Checkmate
Xeque-mate
Tristan caiu de joelhos. O
sangue começou a escorrer pela ferida em seu ombro.
“Droga...”.
Em poucos instantes, duas
linhas de sangue escorriam até o chão. Uma passava pelo peito de Tristan e, a
outra, por suas costas. Gotas rubras atingiam o chão. Ao olhar para a esquerda,
Tristan viu a espada de Stor a poucos centímetros de seu pescoço.
—
O duelo não havia acabado ainda, criatura das Trevas. — O rei bárbaro disse ofegante. — Você deveria ter se
certificado...de que eu havia morrido. Se você tivesse feito isso...você teria
ganho o duelo. Você teria desferido um golpe final contra mim, mas...você foi
tolo. Você...presumiu que eu não haveria sobrevivido. Você...subestimou a minha
armadura. As minhas costas...bem, devo admitir que você fez um estrago nelas.
Você a destruiu...digo, destruiu as costas dela. Agora tenho alguns
arranhões...mas...isso não importa agora. Sabe por quê? — Stor riu. —
Por que você perdeu. Por que eu ganhei. Por que eu estou vivo. Por que
você...você logo estará morto.
O som de uma lâmina
atravessando pele e ossos foi o único que soou na sala por um instante.
—
Eu não faço a mínima ideia do que ele disse, mas vou presumir que ele ainda
acreditava que estava duelando. —
Disse Shadowing.
Com um movimento rápido, o
Demônio encapuzado retirou sua alabarda das costas de Stor. O rei bárbaro caiu
inerte no chão enquanto a arma de Shadowing desaparecia nas sombras. Com certa
dificuldade, Tristan se levantou. O guerreiro das Trevas, juntamente com
Migrasi e Gabriel, olhou para o Demônio.
—
Qual o problema? —
Shadowing indagou levemente irritado.
—
Não creio que devêssemos interferir em um duelo. —
Disse Gabriel em tom de reprovação. —
Principalmente em um duelo contra um rei.
—
Mas...
—
Não importa o motivo.
—
Eu...
—
Salvar a vida de seu amigo não justifica o que você fez, Shadowing.
—
Cale-se! — O Demônio
bradou. — Deixe-me
falar!
—
Idiota...eu acabei de falar. O que você fez...não é justificável. Então...nem
tente. Não gaste saliva, Demônio.
—
Gabriel... — Tristan
interveio. Em um instante, o guerreiro sombrio invocou uma Poção das Trevas e a
bebeu. A ferida em seu ombro se fechou. Seu rosto estava aparentemente mais
tranqüilo. Ele apoiou sua mão esquerda no ombro direito de Gabriel. —
Deixe-o falar. Não vamos causar nenhum tipo de confusão entre nós agora. Não se
esqueça que ainda estamos em território inimigo.
—
Bem... — O guerreiro
da Luz bufou. —
Certo. — Ele se
voltou para Shadowing. —
Justifique-se.
—
Parece que você não compreende a situação em que estamos, Gabriel. — O Demônio disse
claramente irritado. —
Estamos em uma missão de assassinato seguida pela invasão desse reino. Não há
tempo para brincarmos de duelar com algum bárbaro viciado em lutas.
—
Ora...aparentemente, temos visões muito diferentes quanto a ética durante a
guerra, Demônio. —
Gabriel bufou.
—
Nós certamente discordamos nesse quesito. —
Disse Tristan voltado para o guerreiro da Luz.
Gabriel se voltou em direção ao
guerreiro das Trevas. Tristan fitava o aliado com seriedade.
—
Apoiando seu amiguinho das Trevas, hein? —
Gabriel indagou com um sorriso sinistro no rosto.
—
Sim, mas não por sermos seres das Trevas. —
Tristan respondeu calmamente. —
Eu estou apoiando Shadowing por que concordo com ele. Estamos em uma situação
em que cordialidades são totalmente desnecessárias. Não se esqueça que temos
uma missão para cumprir. Não se esqueça que dois reinos contam com o nosso
sucesso. Não podemos nos dar ao luxo de falhar por que seguimos as regras do
inimigo. — Ele
sorriu. — Mas...não
se preocupe, caro Gabriel. Nossa aliança temporária está para se expirar...e
quando isso acontecer, nós voltaremos a ser inimigos...até que um de nós morra.
— Tristan invocou sua
espada e a apontou na direção do rosto do Escolhido de Leviathan. — Estamos entendidos?
—
Eu não gostaria que fosse de qualquer outro jeito. — Gabriel disse com um largo sorriso no rosto.
—
Espero não estar atrapalhando. —
Disse alguém no idioma das Terras do Norte.
No mesmo instante, Tristan,
Shadowing, Gabriel e Migrasi se voltaram na direção da voz. Um homem que
trajava uma armadura de ferro levemente enferrujada estava parado na entrada da
sala. Seus olhos eram azuis escuros. Sua barba rala e cabelos lisos eram
castanhos quase grisalhos. Em seu rosto, algumas rugas eram visíveis, porém,
eram bem menos numerosas do que as cicatrizes profundas, prováveis marcas de
batalhas vividas. No lado esquerdo de sua cintura, estava uma espada de aço ornamentada
com inscrições antigas. Em suas costas, uma lança feita inteiramente a partir
de um metal negro brandia o estandarte de urso.
