O Bicho Papão
Minhas negras garras alcançaram a janela aberta
Puxaram-me para dentro do quarto, sem fazer barulho
Colocando-me bem diante de minha doce descoberta
Sob os lençóis, lá estava o ingênuo embrulho
Dormindo gentilmente a garota estava
Sem alguma preocupação, sem algum tormento
Sem ouvir o meu riso grave que soava
Por antecipação ao que eu faria sem arrependimento
Com passos leves, eu me aproximei dela
De quem seria meu próximo joguete
Daquela criança tão meiga e singela
Que seria o meu próximo banquete
Porém, algum ruído devo ter feito
Pois aqueles olhos se abriram de repente
E logo me olharam com aquele jeito
Como se sua morte fosse iminente
Entretanto, a garota acabou por não gritar
O que era, para dizer o mínimo, estranho
Afinal, ela não podia simplesmente se controlar
Diante de um monstro daquele tamanho
Em silêncio, a pequena me observava
Com olhos vidrados, cada vez com menos medo
Pois algo em mim sem dúvida a cativava
O que trouxe à minha boca um gosto azedo
Com um rugido, desisti de minha caçada
Partindo daquela casa rosnando enfurecido
Em direção àquela escuridão desgraçada
De uma noite que eu desejei ter esquecido
Nenhum comentário:
Postar um comentário