sábado, 12 de dezembro de 2015

Conto 18

Queria Não Acreditar


Eu abri a porta do quarto e lá permaneci imóvel.
Não ousei dar nem mais um passo a frente. Como eu poderia?
Eu fiquei praticamente petrificada ao ver que alguém estava deitado naquela cama.
A pessoa estava envolta pelo cobertor, quase como num casulo. Ela dormia tranquilamente, sem roncar. Seu rosto não podia ser visto por mim. Porém, tenho certeza que uma expressão de conforto e deleite estava estampada em seu semblante.
Olhei para o lado dela, para a parte da cama descoberta. Era ele que dormia ali. O homem que eu amo.
Em seguida, olhei para a porta da suíte. Estava fechada. Eu podia, porém, ouvir o som da água atingindo rapidamente a pia e escorrendo ralo abaixo sem parar. Ele estava lá. Escovando os dentes talvez. Lavando o rosto? Quem sabe. Não importava.
Eu queria sair de lá sem dizer um pio. Queria deixar aquela casa e nunca mais voltar. Mas eu não conseguia me mover. Eu estava simplesmente lá, parada, praticamente plantada junto à porta que levava ao corredor.
Então, o som da água parou. Praticamente em seguida, a porta da suíte foi aberta. E de lá saiu ele.
Alegre, o homem que eu confiei a minha felicidade voltou até a cama. Com um largo e caloroso sorriso no rosto, ele se aproximou da mulher.
Trinquei os dentes e, então, desviei meu olhar para a janela do quarto. Preferia olhar para a escuridão da noite do lado de fora.
Ele deve ter cochichado algo no ouvido dela, algo que a fez sorrir, acordando de bom humor, do mesmo jeito que ele fazia comigo.
Sempre fora bom com palavras. Sempre soube cativar.
Olhei apenas de relance para os dois. Senti uma dor no meu peito. Meu corpo estremeceu.
Ambos sorriam. Ambos tinham uma chama em seus olhares. Aquela relação era mais do que carnal. Eles pareciam legitimamente apaixonados. E, droga, eles formavam um belo casal.
Talvez ele estivesse mais feliz com ela do que comigo.
Mesmo assim, eu me recusava a aceitar aquilo. Era doloroso demais.
Eu queria que ele seja feliz, mas, sinceramente, não queria que ele fosse feliz sem mim. Não me importo com o quão egoísta eu esteja soando. Afinal, era a verdade. Era daquele jeito que eu me sentia.

Eu não queria acreditar que o homem que eu amo conseguiu superar a minha morte e seguir em frente...

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