—
Quem seria você? —
Gabriel se adiantou em perguntar.
—
Kloke, o conselheiro do rei. —
O homem respondeu. —
Por mais que ele raramente me ouça... —
Ele olhou para o Stor morto no chão alguns metros adiante e bufou. — Eu sabia que isso iria
acontecer... — Kloke
coçou a nuca. —
Bem...até que demorou para acontecer.
—
Ah...você...vocês está falando no nosso idioma? —
Shadowing perguntou.
—
Sim. — Kloke
respondeu com simplicidade. —
Eu sou um conselheiro, logo, tenho que ser um intelectual entre guerreiros que
só emitem grunhidos. Eu tenho que adquirir conhecimento e, para isso, tenho que
buscar várias fontes. Existem conhecimentos que passam entre vocês, ou até em
outros reinos, que não chegam até aqui. Por isso, aprendi alguns outros
idiomas. Aprendi sobre a cultura de vários povos. Enfim, eu me tornei o humano mais
inteligente que vocês poderiam conhecer.
—
Isso pra não mencionar o quão humilde e inseguro você é. — Tristan zombou.
—
Ora...sarcasmo, hein? —
Kloke arqueou uma sobrancelha. —
É um sinal de inteligência. —
Ele riu. — Mas duvido
que você demonstre mais algum sinal.
—
Presunçoso...
—
Você acha? — Kloke
sorriu. — Então,
prove que eu estou errado.
—
Ótimo. —O guerreiro
das Trevas sorriu.
Em uma fração de segundos,
Tristan se transformou em trevas e atravessou Kloke.
—
Pronto. — O Escolhido
de Nidhogg sorriu. —
Agora você está quieto.
Kloke caiu de joelhos com a
espada de Tristan cravada em sua barriga. O conselheiro do rei pousou suas mãos
sobre o cabo da espada, mas ele não tinha forças para fazer mais nada.
—
Eu não preciso ouvir o que você tem a dizer. —
Disse Tristan. — Você
não me tinha utilidade. Por isso, sendo você meu inimigo, eu o matei.
Comentários?
—
Ora... — Kloke cuspiu
sangue. — Você...é
bem lógico...devo admitir...
—
Obrigado.
—
Mas...como você pôde ter certeza...de que não tinha nenhuma utilidade...para
você?
—
O nosso objetivo aqui é claro. Matar o rei. Chamar a atenção de vocês. Matar
alguns bárbaros em uma emboscada. Tomar a cidade em um ataque com dois
exércitos.
—
Ah...sim...entendo. Luz e...Trevas...unidas...por um objetivo em...comum. Não
é...a primeira vez. Mas...mesmo assim...você não acha prudente...tentar
conseguir alguma...informação...de mim? Algo...sobre nós...sobre os bárbaros?
—
Eu não sou tão curioso assim.
—
É uma pena...
—
Se você diz...
—
Bem...permita-me contar-lhe algo...antes de eu...morrer...
—
Se você insiste... —
Tristan bufou. —
Diga.
—
Vocês...não devem subestimar o nosso exército...
—
Ah...certo. — O
guerreiro das Trevas riu. —
Algo mais?
—
Vocês...não sairão vivos daqui...
—
Claro que não... —
Tristan zombou.
De repente, a sala começou a
tremer. Tristan e seus aliados tentavam manter-se em pé enquanto o chão
balançava. As armas expostas nas paredes caiam uma a uma rapidamente. Kloke
tentava rir apesar de ter uma espada cravada em seu abdômen.
—
O que é isso!? — Gabriel
indagou.
—
Não pode ser um terremoto...nem uma avalanche próxima ao local. — Shadowing disse com
firmeza. — Caso
contrário, ele não estaria rindo. —
O Demônio apontou para Kloke. —
Você...
Shadowing andou com passos largos até o conselheiro do
rei e torceu a espada em sua barriga levemente para a direita. Kloke gritou e
bradou algo no idioma das Terras do Norte.
—
Shadowing... —
Tristan chamou. —
Faça isso por mais um instante e talvez ele morra sem falar nada.
—
Bem...certo — O
Demônio soltou o cabo da espada. —
Agora...explique o que está acontecendo.
A sala tremia mais intensamente
agora.
—
Bem...aposto que vocês...não conseguiram ver...o castelo muito bem...por
causa...da nevasca. —
Disse Kloke. —
Então...tenho certeza...que vocês...não viram...um detalhe...especial...sobre
esta sala.
—
Diga logo o que é! —
Gabriel bradou.
—
Ora...esta sala...não possui...nenhum andar...abaixo dela.
—
Como assim? — Indagou
Tristan.
—
Bem...esta sala...não tem nenhuma...sustentação. Ela é...simplesmente...fixada
à uma...das paredes do castelo. Derrubar esta sala...em alguma emergência...é
muito simples. Sendo que o rei...adorava duelar...bem...eu sempre
imaginei...que esse dia chegaria.
Antes que alguém pudesse dizer
mais alguma coisa, a sala se soltou da parede.
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