Suffering
Sofrimento
Tristan derrubou sua espada e
caiu de joelhos enquanto cobria os ouvidos. O guerreiro ficou desorientado pelo
grito da deusa.
“Maldita! Eu...não consigo
ouvir mais nada!”.
Após alguns segundos, Tristan
conseguiu se levantar. A escuridão o envolvia novamente.
“O quê...?”.
Aos poucos, os sons de gemidos
e sussurros voltaram. A voz da deusa ecoava pela caverna, apesar de não soar
nitidamente.
“Isso...é uma espécie de jogo
para ela...?”.
Tristan pegou sua espada de
volta e respirou fundo.
—
Muito bem... — O
guerreiro das Trevas murmurou e apontou sua espada para a escuridão a sua
frente. — Vamos
brincar.
Apesar de um pouco relutante,
Tristan voltou a vagar pela escuridão da caverna. Os sussurros e gemidos, aos
poucos, pareciam se transformar em risadas. Cada vez mais histérica a Deusa da
Tristeza ria. O riso foi se tornando cada vez mais maníaco e perturbador. A
atmosfera foi se tornando mais fria pouco a pouco.
“Isso...isso tudo faz parte do
poder dela...? Mas como?”.
De repente, um flash de luz
vermelho brilhou poucos metros a frente de Tristan. A intensidade fora bem mais
fraca do que da última vez. As risadas cessaram em um único instante. Uma
pequena câmara da caverna agora estava iluminada por uma luz vermelho-sangue.
Sem hesitar, Tristan andou em frente. Sua aura escarlate pulsava e se misturava
ao local. A Deusa da Tristeza não estava lá.
“Apareça...”.
Tristan estava, agora, no
centro da câmara. Absolutamente nenhum som podia ser ouvido, a não ser a
própria respiração do guerreiro.
—
Apareça... — Tristan
murmurou.
A respiração do guerreiro se
tornou mais pesada. As paredes e o teto da câmara pareciam se aproximar
gradualmente de Tristan.
—
Apareça. — O
guerreiro ordenou.
Uma risada soou atrás de
Tristan.
“Atrás, hein?”.
O guerreiro das Trevas trincou
os dentes e apertou firmemente o cabo da espada em sua mão. Em uma fração de
segundos, Tristan se virou para trás e desferiu um corte horizontal. O golpe
acertou o vazio. Os olhos de Tristan se arregalaram. Novamente, ele derrubou a
espada e caiu de joelhos.
—
Não... — O guerreiro
das Trevas suspirou. —
Não...por favor...isso não...
A imagem da mãe de Tristan
estava à frente dele. A figura tremeluzia, parecendo ser feita de fumaça. Os
olhos da mulher eram buracos escuros como o da Deusa da Tristeza. Uma espada
estava cravada na barriga dela. Sangue escorria da ferida. A expressão de dor
estava estampada no rosto da mulher. Com dificuldade, ela estendeu a mão
direita para Tristan.
—
Meu filho... — A voz
da mulher o chamou.
Sem hesitar, Tristan esticou a
mão direita para a imagem da mãe. De repente, uma risada grave soou atrás dela.
Em um instante, a imagem do Demônio que havia matado a mãe de Tristan se
materializou atrás dela.
—
Mãe! — O guerreiro
gritou com todas as forças. —Atrás
de...!
Antes que Tristan pudesse
terminar de falar, a mulher olhou para trás. Antes que ela pudesse reagir, o
Demônio desferiu um ataque velozmente. Uma espada cortou o corpo da mulher na
vertical. Exatamente como fumaça, a imagem da mulher se desfez.
—
Não! — Tristan rugiu
e socou o chão.
—
Novamente, você não pôde fazer nada para me impedir. — O Demônio riu. — Mais uma vez, você foi impotente.
Ao terminar de dizer essas
palavras, a imagem do Demônio também se desfez. Entretanto, a risada grave dele
continuou a ressoar pela caverna.
“Não...”.
Tristan segurou as lágrimas.
“Essa deusa...ela afunda suas
vítimas na tristeza. Ela faz qualquer coisa para conseguir fazer isso. Sorrow
me disse isso. Os meus piores medos e arrependimentos...os piores momentos da
minha vida...”.
O guerreiro das Trevas se
levantou e olhou para frente. Alguns pontos de luz cintilavam em meio à
escuridão.
—
Alguém tão covarde assim nunca vai conseguir me derrubar. — Tristan disse com a voz
firme.
Como resposta, uma risada maníaca
soou pela caverna.
“Ótimo...”.
