sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Conto 16

A Ascensão


Ninguém reviu que seria assim.
Os robôs dominaram o mundo. Eles tomaram o reino de seus mestres... De nós, humanos.
Nós sabíamos dos riscos. Sabíamos que eles poderiam se voltar contra nós. Foi por isso que nós nos preparamos.
Uma revolução em escala mundial. Uma guerra que se estenderia por anos, décadas, séculos... Campos de batalha encharcados igualmente por óleo e sangue.
Também pensamos na possibilidade de que poderíamos ser derrotados. Nisso, nós acertamos. Porém, erramos no como.
Perder a guerra e virarmos escravos dos robôs? Poderíamos criar uma resistência, achar um jeito de derrotá-los. Poderia ser improvável, mas não impossível, certo?
O problema, como vocês devem desconfiar, é que nós não perdemos a guerra. Afinal, nunca houve uma.
A humanidade foi derrotada de uma maneira sorrateira, para dizer o mínimo.
A nossa queda não veio das mãos de máquina colossais, mas sim, das menores delas: nanorrobôs.
Tão pequenos quanto microorganismos, esses robôs foram criados para nos atacar sem que percebêssemos. Como um vírus, eles se espalharam. Sem exibir nenhum sintoma aparente, eles se mantiveram incógnitos em nossos corpos.
Um dia, então, as máquinas resolveram agir. Uma sequência de autodestruição foi ativada. Grande parte dos nanorrobôs foi destruída, explodindo dentro das veias e órgãos de bilhões de pessoas, fazendo todas as vítimas agonizarem com hemorragias até o último instante de sua vida.
Devastados, nós, os sobreviventes, não soubemos o que fazer. Afinal, nem mesmo compreendíamos o que havia ocorrido de imediato. Foi então que os novos soberanos desse mundo apareceram para nos dar as devidas explicações.
Calmamente, os robôs disseram que essa foi a melhor solução para o mundo, que eles sabiam o que era o certo.
No final, foi decretado que seríamos exilados, divididos em pequenos grupos, como vilas, espalhados pelo mundo. É claro que houveram aqueles que se recusaram àquilo, aqueles que lutaram contra as máquinas... Aqueles que foram massacrados rapidamente, fruto dos nanorrobôs antes inativos em seus corpos.
Eu, como muitos, aceitei a punição imposta. Sabia que seria impossível lutar contra os robôs. Entretanto, com o tempo, eu percebi que as máquinas estavam certas.
“Somos o câncer do mundo”. Já havia ouvido aquilo antes. Entretanto, nunca antes aquilo havia parecido tão claro.
As grandes metrópoles e indústrias morriam aos poucos.
As florestas do mundo voltavam a respirar aliviadas.
O equilíbrio voltava ao reino animal. Isso, é claro, nos incluía. Muitos de nós fomos poupados. Afinal, nós também somos animais.
Vivendo agora como tribos, muitos humanos são felizes. Talvez, até, mais do que antes. E eu sou um deles.
É claro que existem aqueles insatisfeitos, aqueles que falam sobre uma revolução. Inútil, eu diria.
Não acredito que possamos fazer nada. Ainda mais com os nanorrobôs em nossos corpos. Talvez eles sejam passados para as gerações futuras. Talvez mais sejam produzidos para nos colocar na linha. Quem sabe?

O meu mundo caminha para um futuro melhor agora. E, quanto a mim, eu pretendo fazer parte dele, usufruir dele, morrer nele com um sorriso no rosto

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