terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Conto de Terror 12 - Parte 4

Ei! Marie exclamou. Edgar!
O rapaz parou de andar e balançou a cabeça para os lados. Uma expressão de surpresa, com olhos bem arregalados, estava estampada em seu rosto.
Hm? Edgar limpou a garganta. O que foi?
Já estamos andando em silêncio há faz uns minutos...
Ah... Sério? Ele coçou a nuca, parecendo um pouco aturdido ainda.
Sério.
Ela voltou a andar. Ele acompanhou.
Edgar... A voz d Marie se tornou, repentinamente, suave. Muitas perguntas sem respostas ainda, não é?
É... O rapaz esboçou um sorriso. Mas não se preocupe. As memórias estão voltando... Aos poucos, não muito claras ainda, mas estão voltando.
Isso é bom. Ela sorriu.
Edgar percebeu, então, o porquê de Marie o tirar de seu transe.
Ela parecia legitimamente preocupada com o rapaz. Edgar não questionaria isso. Não existiam motivos aparentes para tal.
Entretanto, Edgar percebeu que, por mais forte e valente que Marie fosse, ela estava nervosa. Eles poderiam morrer de um instante para o outro naquele lugar. Sem a ajuda dela, ele estaria morto. Porém, sem a ajuda dele, ela também estaria morta. Um precisava do outro naquele inferno. E não só para lutarem lado a lado. Um precisava confortar o outro. E apenas Marie cuidava de Edgar nesse sentido.
Hm... O rapaz estralou os dedos. Então... Eu não me lembro do que eu fazia antes d vir pra cá... Mas e você? O que fazia?
Eu? Marie esboçou um sorriso. Mulher da vida.
Ah... Surpreso, ele hesitou um pouco. Sério?
Bem... Sei que pode não parecer agora... Ela botou ênfase na última palavra. Mas... É. Sou. Ou fui. Não sei se vou voltar pra essa vida quando sair daqui. Se sairmos daqui...
Vamos sair daqui. Edgar disse determinado.
Hm... Ela sorriu. Enfim... Não sei se volto pra minha velha vida. Talvez possamos seguir um novo caminho assim que sairmos daqui, não? Uma nova chance após uma experiência traumática... Mas, é claro, tenho assuntos pra resolver antes de qualquer mudança radical.
Como o quê?
Ajudar minhas amigas.
Companheiras de trabalho?
Sim... Nós tomávamos conta uma das outras, sabe? O mundo não é um lugar gentil para o nosso tipo. Mesmo não matando ou roubando ninguém, somos vistas como parte da escória. Olhares de nojo nos julgam todo dia. Era como se fossemos lixo, animais doentes a beira da morte. Ela trincou os dentes. Mas é claro que tinham aqueles que aceitavam os nossos serviços. E, puta merda, eles conseguiam ser piores que os que odiavam a gente. Homens podres por dentro, alcoólatras que haviam abandonado suas famílias, ratos de merda que traíam as esposas, filhos da puta que sentiam prazer em nos ver sentir dor e sendo humilhadas. Marie bufou. Era por causa desse último tipo que nos tínhamos que nos proteger. Isso sem contar com os bostas que nos atacavam por não nos considerarem humanas, ou aquelas párias que queriam nos tornar propriedades deles para nos explorarem.
Mas, mesmo assim, você nunca matou ninguém?
Foi como eu disse antes... Eu ensinava algumas lições da maneira difícil, mas não mais que isso. E minhas amigas seguiam meu exemplo. Já éramos odiadas sem matar ou roubar... Imagina, então, se fizéssemos essas merdas? Ela riu baixo. Seríamos caçadas, certeza.
Entendo... Edgar disse num tom preocupado. E... Você pretende tirar as suas amigas da sua cidade?
Sim. Pelo menos, pra fora do canto de merda onde a gente fica...
E como você pretende fazer isso?
Não sei. Não pensei nisso ainda. Vou me preocupar com isso assim que sairmos daqui. Ela sorriu. Ok?
Edgar sorriu de volta e, em seguida assentiu.
De repente, um grito agudo soou. O som de algo como o de uma guilhotina veio em seguida.
Marie pareceu tensa por uma fração de segundos e, então, abriu um largo sorriso.
Bem... Ela respirou fundo. Acho que achamos um deles.
Isso... Edgar limpou a garganta. Isso foi um Executor.
É... Vamos!
O rapaz, tenso, seguiu Marie até o corredor de onde os sons vieram.
Alguns murmúrios vieram. Nada inteligível para os dois. Em seguida, mais um som de guilhotina.
Após alguns passos, eles viram a cena.
Mesmo já tendo visto mais de uma vez, Marie ficou apreensiva com a visão. Edgar, então, sentiu o próprio estômago se revirar.
Haviam três corpos no corredor. Apenas um com vida.
Um havia sido decapitado. A força do golpe arremessou a cabeça para longe do resto do corpo.
O outro havia, surpreendentemente, sofrido uma morte ainda mais brutal. O corpo havia sido cortado ao meio na vertical. Um único golpe havia sido o responsável pela proeza.
Pisando nas entranhas derramadas de uma de suas vítimas, o Executor se assemelhava mais a um monstro ou uma máquina do que um humano.
Seu corpo alto era coberto pelo o que parecia ser uma armadura respingada de sangue. A roupa blindada, negra como piche, poderia protegê-lo de algumas balas. Facas, então, seriam ainda menos úteis.
Apoiada no chão estava sua arma. Sua mão direita segurava o cabo do gigantesco e brutal machado. Feito de aço negro, quase toda a sua superfície gasta estava tingida de rubro. A lâmina, entretanto, estava perfeitamente afiada, mais letal do que qualquer arma que Edgar já havia visto. Afinal, nenhuma havia despertado tamanho mal estar tão rapidamente.
As pernas do rapaz tremiam, bem como as suas mãos suadas. Sua respiração arfava incessantemente. Seu coração palpitava, parecendo que iria pular para fora de seu peito.
Sem esforço, o Executor levantou a arma ensanguentada e a guardou junto às costas.
O tempo parecia passar lentamente enquanto o gigante marchava pesadamente para longe, desaparecendo nas sombras, deixando naquele corredor as marcas de seu massacre.
Edgar sentiu um puxão em seu braço.

Vamos! Marie o chamou, trazendo-o de volta à realidade. Não podemos perdê-lo de vista. Ela abriu um sorriso, apesar de estar quase tão nervosa quanto o rapaz. Temos uma chave para pegar.

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