domingo, 10 de janeiro de 2016

Conto de Terror 12 - Parte 8 (Final)

Murmúrios. Sons ininteligíveis para o rapaz. Foi com isso que ele acordou.
Com a visão embaçada, a primeira coisa que Edgar viu foram seus braços apoiados num balcão. Suas costas doíam. Fazia parte das consequências de se passar horas dormindo sentado.
O jovem levou as mãos à cabeça que latejava de dor. Emitir um grunhido de dor foi tudo o que Edgar pôde fazer.
Ora, ora... Disse um homem satisfeito. Vejo que finalmente acordou...
O rapaz mexeu a cabeça o mais rápido que pôde na direção na voz.
O jovem, então, olhou para a porá do cômodo. Lá, um homem surpreendentemente arrumado estava parado, guardando um celular no bolso. Seu cabelo castanho claro estava bem penteado. Seu terno cinzento estava impecável. Em seu rosto liso, um par de olhos azuis escuros e um sorriso largo saudavam Edgar.
Temi que você não sobreviveria... O homem continuou. É sério. Afinal, não era nem para você ter terminado lá...
Quem é você...? Edgar indagou com certa dificuldade.
Ah, claro... Você perdeu a memória. É verdade. Perdoe-me. Ele fez uma reverência. Henry Allard, ao seu dispor.
Hm... Allard...? O rapaz murmurou. Henry... Allard. Ele disse pausadamente. Esse nome... Já ouvi antes...
Naturalmente. Somos grandes amigos, meu caro. Henry sorriu. Espero que você logo se lembre do resto do seu passado.
É... Não me lembro de muitas coisas ainda... Só o meu nome...
Ora, você se lembra do seu nome?
Edgar assentiu.
Então... Henry sorriu. Vá em frente. Diga! Vamos testar sua memória, ok?
Ah... É Edgar... Ele sentiu o ímpeto de continuar. Edgar Dupond.
Foi como se a memória viesse por completo enquanto falava. Edgar se lembrou de seu sobrenome enfim. Com isso, o rapaz sorriu.
Porém, o sorriso logo se desfez. Afinal, Henry balançava a cabeça para os lados.
Você conhece um homem com esse nome. Ele afirmou. Aliás, nós o conhecemos. Edgar é um homem horrível, sabe? Ele te fez tanto mal.
Sério...? O rapaz engoliu em seco. Então... Qual o meu nome?
Victor. Victor Falk. Henry riu baixo. Ou, pelo menos, esse é o nome que você sempre me contou.
E... Eu mentiria meu nome? Por quê?
Hm... É... Você realmente não é mais você mesmo. Não por ora.
De repente, passos pesados soaram. Henry se voltou para trás e sorriu.
Anna. Ele a chamou. Venha. Victor acordou.
O rapaz, então, ficou sem reação ao ver a mulher entrando na sala. Alta, forte, com o corpo completamente coberto pelo o que mais parecia ser uma armadura, Anna encarou Victor pelo visor de seu capacete.
O jovem lembrava claramente da mulher que o carregou, sem saber se ela o salvou ou o carregou. Porém, olhando agora para ela, e também sabendo seu nome, Victor sentiu algo diferente: ele nunca se sentiu tão confortável, mesmo sem saber o motivo.
Apenas confie neles. Eles são nossos amigos. Nossa família, ouso dizer.
Anna Linden, certo? Victor indagou, agora se lembrando do sobrenome de Anna.
Ela assentiu.
Anna não é muito de falar. Afirmou Henry. Eu, por outro lado, compenso. Ele sorriu. Mas tenho certeza que você vai se lembrar desses pequenos detalhes com o tempo...
Hm... Victor coçou a nuca e, então, arregalou os olhos ao perceber. Ah...! Ele tateou o próprio rosto freneticamente. As faixas...!
Nós as tiramos. Esclareceu Henry. Aliás, do seu corpo todo. Te demos umas roupas confortáveis. Você precisava delas, mas não mais das faixas. Porém...
O meu rosto...
Sim... Temo que ele não esteja como antes. Esses hematomas são temporários... Agora, as cicatrizes...
Como isso aconteceu? Foi obra do Asmodeus...?
Herny e Anna trocaram olhares. Victor olhou sem saber o que fazer. Então, os dois olharam de volta para o rapaz.
Você realmente não se lembra de nada. Henry esboçou um sorriso. Tente olhar ao seu redor. Veja se lembra de algo...
É uma boa ideia...
Com uma expressão levemente assustada, Victor seguiu o conselho de Henry. Olhando a sua volta, ele começou a distinguir os detalhes da sala e, com isso, algumas memórias vagas foram voltando.
O cenário era um tanto quanto bagunçado. Não chegava a ser caótico ou decrépito, mas o cômodo parecia estar um tanto quanto abandonado, necessitado de uma faxina. Uma camada de pó parecia cobrir os armários. Papéis estavam espalhados pelo balcão a sua frente. Os eletrodomésticos pareciam ter sido usados recentemente. A luz fraca que mal iluminava o lugar não amenizava a atmosfera.