Tristan trincou os dentes e
seguiu em frente. Caminhando em direção aos pontos luminosos, sussurros
começaram a soar mais alto em torno do guerreiro. Em poucos segundos, as vozes
se tornaram nítidas.
—
Fraco... — Uma voz feminina
disse.
—
Imprestável... — Uma
voz masculina sussurrou.
—
Patético... — Uma voz
grave retumbou.
Mais vozes continuaram a
insultar Tristan. Sem se importar, o guerreiro seguiu em frente. Entretanto,
apesar de continuar caminhando em direção às luzes, Tristan não se aproximava
delas.
“Droga...”.
Tristan parou de andar.
“Mais um truque barato...”.
As vozes começaram a ficar
ainda mais altas. Aos poucos, elas se tornaram gritos perturbadores.
—
Parem! — Tristan
ordenou.
Antes que as vozes parassem por
vontade própria, uma explosão de chamas negras surgiu vinda do guerreiro das
Trevas. Com um coro de gritos estridentes, as vozes se silenciaram.
“Pronto...”.
De repente, um choro começou
vindo juntamente de soluços.
“Mais o que agora...?”.
—
Venha... — A voz da
Deusa da Tristeza soou na orelha direita de Tristan.
Rapidamente, o guerreiro das
Trevas se voltou na direção da voz. A risada da deusa soou vinda da mesma
direção. Em um instante, um corredor surgiu iluminado por uma luz violeta.
Tristan respirou fundo.
“Eu não desistir agora...”.
O guerreiro das Trevas entrou
no corredor e seguiu em frente. De repente, um coro de choros e soluços
começou. Ignorando os sons inquietantes, Tristan prosseguiu com passos firmes.
Após alguns segundos, o guerreiro percebeu que uma fina camada de neblina
estava se formando no chão.
“Da onde isso...?”.
Tristan olhou para frente.
Graças a uma leve inclinação no terreno, o caminho a frente descia rumo ao
desconhecido. A neblina e a escuridão eram as únicas coisas visíveis. Tristan
bufou e seguiu em frente.
“Até quando isso...”.
—
Eu deveria...ter sido sincero com ela. —
Uma voz masculina disse em um tom melancólico. —
Mas agora...não há mais como.
—
O quê? — Tristan
parecia confuso.
“O que foi isso? Não...me
pareceu como uma tentativa de me assustar...”.
—
Eu...nunca...quis...ser...uma...maga. —
Outra voz disse entre soluços. —
Mas...meus pais...nunca...me...ouviram.
“Isso são...os arrependimentos
de outras pessoas...?”.
—
O meu filho...eu...eu... —
Uma voz grave disse tomada por emoção. —
Eu peço que você me desculpe. Eu não pude te proteger. Eu...sinto muito.
“Esses são...as vítimas da
deusa...”.
Tristan apertou o passo. Mais
vozes surgiam a cada segundo se lamentando por acontecimentos infelizes. O
guerreiro não se importou. O lugar ficava mais frio à medida que ele avançava.
A neblina já estava na altura de seus joelhos. Em poucos minutos, Tristan
voltou à escuridão.
“Aquilo...terminou...”.
Tristan respirou aliviado. De
repente, uma ventania gélida atingiu o guerreiro. Em um instante, a temperatura
do local caiu bruscamente.
“Droga...”.
—
Tristan...meu filho. — Uma
voz masculina o chamou.
O guerreiro olhou para trás.
Uma imagem de seu pai tremeluzia.
—
Filho... — O homem
sorriu. — Você...
—
Não! — Tristan rugiu.
— Você não vai fazer
isso de novo comigo!
O guerreiro das Trevas correu
em direção à escuridão, correndo da imagem.
“Não...essa deusa vai...”.
—
Por que está fugindo, filho? —
O homem perguntou.
A imagem do pai de Tristan
estava agora bem à frente do guerreiro das Trevas.
—
Você vai me abandonar...de novo? —
A figura indagou.
Sem responder nada, Tristan
correu através da imagem do pai. O homem se desfez no mesmo instante. Sem
hesitar, Tristan continuou correndo. O ar se tornava mais frio. A névoa já
estava na altura de sua cintura. Os lamentos pareciam estar aumentando
incessantemente.
—
Você só quer fugir de tudo, não é? —
Uma voz masculina familiar surgiu à esquerda de Tristan.
Era uma versão do Duque Wallace
feito de fumaça. Uma aura luminosa envolvia o corpo do governante, iluminando a
sua volta. O Duque corria na mesma velocidade de Tristan.
—
Você já fez isso uma vez. —
O Duque disse rispidamente. —
Tenho certeza que poderia fazer de novo.
Tristan trincou os dentes. Sem
parar de correr, o guerreiro das Trevas cortou Wallace ao meio com sua espada.
