sábado, 16 de janeiro de 2016

Os Escolhidos, Capítulo 1

Simples assim? Perguntou o rapaz.
De braços cruzados, Daisuke Inaba olhava friamente para o ser a sua frente. A criatura, sentada em seu trono dourado, retribuiu o olhar com um largo sorriso e respondeu:
Mas é claro.
Sua voz grave ecoou pelo grande salão branco vazio.
Calmamente, o deus se levantou. Não era possível dizer ao certo se ele trajava uma armadura de prata ou se aquela era a pele dele. Pomposo, ele andou a frente de Daisuke e, então, estendeu a mão para o mortal. Seus olhos escarlates brilhavam.
Então... Temos um acordo?
Uma dádiva e uma maldição... Daisuke esboçou um sorriso. Esse é o acordo que você faz com todos?
Ora, ora... Ele soou um tanto quanto surpreso. Você é um dos poucos que lembra que existem outras pessoas no mundo numa hora dessas.
Tenho certeza que você me lembraria dos outros em questão de instantes... Junto com o resto das informações que você me prometeu, certo?
Certo... O deus riu baixo. Certo como sempre, não?
Daisuke não respondeu, nem negando nem afirmando.
É por isso que eu gosto de você, garoto. Ele continuou, agora, num tom mais casual. Além de inteligente, fala só o que precisa. Não fica cheio de pose como a maioria dos humanos com inteligência acima da média. O deus fez uma breve pausa enquanto olhava fundo nos olhos de Daisuke. É por isso que eu te escolhi.
Ótimo saber que não fui escolhido ao acaso... O jovem disse sem muito entusiasmo. Porém, sei que existem muitas coisas que você não me contara. O verdadeiro plano, não só seu, como também dos outros deuses...
Será revelado na hora certa. Ele respondeu, antecipando a pergunta do rapaz. Afinal, nem nós, deuses menores, sabemos o que acontecerá. Tudo será revelado pelo Deus Supremo... Quando Ele achar que a hora certa chegou.
Daisuke permaneceu em silêncio por alguns instantes, pensativo. O deus esperou pacientemente.
O rapaz, enfim, arrumou os óculos no rosto, olhou para seu anfitrião e disse:
Está bem. Ele estendeu uma mão para o deus. Você tem a minha curiosidade. Espero não me decepcionar.
Você não vai se decepcionar. A criatura sorriu e, então, apertou firmemente a mão do rapaz. Nem você, nem eu.
Daisuke, então, sentiu uma sensação estranha percorrer seu corpo. Ele cerrou os olhos e, por um instante, não conseguiu respirar.
A agonia, porém, não durou mais de um segundo.
No instante seguinte, Daisuke estava bem, talvez, até melhor e mais disposto do que antes.
O deus, agora, estava de volta ao seu trono.
Funcionou? O jovem indagou.
Você pode acreditar na palavra de Redmind Fugus, meu jovem. Ele sorriu. Você poderá testar seu novo poder assim que eu te mandar de volta para o plano terrestre. Por ora... Tenho que te contar como remover sua maldição.
Hm... Daisuke parecia surpreso. Está falando sério?
Mas é claro! Viver com a dádiva e se livrar da maldição é uma realidade palpável para todos vocês... Porém... O preço pode ser pior do que a própria maldição...
Deixe-me adivinhar... O preço também é personalizado?
Sim. Diferente pra cada pessoa, bem como a bênção e a maldição.
Mas é claro que é... Ele bufou. Ok. Pode falar o que é.
É bem simples na verdade. Redmind sorriu. Traia a confiança de alguém próximo a você e, quando descobrirem a verdade, mate essa pessoa... Entendeu?
Daisuke parecia ter ouvido as palavras, porém, não conseguia entender o significado delas.
Quer que eu fale de novo? O deus perguntou. Não me custa nada...
Não. O rapaz disse irritado. Não precisa. Ele trincou os dentes. Eu vou viver com a maldição.
Você não precisa se decidir agora. Aliás, você pode viver quanto tempo quiser com a maldição, agonizando por anos a fio... Porém... Livrar-se dela vai te custar apenas alguns instantes...
E o que você ganha com isso?
Talvez isso te ajude a sobreviver. Nos tempos que estão por vir, saiba disso, eu estarei torcendo por você.
Claro... Daisuke pareceu pensativo por um instante. Então... Quantos somos nós, escolhidos, exatamente?
Muitos. Um pra cada um de nós, deuses menores.
E você não vai me dizer quantos são?
Não agora. Quando poucos de vocês sobrarem, o Deus Supremo nos dará permissão para contar. Talvez Ele mesmo conte para vocês.
Certo... E onde exatamente estamos?
Espalhados pelo mundo inteiro. Se quiser encontrar os outros, sugiro que viaje. Muito. O deus fez uma breve pausa. Porém, você sentirá algo ao se aproximar de algum deles. Uma sensação como você sentiu agora pouco, sabe? Aí... Você terá apenas que usar o seu poder...
Ok... E existem escolhidos por perto de mim também? Na minha cidade, por exemplo?
Sim... Mas nenhum que você conheça. Porém, tenho certeza que você não conhecer nenhum dos escolhidos não é surpresa, ou é?
Mais uma vez, Daisuke optou por não responder.
Então... Redmind limpou a garganta. Acabaram as perguntas?
Sim.
Está pronto?
O rapaz assentiu. O deus sorriu.
Ótimo. Ele colocou a mão no ombro do rapaz. Boa sorte.
Com essas últimas palavras, o cenário começou a se desfazer como se fosse um tecido de seda sendo rasgado. Daisuke, surpreso, nem percebeu Redmind ou seu trono desaparecendo.

Quando percebeu, o rapaz já estava de volta ao seu quarto. Pela única janela, ele via o sol nascendo. Algo o dizia que aquilo não foi um sonho.

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