quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Capítulo 42

Checkmate
Xeque-mate

Tristan caiu de joelhos. O sangue começou a escorrer pela ferida em seu ombro.
“Droga...”.
Em poucos instantes, duas linhas de sangue escorriam até o chão. Uma passava pelo peito de Tristan e, a outra, por suas costas. Gotas rubras atingiam o chão. Ao olhar para a esquerda, Tristan viu a espada de Stor a poucos centímetros de seu pescoço.
O duelo não havia acabado ainda, criatura das Trevas. O rei bárbaro disse ofegante. Você deveria ter se certificado...de que eu havia morrido. Se você tivesse feito isso...você teria ganho o duelo. Você teria desferido um golpe final contra mim, mas...você foi tolo. Você...presumiu que eu não haveria sobrevivido. Você...subestimou a minha armadura. As minhas costas...bem, devo admitir que você fez um estrago nelas. Você a destruiu...digo, destruiu as costas dela. Agora tenho alguns arranhões...mas...isso não importa agora. Sabe por quê? Stor riu. Por que você perdeu. Por que eu ganhei. Por que eu estou vivo. Por que você...você logo estará morto.
O som de uma lâmina atravessando pele e ossos foi o único que soou na sala por um instante.
Eu não faço a mínima ideia do que ele disse, mas vou presumir que ele ainda acreditava que estava duelando. Disse Shadowing.
Com um movimento rápido, o Demônio encapuzado retirou sua alabarda das costas de Stor. O rei bárbaro caiu inerte no chão enquanto a arma de Shadowing desaparecia nas sombras. Com certa dificuldade, Tristan se levantou. O guerreiro das Trevas, juntamente com Migrasi e Gabriel, olhou para o Demônio.
Qual o problema? Shadowing indagou levemente irritado.
Não creio que devêssemos interferir em um duelo. Disse Gabriel em tom de reprovação. Principalmente em um duelo contra um rei.
Mas...
Não importa o motivo.
Eu...
Salvar a vida de seu amigo não justifica o que você fez, Shadowing.
Cale-se! O Demônio bradou. Deixe-me falar!
Idiota...eu acabei de falar. O que você fez...não é justificável. Então...nem tente. Não gaste saliva, Demônio.
Gabriel... Tristan interveio. Em um instante, o guerreiro sombrio invocou uma Poção das Trevas e a bebeu. A ferida em seu ombro se fechou. Seu rosto estava aparentemente mais tranqüilo. Ele apoiou sua mão esquerda no ombro direito de Gabriel.   Deixe-o falar. Não vamos causar nenhum tipo de confusão entre nós agora. Não se esqueça que ainda estamos em território inimigo.
Bem... O guerreiro da Luz bufou. Certo. Ele se voltou para Shadowing. Justifique-se.
Parece que você não compreende a situação em que estamos, Gabriel. O Demônio disse claramente irritado. Estamos em uma missão de assassinato seguida pela invasão desse reino. Não há tempo para brincarmos de duelar com algum bárbaro viciado em lutas.
Ora...aparentemente, temos visões muito diferentes quanto a ética durante a guerra, Demônio. Gabriel bufou.
Nós certamente discordamos nesse quesito. Disse Tristan voltado para o guerreiro da Luz.
Gabriel se voltou em direção ao guerreiro das Trevas. Tristan fitava o aliado com seriedade.
Apoiando seu amiguinho das Trevas, hein? Gabriel indagou com um sorriso sinistro no rosto.
Sim, mas não por sermos seres das Trevas. Tristan respondeu calmamente. Eu estou apoiando Shadowing por que concordo com ele. Estamos em uma situação em que cordialidades são totalmente desnecessárias. Não se esqueça que temos uma missão para cumprir. Não se esqueça que dois reinos contam com o nosso sucesso. Não podemos nos dar ao luxo de falhar por que seguimos as regras do inimigo. Ele sorriu. Mas...não se preocupe, caro Gabriel. Nossa aliança temporária está para se expirar...e quando isso acontecer, nós voltaremos a ser inimigos...até que um de nós morra. Tristan invocou sua espada e a apontou na direção do rosto do Escolhido de Leviathan. Estamos entendidos?
Eu não gostaria que fosse de qualquer outro jeito. Gabriel disse com um largo sorriso no rosto.
Espero não estar atrapalhando. Disse alguém no idioma das Terras do Norte.
No mesmo instante, Tristan, Shadowing, Gabriel e Migrasi se voltaram na direção da voz. Um homem que trajava uma armadura de ferro levemente enferrujada estava parado na entrada da sala. Seus olhos eram azuis escuros. Sua barba rala e cabelos lisos eram castanhos quase grisalhos. Em seu rosto, algumas rugas eram visíveis, porém, eram bem menos numerosas do que as cicatrizes profundas, prováveis marcas de batalhas vividas. No lado esquerdo de sua cintura, estava uma espada de aço ornamentada com inscrições antigas. Em suas costas, uma lança feita inteiramente a partir de um metal negro brandia o estandarte de urso.
