2.
Joshua mal sabia dizer o que havia acontecido.
Sua mente parecia haver se tornado confusa, quase
caótica.
A risada aguda e aterrorizante de uma mulher ecoava
dentro de sua cabeça. Seu rosto estava gravado em suas memórias. Entretanto,
ela não podia ser mais vista.
Aterrorizado, Joshua esteve paralisado por alguns
instantes. Porém, ele não tinha como perceber isso.
Sozinho, de joelhos em uma rua escura, o rapaz começava a
duvidar de sua própria sanidade.
Culpando o próprio cansaço pelos pensamentos confusos,
Joshua se levantou, com certo esforço, e começou a andar em direção ao seu
prédio.
Pelo menos, isso era o que o jovem queria. Afinal, Joshua
nem sabia onde estava.
Tudo ao redor do rapaz lhe parecia vagamente familiar. Cada
rua, poste de luz, parede e prédio. E era exatamente esse o problema. Nada
servia de orientação. Assim, mais parecia que Joshua estava preso em um
labirinto.
Sem carros, motos ou mesmo outras pessoas em vista, o
jovem decidiu andar pelo asfalto da rua. Não havia nenhuma razão especial. Era
apenas algo que ele sentiu que deveria ser feito.
Andando mais rápido a cada minuto que passava, a calma ia
se esvaindo do rapaz. Se a situação não se alterasse, sua sanidade teria o
mesmo destino em breve.
Talvez aquilo fosse apenas um pesadelo. Talvez Joshua
ainda estivesse dormindo no ônibus. Talvez ele tivesse caído no sono em seu escritório
horas atrás.
Aqueles eram pensamentos mais felizes e racionais.
Entretanto, a realidade logo seria revelada para Joshua da pior forma possível.
Alguns metros à frente, havia um prédio abandonado de
três andares, mesmo tamanho daqueles em torno dele. Seguindo aquela rua, ele
poderia escolher virar à esquerda ou à direita em breve.
Perdido em seus pensamentos, porém, o jovem não ouviu os
passos e a respiração ofegante vindo na direção dele.
Quando ele percebeu, era tarde demais.
Uma mulher, que corria desesperadamente, foi de encontro
contra Joshua. Ambos caíram na rua.
O jovem levantou o mais rápido que pôde, tentando se
afastar da mulher que havia caído junto com ele.
Entretanto, ao vê-la se levantando, Joshua sentiu um
misto de pena e pavor.
A mulher, que devia ter um pouco menos de um metro e
setenta de altura, usava calças jeans, tênis de corrida brancos, uma camiseta
branca e, por cima, uma jaqueta de couro bege. Tudo estaria normal se não
fossem pelos detalhes. A camiseta e a jaqueta estavam manchadas de sangue. Uma
ferida profunda na coxa esquerda vertia sangue. O rosto claro, de olhos azuis
claros e cabelos loiros e cacheados seria lindo. Entretanto, Joshua não
conseguia apreciar a beleza dela com aquela expressão de terror na face, com os
olhos arregalados, com as lágrimas escorrendo pelo semblante, com as sutis
gotas de sangue que respingaram na testa e bochechas, com a orelha direita que
havia sido dilacerada e com o pedaço de fita isolante que cobria seus lábios.
O que quer que a mulher tenha tentado dizer, Joshua não
tinha como entender. A voz dela estava abafada graças à fita isolante.
Ao perceber que não conseguiria se comunicar com o rapaz,
a jovem resolveu voltar a correr.
Entretanto, ela logo caiu.
Uma faca prateada atravessou o ar rapidamente a atingiu a
panturrilha direita da mulher.
Os gritos de dor soaram como murmúrios ao serem abafados.
—
Não pense que você vai escapar tão fácil, docinho...
A voz grave veio da rua à esquerda, a mesma de onde a
mulher havia vindo.
Joshua se virou lentamente na direção do desconhecido.
O rapaz voltou a duvidar de sua sanidade quando viu o
homem que mais parecia um monstro.
O sujeito tinha mais de dois metros de altura. Seu corpo cinzento
mais parecia uma montanha de músculos coberto por cicatrizes e sangue que, Joshua
poderia arriscar, não era dele. Suas calças azuis, quase negras, haviam sido
cortadas irregularmente abaixo dos joelhos. Na cintura havia outra faca
prateada, junto ao cinto, brilhando. Seus pés estavam descalços. Seu peito, nu.
