Capítulo 1
Silverhill, leste de Woodrealm, continente de Windland, Decima
de Pisceum de 1057.
Era o último dia do ano. A esperança de um começo melhor,
entretanto, não residia nos corações de muitos Woodrealmers.
O céu cinzento não permitia dizer que horas eram. A chuva
fina e gelada regava Silverhill. O vento soprava o ar fresco do mar para a
cidade. Era quase uma tentativa na natureza de se livrar da fedentina que
impregnava cada canto do local.
Um homem adentrou a cidade. Sobre a armadura de aço negro,
seu manto cinzento se estendia como uma capa, além de cobrir seu cabelo
castanho e curto.
Com passos lentos, Damian vagava pelas ruas de Silverhill.
Para cada lado que o guerreiro olhava, tragédia o olhava de volta. Pessoas de
todas as idades e classes sociais estavam jogadas pelas ruas. Com os olhares
cheios de sofrimento, elas tossiam até cuspir sangue e suplicavam por ajuda com
palavras que não faziam sentido para ele.
Um clarão no céu fez com que Damian olhasse para o alto. O
trovão veio pouco depois, seguidos por mais flashes de luz no céu cinza.
Isso só vai piorar,
o guerreiro pensou.
Damian acelerou a passada. A chuva começou a cair mais
intensamente enquanto os trovões preenchiam o ar com som.
Para cada canto que o guerreiro olhava, mais pessoas sem
esperança morriam lentamente. A carne de seus corpos parecia apodrecer.
Cobertos de cicatrizes negras, pedaços de pele e músculo se soltavam de seus
ossos e caíam no chão, moles e gosmentos como larvas de insetos.
Após alguns poucos minutos, não era mais possível para
Damian andar naquelas ruas sem pisar em poças de sangue misturadas com carne
apodrecida. A água da chuva parecia não fazer nada além de espalhar mais a
mistura grotesca. Nem mesmo o cheiro pútrido parecia disposto a deixar a cidade
ou as narinas do guerreiro.
—
Não! — Um homem
gritou. — Não vou
deixar que ele toque em mim ou em minha família!
Damian olhou na direção de onde o som veio. Era uma praça
local, além do chão por uns cinco degraus, parecendo um grande palco de tijolos
cinzentos. Num dia normal, o lugar estaria repleto de pessoas. Comerciantes
estariam vendendo peças de roupa, pedaços generosos de carne, vinhos de todo
continente e jóias de beleza estonteante. Agora, porém, haviam apenas umas
poucas pessoas discutindo.
—
Só estamos tentando ajudar vocês... —
Disse uma mulher calmamente.
—
Então colabore. —
Aconselhou um outro homem. Esse, com a voz mais rouca.
Então existem pessoas
nessa cidade que não estão morrendo, pensou Damian, por ora, pelo menos.
Com passos calmos, o guerreiro subiu os poucos degraus que
levavam a praça.
Todos que estavam no lugar, ao mesmo tempo, olharam na
direção do recém chegado. Damian retribuiu o olhar.
Eram um pouco mais de quarenta pessoas. A maioria parecia
ser camponesa ou comerciante. Em comparação com os outros que o guerreiro havia
visto antes, aquele punhado de gente parecia saudável.
Entretanto, três figuras se destacavam do resto do grupo.
Claramente, não tinham relação com as outras pessoas, porém, pareciam estar
juntos entre si. Eram forasteiros como Damian, sem dúvida. Seu propósito
naquele local, porém, não era claro.
À esquerda, estava um homem esguio e mal encarado. Sua
armadura era feita de couro marrom reforçada por aço em alguns pontos. Nos
braços, apenas manoplas eram usadas. Seus bíceps e ombros estavam à mostra,
exibindo a musculatura bem definida, além da cor da sua pele morena. Era, sem
dúvida, um Sandrealmer. A feição em seus rosto, o cabelo desgrenhado castanho
escuro e seus olhos cor de avelã só deixavam isso mais claro. Em cada lado da
cintura, havia uma espada feita de aço. Suas pontas eram curvadas e, seus
cabos, banhados a ouro.
