The Predators
Os
Predadores
O projétil atravessou Tristan e
se fincou no chão. Um buraco feito de sombras havia se formado no centro das
costas e do peito do guerreiro. Em um instante, o corpo de Tristan havia
voltado ao normal.
—
Não vai ser tão fácil me acertar. —
O guerreiro das Trevas advertiu no idioma das Terras do Norte. — Tenha certeza disso,
arqueiro.
Um homem trajando uma armadura
de couro negra e um manto de pele de raposa sobre os ombros derrubou seu arco
no chão. A arma era feita de madeira adornada com prata, bem como as flechas
que estavam em sua aljava. A metade inferior do rosto era coberta por uma
máscara da mesma cor da armadura. Seu cabelo loiro era curto e desarrumado. Seus
olhos eram azuis celestes, completamente frios e sem brilho.
—
Ora...eu suponho que a culpa seja inteiramente minha. — O arqueiro disse irritado. — Eu deveria ter previsto
que parte do meu alvo se transformaria em fumaça. Perdão. Não acontecerá
novamente.
Tristan riu. Em poucos
instantes, as luzes de tochas atrás do guerreiro das Trevas se aproximaram e,
conseqüentemente, as figuras dos bárbaros se tornaram mais nítidas.
“Algo me diz que eu vou poder
me divertir um pouco...”.
Cinco guerreiros bárbaros se
posicionaram atrás de Tristan. Todos arremessaram suas tochas para o chão e
brandiram suas armas. Da esquerda para a direita, o primeiro carregava uma
espada com as duas mãos. O segundo, uma lança. O terceiro, um machado e um
escudo. O quarto, duas espadas. O quinto, uma maça e um escudo. Todas as armas
e armaduras eram formadas com uma liga metálica roxa escura.
—
Bem...vocês fariam o favor de se apresentarem? —
Tristan pediu com um sorriso caloroso no rosto.
—
Rovdyr. — O arqueiro
se adiantou.
—
Bom... — Tristan
fitou o grupo de guerreiros a sua frente. Os elmos deles cobriam os rostos
deles quase que totalmente. Haviam apenas pequenas frestas para os olhos. — E quanto a vocês?
—
Rovdyr! — Os cinco
responderam em uníssono.
—
Todos vocês têm o mesmo nome? —
Tristan indagou.
—
Sim. — O arqueiro
respondeu. — Pois
este é o nome do nosso esquadrão.
—
Entendo... — Tristan
coçou o queixo. —
Então...vocês não pretendem me contar o verdadeiro nome de vocês, não é?
—
Você não aceita Rovdyr como o nosso verdadeiro nome? — O arqueiro indagou.
—
Não.
—
Ora...que desrespeitoso.
—
Se você diz...
O arqueiro armou mais uma
flecha em seu arco. Os guerreiros deram um passo para frente.
“Ora...”.
No instante em que a flecha foi
lançada contra Tristan, ele se agachou e tocou no braço de Migrasi.
Rapidamente, os dois se transformaram em trevas e se afastaram do local.
“Eu já volto...”.
Cerca de duzentos metros da
ruína da sala do trono, Tristan surgiu juntamente com o aliado inconsciente. O
lugar era um terreno plano completamente coberto por neve sem nenhuma árvore,
construção ou pessoas em um raio de pelo menos cem metros. Delicadamente, Tristan
deitou Migrasi no topo de uma pedra plana e cinzenta.
“Eu me recuso a perder mais
qualquer um aliado. Mesmo que seja um ser da Luz”.
O guerreiro das Trevas respirou
fundo.
“Não vou deixar que você
morra...como a Catherine...”.
Rapidamente, Tristan voltou a
se transformar em trevas e, em um instante, surgiu por trás do bárbaro que
carregava um machado e um escudo. Com sua espada envolvida por sua aura negra,
o Escolhido de Nidhogg atacou as costas do inimigo. O golpe desferido
arremessou o bárbaro mais de dois metros para frente e destruiu as costas de
sua armadura.
