Capítulo 26

The Truce

A Trégua

— Ora, ora... — Nidhogg sorriu. — Acalmem-se, vocês dois . — O Lorde das Trevas se voltou ao guerreiro com a armadura prateada. — A que devemos esta visita inesperada?

Tristan e Shadowing guardaram suas armas.

— Uma proposta. — O Escolhido do Lorde da Luz respondeu. — Uma aliança temporária. Devemos lutar lado a lado contra a Tiamat e os bárbaros.

Tristan riu.

— Pelo visto...vocês também foram atacados. — Disse o guerreiro das Trevas. — Eles mandaram um exército de bárbaros com distração também?

— Sim. — O guerreiro com a armadura prateada respondeu. — Então eles atacaram diretamente nosso palácio. — Ele riu. — Quase não consigo acreditar nisso.

—Que você está aqui propondo uma aliança conosco? — Shadowing indagou.

— Bem...isso também. — O guerreiro da Luz riu. — Mas eu me referia ao poder e a audácia da Tiamat. Eles se uniram ao nosso inimigo em comum e realizaram dois ataques extremamente poderosos contra ambas as capitais da Luz e das Trevas.

— Nada mal mesmo. — Nidhogg concordou. — E, o pior de tudo, é que não foi um ataque definitivo.

— Como assim? — Perguntou Tristan.

— A Tiamat só queria calcular o quanto nós poderíamos resistir. — O Lorde das Trevas respondeu. — Caso esse ataque fosse sério, eles poderiam, ao menos, utilizar toda a força dos dois ataques em um só. E, em todo o caso, por mais que eles tenham tido algumas perdas, nós também tivemos, principalmente na própria estrutura da cidade. Foi uma manobra excelente deles, devo admitir.

“Não tinha pensado por esse ângulo...”.

— Você. — Tristan apontou para o visitante. — Qual o seu nome.

O Escolhido da Luz sorriu. Em seguida, ele fitou Tristan e, enfim, voltou-se para o Lorde das Trevas.

— Você nunca contou o meu nome para seu Escolhido, Nidhogg? — O guerreiro que trajava a armadura prateada sorriu. — Quanta grosseria.

O Lorde das Trevas riu.

— Que desleixo meu. — Nidhogg riu. — Mas eu admito meu erro. Deixe-me apresentá-los um ao outro. Tristan, esse é Gabriel. Gabriel, esse é Tristan. — O Lorde das Trevas sorriu. — Melhor assim?

— Sim. — Gabriel sorriu. — Não acha melhor assim também, Tristan.

— Obviamente, já que fui eu que perguntei seu nome. — Tristan voltou ao seu tom frio que há muito não usava. — Não quero sua simpatia, porém, se tivermos que trabalhar juntos, acho melhor poder confiar em você. Nem que seja só um pouco de confiança.

— Você já está cogitando colaborar com a Luz? — Shadowing perguntou.

— Eu não vejo muitas alternativas viáveis para essa situação. — Tristan respondeu. — Agora depende da sua decisão, Nidhogg.

— Bem...nesse caso...acho melhor conversarmos com o nosso querido Gabriel sobre o plano. — O Lorde das Trevas respondeu. — Aliás, já que o nosso plano já está traçado, acredito que não há necessidade de nós três ficarmos aqui para discutir o plano. Não acredito que haverá grandes mudanças, fora a adição do exército deles. O que vocês acham?

— Eu prefiro começar o quanto antes o treino novo. — Tristan respondeu.

— Eu quero saber o quanto antes de qualquer mudança no plano. — Shadowing respondeu rispidamente. — O quanto antes ficar decidido o que eu tenho que fazer, melhor. Quero descobrir logo quem são os bárbaros que nos atacaram.

— Assim, podemos localizar a cidade de onde eles são. — Gabriel disse. — Mas, para isso, precisaremos interrogar alguém da Tiamat. Só precisaremos pressionar um pouco algum dos capitães deles.

— Até que me parece uma boa idéia. — Admitiu Shadowing. — Um ataque contra um grupo pequeno da Tiamat, apenas com o intuito de conseguirmos informações sobre os bárbaros. Nada mal.

— Nada mal mesmo. — Nidhogg riu. — Gostei do jeito que você pensa, Gabriel. — O Lorde das Trevas tomou um gole de hidromel. Ele, então, voltou-se para Tristan. — Pode ir para o seu treino. Aproveite e dê uma olhada na Lilith...e no Astaroth também. — Nidhogg segurou um sorriso. — Eu te passo o que ficou decidido depois.

Tristan assentiu com a cabeça e se despediu dos três com um gesto de mão. Ele andou até os dois guardas caídos perto da porta. Ele observou atentamente para os dois Demônios.

“Eles estão apenas inconscientes...”.

Tristan olhou para trás. Ele fitou Gabriel.

“Piedoso...? Não...ele fez isso apenas para conseguir nossa confiança. Não acredito que ele seja tão piedoso assim no resto do tempo”.

Tristan se transformou em trevas e sobrevoou a cidade.

“As feridas deixadas pela invasão demorarão a cicatrizar...”.

A quantidade de escombros nas ruas havia diminuído, mas as construções ainda estavam no mesmo estado.

“A prioridade não é essa agora...”.

