Os passos do Executor soavam
cada vez mais estrondosos atrás do rapaz. O equipamento pesado deveria o deixar
lento, mas sua passada larga parecia compensar a desvantagem.
Direita...
No instante em que Edgar via
uma das setas, a voz soava em sua cabeça, repetindo a informação e, de alguma
maneira, o deixando mais confiante, mantendo suas esperanças apear do pavor.
Em frente...
Esquerda...
Esquerda novamente...
A voz soava cada vez mais como
um amigo. Suas tendências assassinas pareciam ter se silenciado. Por ora, pelo
menos.
Edgar não fraquejava. Seu
coração parecia que ia explodir dentro de seu peito. Seus pulmões pareciam que
não seriam o suficiente. Entretanto, qualquer mísero pensamento que pudesse o
levar a desistir era afastado de sua mente. A voz não o permitiria se render.
Os passos do Executor eram o
suficiente para espantar qualquer um que estivesse no caminho. Edgar via
claramente as pessoas jogadas no meio do corredor. Desesperadamente, elas
tentavam fugir, correndo em direção às paredes como baratas. Se pudessem
atravessar frestas ou subir pelas paredes, o fariam sem problema.
Entretanto, nem todos
conseguiam sair do meio caminho. Ferimentos e a fadiga eram as causas disso.
Assim, obstáculos acabavam surgindo na rota da presa e do predador.
Edgar tentava desviar como
podia. Trombava com uns, empurrando-os na direção das paredes. Chegou a pular
por cima de uns que estavam agachados ou deitados. Um homem, aterrorizado com a
visão do colosso sedento de sangue, não se mexeu. Por sorte, ou pelo apoio da
voz, o rapaz deslizou por debaixo das pernas do sujeito, assim como havia feito
com o primeiro Executor.
O perseguidor de Edgar, no
entanto, não era tão gentil. Seus socos arremessavam quem estivesse em seu caminho
para longe, sem escolher seus alvos, prensando-os contra paredes ou os jogando
em seu caminho. Aqueles que ficavam no chão, entre ele e sua presa, eram
pisoteados como insetos.
Com o tempo, a vantagem de
Edgar foi se tornando mais nítida. Cada passo era crucial. Em breve, ele teria
tempo para tentar recuperar o fôlego. Com o suor escorrendo por debaixo das
faixas que cobriam seu rosto, o jovem podia usar uma pequena pausa.
Após o que pareceram ser horas
de fuga, Edgar, exausto, chegou até o corredor final.
O caminho reto a sua frente
terminava num portão de grades de ferro negro. Suas mãos tremiam devido ao
nervosismo, fazendo as chaves que o rapaz segurava tilintarem. Apesar das
pernas que latejavam de dor, ele conseguiu esboçar um sorriso.
Não pare agora... Vá em frente...
Edgar assentiu, respirou fundo e
cerrou os punhos. Seu olhar agora era determinado.
Os passos soaram mais altos. O
Executor estaria em sua cola novamente em questão de segundos.
Com passos largos, sem olhar
para trás, o jovem chegou rapidamente à porta. Ele tinha apenas que
destrancá-la agora.
O Executor se aproximava. Edgar
podia ouvi-lo. Suas mãos tremiam. As chaves se agitavam entre seus dedos.
Então, o inevitável aconteceu.
Por entre os dedos do rapaz, as
chaves caíram. Ele viu a cena em câmera lenta, bem diante de seus olhos, sem
poder fazer nada.
Olhe para trás!
Edgar estava prestes a se
abaixar para pegar as chaves quando resolveu acatar a ordem. O Executor estava
a pouco mais de um metro de distância. Sua lança poderia acertá-lo sem
problemas.
O rapaz sentiu seu corpo
amolecer. Não conseguiria reagir. O seu fim seria ali mesmo.
Não... Não depois de tudo isso...
Edgar sentiu seu corpo se mover
por conta própria. Apesar de enxergar, não acreditava no que estava
acontecendo.
Ele se esquivou para a
esquerda, desviando da lança que passou por um dos vãos por entre as grades da
porta. Rapidamente, o rapaz deu a volta no colosso e, com um golpe rápido,
acertou a axila direita do inimigo.
Edgar nem mais se lembrava de
ter a faca mas, de alguma maneira, lá estava ela em sua mão. O golpe preciso,
mais uma vez, acertou um ponto fraco da blindagem. Com o sangue que começou a
escorrer, veio a dor. O gigante rosnou e soltou sua arma.
