domingo, 3 de janeiro de 2016

Conto de Terror 12 - Parte 5

Apesar de relutante, Edgar assentiu. Ele sabia que não podia fugir da missão.
Esgueirando-se, a dupla avançou.
A visão, agora ainda mais clara, dos corpos destroçados a sua frente fez o rapaz engolir em seco. Era óbvio que ele não queria terminar daquele jeito. Ele nem mesmo desejava que um inimigo tivesse um fim daqueles. Talvez nem mesmo Asmodeus merecesse uma morte tão brutal.
Ele deve ter feito uma entrega. Murmurou Marie, de repente, enquanto avançavam furtivamente.
Está falando do Executor? Perguntou o jovem no mesmo tom.
Sim. Uma caixa. Ou talvez mais um desgraçado pra se juntar a gente.
Como você sabe?
Repara só pro desgraçado...
O Executor andava lentamente. Seus passos eram pesados e sem ritmo, um pouco desengonçado até. Não parecia carregar nada fora o machado nas costas. Logo, seus braços estavam desocupados, balançando pra frente e pra trás.
Ele... Não me parece muito preocupado. Admitiu Edgar.
Exato. Ela bufou. Seja lá o que for que ele tinha pra fazer, já foi feito. Andando assim, inclusive, ele nos alerta da presença dele. Caso andemos, podemos evitar um confronto com ele. E é claro que me refiro a todos nós que estamos nesse inferno...
E as pessoas de antes? Ele não pareceu muito piedoso em relação a elas...
Elas devem ter atacado antes. E foram descuidadas, pra dizer o mínimo. Marie esboçou um sorriso para Edgar. Nada disso vai acontecer com a gente.
Se formos cuidadosos... Ele murmurou sem ânimo.
Seremos.
Nesse momento, os dois resolveram parar de falar.
A cada passo, a dupla de aproximava mais e mais do Executor. Apesar de estarem andando agachados, tentando fazer o mínimo de ruído possível, a passada lenta de seu alvo os permitia se aproximar sem dificuldade.
Por qualquer canto onde passavam, apenas os três estavam presentes. Apenas Marie e Edgar tinham a coragem de seguir friamente um Executor. Os que não eram desesperados o suficiente para atacá-lo de frente simplesmente saiam de seu caminho.
A respiração dos dois ficou pesada. Seus corações palpitavam. O executor estava a não mais de dois metros de distância de Marie, que seguia na frente de Edgar.
Ambos podiam ver claramente o molho de chaves preso no cinto do Executor. Enferrujadas, escuras, nunca em algum momento tiveram algum tipo de brilho. Entretanto, os olhos de Marie brilhavam mais e mais a cada instante. Sua liberdade estava tão próxima agora.
Edgar... Ela chamou o rapaz, murmurando ainda mais baixo do que antes. A faca. Me empresta ela.
Hm?
Acho mais fácil cortar uma parte do cinto dele pra pegar a chave. Se eu tentar só puxar, talvez ele perceba.
Ah... Verdade.
Edgar estendeu sua mão que segurava a faca para Marie. Entretanto, ele mantinha o punho cerrado.
Ah... Edgar?
Você não precisa entregar a faca.
O rapaz parou de andar, mal respirando.
Fique com a faca. Você é forte com ela. Sempre foi. Sempre será.
Edgar engoliu em seco. Ele olhou para Maire. Ela retribuiu com um misto de preocupação e confusão em seus olhos.
Você não pode ouvir...? Ele indagou.
Ouvir? Ela ergueu uma sobrancelha. O quê? Os passos do Executor se afastando? Vamos logo...
Você poderia matá-la. Você poderia matar o Executor até. Ele é só um. E não usa nenhuma arma de fogo. Você só precisaria correr até ele. Você o faria sangrar e sentir medo. Você se divertiria com isso...
Edgar levou uma mão na cabeça que, agora, latejava de dor. Era óbvio que só ele ouvia aquela voz. Mas de quem era? E por que ela soava tão familiar?
Foi aí que ele se tocou. A voz já tinha soado em sua cabeça. Porém, ela nunca havia dito algo tão claro, com tanto nexo, quanto agora.
O rapaz sentiu uma mão tocando seu ombro gentilmente.
Edgar? Marie o chamou preocupada. O que foi?
Ah... Ele limpou a garganta. Nada... Nada mesmo.
Não pareceu nada pra mim.
São só... Algumas memórias... Voltando, sabe? Nada muito claro ainda... Infelizmente...
Você pode continuar andando?
Claro...
Então... Vamos? Caso contrário, vamos perder o Executor.
Edgar assentiu e, em seguida, entregou a faca para Marie.
Você vai se arrepender dessa decisão. E por quê? Só para agradar essa daí, seguindo as ordens dela como um bom cachorrinho? Ou é por que você sabe que, sem a faca em suas mãos, você não vai matar mais ninguém?
O jovem engoliu em seco. É claro que a voz estava certa. De fato, as duas suposições estavam corretas. Afinal, se a voz vinha de sua cabeça, era seu subconsciente falando, certo? Como poderia estar errado então?
A dupla voltou a andar, esgueirando-se, dando passos mais rápidos do que antes.
O Executor havia saído do campo de visão deles. Porém, num lugar tão silencioso, não era difícil achar o gigante pelo som de seus passos.
Como planejado, não demorou para Marie e Edgar novamente até seu alvo.
