que por um breve instante.

John tinha que voltar a correr. E assim o fez.

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