—
Eu esperava mais dessa armadura. —
Tristan provocou com um sorriso. —
A de Stor me deu muito mais trabalho. —
Ele sorriu com desdém. —
Aparentemente, essa luta não será tão desafiadora quanto eu imaginava...
—
Como você é convencido... —
O arqueiro grunhiu. —
O fato de você ter derrotado o nosso rei é impressionante, é verdade. Porém,
isso não garante que você nos derrotará. —
Ele riu. —
Aliás...isso nem prova que você sobreviverá à luta.
—
Só temos uma maneira de saber quem sairá vivo daqui, não é? — Tristan apontou sua
espada contra o arqueiro.
Em um instante, mais uma flecha
foi armada e disparada contra o guerreiro das Trevas. Sem dificuldades, Tristan
agarrou o projétil com sua mão esquerda e o envolveu com sua aura. Os cinco
guerreiros formaram um círculo em volta de Tristan e avançaram todos juntos. Tristan
arremessou a flecha contra o bárbaro que manejava a espada com ambas as mãos. O
projétil atravessou sua armadura e foi fincada no lado esquerdo de seu abdômen,
fazendo-o cair ajoelhado pela dor. Entretanto, os outros quatro bárbaros
continuavam avançando. Rapidamente, Tristan desapareceu e ressurgiu atrás do
guerreiro que manejava a maça e o escudo. Graças à armadura danificada no
oponente, o guerreiro das Trevas cravou sua espada nas costas do bárbaro.
“Um a menos...”.
—
Maldito! — O arqueiro
bradou com uma flecha já armada em seu arco.
Em um instante, mais uma flecha
com ponta de prata foi disparada contra Tristan.
“Tolo...”.
Sem dificuldades, o guerreiro
sombrio se transformou em trevas e atravessou o projétil. Em um instante,
Tristan surgiu na frente do arqueiro. O bárbaro arregalou os olhos em uma
mistura de surpresa e raiva. Tristan ergueu suas mãos para cima. Sua espada
ressurgiu. O arqueiro levantou seu arco e o segurou na horizontal para tentar
bloquear o ataque de Tristan. Com um sorriso, o guerreiro das Trevas desferiu um
ataque vertical de cima para baixo. O golpe cortou o arco ao meio sem
dificuldades. O arqueiro soltou os pedaços de sua arma. Antes que eles pudessem
atingir o solo coberto de neve, o bárbaro correu para a esquerda.
“Inútil...”.
Com um golpe rápido, Tristan
decepou o braço direito do arqueiro. O bárbaro caiu com o rosto na neve, que
acabou abafando seu grito de dor.
—
Morra! — Uma voz
bradou atrás de Tristan.
Ao se virar, o guerreiro das
Trevas viu um dos bárbaros arremessando uma de suas espadas. Com um movimento
rápido com sua espada, Tristan bloqueou o ataque do adversário. A lâmina de cor
púrpura caiu na neve, bem a frente do guerreiro das Trevas.
“Simplesmente patético...”.
O bárbaro com a flecha fincada
em seu abdômen conseguiu se levantar. Enquanto isso, os outros três bárbaros
avançaram de frente contra Tristan. Com um sorriso no rosto, o guerreiro das
Trevas arremessou sua espada contra o escudo do bárbaro que carregava a maça. A
lâmina atravessou o broquel do guerreiro e se cravou no braço dele. Apesar
disso, os outros dois bárbaros atacaram Tristan. Mesmo com uma seqüência
incansável de golpes e gritos, os bárbaros não conseguiram acertar o
adversário, que apenas desviava das investidas inimigas, sem nem precisar se
transformar em trevas. Ao perceber uma brecha na guarda do guerreiro que
manejava a lança, ele agarrou o cabo da arma com ambas as mãos e a puxou do
bárbaro. O outro oponente atacou com sua espada. Em um instante, a nova arma de
Tristan já estava envolta por sua aura sombria. O guerreiro das Trevas bloqueou
o ataque com a ponta da lança e, rapidamente, golpeou o inimigo. A arma
penetrou a armadura do bárbaro e se cravou em sua clavícula. O bárbaro ao seu
lado assistiu a cena e, aparentemente, estava paralisado, sem saber o que
fazer. Aproveitando-se dessa brecha, Tristan pegou a espada do adversário que
havia acabado de matar e, com um único golpe, cravou a arma em seu estômago.