No meio, a única mulher do grupo parecia cumprimentar Damian
com um olhar triste. Sua túnica branca, com bordados dourados delicados em
certos pontos, cobria o seu corpo quase que por completo quando levantava seu
capuz. Sob as longas e frouxas mangas estavam braceletes dourados. Peças
idênticas estavam juntas ao seu tornozelo, como era comum entre sacerdotisas
Arcanas. Seus cabelos castanhos, quase loiros, escorriam pelos ombros. Sua pele
era quase tão alva quanto às próprias roupas que usava. Seus olhos azuis claros
pareciam tomados por uma preocupação pesada demais para só ela aguentar.
Finalmente, à direita, estava a figura mais curiosa. Ao que
tudo indicava, era um homem. Sua grandiosa capa negra chegava até o chão e,
enquanto em pé, cobria todo o seu corpo, incluindo seus braços. Sob ela, estava
uma armadura pesada feita de algum tipo de metal negro. Na cabeça, o capuz
cobria da sua nuca até o ponto mais alto de sua testa. Seu rosto, entretanto,
não estava descoberto. Uma máscara de corvo, com um bico longo cor de carvão e
olhos escarlates, completava o visual.
—
Ora, ora... — O
Sandrealmer esboçou um sorriso. —
Não esperava que essa cidade recebesse visitantes tão cedo.
—
O que está acontecendo aqui exatamente? —
Damian indagou ríspido.
—
Uma praga! — Um dos
camponeses gritou. —
Vamos todos morrer se continuarmos aqui...!
—
Não! — Uma mulher,
muito provavelmente a esposa daquele homem, tapou a boca dele com uma mão. — Nós não vamos...
—
É isso mesmo. — A
sacerdotisa concordou com certo entusiasmo. —
Existe salvação. Confiem em nós...
—
Não dá... — Murmurou
uma mulher. — Só o
Godhand pode nos salvar. Nós temos que arriscar sair daqui e ir até a Capital...
—
Vocês vão morrer antes de chegar lá. —
O Sandrealmer advertiu. —
A carne vai soltar de seus ossos como se fosse um pedaço de gelo derretendo
perto do fogo. —
Houve um momento de silêncio. Todos pareciam o encaram. — Não ajam como se vocês não tivessem visto
isso. Pra qualquer lado que se olhe, é isso que se vê nessa maldita cidade...
—
E vocês querem que a gente confie naquilo?
— Um camponês apontou
para o homem com máscara de corvo. —
Droga! A gente nem sabe se ele é humano! Ele pode muito bem ser um monstro...
Ele pode querer matar a gente!
—
Se vocês não aceitarem a ajuda dele, vocês podem muito bem morrer. — A sacerdotisa afirmou
solenemente.
—
E ainda vai ser bem doloroso. —
Acrescentou o Sandrealmer. —
E nojento. — Ele
olhou, de repente, para Damian. Seu olhos pareciam brilhar intimidadoramente. — Ei, você! Forasteiro! Chegue
mais perto. Junte-se a festa!
Com o convite, o guerreiro se aproximou lentamente. Ele
podia sentir todos os olhares sobre si. Alguns ali pareciam temê-lo.
— Qual
o seu nome? — O
Sandrealmer perguntou.
—
Damian. — O guerreiro
respondeu. — Damian
Eisenfaust.
—
Gostei do nome. — Ele
sorriu sem mostrar os dentes. —
Bem imponente.
—
E você? Quem seria?
—
Eu... — O Sandrealmer
fez uma reverência, o que pareceu zombaria da parte dele. — Sou Viktor Carmesi.
Prazer em conhecê-lo, Damian.
— Carmesi? —
O guerreiro ergueu uma sobrancelha. —
Do Clã Carmesi?
—
Ora, você ouviu falar da minha família? Sinto-me lisonjeado, Snowrealmer...
—
E eu achando que poderia me misturar... —
Damian abaixou o capuz. Agora, todos podiam ver o rosto de traços fortes e
olhos quase dourados do homem do norte. —
Mas acho que meu sotaque pode ter me entregado...
— Exato.
Você até consegue imitar bem o sotaque local, mas percebi algumas diferenças
nas entonações de algumas palavras. Nada demais. E, a propósito... Melhor
assim. Ninguém escondendo o rosto... —
Viktor olhou para o homem com a máscara de corvo. — Com exceção do doutor Dreadraven aqui. — Ele olhou de volta para
Damian. — Mas ele tem
bons motivos. Acho...
—
Viktor, você vai propor ao Snowrealmer que ele seja curado pelo doutor? — A sacerdotisa perguntou.