Estamos numa cozinha? Indagou Victor, erguendo uma sobrancelha.
Sim. Respondeu Henry. Mas não qualquer cozinha, mas... Não, você não parece se lembrar. Ele olhou rapidamente para Anna. Gentil como sempre, não?
O rapaz olhou para a mulher. Apesar de grande e de seus passos serem pesados, ele não havia reparado ela se movimentando. Ela voltava da pia com um copo de água na mão direita. Calmamente, Anna andou até Victor e o entregou a bebida.
Obrigado... O rapaz agradeceu enquanto pegava o copo.
Até o momento, Victor não havia se dado conta do quão secos seus lábios e sua garganta estavam. Assim, ele bebeu a água rapidamente, derramando um pouco, não saciando sua sede, mas conseguindo amenizá-la.
Então... Henry limpou a garganta. Vamos?
Para onde?
Até Edgar Dupond.
Isso vai ser bom.
Victor não disse mais nada. Apenas deixou o copo vazio sobre o balcão da cozinha e seguiu Anna e Henry.
Calmamente, os três andaram pela casa.
O lugar não era muito luxuoso, mas certamente era espaçoso. Apesar de não muito arrumado, era, de certa forma, aconchegante.
O silêncio seria absoluto se não fossem pelos seus passos e respirações.
Henry sorria, mantendo-se quieto, permitindo que Victor pudesse tentar recobrar suas memórias calmamente.
Anna agia como sempre.
 Victor, então, fazia o que Henry esperava que ele fizesse.
Após alguns instantes, o trio chegou até uma pequena porta debaixo de uma escadaria.
Chegamos. Henry sorriu e, então, destrancou a porta.
Victor sentiu vontade de perguntar se havia alguma passagem ali em baixo. Porém, não perguntou. Afinal, a resposta veio abruptamente.
Henry puxou um homem de dentro do minúsculo cômodo. Com uma expressão aterrorizada, o sujeito encarou os três. Impotente, ele não podia fugir, pois estava imobilizado por correntes, e nem gritar, pois estava amordaçado.
Nós o deixamos vivo, o mais vivo possível, para você, Victor. Disse Henry com um sorriso macabro no rosto.
O quê!? O rapaz ainda estava assustado com a cena. Como... Como assim!?
Para você ter a sua vingança, é claro.
Vingança...? Ele fez uma breve pausa. Eu nem me lembro do que ele fez...
Quem você acha que invadiu sua casa e fez isso com você? Quem você acha que foi o filho da puta que tentou quebrar o seu corpo como um troglodita? E te prender no labirinto? Quem você acha que fez tudo isso!? E, por cima de tudo, se aproveitando de um momento de fraqueza e descuido nosso... Tamanha audácia... Tem que ser punida.
Victor, então, olhou para o homem aterrorizado no chão. Ele podia ouvir os murmúrios abafados. O rapaz podia sentir o medo de Edgar Dupond.
E por quê? Indagou Victor. Por que ele fez isso?
Aparentemente, a noiva dele morreu. Henry respondeu calmamente.
E eu sou o culpado?
Indiretamente. Você não a matou, mas... Possibilitou a morte dela.
Ah... Ele esboçou um sorriso. Eu sou um monstro mesmo, não é...?
Algumas pessoas podem concordariam. Outras, discordariam. Sabe... Muitas pessoas te admiram, te idolatram. Muitos te consideram um gênio.
Mas eu sou um assassino, não é mesmo?
Na verdade... Não.
Como... Como assim?
Você normalmente evita matar as pessoas. As mortes acabam sendo consequências inevitáveis aos seus trabalhos.
E meus trabalhos...? O que seriam?
Henry, então, sorriu e sacou uma faca, estendendo-a para o jovem. A arma, que tinha o cabo adornado com prata, cintilava tanta quanto os olhos de Victor ao vê-la.
Instintivamente, o rapaz a pegou das mãos do suposto amigo. Uma sensação familiar o atingiu, deixando-o relaxado e o fazendo sorrir.
Tudo faz sentido agora, não?
Anna... Victor a chamou. Pode me ajudar a levantar o senhor Dupond para uma de nossas salas especiais?
 Mulher assentiu e prontamente, levantou Edgar do chão.
Deixe-me assumir... Assumir como antes...
Algo me diz que você se lembrou... Disse Henry calmamente. De tudo... Não?
É claro, meu caro Henry. Seus olhos, agora, tinham um brilho diferente. Sua voz, agora mais grave, soava mais confiante. Eu estou de volta. E pronto para fazer um show! Ele sorriu e, então, levou uma mão ao rosto deformado. Ainda bem que eu tenho a minha máscara, não?
Sim, senhor. Ele sorriu. Eu a pegarei para você, bem como o resto de suas roupas.
Ótimo, meu caro! Ele sorriu. Aliás... Tenho que ver Dylan Roe. Mais tarde, não agora.

Mas é claro... Tudo a seu tempo. Henry riu, alegre. Ah... Como é bom ter você de volta, Dr. Asmodeus...

Nenhum comentário:

Postar um comentário