“Já foram três...”.
Tristan olhou para trás. O
arqueiro já não estava mais lá.
“Não acredito que eu o deixei
escapar...”.
Ao olhar para frente, o guerreiro
das Trevas viu os dois bárbaros remanescentes andando em sua direção. Um
mancava pelo ferimento de flecha. O outro, pela espada crava em seu braço.
—
Vocês ainda insistem em lutar? —
Tristan perguntou calmamente. —
Não vou julgá-los por desistirem agora.
—
Seu tolo... — O
bárbaro que carregava uma espada com as duas mãos trincou os dentes. — Você...nunca
entenderia...
—
Nós...não lutamos para viver. —
O bárbaro que manejava a maça e o escudo disse. —
Nós vivemos para lutar.
—
Nada seria mais vergonhoso para nós do que fugir de uma luta...fora sermos
mortos pela velhice.
—
Nosso maior desejo é lutar até o fim de nossas vidas. Até o fim dos tempos, se
possível.
—
Morrer durante uma batalha...é glorioso.
—
Morrer após matar incontáveis adversários durante a vida...também é.
—
E, principalmente...sermos mortos...por um inimigo mais poderoso do que nós...
—
Bem...não poderíamos pedir por mais nada.
—
Entendo... — Tristan
riu. — Bem, não
exatamente. Eu quero continuar vivendo. Eu ficaria bem irritado se eu morresse
sabendo que eu não fui forte o suficiente, mas...eu entendo que vocês queiram
ser mortos por mim...em batalha. —
Em um instante, uma adaga escarlate surgiu em cada mão do guerreiro. — Então...venham!
Os bárbaros soltaram um urro
feroz. Brandindo suas armas, os dois guerreiros correram contra seu adversário.
Tristan sorriu. Em uma fração de segundos, ele arremessou as adagas contra os
elmos dos inimigos. Com uma ligeira explosão, os dois foram jogados para trás,
caindo de costas contra o chão coberto por escombros.
—
Pronto. — Tristan
sorriu. — Realizei o
desejo de vocês...
O guerreiro das Trevas andou
calmamente até o corpo dos dois bárbaros.
“Quão grande terá sido o
estrago...?”.
Ao se aproximar dos corpos, o
guerreiro das Trevas arregalou os olhos.
“Não pode ser...”.
As explosões destruíram o elmo
dos dois quase por completo, mas os rostos dos bárbaros estavam quase intactos,
apenas com alguns arranhões. O bárbaro que usava a espada tinha cabelos
castanhos curtos enquanto o seu aliado era loiro. Ambos tinham olhos azuis. O
rosto de feições fortes e queixo quadrado dos dois tinha um sorriso estampado.
“Então...eles realmente queriam
morrer assim, hein?”.
Tristan se agachou e,
delicadamente, fechou os olhos dos dois com a ponta dos dedos. Suas pálpebras
agora cobriam seus olhos, mas os sorrisos continuavam.
“Então...no fim...eu acabei
fazendo algo de bom para o inimigo...”.
Tristan sorriu.
“Nunca achei que eu sentiria
qualquer tipo de compaixão por esses bárbaros, mas...”.
Antes que Tristan conseguisse
completar o pensamento, mas um ser surgiu silenciosamente ao seu lado.
—
Ora... — O guerreiro
das Trevas sorriu. —
Que bom ver que você está vivo.
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