Espalhados pela cidade, principalmente, na frente do palácio, milhares de tendas foram postas de pé. Nelas Demônios eram tratados de suas feridas. Outros, apesar de terem apenas ferimentos leves, também dormiam nas tendas, uma vez que suas casas foram danificadas durante a invasão. Não apenas guerreiros e assassinos estavam nessa condição. Mulheres e crianças pequenas estavam na mesma situação, muitas, inclusive, feridas, já que suas casas foram atacadas com elas ainda dentro.

“Os bárbaros e a Tiamat vão pagar caro por isso”.

Tristan apareceu na frente de uma Capitã que orientava no tratamento dos feridos e na distribuição de mantimentos. Ela trajava uma armadura cinzenta. Seus olhos e cabelos longos tinham a mesma cor vermelho sangue.

— Espero não atrapalhar muito. — Tristan disse. — Mas preciso achar dois amigos.

O Demônio deu de ombros, sem muito interesse.

— Boa sorte. — A Capitã disse, sem nem olhar para o rosto de Tristan.

— Você não poderia me ajudar? — Tristan perguntou.

— Não. Já tenho coisas demais para fazer.

A Capitã apontou para um grupo de Demônios que passava perto deles. Quase todos estavam feridos, mas conseguiam se manter em pé. Um, porém, não apresentava ferimentos. Ele não apresentava nenhum ferimento no corpo. Sua armadura, por outro lado, apresentava arranhões por todas as partes que não haviam sido destruídas. Metade do elmo, uma das manoplas e as costas da armadura não estavam mais com ele.

— Vocês! — O Capitão gritou. — Distribuam os mantimentos dessas caixas para as tendas do sul.

O Capitão apontou para dezenas de caixas que estavam empilhadas juntas a uma parede. Os Demônios pegaram as caixas e, então, começaram a distribuir os mantimentos.

— Desculpe-me. — Tristan disse. — É óbvio que você tem muitas outras preocupações. Eu procuro meus amigos sozinho.

— Não quis faltar com respeito com você, Escolhido. — A Capitã disse. — Mas toda essa situação...é muito estressante. Ninguém consegue ser muito educado.

— Entendo.

— Bem...boa sorte procurando seus amigos.

— Boa sorte com seu trabalho.

Tristan se virou e começou a andar por entre as tendas. Para todo lado que olhava, tristeza o assolava. Soldados que lutaram bravamente estavam agora com ferimentos abertos. Muitos haviam perdido pernas e braços. Mesmo com o uso de poções e magias, muitos não sobreviviam. Muitos morriam bem diante dos olhos de Tristan. Homens e mulheres que lutaram pela cidade e suas famílias deixavam para trás seus entes queridos. Muitas foram as vezes que Tristan passava na frente de uma tenda e via crianças, maridos, esposas e amigos chorando pela morte de alguém que não resistia aos ferimentos. Tristan segurou uma lágrima que escorreria pelo rosto.

“Eu...tenho que me manter forte por eles agora. Não posso demonstrar fraqueza”.

Após muito andar, Tristan achou seus amigos. Lilith estava ajoelhada do lado de Astaroth. O Demônio parecia ter acordado a pouco tempo.

 — Vocês estão bem? — Perguntou Tristan. Apesar de estar sorrindo, sua expressão ainda estava melancólica depois de tudo o que vira.

— Na medida do possível. — Lilith respondeu com a mesma expressão no rosto.

— Tristan? — Astaroth esfregou os olhos. — Olha só. Você está vivo. — Até a voz maníaca e o sorriso assustador do Demônio pareciam haver perdido a intensidade.

— Eu é que deveria dizer isso. — Tristan tentou sorrir novamente, sem muito sucesso. — Conseguiram recuperar as energias?

— Sim. — Lilith respondeu.

— Acho que sim...mas...é, não tenho certeza. — Astaroth respondeu. Sua voz parecia estar sumindo.

— Seu corpo está mole...daqui a pouco você vai estar melhor. — Tristan disse.

— Espero que sim. — Astaroth murmurou. — Você, pelo visto, já se recuperou bem, não é?

— Sim. — Tristan admitiu. — Na verdade, daqui a pouco vou começar um treinamento novo. Obra da Maeve.

— Aquela velha louca!? — Astaroth indagou. Sua voz parecia ter se recuperado um pouco de um momento para o outro.

Tristan e Lilith conseguiram sorrir.

— Sim. — O guerreiro das Trevas respondeu.

— Nesse caso...boa sorte. — Astaroth sorriu. — Você vai precisar. — Astaroth bocejou. — Eu vou ficar por aqui mesmo.

— Mesmo nesse estado, acho que você seria capaz de arranjar briga com alguém. — Lilith comentou.

— E você ganharia ainda. — Tristan acrescentou.

— Eu sei, eu sou incrível. — Astaroth sorriu.

Lilith e Tristan conseguiram rir um pouco.

— Acho que seria melhor eu ficar vigiando ele um pouco. — A caçadora disse. — E, ainda por cima, ajudar mais um pouco na distribuição de mantimentos.

Tristan assentiu com a cabeça.

— Depois nos falamos. — Lilith piscou para o guerreiro das Trevas.

Tristan sorriu e assentiu de novo. Ele se virou e andou até o lugar de seu treinamento.