Quem seria você? Gabriel se adiantou em perguntar.
Kloke, o conselheiro do rei. O homem respondeu. Por mais que ele raramente me ouça... Ele olhou para o Stor morto no chão alguns metros adiante e bufou. Eu sabia que isso iria acontecer... Kloke coçou a nuca. Bem...até que demorou para acontecer.
Ah...você...vocês está falando no nosso idioma? Shadowing perguntou.
Sim. Kloke respondeu com simplicidade. Eu sou um conselheiro, logo, tenho que ser um intelectual entre guerreiros que só emitem grunhidos. Eu tenho que adquirir conhecimento e, para isso, tenho que buscar várias fontes. Existem conhecimentos que passam entre vocês, ou até em outros reinos, que não chegam até aqui. Por isso, aprendi alguns outros idiomas. Aprendi sobre a cultura de vários povos. Enfim, eu me tornei o humano mais inteligente que vocês poderiam conhecer.
Isso pra não mencionar o quão humilde e inseguro você é. Tristan zombou.
Ora...sarcasmo, hein? Kloke arqueou uma sobrancelha. É um sinal de inteligência. Ele riu. Mas duvido que você demonstre mais algum sinal.
Presunçoso...
Você acha? Kloke sorriu. Então, prove que eu estou errado.
Ótimo. O guerreiro das Trevas sorriu.
Em uma fração de segundos, Tristan se transformou em trevas e atravessou Kloke.
Pronto. O Escolhido de Nidhogg sorriu. Agora você está quieto.
Kloke caiu de joelhos com a espada de Tristan cravada em sua barriga. O conselheiro do rei pousou suas mãos sobre o cabo da espada, mas ele não tinha forças para fazer mais nada.
Eu não preciso ouvir o que você tem a dizer. Disse Tristan. Você não me tinha utilidade. Por isso, sendo você meu inimigo, eu o matei. Comentários?
Ora... Kloke cuspiu sangue. Você...é bem lógico...devo admitir...
Obrigado.
Mas...como você pôde ter certeza...de que não tinha nenhuma utilidade...para você?
O nosso objetivo aqui é claro. Matar o rei. Chamar a atenção de vocês. Matar alguns bárbaros em uma emboscada. Tomar a cidade em um ataque com dois exércitos.
Ah...sim...entendo. Luz e...Trevas...unidas...por um objetivo em...comum. Não é...a primeira vez. Mas...mesmo assim...você não acha prudente...tentar conseguir alguma...informação...de mim? Algo...sobre nós...sobre os bárbaros?
Eu não sou tão curioso assim.
É uma pena...
Se você diz...
Bem...permita-me contar-lhe algo...antes de eu...morrer...
Se você insiste... Tristan bufou. Diga.
Vocês...não devem subestimar o nosso exército...
Ah...certo. O guerreiro das Trevas riu. Algo mais?
Vocês...não sairão vivos daqui...
Claro que não... Tristan zombou.
De repente, a sala começou a tremer. Tristan e seus aliados tentavam manter-se em pé enquanto o chão balançava. As armas expostas nas paredes caiam uma a uma rapidamente. Kloke tentava rir apesar de ter uma espada cravada em seu abdômen.
O que é isso!? Gabriel indagou.
Não pode ser um terremoto...nem uma avalanche próxima ao local. Shadowing disse com firmeza. Caso contrário, ele não estaria rindo. O Demônio apontou para Kloke. Você...
Shadowing  andou com passos largos até o conselheiro do rei e torceu a espada em sua barriga levemente para a direita. Kloke gritou e bradou algo no idioma das Terras do Norte.
Shadowing... Tristan chamou. Faça isso por mais um instante e talvez ele morra sem falar nada.
Bem...certo O Demônio soltou o cabo da espada. Agora...explique o que está acontecendo.
A sala tremia mais intensamente agora.
Bem...aposto que vocês...não conseguiram ver...o castelo muito bem...por causa...da nevasca. Disse Kloke. Então...tenho certeza...que vocês...não viram...um detalhe...especial...sobre esta sala.
Diga logo o que é! Gabriel bradou.
Ora...esta sala...não possui...nenhum andar...abaixo dela.
Como assim? Indagou Tristan.
Bem...esta sala...não tem nenhuma...sustentação. Ela é...simplesmente...fixada à uma...das paredes do castelo. Derrubar esta sala...em alguma emergência...é muito simples. Sendo que o rei...adorava duelar...bem...eu sempre imaginei...que esse dia chegaria.

Antes que alguém pudesse dizer mais alguma coisa, a sala se soltou da parede.

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