—
Simples assim? —
Perguntou o rapaz.
De braços cruzados, Daisuke Inaba olhava friamente para o
ser a sua frente. A criatura, sentada em seu trono dourado, retribuiu o olhar
com um largo sorriso e respondeu:
—
Mas é claro.
Sua voz grave ecoou pelo grande salão branco vazio.
Calmamente, o deus se levantou. Não era possível dizer ao
certo se ele trajava uma armadura de prata ou se aquela era a pele dele.
Pomposo, ele andou a frente de Daisuke e, então, estendeu a mão para o mortal.
Seus olhos escarlates brilhavam.
—
Então... Temos um acordo?
—
Uma dádiva e uma maldição... —
Daisuke esboçou um sorriso. —
Esse é o acordo que você faz com todos?
—
Ora, ora... — Ele
soou um tanto quanto surpreso. —
Você é um dos poucos que lembra que existem outras pessoas no mundo numa hora
dessas.
—
Tenho certeza que você me lembraria dos outros em questão de instantes... Junto
com o resto das informações que você me prometeu, certo?
—
Certo... — O deus riu
baixo. — Certo como
sempre, não?
Daisuke não respondeu, nem negando nem afirmando.
—
É por isso que eu gosto de você, garoto. —
Ele continuou, agora, num tom mais casual. —
Além de inteligente, fala só o que precisa. Não fica cheio de pose como a
maioria dos humanos com inteligência acima da média. — O deus fez uma breve pausa enquanto olhava
fundo nos olhos de Daisuke. —
É por isso que eu te escolhi.
—
Ótimo saber que não fui escolhido ao acaso... —
O jovem disse sem muito entusiasmo. —
Porém, sei que existem muitas coisas que você não me contara. O verdadeiro plano,
não só seu, como também dos outros deuses...
—
Será revelado na hora certa. —
Ele respondeu, antecipando a pergunta do rapaz. —
Afinal, nem nós, deuses menores, sabemos o que acontecerá. Tudo será revelado
pelo Deus Supremo... Quando Ele achar que a hora certa chegou.
Daisuke permaneceu em silêncio por alguns instantes,
pensativo. O deus esperou pacientemente.
O rapaz, enfim, arrumou os óculos no rosto, olhou para
seu anfitrião e disse:
—
Está bem. — Ele
estendeu uma mão para o deus. —
Você tem a minha curiosidade. Espero não me decepcionar.
—
Você não vai se decepcionar. —
A criatura sorriu e, então, apertou firmemente a mão do rapaz. — Nem você, nem eu.
Daisuke, então, sentiu uma sensação estranha percorrer
seu corpo. Ele cerrou os olhos e, por um instante, não conseguiu respirar.
A agonia, porém, não durou mais de um segundo.
No instante seguinte, Daisuke estava bem, talvez, até
melhor e mais disposto do que antes.
O deus, agora, estava de volta ao seu trono.
—
Funcionou? — O jovem
indagou.
—
Você pode acreditar na palavra de Redmind Fugus, meu jovem. — Ele sorriu. — Você poderá testar seu
novo poder assim que eu te mandar de volta para o plano terrestre. Por ora...
Tenho que te contar como remover sua maldição.
— Hm... — Daisuke parecia surpreso. — Está falando sério?
— Mas é claro! Viver
com a dádiva e se livrar da maldição é uma realidade palpável para todos
vocês... Porém... O preço pode ser pior do que a própria maldição...
— Deixe-me
adivinhar... O preço também é personalizado?
— Sim. Diferente
pra cada pessoa, bem como a bênção e a maldição.
— Mas é claro
que é... — Ele bufou. — Ok. Pode falar o que é.
— É bem simples
na verdade. — Redmind
sorriu. — Traia a
confiança de alguém próximo a você e, quando descobrirem a verdade, mate essa
pessoa... Entendeu?
Daisuke
parecia ter ouvido as palavras, porém, não conseguia entender o significado
delas.
— Quer que eu
fale de novo? — O deus
perguntou. — Não me custa
nada...
— Não. — O rapaz disse irritado. — Não precisa. — Ele trincou os dentes. — Eu vou viver
com a maldição.
— Você não
precisa se decidir agora. Aliás, você pode viver quanto tempo quiser com a
maldição, agonizando por anos a fio... Porém... Livrar-se dela vai te custar
apenas alguns instantes...
— E o que você
ganha com isso?
— Talvez isso te
ajude a sobreviver. Nos tempos que estão por vir, saiba disso, eu estarei
torcendo por você.
— Claro... — Daisuke pareceu pensativo por um instante. — Então... Quantos somos nós, escolhidos,
exatamente?
— Muitos. Um pra
cada um de nós, deuses menores.
— E você não vai
me dizer quantos são?
— Não agora.
Quando poucos de vocês sobrarem, o Deus Supremo nos dará permissão para contar.
Talvez Ele mesmo conte para vocês.
— Certo... E
onde exatamente estamos?
— Espalhados
pelo mundo inteiro. Se quiser encontrar os outros, sugiro que viaje. Muito. — O deus fez uma breve pausa. — Porém, você sentirá algo ao se aproximar de algum deles. Uma sensação como você sentiu
agora pouco, sabe? Aí... Você terá apenas que usar o seu poder...
— Ok... E existem
escolhidos por perto de mim também? Na minha cidade, por exemplo?
— Sim... Mas
nenhum que você conheça. Porém, tenho certeza que você não conhecer nenhum dos
escolhidos não é surpresa, ou é?
Mais
uma vez, Daisuke optou por não responder.
— Então... — Redmind limpou a garganta. — Acabaram as perguntas?
— Sim.
— Está pronto?
O
rapaz assentiu. O deus sorriu.
— Ótimo. — Ele colocou a mão no ombro do rapaz. — Boa sorte.
Com
essas últimas palavras, o cenário começou a se desfazer como se fosse um tecido
de seda sendo rasgado. Daisuke, surpreso, nem percebeu Redmind ou seu trono
desaparecendo.
Quando
percebeu, o rapaz já estava de volta ao seu quarto. Pela única janela, ele via
o sol nascendo. Algo o dizia que aquilo não foi um sonho.
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