terça-feira, 10 de novembro de 2015

Um Outro Mundo, Capítulo 13

13.


Poderiam ter passado minutos ou horas. Ele não tinha como saber.
Joshua acordou abruptamente. Com os olhos arregalados e respiração pesada, ele parecia ter acabado de se salvar de um afogamento.
Lentamente, o rapaz se levantou e, inevitavelmente, olhou para sua frente.
A imponente montanha de escombros estava a sua frente. Além dela, estava a única saída conhecida do lugar, agora, inacessível. Sob ela, estavam três corpos.
Desculpem-me... Joshua disse baixo pensando em Richard e Cristina, quase como se orasse pelos dois. E... Principalmente... Obrigado...
De repente, o rosto de Behemoth veio em sua mente. Joshua trincou os dentes. Porém, logo se acalmou. A risada do maníaco não mais veio o perturbar.
Adeus. Joshua disse secamente para Behemoth.
Então, o rapaz se voltou para trás. Agora, a passagem estava livre. Se não houvessem mais surpresas, ele logo estaria junto de Adriana.
Com passos rápidos, Joshua subiu as escadas, degrau seguido de degrau, até chegar a uma porta de madeira. A aparência velha e quebradiça dela era um bom sinal. Afinal, se ela estivesse trancada, não deveria ser difícil derrubá-la.
Entretanto, não foi preciso. Joshua girou a maçaneta redonda lentamente e, emitindo um rangido agudo, a porta se abriu.
Cautelosamente, o rapaz entrou na nova sala.
Joshua foi então surpreendido pelo cenário.
A sala, apesar de não ser muito grande, era digna de fazer parte da mansão. O papel de parede vermelho, o chão de madeira tão limpo que parecia brilhar, os candelabros dourados acesos nas paredes, o grande lustre no teto, a luz do luar que entrava gentilmente pela janela, junto às cortinas de seda. Tudo parecia perfeito demais.
Lindo, não? Disse uma voz familiar.
Joshua se voltou para trás, já esperando por Margareth. Entretanto, a visão o deixou atordoado.
Uma mulher que mais parecia ser uma princesa saída de um conto de fadas sorria para o rapaz. Ela usada um longo vestido de cetim azul como o céu da manhã. Sobre seus cabelos castanhos avermelhados, uma tiara prateada reluzia. O colar de pérolas em seu pescoço era tão belo quanto seu sorriso. Sua pele era tão branca e suave quanto algodão. Seus olhos verdes pareciam esmeraldas.
Lindo... A mulher repetiu. Mas não passa de uma ilusão...
Quando ela terminou de dizer aquelas palavras, a sala se transformou completamente.
Tudo escureceu. A luz dos candelabros se tornou fraca, quase morta. A luz da lua parecia ter sido coberta por nuvens negras. Agora, Joshua mal conseguia ver a mulher a sua frente.
Mas gostamos de nos enganar, não? Ela continuou a dizer. Gostamos do belo, seja real ou idealizado, não é mesmo?
Joshua sentiu seu corpo tremendo. Da janela, apenas rajadas de ventos frios e impiedosos vinham. O rapaz sentia o seu corpo mais frio a cada instante que se passava.
Você saindo daqui com ela nos braços... A mulher riu. Quão romântico... E improvável. Mas... Acreditar nisso é o que te faz seguir em frente... Nesse instante, o rosto de Margareth surgiu dentre as sombras, pálido, como se emitisse uma luz alva e fantasmagórica. Não é mesmo!?
Joshua caiu para trás, sentado, com o coração disparado dentro do peito.
Margareth gargalhou enquanto o resto da sala se iluminava lentamente. Todo o belo cenário estava definhado, tão decrépito quanto a própria assombração que ria.
Você pode ter sobrevivido até agora, caro Joshua... Disse Margareth. Mas eu o asseguro que, entre você e sua amada, apenas um sairá daqui vivo.
Se esse for o caso... O rapaz disse enquanto se levantava, recuperando-se do susto e encarando o monstro sem medo. Eu morrerei para salvá-la.
Ah... O rosto dela se contorceu com desgosto. Claro que vai... Ela zombou. Como se você fosse capaz de fazer isso...
Você verá.
Não. O que eu verei é você sofrendo... O que eu verei é você fracassando... O que eu verei é você em agonia nos seus últimos instantes de vida... Margareth exibiu um largo sorriso. Você verá...
Lentamente, ela desapareceu diante dos olhos de Joshua, como se desfizesse e se misturasse com o ar.
Antes que o rapaz pudesse pensar em qualquer coisa, o grito de Adriana soou.
Alarmado, Joshua correu em direção a única nova porta do lugar. Aquela tinha que ser a passagem que o levaria até sua amada.