Nas costas, ele carregava uma mala de couro, antes cinza, agora ensopada de
sangue. Seu cabelo, levemente espetado, era tão claro que era praticamente
branco. No rosto, um largo sorriso aterrorizante com lábios azuis e, como a
mulher de antes, dois vazios no lugar dos olhos.
—
Ora, ora... — O homem
riu histericamente, levando as duas mãos aos cabelos e olhando para o alto. — Quando acordei hoje, não
achei que fosse achar três presas no mesmo dia.
O cérebro de Joshua parecia estar voltando a funcionar
lentamente. Pelo menos, ele entendia que aquele maníaco já havia matado alguém
antes e, do jeito que aquela jovem estava no chão, ela seria a segunda vítima.
Entretanto, se o rapaz não agisse rápido, ele poderia ser o número três.
Repentinamente, o gigante sacou a faca da cintura e a
arremessou.
O mais rapidamente que ele pôde, Joshua se agachou.
A lâmina passou por onde a cabeça do jovem estava parada,
atravessando e ar e se cravando no chão de asfalto.
—
Até que você é ligeiro, hein? —
O maníaco riu. —
Talvez eu tenha que me aproximar...
Aos ouvir aquelas palavras, Joshua começou a dar passos
cautelosos para trás.
À medida que o assassino se aproximava dele, o jovem se
afastava, horrorizado pela expressão de alegria no rosto sem olhos do gigante.
Joshua parou de andar por um instante. Ele ouviu os murmúrios
de desespero não muito longe dele.
Ao olhar para o chão, a menos de três metros a frente
dele, o rapaz viu a jovem, de bruços, arrastando-se no chão com dificuldade.
Joshua queria poder ajudá-la. O desespero nos olhos da
jovem fazia com que ele se sentisse mal por pensar em abandoná-la. Entretanto,
não havia mais esperança para ela.
—
Vou atrás de você depois que eu cuidar dessa daqui... — O maníaco sorriu. — Então, espere quietinho aí...
Ele estava, agora, bem ao lado da jovem. Antes que ela
pudesse olhar para trás, o gigante se agachou e, bruscamente, retirou a faca da
panturrilha dela.
Mais um grito de jovem foi abafado. Mais lágrimas
escorreram de seus olhos azuis arregalados.
O maníaco ria suavemente enquanto se levantava, brincando
com a faca como se fosse um pino de malabarismo. Ele andou até o lado da cabeça
da jovem, que ainda rastejava pelo asfalto, cantarolando algo. Com um sorriso
ainda mais largo do que antes, o maníaco olhou na direção de Joshua.
—
Sabe... — O gigante
começou a falar. — Eu
realmente não queria ter vindo com as facas hoje. Mas essa daqui... — Ele pisou em cima das
costas da jovem que, enfim, parou de tentar fugir. — Essa daqui resolveu fugir enquanto nos
divertíamos. Aí tive que pegar o que estava em mãos, sabe?
Antes que Joshua pudesse pensar em dizer alguma coisa, o
maníaco agarrou o cabelo da jovem e, puxando-os, levantou-a abruptamente. A
expressão de dor era nítida no rosto dela.
—
Então... — O maníaco
voltou a falar, levando a faca ensanguentada ao pescoço da jovem. — Eu não sinto prazer em
acabar com a vida de uma pessoa usando facas. —
Ele soltou os cabelos da mulher, derrubando-a de bruços novamente. — O mesmo vale para
qualquer lâmina, arma de fogo, venenos... Essas coisas são muito...impessoais,
sabe?
Repentinamente, o assassino pisou em cima da cabeça da
jovem.
Joshua cerrou os olhos no mesmo instante. Ele não
precisava olhar sob o pé do maníaco para saber que aquela jovem havia morrido.
O som do crânio dela sendo quebrado e o fim dos murmúrios abafados foram o
suficiente.
Ao abrir os olhos, o jovem viu o assassino sorrindo
largamente para ele.
—
Você poderia me fazer um favor? —
O gigante soltou uma risada baixa. —
Tente correr. O mais rápido possível. Quero que a caçada seja divertida.
Ele não precisava dizer mais nada.
Joshua se virou para trás e começou a correr
desesperadamente enquanto a risada do maníaco ecoava nas ruas.
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