Com mais força do que ele
imaginava ter, Edgar pressionou o ombro direito do Executor. Praticamente
rosnando, o colosso se ajoelhou. Em seguida, a lâmina da faca do rapaz se
aproximou da garganta de seu oponente. Mais um ponto fraco, bem abaixo do
capacete.
Não se esqueça... O que ele fez com Marie foi imperdoável...
Edgar estava prestes a
protestar. Ele não queria matar mais ninguém. Porém, a imagem de Marie sendo
atravessada pela lança daquele Executor não sairia da mente dele tão cedo.
Ele trincou os dentes. Sentiu o
sangue começar a ferver. Com a mão livre, ele apertou o pescoço do Executor.
Rapidamente, a raiva havia dominado seu corpo e, então, sua faca deslizou pela
garganta do agora impotente colosso.
Então, Edgar perdeu o controle.
Enquanto o Executor ainda estava vivo, o rapaz atacou. Ele cravou sua faca no
pescoço de sua vítima com toda força que tinha. Então, a arrancou com tanta
voracidade quanto o primeiro golpe. Em seguida, repetiu o processo.
Mais uma, duas três e mais
vezes. Edgar continuou esfaqueando o já morto Executor por mais vezes do que se
lembraria. Quando se deu por si, segurava um corpo sem vida, machado de rubro,
ajoelhado numa poça escarlate.
Entretanto, Edgar não se sentia
mais como antes. Não sentiu mais medo ou nojo de si mesmo. Pelo contrário, ele
estava completamente confortável, sorrindo calmamente.
Muito bom...
—
Isso foi uma exceção. —
Ele respondeu, mesmo sabendo que seu interlocutor estava dentro de sua cabeça. — Ele mereceu. Não vai
acontecer com muita frequencia.
Se você diz...
Edgar julgou melhor não
discutir. Em breve ele estaria duvidando da própria sanidade. Talvez realmente
o fizesse, porém, mais tarde, em um lugar mais seguro. Afinal, sua liberdade
estava a centímetros de distância.
O rapaz andou até as chaves
caídas no chão, bem em frente à porta. Uma a uma, ele testou as chaves. Na
terceira tentativa, sucesso. O portão foi destrancado e, então, abriu-se.
Na sua frente, um pequeno
corredor seguia até uma escada em espiral. O único caminho era para cima, para
longe daquele inferno.
Edgar respirou fundo, porém,
uma dose de adrenalina o atingiu. Ele queria correr para fora daquele lugar.
Ele queria ser livre e viver a vida maravilhosa que poderia haver do lado de
fora. Ele queria deixar o passado e o presente para trás, deixar todo o
sofrimento de lado, e deixar Marie orgulhosa.
Entretanto, após apenas alguns
passos, ele dois estrondos simultâneos. Incrédulo, ele olhou ao redor.
Barreiras de aço haviam descido do teto, bloqueando tanto o caminho para as
escadas tanto a porta por onde tinha vindo.
—
Não... — Edgar
tremeu. — Não...
Não...!
Por um instante, ele se sentiu
claustrofóbico, como se as paredes fossem se fechar em cima dele. Talvez fossem
mesmo. O rapaz não tinha como saber. Então, apenas caiu de joelhos, esperando
pelo pior, sem estar preparado para tal.
De repente, gás começou a sair
das paredes. O vapor esverdeado rapidamente preencheu a sala e, então, seus
pulmões. O aroma doce e enjoativo fez com que seus músculos amolecessem. Em
questão de segundos, estava caído no chão, quase inerte, praticamente
inconsciente.
Você não vai morrer... Não agora, pelo menos.
A voz estava certa. Edgar não
se sentia mal, apenas dormente. Era pouco provável que aquilo fosse veneno.
Sonífero, entretanto, era bem mais provável que fosse.
Rapidamente, uma das placas
subiu. Era a que levava às escadas, porém, o rapaz não saberia dizer. De lá,
alguém andou até ele.
Com a visão embaçada, Edgar
apenas conseguia determinar que a silhueta que via pertencia a uma mulher. Ela
era alta, um pouco mais do que ele mesmo. A desconhecida parecia estar usando uma
roupa blindada como as dos Executores, incluindo um capacete que lhe permitisse
respirar aquele gás sem ser afetada.
Ela andou até Edgar e o puxou
pelo braço, levantando-o e o carregando por cima do ombro. Aparentemente, ela
era quase tão forte quanto um dos brutos Executores também.
Enquanto seguiam em direção à
escadaria, Edgar fechou os olhos e, então, cedeu ao efeito do gás, adormecendo
profundamente enquanto era levado para fora daquele inferno.
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