A figura do Duque se desfez em um único segundo. Tristan correu ainda mais
rápido em meio a escuridão. As vozes ainda o atormentavam. O frio ainda o
incomodava. A neblina já estava na altura de seus ombros. O caminho não parecia
ter fim.
“Eu...já não estou mais
aguentando...”.
—
Tristan? — Desta fez,
uma voz feminina familiar o chamou.
De repente, a névoa
desapareceu. Tristan se viu em uma nova câmara. Uma luz amarela iluminava o
local. O frio havia passado. Tristan conseguia respirar mais facilmente agora.
—
Tristan? — A voz
chamou novamente. —
Meu amor...é você?
“Não pode ser...”.
Tristan se voltou lentamente
para trás. Isolde estava bem a sua frente agora.
“Você...não...”.
A imagem de Isolde,
diferentemente das outras, não tremeluzia. A antiga amada de Tristan parecia
sólida e viva.
—
Eu não acredito... —
Lágrimas começaram a escorrer do rosto de Isolde. — É você mesmo?
—
Eu...eu... — Tristan
balbuciou. —
Isolde...eu...
Isolde correu até Tristan e,
antes que ele pudesse reagir, ela o abraçou.
“Isolde...”
Tristan abraçou de volta a
mulher.
“Algo dentro de mim não quer
acreditar, mas...essa é Isolde. O rosto, os cabelos, o aroma, o calor...”
Tristan fechou os olhos.
—
Isolde... — O
guerreiro sussurrou no ouvido dela. —
Eu nunca vou me separar de você de novo...
—
Tristan... — Ela
suspirou. — Meu
amor...abra os seus olhos.
O guerreiro sorriu. Sem
questionar, Tristan obedeceu. Em uma fração de segundos, seu sorriso
desapareceu. Ele estava de volta nas ruínas da cidade de White Plains. O corpo
morto de Isolde jazia a sua frente.
“Isso...foi...de uma covardia
sem igual...”.
Lágrimas brotaram dos cantos
dos olhos de Tristan. O guerreiro caiu de joelhos e olhou para os céus.
—
Eu não agüento mais... —
Tristan murmurou.
O ar tornou-se mais frio.
Risadas maníacas surgiram de todos os cantos.
—
É o fim... — O
guerreiro bufou.
Com um movimento rápido,
Tristan se levantou, virou-se para trás e desferiu um ataque horizontal com sua
espada. O golpe atingiu a barriga da Deusa da Tristeza. Ela olhou para Tristan
com medo estampado no rosto.
—
Como... — A deusa
disse com a voz fraca. —
Como você...?
—
Você não é só fraca, deusa. —
Tristan disse com a voz fria que não usava há muito tempo. — Você também é uma
covarde. Você não só se afundou nas próprias mágoas, mas como levou outros a
esse mesmo fim. Você não só desistiu de viver, como você também arruinou a vida
de inocentes. Você é simplesmente patética. Você é asquerosa. Se você não dá
valor à vida, eu não me importo, desde que você não prejudique os outros. Eu
garantirei que você não arraste mais ninguém com você, por que eu darei um fim
a sua existência patética.
Em uma fração de segundos,
Tristan cravou sua espada na clavícula da deusa. No mesmo instante, a paisagem
mudou. Eles estavam de volta à caverna. Tristan respirou aliviado e tirou a
lâmina do corpo da deusa. O guerreiro das Trevas olhou para o corpo da
adversária no chão. O rosto dela havia mudado.
“Justo quando eu achava que ela
não podia ser mais patética...”.
O rosto da deusa estava
inchado. Sua pele era pálida e estava completamente enrugada. As dezenas de
cicatrizes persistiam. Havia dúzias de sardas em suas bochechas. O nariz
parecia quase afundado no rosto. As orelhas eram largas. O cabelo castanho era
longo e sem brilho, completamente desgrenhado.
“Com uma aparência tão triste,
não me admira o seu comportamento...”.
Tristan deu de costas para o
cadáver da deusa que jazia na poça de seu próprio sangue. Ele caminhou
calmamente para fora da caverna que, agora, tinha poucos metros de extensão.
“Foram como várias Ilusões...”.
O guerreiro invocou sua poção e
a tomou sem pressa.
“Foi tudo falso, mas, mesmo
assim...foi muito problemático”.
Tristan respirou aliviado e
sorriu quando viu uma silhueta familiar se aproximando.
—
Sorrow. — O guerreiro
das Trevas o chamou.
Após dar mais alguns passos, o
homem caiu.
—
Sorrow!
Nenhum comentário:
Postar um comentário