Com a porta aberta, o rapaz viu a sala sombria a sua frente e, no centro dela, uma escada em caracol. O único caminho era descer os velhos degraus de madeira.
Como som de mais um grito de desespero de Adriana, Joshua esvaziou sua mente de todos os pensamentos.
Desesperado, ele correu escadas abaixo, pisoteando em cada degrau e os ouvindo ranger como o crepitar de uma fogueira.
Após o que pareceu ser uma eternidade, Joshua chegou a um pequeno corredor de pedra que mais parecia ser parte de um antigo castelo. O lugar, fracamente iluminado, apresentava dois caminhos possíveis para o rapaz. À esquerda havia uma porta de madeira fechada. Á direita havia uma porta que havia sido derrubada. Talvez aquilo fosse obra de Behemoth.
Entretanto, Joshua não olhou para a esquerda uma segunda vez. Afinal, na pequena sala revelada pela porta à direita estava uma mulher de longos cabelos castanhos trajando uma camiseta preta, calças jeans e botas beges.
Ele parecia não acreditar. Joshua estava, agora, a apenas alguns metros de distância de sua amada.
A mulher, entretanto, não parecia bem. Presa por correntes de aço nos pulsos e tornozelos, Adriana não conseguia nem mesmo olhar para frente. Com as roupas em frangalhos, pele extremamente pálida e a cabeça baixa, era difícil dizer se ela ainda vivia.
Adriana... Ele murmurou. Adriana...
Lentamente, Joshua andou até a sua amada. Com a voz sumindo, ele chamou por Adriana, esperando uma resposta, tentando manter as esperanças.
Em pouco tempo ele estava lá, em frente à mulher que amava.
Sem receber uma resposta, o rapaz caiu de joelhos.
Adriana... Joshua conseguiu dizer. Meu amor... Não...
Ela ainda está viva. Disse Margareth.
Joshua se voltou para trás, ainda de joelhos.
Ela só está fraca. A assombração continuou. Sabe... Behemoth não é muito bom em cuidar de seus bichinhos...
Joshua voltou o seu olhar para Adriana. Podia ter sido apenas impressão dele, mas ele jurou ver sua amada respirar, mesmo que muito fraca, inflando e desinflando o peito lentamente.
Adriana... O rapaz tocou gentilmente nos cabelos castanhos dela. Vou te tirar daqui... Nós voltaremos para o nosso mundo juntos...
Eu adoraria te ver tentar fazer isso... Margareth zombou.
Enfurecido, Joshua se levantou e encarou o monstro sem olhos na saída da sala.
E você? O rapaz indagou. Não vai fazer nada? Vai apenas ficar me perturbando como uma mosca?
Insolente... Margareth trincou os dentes. Caso você não tenha percebido, eu não mato com as minhas próprias mãos. Não, não... Meu trabalho é trazer monstros até vocês, humanos. Aí sim vocês são mortos. Ela abriu um largo sorriso. Como você acha que Behemoth te achou? Posso lhe garantir que não foi por acaso...
Hm... Joshua pareceu chocado. Entretanto, aquilo foi por apenas um segundo. E então? Quem você vai chamar? Behemoth não virá dessa vez.
Morto ele não está. Retrucou Margareth. Eu ainda posso sentir sua presença. Afinal, ele está tão perto... E tão ferido. Vai demorar um pouco pro grandalhão voltar à ativa. Entretanto, tenho outros amigos que podem cuidar de você. Apenas espere. Espere e...
Ela não conseguiu terminar de falar. Uma lâmina em formato de lua crescente atravessou seu peito.
Margareth olhou para baixo sem poder acreditar. Lentamente, ela levou as mãos à fria lâmina da foice.
Ninguém virá por você. Disse Estmund. Eu mesmo me certifiquei disso.
Bruscamente, o ceifador retirou a lâmina de sua arma do corpo de Margareth.
Com um último grito de pavor, ela se desfez em um punhado de pó.
Em questão de segundos, não havia mais resquícios de Margareth.
Joshua caiu de joelhos e, então, olhou maravilhado para Estmund que, lentamente, se aproximava do jovem.
É... É você mesmo? O rapaz indagou.
Ora... O ceifador sorriu. Mas é claro que sou.
Ah... Obrigado.
Não precisa agradecer.
Você... Você acabou de me salvar. Ele riu. A Morte acabou de salvar a minha vida.
Joshua riu novamente, alegre como nunca.
Entretanto, toda a felicidade abandonou sua face quando ele sentiu a ponta da Lamina gelada da foice de Estmund contra a sua pele.

Veja bem... A feição do ceifador se tornou séria. Minha intenção não é salvar a sua vida. Apenas quis salvar a sua alma, entende? Salvá-la para que, no fim, ela seja minha. E, esteja certo de que este é o fim... Para você e sua amada, pelo menos. 

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