Proposta
Acordei como nunca antes.
Quando abri os olhos, eu estava em pé, no meio de uma
sala completamente branca. Não via nenhum objeto lá. Isso incluía portas e
janelas.
Eu também não sentia nada. Nem frio nem calor. Nem mesmo um
sopro de ar fresco vindo de algum canto.
Aliás, até o chão parecia não estar ali. Não sentia meus
pés tocarem nada. Mesmo assim, lá estava eu. Em pé. Andando em círculos.
—
Ei! — Uma voz veio de
trás de mim.
Eu me virei rapidamente.
Deparei-me com um homem, trajando um terno preto, sentado
em uma simples cadeira de madeira. Seu rosto, entretanto, estava escondido sob
uma máscara que mais parecia a face de um manequim: branca, sem expressão,
cobrindo-lhe os olhos e boca inclusive.
Entretanto, os pequenos detalhes pareciam não atrapalhar
o homem, nem na fala nem na visão.
—
Você mesmo! — Ele
apontou para mim. Não que houvesse mais alguém naquela sala, mas o homem talvez
tenha achado que aquele gesto seria cômico. —
Chegue mais perto! Venha!
Com três passos, eu já estava quase pisando nos pés do
homem de terno. Sem dizer nada, fiquei apenas o observando.
—
Bem... — Ele disse
após alguns instantes. —
Sente-se.
O homem estava me encarando, apoiando a cabeça na mão
direita.
—
Onde...? — Murmurei,
sem ânimo.
—
Na cadeira. — Ele
respondeu com calma. —
Bem atrás de você.
—
Claro...
Eu permaneci parado, tentando entender ainda o que estava
acontecendo.
A única conclusão que eu podia chegar era que aquilo era
algum tipo de sonho bizarro.
Entretanto, tudo aquilo parecia muito real, por mais
intangível que o ambiente pudesse ser.
Mais rápido do que parecia possível, o homem mascarado se
levantou e, com um toque em meu peito, fui para trás, caindo sentado.
Incrédulo, olhei por cima do ombro, vendo o encosto da
cadeira em minhas costas.
Rapidamente, olhei para toda a cadeira de madeira. Era
exatamente como a do homem de terno a minha frente.
—
Então... — Ele
começou a falar calmamente.
Eu olhei para o sujeito. Agora, ele tinha uma xícara de
porcelana na mão direita e um pires na esquerda.
Eu olhei, intrigado, enquanto o homem levava a xícara até
a boca e bebia seja lá o que for que era. Aparentemente, a máscara não
atrapalhava naquela situação também.
—
Chá de camomila? —
Ele ofereceu.
—
Ah... — Limpei a
garganta. — Não.
Obrigado.
—
Você que sabe. — Ele
tomou mais um gole do chá. —
Se você quiser, tem mais à sua esquerda.
Rapidamente, me virei para o lado. Agora, havia uma mesa
de madeira. No topo dela, havia uma chaleira prateada, uma xícara e um pires de
porcelana.
—
Que sonho estranho você está tendo, não é? —
O sujeito riu baixo.
—
Só que não é um sonho. —
Disse rispidamente. —
Não é mesmo?
—
Bem... Às vezes, a realidade é mais estranha que a ficção, não é?
—
Só me diga o que está acontecendo.
—
É bem simples na verdade: eu tenho uma proposta para te fazer. — Ele me olhou diretamente
nos olhos, o que era inquietante com aquela máscara sem expressão. — Uma proposta que você
dificilmente poderá recusar.
—
Que seria? — Antes
que ele pudesse responder, percebi que eu havia mais a falar. — Aliás, quem é você?
—
Ora... — Ele riu
baixo. — Eu sou Deus
e vim te oferecer uma troca. A sua vida pela minha. O que acha?
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