—
Exatamente, minha cara Elise! —
O Sandrealmer sorriu para Damian. —
Afinal, você sabe que no momento que você entrou nessa cidade você foi exposto à
praga, não é? Se você não fizer nada a respeito, você vai acabar que nem quase
todo mundo daqui...
—
Hm... — Damian bufou.
— Suponho que não
tenho escolha...
—
Não mesmo...
O guerreiro olhou para Dreadraven. A máscara impedia que
suas emoções aparecessem por completo. Até os olhos, cobertos por lentes
vermelhas, eram impossíveis de ler. Era, sem dúvida, o mais intrigante dentre
os três. Pelo menos, isso era a verdade para Damian que sentia uma energia
diferente vinda dele.
—
Faça o que você sabe. —
O Snowrealmer pediu quase como se ordenasse o doutor.
Dreadraven assentiu. Damian se aproximou dele.
O doutor puxou a capa para trás. As manoplas de sua armadura
mais pareciam garras, o que fez com que alguns dos camponeses murmurassem ainda
mais nervosos.
—
Não vai doer nada. —
Disse Dreadraven. A voz rouca do homem soava ainda mais grave por causa de sua
máscara. — Só não se
mexa muito.
Calmo, Damian permaneceu imóvel enquanto faíscas púrpuras
começavam a se formar entre os dedos do doutor. Murmúrios inquietos soaram mais
altos. Em uma fração de segundos , chamas irromperam das mãos de Dreadraven.
—
Eu sabia! — Um homem
do grupo exclamou. —
É magia negra!
Os ânimos se exaltaram. Mais gritos vieram em seguida. Um
pequeno tumulto estava prestes a se formar. Foi quando, de repente, um som tão
alto quanto o de um trovão soou no meio da praça.
Os olhares de todos se voltaram para Viktor, mais
especificamente, para sua mão direita. Nela, erguida para o alto, estava sua
pistola A arma, rubra como um rubi, era de disparo único, como praticamente
todas as armas de fogo já feitas. Entretanto, seu poder era devastador para o
seu tamanho. O Sandrealmer a mantinha escondida atrás da cintura, usando-a
apenas quando necessário para ter um elemento surpresa ao seu favor.
—
Agora que eu tenho a atenção de todos... —
Viktor apontou com a arma para o doutor. Um leve fio de fumaça cinza saia do
cano da arma recém disparada. —
Vejam, ó, povo ignorante!
Enquanto o Sandrealmer recarregava sua arma, a multidão
olhava para as chamas que Dreadraven controlava com maestria. Calmamente, ele
levou suas mãos até o peito de Damian. Relaxado, o guerreiro observou o fogo
púrpura tocando o peitoral de sua armadura. Apesar de perto, ele mal sentia o
calor.
Então, as chamas se soltaram das mãos de Dreadraven.
Rapidamente, o fogo penetrou o corpo de Damian, percorrendo todo o seu
interior, da ponta de seus dedos dos pés até o topo de sua cabeça, em menos de
um segundo.
Um calafrio. Nada mais que isso o guerreiro sentiu. No
instante seguinte, ele se sentia melhor do que antes, como se tivesse dormido
bem pela primeira vez em meses.
—
Reagiu melhor que qualquer um que eu já tenha visto... — Dreadraven murmurou. — Por que será...?
Era óbvio que o doutor já havia deduzido um pouco sobre
Damian. Diante da perspicácia do homem a sua frente, o Snowrealmer apenas deu
um sorriso sem mostrar os dentes.
—
Parece que a cobaia está viva... —
Disse Viktor que, então, deu um tapinha no ombro de Damian. O guerreiro se
voltou para ver um sorriso do Sandrealmer. —
Viram? Ele está bem...! Não é?
—
Sim... — O
Snowrealmer olhou de relance para cada um na multidão. Cada rosto desesperado
parecia intrigado, quase esperançoso agora. —
Não há o que temer. Confiem no doutor.
Algumas pessoas pareciam não confiar ainda em Dreadraven.
Outros, após relutarem um pouco, foram até o homem misterioso.
—
Ah! — Viktor
exclamou. — A
propósito, até onde sabemos, uma vez curados, vocês não serão mais infectados
por essa praga. Então, depois de hoje, vivam suas vidas sem problemas, ok?
