segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Um Outro Mundo, Capítulo 4

4.


Vamos até o meu apartamento. O senhor Estmund disse. Poderemos falar o quanto quisermos lá sem sermos... Ele fez uma breve pausa e olhou para o rapaz. Sem sermos perturbados.
Apesar de receoso, Joshua percebeu que não havia outra escolha.
A uma distância que ele julgava segura, o jovem seguiu o senhor Estmund pelas escadas até o andar térreo. Surpreendentemente, o homem a frente de Joshua andava com passos rápidos e com uma postura elegante. O rapaz nunca havia percebido aquilo sobre o vizinho até aquele momento.
Em silêncio, os dois seguiram até o elevador.
Joshua estava aliviado por não ter que subir até o quinto andar pelas escadas. Suas pernas mal aguentavam mantê-lo em pé.
Entretanto, ao perceber que ele estaria numa caixa de metal, mesmo que por alguns instantes, confinado com o senhor Estmund, o estômago de Joshua começou a revirar.
Antes que o jovem pudesse protestar, a porta se fechou.
Com as costas encostadas numa das paredes do elevador, Joshua cruzou os braços e tentou não pensar na situação. Em vão.
O ar parecia mais frio e denso. A luz do elevador oscilava, piscando constantemente.
O corpo de Joshua estava tenso. Ele pensava que aquilo não o perturbaria. Afinal, o elevador deveria chegar ao quinto andar em alguns segundos. Entretanto, não era isso o que acontecia.
A mera respiração do senhor Estmund ao lado de Joshua o perturbava mais do que ele poderia esperar. Parecia que aquilo era o que estava fazendo o ar ficar menos confortável.
Ainda mais tenso, o rapaz percebia que o seu coração batia excessivamente rápido. Paranoico ou não, ele poderia jurar que podia ouvir os batimentos sob seu peito.
Após o que pareceram minutos, a porta do elevador se abriu. O senhor Estmund saiu rapidamente. Joshua respirou fundo, aliviado, antes de seguir o vizinho.
Chovia forte naquela noite. Trovões podiam ser ouvidos à distância. O vento soprava forte pelo corredor. O senhor Estmund parecia não se importar. Joshua, por outro lado, apesar de usar um casaco, tremia. Ele tinha certeza que estava frio. Seu vizinho simplesmente parecia não se importar.
Os dois atravessaram rapidamente o corredor, passando na frente do apartamento de Joshua.
O jovem resistiu ao ímpeto de entrar no conforto de seu lar. Por mais deprimente que fosse, aquele pequeno apartamento era seu único lugar de paz. Depois de uma experiência traumática como aquela, jogar-se em sua cama, cerrar os olhos e cair rapidamente num sono profundo era tudo o que ele queria.
Entretanto, Joshua tinha que saber o que havia sido a experiência bizarra pela qual ele havia acabado de passar. Aquilo havia sido real. Daquilo o rapaz tinha certeza.
Ao chegarem ao fim do corredor, na frente do apartamento do senhor Estmund, o velho olhou o rapaz nos olhos.
Como de costume, um mal estar súbito atingiu Joshua. Porém, antes que o rapaz pudesse perceber, ele já estava de volta ao normal.
Surpreso, o jovem olhou para seu vizinho. Estmund abria a porta a sua frente calmamente.
Venha. Ele ordenou Joshua enquanto entrava em seu apartamento.
O jovem hesitou. Ele engoliu em seco, mas, por fim, percebeu que aquela era a melhor opção.
Não muito animado, Joshua entrou no apartamento.
Sinta-se em casa. Disse o senhor Estmund em um tom quase humano.
O rapaz olhou para todos os cantos da sala cinzenta.
A única janela era coberta por uma persiana bege. A luz branca do teto iluminava fracamente o ambiente. A televisão, bem como o móvel em que ela estava em cima, estavam cobertos de pó. Um cesto de palha ao lado do sofá verde escuro continha uma quantidade absurda jornais. Uma pequena mesa de vidro, do tamanho de um criado mudo, estava do outro lado do sofá. Um único e solitário quadro estava numa parede. Sua pintura com cores escuras parecia abstrata, ao menos, para Joshua.
Do outro lado da sala estava um corredor imerso na escuridão. Joshua esperava não ter que ir tão fundo no lar de seu vizinho.
Aceita algo para beber? O senhor Estmund perguntou.
Ah... Joshua queria dizer não, porém, depois de tanto correr, ele estava morrendo de sede. Entretanto, o jovem só havia percebido isso agora que estava um pouco menos tenso. Um copo de água seria bom.
Ótimo. Ele apontou para o sofá. Sente-se.
As pernas de Joshua não o deixaram contrariar a ordem de Estmund. Rapidamente, o jovem assentiu e, praticamente desabando, sentou-se no lado esquerdo do sofá.
Enquanto o senhor Estmund foi buscar o copo de água, Joshua se perdeu em pensamentos.
Entretanto, sua mente ficou em branco rapidamente. Cansado daquele jeito, era esperado que ele desmaiasse, caindo num sono profundo.
E, assim, o jovem teria seu descanso merecido.
Entretanto, cicatrizes já haviam sido marcadas em Joshua.
A risada do maníaco ecoou dentro da cabeça do jovem, acordando-o abruptamente, trazendo-o de volta à realidade.
Com os olhos arregalados e a respiração ofegante, ele olhou para frente.
Sentado em uma cadeira de madeira no meio da sala, o senhor Estmund abaixou um jornal e olhou de volta para Joshua.
Um pesadelo, não é? Ele perguntou para o rapaz já sabendo a resposta.
Joshua levou as mãos trêmulas ao rosto. Suor escorria por sua face. Suas pernas tremiam.
Você está seguro. Disse Estmund confiante. Pelo menos, por enquanto.
Como você pode estar certo disso? Perguntou Joshua. Aliás... Ele abaixou as mãos e olhou o senhor nos olhos. Dessa vez, sem sentir medo. Como você sabe do que aconteceu comigo? O que você é por acaso?
Estmund sorriu. Rapidamente, ele se levantou. Apoiada do lado da cadeira estava a sua bengala. Rapidamente, o senhor a pegou. Entretanto, ele não se apoiou nela.
Joshua mal podia acreditar no que estava prestes a ver.
A cor da bengala mudou rapidamente, bem como sua extensão. Em um instante, o objeto dobrou de comprimento e se tornou negro como piche. Na extremidade superior, uma lâmina se formou. Prateada, no formato de uma lua crescente.
Os olhos de Estmund agora brilhavam com uma cor escarlate. Com um sorriso sinistro no rosto e apoiado em sua foice, ele disse:

Eu sou a Morte. Muito prazer.

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