sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Conto de Terror 12 - Parte 7

Os passos do Executor soavam cada vez mais estrondosos atrás do rapaz. O equipamento pesado deveria o deixar lento, mas sua passada larga parecia compensar a desvantagem.
Direita...
No instante em que Edgar via uma das setas, a voz soava em sua cabeça, repetindo a informação e, de alguma maneira, o deixando mais confiante, mantendo suas esperanças apear do pavor.
Em frente...
Esquerda...
Esquerda novamente...
A voz soava cada vez mais como um amigo. Suas tendências assassinas pareciam ter se silenciado. Por ora, pelo menos.
Edgar não fraquejava. Seu coração parecia que ia explodir dentro de seu peito. Seus pulmões pareciam que não seriam o suficiente. Entretanto, qualquer mísero pensamento que pudesse o levar a desistir era afastado de sua mente. A voz não o permitiria se render.
Os passos do Executor eram o suficiente para espantar qualquer um que estivesse no caminho. Edgar via claramente as pessoas jogadas no meio do corredor. Desesperadamente, elas tentavam fugir, correndo em direção às paredes como baratas. Se pudessem atravessar frestas ou subir pelas paredes, o fariam sem problema.
Entretanto, nem todos conseguiam sair do meio caminho. Ferimentos e a fadiga eram as causas disso. Assim, obstáculos acabavam surgindo na rota da presa e do predador.
Edgar tentava desviar como podia. Trombava com uns, empurrando-os na direção das paredes. Chegou a pular por cima de uns que estavam agachados ou deitados. Um homem, aterrorizado com a visão do colosso sedento de sangue, não se mexeu. Por sorte, ou pelo apoio da voz, o rapaz deslizou por debaixo das pernas do sujeito, assim como havia feito com o primeiro Executor.
O perseguidor de Edgar, no entanto, não era tão gentil. Seus socos arremessavam quem estivesse em seu caminho para longe, sem escolher seus alvos, prensando-os contra paredes ou os jogando em seu caminho. Aqueles que ficavam no chão, entre ele e sua presa, eram pisoteados como insetos.
Com o tempo, a vantagem de Edgar foi se tornando mais nítida. Cada passo era crucial. Em breve, ele teria tempo para tentar recuperar o fôlego. Com o suor escorrendo por debaixo das faixas que cobriam seu rosto, o jovem podia usar uma pequena pausa.
Após o que pareceram ser horas de fuga, Edgar, exausto, chegou até o corredor final.
O caminho reto a sua frente terminava num portão de grades de ferro negro. Suas mãos tremiam devido ao nervosismo, fazendo as chaves que o rapaz segurava tilintarem. Apesar das pernas que latejavam de dor, ele conseguiu esboçar um sorriso.
Não pare agora... Vá em frente...
Edgar assentiu, respirou fundo e cerrou os punhos. Seu olhar agora era determinado.
Os passos soaram mais altos. O Executor estaria em sua cola novamente em questão de segundos.
Com passos largos, sem olhar para trás, o jovem chegou rapidamente à porta. Ele tinha apenas que destrancá-la agora.
O Executor se aproximava. Edgar podia ouvi-lo. Suas mãos tremiam. As chaves se agitavam entre seus dedos.
Então, o inevitável aconteceu.
Por entre os dedos do rapaz, as chaves caíram. Ele viu a cena em câmera lenta, bem diante de seus olhos, sem poder fazer nada.
Olhe para trás!
Edgar estava prestes a se abaixar para pegar as chaves quando resolveu acatar a ordem. O Executor estava a pouco mais de um metro de distância. Sua lança poderia acertá-lo sem problemas.
O rapaz sentiu seu corpo amolecer. Não conseguiria reagir. O seu fim seria ali mesmo.
Não... Não depois de tudo isso...
Edgar sentiu seu corpo se mover por conta própria. Apesar de enxergar, não acreditava no que estava acontecendo.
Ele se esquivou para a esquerda, desviando da lança que passou por um dos vãos por entre as grades da porta. Rapidamente, o rapaz deu a volta no colosso e, com um golpe rápido, acertou a axila direita do inimigo.
Edgar nem mais se lembrava de ter a faca mas, de alguma maneira, lá estava ela em sua mão. O golpe preciso, mais uma vez, acertou um ponto fraco da blindagem. Com o sangue que começou a escorrer, veio a dor. O gigante rosnou e soltou sua arma.
