quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Capítulo 44

The Predators
Os Predadores

O projétil atravessou Tristan e se fincou no chão. Um buraco feito de sombras havia se formado no centro das costas e do peito do guerreiro. Em um instante, o corpo de Tristan havia voltado ao normal.
Não vai ser tão fácil me acertar. O guerreiro das Trevas advertiu no idioma das Terras do Norte. Tenha certeza disso, arqueiro.
Um homem trajando uma armadura de couro negra e um manto de pele de raposa sobre os ombros derrubou seu arco no chão. A arma era feita de madeira adornada com prata, bem como as flechas que estavam em sua aljava. A metade inferior do rosto era coberta por uma máscara da mesma cor da armadura. Seu cabelo loiro era curto e desarrumado. Seus olhos eram azuis celestes, completamente frios e sem brilho.
Ora...eu suponho que a culpa seja inteiramente minha. O arqueiro disse irritado. Eu deveria ter previsto que parte do meu alvo se transformaria em fumaça. Perdão. Não acontecerá novamente.
Tristan riu. Em poucos instantes, as luzes de tochas atrás do guerreiro das Trevas se aproximaram e, conseqüentemente, as figuras dos bárbaros se tornaram mais nítidas.
“Algo me diz que eu vou poder me divertir um pouco...”.
Cinco guerreiros bárbaros se posicionaram atrás de Tristan. Todos arremessaram suas tochas para o chão e brandiram suas armas. Da esquerda para a direita, o primeiro carregava uma espada com as duas mãos. O segundo, uma lança. O terceiro, um machado e um escudo. O quarto, duas espadas. O quinto, uma maça e um escudo. Todas as armas e armaduras eram formadas com uma liga metálica roxa escura.
Bem...vocês fariam o favor de se apresentarem? Tristan pediu com um sorriso caloroso no rosto.
Rovdyr. O arqueiro se adiantou.
Bom... Tristan fitou o grupo de guerreiros a sua frente. Os elmos deles cobriam os rostos deles quase que totalmente. Haviam apenas pequenas frestas para os olhos. E quanto a vocês?
Rovdyr! Os cinco responderam em uníssono.
Todos vocês têm o mesmo nome? Tristan indagou.
Sim. O arqueiro respondeu. Pois este é o nome do nosso esquadrão.
Entendo... Tristan coçou o queixo. Então...vocês não pretendem me contar o verdadeiro nome de vocês, não é?
Você não aceita Rovdyr como o nosso verdadeiro nome? O arqueiro indagou.
Não.
Ora...que desrespeitoso.
Se você diz...
O arqueiro armou mais uma flecha em seu arco. Os guerreiros deram um passo para frente.
“Ora...”.
No instante em que a flecha foi lançada contra Tristan, ele se agachou e tocou no braço de Migrasi. Rapidamente, os dois se transformaram em trevas e se afastaram do local.
“Eu já volto...”.
Cerca de duzentos metros da ruína da sala do trono, Tristan surgiu juntamente com o aliado inconsciente. O lugar era um terreno plano completamente coberto por neve sem nenhuma árvore, construção ou pessoas em um raio de pelo menos cem metros. Delicadamente, Tristan deitou Migrasi no topo de uma pedra plana e cinzenta.
“Eu me recuso a perder mais qualquer um aliado. Mesmo que seja um ser da Luz”.
O guerreiro das Trevas respirou fundo.
“Não vou deixar que você morra...como a Catherine...”.
Rapidamente, Tristan voltou a se transformar em trevas e, em um instante, surgiu por trás do bárbaro que carregava um machado e um escudo. Com sua espada envolvida por sua aura negra, o Escolhido de Nidhogg atacou as costas do inimigo. O golpe desferido arremessou o bárbaro mais de dois metros para frente e destruiu as costas de sua armadura.
Eu esperava mais dessa armadura. Tristan provocou com um sorriso. A de Stor me deu muito mais trabalho. Ele sorriu com desdém. Aparentemente, essa luta não será tão desafiadora quanto eu imaginava...
Como você é convencido... O arqueiro grunhiu. O fato de você ter derrotado o nosso rei é impressionante, é verdade. Porém, isso não garante que você nos derrotará. Ele riu. Aliás...isso nem prova que você sobreviverá à luta.
Só temos uma maneira de saber quem sairá vivo daqui, não é? Tristan apontou sua espada contra o arqueiro.
Em um instante, mais uma flecha foi armada e disparada contra o guerreiro das Trevas. Sem dificuldades, Tristan agarrou o projétil com sua mão esquerda e o envolveu com sua aura. Os cinco guerreiros formaram um círculo em volta de Tristan e avançaram todos juntos. Tristan arremessou a flecha contra o bárbaro que manejava a espada com ambas as mãos. O projétil atravessou sua armadura e foi fincada no lado esquerdo de seu abdômen, fazendo-o cair ajoelhado pela dor. Entretanto, os outros quatro bárbaros continuavam avançando. Rapidamente, Tristan desapareceu e ressurgiu atrás do guerreiro que manejava a maça e o escudo. Graças à armadura danificada no oponente, o guerreiro das Trevas cravou sua espada nas costas do bárbaro.
“Um a menos...”.
Maldito! O arqueiro bradou com uma flecha já armada em seu arco.
Em um instante, mais uma flecha com ponta de prata foi disparada contra Tristan.
“Tolo...”.