Desta vez, porém, era ela que manejava a faca.
Passo a passo, eles se aproximaram do Executor. Suas respirações praticamente se silenciaram quando Maire empunhou a arma.
Ambas as mãos. Ela teria que usar as duas num movimento bem calculado. A faca uma parte do cinto. As chaves cairiam. A mão livre as pegariam antes de acertarem o chão.
Edgar parou de andar, apreensivo. Marie respirou fundo e parou por um segundo. O Executor se distanciou dela por um passo. Então, quase como uma cobra dando um bote, ela avançou.
Seus pés tocaram o chão levemente, com certa graça até. Com um golpe com precisão cirúrgica, ela cortou o cinto. Sem um ruído, as chaves se soltaram e, então, foram apanhadas.
Edgar arregalou os olhos, surpreso. Marie, com seu olho remanescente, parecia ainda mais surpresa. Afinal, as chaves foram apanhadas pelo próprio Executor.
Não pensem que eu não estava ouvindo vocês se aproximando de mim... Ele riu. Sua voz grave, abafada pelo capacete, aprecia ainda mais ameaçadora. Agora... Sacou o machado das costas. O que vocês vão fazer?
Edgar se levantou. Porém, não fez mais que isso. Suas pernas tremiam enquanto o medo o dominava.
Não estaria assim se estivesse armado, tenho certeza.
Mas uma vez, o jovem não podia discutir com a voz.
Hm... Marie respirou fundo. Achei que você ia me matar... Sabe? Sem mais nem menos?
Não esqueça que tudo isso é um show, minha cara. Mesmo num tom calmo, a voz do Executor não era nem um pouco amistosa. E meu salário depende desse show.
Entendo... Bruscamente, ela se levantou, dando um salto para trás, distanciando-se um pouco de seu inimigo. Então... Marie abriu um sorriso discreto e segurou o cabo da faca em sua mão com firmeza. Pra todos filhos da puta assistindo... Vamos fazer um show do caralho!
Ah... O Executor riu. Assim que é bom!
Ele atacou.  Com uma cambalhota, Marie passou por debaixo do machado que teria acertado suas costelas. Com um passo rápido, ela se aproximou do oponente e, sem hesitar, atacou.
A faca, entretanto, causou apenas um corte superficial na blindagem do Executor.
O gigante riu de novo. Com o alvo próximo dele, o Executor resolveu atacar com o pomo do machado. Ágil, Marie conseguiu se esquivar para direita.
Entretanto, antes que ela pudesse contra atacar, o colosso atacou mais uma vez. Dessa vez, porém, não foi com o machado. Rapidamente, ele deu um chute que, por milímetros, não acertou Marie em cheio no abdômen.
Antes que ela pudesse respirar aliada, o Executor avançou e, dessa vez, desferiu três ataques. Pela vertical, pela horizontal e, por fim, mais uma vez vertical.
Marie podia ver a lâmina do machado se aproximando dela a cada golpe. Ela não poderia escapar para sempre. Uma hora, ele seria atingida.
Ela tentou se manter calma. Porém, não havia muito para se fazer. Marie sabia que não conseguiria passar pela blindagem do Executor, não aquela faca, pelo menos. Continuar desviando até alguma ideia melhor surgir seria o jeito.
O Executor parecia se divertir com cada golpe que desferia. Marie era uma presa que lutava para se manter viva e ele gostava disso. De fato, fazia muito tempo que não tinha um desafio desses.
A cada golpe que Marie desviava, seu coração batia mais rápido. Ela sentia as pernas tremendo, podendo fraquejar a qualquer instante. O suor em suas mãos faria a faca cair em breve. Aí sim ela estaria perdida.
Vai ficar só fugindo? Reclamou o Executor. Após o que pareceram ser minutos fazendo a mesma coisa, ele estava se cansando. Achei que você faria essa luta valer a pena.
Pelo visto, você estava errado... Marie arfou. Desculpe decepcioná-lo... Porém... Ela esboçou um sorriso. Talvez meu amigo te divirta um pouco mais.
Rapidamente, Marie arremessou a faca, passando rente no capacete de seu inimigo, mas não o acertando. Afinal, o Executor não era mais o seu alvo.
A lâmina atravessou o ar e caiu bem aos pés de Edgar.
Saindo de um transe, o rapaz, que estava praticamente petrificado, abaixou-se para pegar a faca quase instintivamente.
Agora armado, ele olhou para o Executor.
Tentei dar uma cansada nele. Afirmou Marie com um leve sorriso no rosto. Agora ta na hora de você fazer o que sabe... E nem pense em se segurar.
Ora... O Executor gargalhou. Esse frangote aí? Ele apontou o machado para Edgar. Isso eu quero ver... Venha!
Tudo mundo quer que você vá e se divirta. Por que decepcioná-los? Só vá... Corra até sua presa com um sorriso no rosto como eu te disse...
Edgar engoliu em seco e, em seguida respirou fundo, cerrando os olhos. Ele segurou o cabo da faca com força em suas mãos.

Rapidamente, seus olhos se abriram, brilhando cheios de determinação. Um leve sorriso apareceu em sua face. Então, ele correu contra o Executor.

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