Com aquelas palavras, alguns sorrisos foram surgindo nos
rostos daquelas palavras. Algumas das pessoas que haviam recusado ir até o
doutor começavam a ir até ele. Se tudo continuasse daquele jeito, todos
acabariam indo até Dreadraven para serem curados. Em questão de cinco minutos,
o dever do misterioso indivíduo estaria cumprido.
Calmamente, Damian andou até Viktor e Elise. A dupla sorria
para ele.
—
Obrigado pela ajuda, Snowrealmer. —
A sacerdotisa uniu as palmas das mãos e se curvou ligeiramente para frente, fazendo
uma reverência mais respeitosa que a de Viktor. —
Já estávamos perdendo as esperanças aqui...
—
É, o povo dessa cidade é bem cabeça dura. —
Disse o Sandrealmer. —
E covardes. E...
—
E em breve nosso trabalho estará terminado. —
Ela interrompeu o falatório de Viktor. —
Aqui, pelo menos. Depois...
— Nosso trabalho? — O Sandrealmer ergueu uma sobrancelha. — Esse não é meu trabalho.
Isso é coisa sua e do doutor. Você sabe o porquê de eu estar aqui, minha linda,
e não tem nada a ver com isso.
—
É... — Elise bufou. — Você está certo. Eu sei,
mas...
—
Eu sei que você quer ver todo mundo sendo salvo dessa praga... — Viktor interrompeu,
porém, falando num tom calmo. —
Eu sei que você quer ajudar. Mas... Aceite logo a realidade. Você não pode
fazer nada. Não no sentido de curar os necessitados. Tudo o que você pode fazer
é segurar a mão de alguém enquanto o doutor faz todo o trabalho.
O olhar melancólico de Eilse evidenciava que ela estava
infeliz. Porém, ela sabia que Viktor falava a verdade. Ele não falava aquilo
apenas por interesse próprio.
—
Então... — Damian
cruzou os braços. —
Essa praga está além dos Arcanos?
—
Infelizmente... — A
sacerdotisa bufou. —
Ninguém sabe ao certo o que é. Nem mesmo o doutor. Mas a magia dele é capaz de
curar a praga, então... A esperança não está completamente perdida.
—
E o tal de Godhand? —
O Snowrealmer indagou. —
Eu ouvi alguma das pessoas falar esse nome...
—
Eu não sei muito sobre ele. —
Ela admitiu. — E é
exatamente esse o problema. Ninguém sabe ao certo quem ele é.
—
Como assim?
—
Ele simplesmente surge do nada curando essa praga. — Disse Viktor. —
Aí ele diz ser um serve fiel do deus Yamlight...
— O Deus Yamlight. — Elise o corrigiu levemente irritada.
—
Que seja... — O
Sandrealmer deu de ombros. —
Tento não perder o meu tempo com religião... —
Ele voltou o olhar para Damian. —
O que importa é que esse homem é um tanto quanto suspeito. Ele é como o doutor,
só que por usar magia da luz, ninguém critica. E o fato de ele ter salvo a
filha do rei Wallace, o Destemido só ajudou mais a imagem dele. E o bolso
também.
—
Ele praticamente governa o país junto com o rei agora. — A sacerdotisa acrescentou. — E os benefícios dele não
acabam por aí.
—
Se você visse a igreja dele... —
Viktor riu. — Era um
velho templo abandonado na Capital. Agora é praticamente a droga dum palácio!
—
E isso tudo aconteceu em quanto tempo...? —
O Snowrealmer perguntou.
—
Dois anos. —
Respondeu Elise. —
Talvez um pouco mais que isso.
—
As notícias de fora raramente chegam até vocês, não é mesmo? — Indagou Viktor. — Aposto que a guerra civil
não ajuda também... Aliás! Icebrand ou Drake?
—
Nenhum. — Damian
respondeu secamente.
—
Não se interessa muito por política? —
O Sandrealmer parecia curioso. —
Ou acredita que mais uma família lutará pelo controle do país?
—
Não sei. E também não me importo. —
O olhar do Snowrealmer era quase mortífero para Viktor. — Eu deixei aquele lugar. Não pretendo voltar.
—
Não deixou ninguém para trás? —
Agora era Elise que parecia curiosa. —
Família? Amigos?
—
Não. — Damian respondeu
no mesmo tom áspero de antes. —Eu
fui o único sobrevivente.