Sem dificuldades, o guerreiro sombrio se transformou em trevas e atravessou o projétil. Em um instante, Tristan surgiu na frente do arqueiro. O bárbaro arregalou os olhos em uma mistura de surpresa e raiva. Tristan ergueu suas mãos para cima. Sua espada ressurgiu. O arqueiro levantou seu arco e o segurou na horizontal para tentar bloquear o ataque de Tristan. Com um sorriso, o guerreiro das Trevas desferiu um ataque vertical de cima para baixo. O golpe cortou o arco ao meio sem dificuldades. O arqueiro soltou os pedaços de sua arma. Antes que eles pudessem atingir o solo coberto de neve, o bárbaro correu para a esquerda.
“Inútil...”.
Com um golpe rápido, Tristan decepou o braço direito do arqueiro. O bárbaro caiu com o rosto na neve, que acabou abafando seu grito de dor.
Morra! Uma voz bradou atrás de Tristan.
Ao se virar, o guerreiro das Trevas viu um dos bárbaros arremessando uma de suas espadas. Com um movimento rápido com sua espada, Tristan bloqueou o ataque do adversário. A lâmina de cor púrpura caiu na neve, bem a frente do guerreiro das Trevas.
“Simplesmente patético...”.
O bárbaro com a flecha fincada em seu abdômen conseguiu se levantar. Enquanto isso, os outros três bárbaros avançaram de frente contra Tristan. Com um sorriso no rosto, o guerreiro das Trevas arremessou sua espada contra o escudo do bárbaro que carregava a maça. A lâmina atravessou o broquel do guerreiro e se cravou no braço dele. Apesar disso, os outros dois bárbaros atacaram Tristan. Mesmo com uma seqüência incansável de golpes e gritos, os bárbaros não conseguiram acertar o adversário, que apenas desviava das investidas inimigas, sem nem precisar se transformar em trevas. Ao perceber uma brecha na guarda do guerreiro que manejava a lança, ele agarrou o cabo da arma com ambas as mãos e a puxou do bárbaro. O outro oponente atacou com sua espada. Em um instante, a nova arma de Tristan já estava envolta por sua aura sombria. O guerreiro das Trevas bloqueou o ataque com a ponta da lança e, rapidamente, golpeou o inimigo. A arma penetrou a armadura do bárbaro e se cravou em sua clavícula. O bárbaro ao seu lado assistiu a cena e, aparentemente, estava paralisado, sem saber o que fazer. Aproveitando-se dessa brecha, Tristan pegou a espada do adversário que havia acabado de matar e, com um único golpe, cravou a arma em seu estômago.
“Já foram três...”.
Tristan olhou para trás. O arqueiro já não estava mais lá.
“Não acredito que eu o deixei escapar...”.
Ao olhar para frente, o guerreiro das Trevas viu os dois bárbaros remanescentes andando em sua direção. Um mancava pelo ferimento de flecha. O outro, pela espada crava em seu braço.
Vocês ainda insistem em lutar? Tristan perguntou calmamente. Não vou julgá-los por desistirem agora.
Seu tolo... O bárbaro que carregava uma espada com as duas mãos trincou os dentes. Você...nunca entenderia...
Nós...não lutamos para viver. O bárbaro que manejava a maça e o escudo disse. Nós vivemos para lutar.
Nada seria mais vergonhoso para nós do que fugir de uma luta...fora sermos mortos pela velhice.
Nosso maior desejo é lutar até o fim de nossas vidas. Até o fim dos tempos, se possível.
Morrer durante uma batalha...é glorioso.
Morrer após matar incontáveis adversários durante a vida...também é.
E, principalmente...sermos mortos...por um inimigo mais poderoso do que nós...
Bem...não poderíamos pedir por mais nada.
Entendo... Tristan riu. Bem, não exatamente. Eu quero continuar vivendo. Eu ficaria bem irritado se eu morresse sabendo que eu não fui forte o suficiente, mas...eu entendo que vocês queiram ser mortos por mim...em batalha. Em um instante, uma adaga escarlate surgiu em cada mão do guerreiro. Então...venham!
Os bárbaros soltaram um urro feroz. Brandindo suas armas, os dois guerreiros correram contra seu adversário. Tristan sorriu. Em uma fração de segundos, ele arremessou as adagas contra os elmos dos inimigos. Com uma ligeira explosão, os dois foram jogados para trás, caindo de costas contra o chão coberto por escombros.
Pronto. Tristan sorriu. Realizei o desejo de vocês...
O guerreiro das Trevas andou calmamente até o corpo dos dois bárbaros.
“Quão grande terá sido o estrago...?”.
Ao se aproximar dos corpos, o guerreiro das Trevas arregalou os olhos.
“Não pode ser...”.
As explosões destruíram o elmo dos dois quase por completo, mas os rostos dos bárbaros estavam quase intactos, apenas com alguns arranhões. O bárbaro que usava a espada tinha cabelos castanhos curtos enquanto o seu aliado era loiro. Ambos tinham olhos azuis. O rosto de feições fortes e queixo quadrado dos dois tinha um sorriso estampado.
“Então...eles realmente queriam morrer assim, hein?”.
Tristan se agachou e, delicadamente, fechou os olhos dos dois com a ponta dos dedos. Suas pálpebras agora cobriam seus olhos, mas os sorrisos continuavam.
“Então...no fim...eu acabei fazendo algo de bom para o inimigo...”.
Tristan sorriu.
“Nunca achei que eu sentiria qualquer tipo de compaixão por esses bárbaros, mas...”.
Antes que Tristan conseguisse completar o pensamento, mas um ser surgiu silenciosamente ao seu lado.

Ora... O guerreiro das Trevas sorriu. Que bom ver que você está vivo.

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