Com mais força do que ele imaginava ter, Edgar pressionou o ombro direito do Executor. Praticamente rosnando, o colosso se ajoelhou. Em seguida, a lâmina da faca do rapaz se aproximou da garganta de seu oponente. Mais um ponto fraco, bem abaixo do capacete.
Não se esqueça... O que ele fez com Marie foi imperdoável...
Edgar estava prestes a protestar. Ele não queria matar mais ninguém. Porém, a imagem de Marie sendo atravessada pela lança daquele Executor não sairia da mente dele tão cedo.
Ele trincou os dentes. Sentiu o sangue começar a ferver. Com a mão livre, ele apertou o pescoço do Executor. Rapidamente, a raiva havia dominado seu corpo e, então, sua faca deslizou pela garganta do agora impotente colosso.
Então, Edgar perdeu o controle. Enquanto o Executor ainda estava vivo, o rapaz atacou. Ele cravou sua faca no pescoço de sua vítima com toda força que tinha. Então, a arrancou com tanta voracidade quanto o primeiro golpe. Em seguida, repetiu o processo.
Mais uma, duas três e mais vezes. Edgar continuou esfaqueando o já morto Executor por mais vezes do que se lembraria. Quando se deu por si, segurava um corpo sem vida, machado de rubro, ajoelhado numa poça escarlate.
Entretanto, Edgar não se sentia mais como antes. Não sentiu mais medo ou nojo de si mesmo. Pelo contrário, ele estava completamente confortável, sorrindo calmamente.
Muito bom...
Isso foi uma exceção. Ele respondeu, mesmo sabendo que seu interlocutor estava dentro de sua cabeça. Ele mereceu. Não vai acontecer com muita frequencia.
Se você diz...
Edgar julgou melhor não discutir. Em breve ele estaria duvidando da própria sanidade. Talvez realmente o fizesse, porém, mais tarde, em um lugar mais seguro. Afinal, sua liberdade estava a centímetros de distância.
O rapaz andou até as chaves caídas no chão, bem em frente à porta. Uma a uma, ele testou as chaves. Na terceira tentativa, sucesso. O portão foi destrancado e, então, abriu-se.
Na sua frente, um pequeno corredor seguia até uma escada em espiral. O único caminho era para cima, para longe daquele inferno.
Edgar respirou fundo, porém, uma dose de adrenalina o atingiu. Ele queria correr para fora daquele lugar. Ele queria ser livre e viver a vida maravilhosa que poderia haver do lado de fora. Ele queria deixar o passado e o presente para trás, deixar todo o sofrimento de lado, e deixar Marie orgulhosa.
Entretanto, após apenas alguns passos, ele dois estrondos simultâneos. Incrédulo, ele olhou ao redor. Barreiras de aço haviam descido do teto, bloqueando tanto o caminho para as escadas tanto a porta por onde tinha vindo.
Não... Edgar tremeu. Não... Não...!
Por um instante, ele se sentiu claustrofóbico, como se as paredes fossem se fechar em cima dele. Talvez fossem mesmo. O rapaz não tinha como saber. Então, apenas caiu de joelhos, esperando pelo pior, sem estar preparado para tal.
De repente, gás começou a sair das paredes. O vapor esverdeado rapidamente preencheu a sala e, então, seus pulmões. O aroma doce e enjoativo fez com que seus músculos amolecessem. Em questão de segundos, estava caído no chão, quase inerte, praticamente inconsciente.
Você não vai morrer... Não agora, pelo menos.
A voz estava certa. Edgar não se sentia mal, apenas dormente. Era pouco provável que aquilo fosse veneno. Sonífero, entretanto, era bem mais provável que fosse.
Rapidamente, uma das placas subiu. Era a que levava às escadas, porém, o rapaz não saberia dizer. De lá, alguém andou até ele.
Com a visão embaçada, Edgar apenas conseguia determinar que a silhueta que via pertencia a uma mulher. Ela era alta, um pouco mais do que ele mesmo. A desconhecida parecia estar usando uma roupa blindada como as dos Executores, incluindo um capacete que lhe permitisse respirar aquele gás sem ser afetada.
Ela andou até Edgar e o puxou pelo braço, levantando-o e o carregando por cima do ombro. Aparentemente, ela era quase tão forte quanto um dos brutos Executores também.

Enquanto seguiam em direção à escadaria, Edgar fechou os olhos e, então, cedeu ao efeito do gás, adormecendo profundamente enquanto era levado para fora daquele inferno.

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