Viktor e Elise trocaram olhares. Eles pareciam um pouco mal
por perguntarem. Era obviamente um assunto complicado para o guerreiro.
Entretanto, antes que os dois pudessem dizer algo como “meus
pêsames” ou um simples “desculpe por perguntar”, um novo som ecoou pela praça.
Era um grasnado agudo que parecia atravessar o ar como uma
lâmina contra outra. O ruído foi capaz de fazer praticamente todos tremerem
agoniados, gritando em protesto. Damian e Dreadraven eram os únicos que
conseguiram manter a compostura e, com isso, conseguiram olhar de onde o som
havia vindo. No topo de um dos telhados dos prédios no entorno da praça, estava
um Necrófago.
A ave, como toda fera de sua espécie, tinha o topo da cabeça
completamente branco com dois chifres: era o crânio exposta da criatura. Os
olhos eram vazios preenchidos com a magia negra que os fazia viver. Então, o
monstro, grandioso como um abutre, esticou suas longas asas e levantou vôo.
Damian e Dreadraven seguiram a criatura com os olhos. Os
dois, então, viram que o Necrófago tinha companhia. Outros três voavam agora
com ele em um círculo sobre a praça.
Não demorou para que Viktor e Elise, seguidos dos camponeses
e mercadores, vissem os monstros no céu. Também não demorou para que uivos,
passos rápidos e gritos de desespero viessem enfim. Era bem provável que quase
todos os que estavam jogados nas ruas da cidade, grunhindo de dor e esperando
por uma salvação, encontraram um fim brutal.
—
Eles não podem sentir o cheiro de carne podre, não é...? — Viktor soou nervoso.
—
Lobos Necrófagos... —
Dreadraven murmurou desanimado, afinal, ele estava quase terminado de curar a
praga de todos. Agora, além de tudo, aqueles salvos poderiam morrer nos
próximos instantes. —
Não conseguiremos manter todos vivos...
A afirmação do doutor fez algumas das pessoas começarem a se
agitar. Eles sabiam que morreriam. Muitos já haviam visto aquelas criaturas e
sabiam do que eram capazes.
Viktor sacou suas espadas. Seu olhar era determinado. Ele
tentava não ficar nervoso a todo custo.
Elise respirou fundo e se concentrou. Suas mãos começaram a
emitir um brilho branco. Não seria a primeira vez que a sacerdotisa enfrentaria
aqueles monstros.
Dreadraven parecia calmo. Ele estendeu um punho para o ar.
De repente, faíscas púrpuras sugiram por toda sua mão. No instante seguinte, um
sabre negro, ainda embainhado, surgiu. Na bainha, as inscrições rúnicas prateadas
brilhavam.
Todos, com exceção de Elise, Damian e o próprio Dreadraven
estavam perplexos. Eles nunca haviam visto alguém materializar uma arma a
partir de magia negra. Ninguém podia os culpar pela reação.
—
Sua vez. — O doutor
disse para Damian.
O Snowrealmer sorriu. Para Dreadraven aquilo era tão óbvio
que parecia uma piada.
— Sua vez? —
Viktor repetiu as palavras do doutor confuso. —
Como assim...? —
Então, ele percebeu. —
Damian? Onde está a sua espada...?
O guerreiro estendeu a palma de sua mão direita. Por debaixo
de suas faixas, uma marca vermelha brilhou intensamente. Faíscas vermelhas
surgiram. O vento começou a se agitar. O ar pareceu mais frio e denso.
Como uma explosão, chamas e fumaça saíram violentamente da
marca da mão de Damian para se solidificarem no instante seguinte.
Todos olhavam impressionados para o Snowrealmer. Com sua mão
direita, ele manejava uma espada claramente maior que ele mesmo. A arma negra
parecia viver. Suas marcas escarlates pareciam veias de magma que pulsavam a
cada batida do coração do guerreiro. A lâmina brilhava tanto que parecia ser
feita de diamantes.
—
Ela é imponente... —
Dreadraven admitiu. —
Agora veremos o quão afiada ela é...
Damian sorriu. Seu olhar era determinado. Com a Demonsbane
em mãos, ele tinha certeza de que não poderia ser derrotado.
Então, os uivos soaram mais altos. Como sombras, a matilha
surgiu dentre as ruas da cidade e cercaram a praça.
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